Reestruturação no BB pode implicar em perda salarial

O processo de reestruturação do BB que está agora em sua fase mais aguda não é novidade. O processo de centralização começou em 2007, quando diversos serviços de suporte operacional e de logística, até então realizados na retaguarda das agências, foram transferidos para os CESECs. Foram criados, então, os centros principais, em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Recife e São Paulo. Estima-se que o número de funcionários atingidos por este processo esteja entre 4 mil e 5 mil.


Os serviços de operações (CSO) e Logística (CSL) realizados no CESEC do Rio de Janeiro, por exemplo, continuaram sendo feitos na cidade, mas o centro carioca – bem como o de Vitória-ES – eram vinculados ao da capital mineira. As vagas da capital capixaba já haviam sido transferidas para BH no início do processo, em 2007. No Rio, a mudança está acontecendo há pouco mais de um mês, mas já estava prevista. “O banco já tinha tudo planejado e o processo já estava acontecendo. Agora, só ‘virou a chave’, para falar no linguajar que os diretores usam nas reuniões”, esclarece Wagner Nascimento, coordenador da CEE/BB. A partir de 2013 o BB se decidiu pelo desmonte de alguns CESECs, desta vez concentrando os serviços em algumas unidades, de acordo com a operação em que cada uma havia atingido excelência. Por exemplo, o CESEC de Belo Horizonte passou a concentrar as operações de cadastro.


Este movimento implicou na transferência de postos de trabalho. “As 70 vagas que foram fechadas no Rio de Janeiro foram transferidas para Belo Horizonte. O Judicial foi concentrado em Recife. Curitiba ficou com as operações rurais”, informa Wagner Nascimento. E esta migração das vagas tem impacto na vida profissional e pessoal dos empregados. “O banco reestrutura e diz ao funcionário: a sua vaga está em tal lugar. Se não quiser ir pra lá, vamos arrumar uma vaga para você aqui. Tivemos um bancário em Belo Horizonte que passou os 20 anos de carreira dentro do banco trabalhando com operações rurais e, como ele não vai poder se mudar para Curitiba, será transferido para uma agência. Como uma pessoa que passou tanto tempo fazendo este tipo de serviço vai parar num departamento comercial?”, critica o sindicalista.


Mas não é somente a dificuldade de adaptação aos novos cargos que assombra os funcionários atingidos pela reestruturação. “No Rio, por exemplo, dos funcionários do CSO que serão transferidos, 77 são escriturários. Para eles, haverá o impacto na mobilidade e a necessidade de se adaptarem ao horário de agência, já que trabalham em horário diferenciado, mas não há mudança na remuneração. Mas para os assistentes, haverá perda salarial, sim”, alerta Wagner. Isto acontece porque alguns cargos típicos dos departamentos não existem nas agências e também em função da redução de carga horária, imposta pelo novo Plano de Funções Comissionadas. “O plano reduz o valor do adicional de função. E, mesmo que o banco pague a chamada rubrica 226, conhecida como ‘esmolão’, quando o funcionário tem uma redução salarial por conta de mudanças de função, isto só dura 12 meses”, acrescenta Wagner. A reestruturação tem momentos traumáticos, como a da COGER, no Rio, que foi para Brasília. À época, os funcionários tiveram promessa de que poderiam se transferir para o Distrito Federal na mesma função, mas as coisas não aconteceram como esperavam. A maioria, que ficou no Rio, acabou tendo perdas significativas na transferência para a rede de atendimento. E não foi só nesta ocasião que aconteceu este tipo de situação. “Tivemos em Belo Horizonte um funcionário da DAC que ganhava R$ 12 mil e passou a receber R$ 4 mil. E isso ainda tem impacto sobre cálculos da PREVI. Tem gente que vai segurando, mantem o valor da contribuição previdenciária para ver no que vai dar. Mas as perdas têm acontecido em muitos casos”, acrescenta Wagner.


Risco


Para Wagner Nascimento, um dos problemas da reestruturação vai além das lotações e da remuneração. “A centralização acaba gerando especialização. E sempre que um setor fica especializado, abre-se uma brecha para que ele seja terceirizado. Imagine, por exemplo, que o BB comece a fazer licitações terceirizadas – o serviço de licitação já foi concentrado no CENOP de BH. Além da questão trabalhista, com a troca de bancários concursados por terceirizados, há um aumento do risco de fraudes, porque elas são muito mais fáceis e comuns em empresas terceirizadas.


Resistência


Desde que foi noticiada a extinção do CSO no Rio, os funcionários e o Seeb-Rio têm se mobilizado para negociar uma solução com o banco, mas o processo todo tem acontecido de forma unilateral. O BB se limita a fazer reuniões com os bancários para apresentar a mudança, já como fato consumado. O serviço ficava no Complexo do Andaraí, prédio que já foi uma das maiores dependências do banco no país e concentrava a maior parte dos serviços de suporte do banco no estado. Os empregados e sindicalistas têm feito atos públicos e procurado parlamentares e autoridades em busca de apoio ao movimento de resistência à reestruturação.


Em Pernambuco, a mudança foi em 2013 e também gerou reação dos bancários. “O banco ia fechar muitas coisas em Recife, mas houve um movimento político forte e muitos setores acabaram ficando. O Judicial, que ficou concentrado lá, recebeu vagas que eram de São Paulo. É um movimento semelhante que está sendo feito no Rio”, informa o coordenador da CEE/BB.


Durante a 16ª Conferência Interestadual dos Bancários do RJ e ES os delegados aprovaram uma moção de repúdio à reestruturação que atinge os serviços lotados no Complexo do Andaraí. Os sindicalistas e delegados sindicais já estão procurando vereadores e deputados em busca de apoio.


Futuro incerto


O que alarma os bancários é que estas mudanças vêm de cima para baixo prontas, sem consulta ao corpo funcional, e algumas vezes dão errado. “Houve setores que não funcionaram quando foram centralizados. Corre-se o risco de haver retorno. Tem casos de setores que o banco não dá o braço a torcer, então temos que insistir sempre nestas coisas. Não podemos ficar sujeitos às ‘fórmulas mágicas dos gurus da gestão empresarial”, critica Wagner Nascimento.

Fonte: Da Redação – Fetraf-RJ/ES