Reestruturação pode afetar saúde mental dos bancários do BB

O mais recente plano de reestruturação do BB faz lembrar da década de 90, quando empresas públicas foram sucateadas e encolhidas para se adequarem à privatização. As medidas recém-anunciadas para o BB – fechamento de agências pouco lucrativas ou sua transformação em Postos de Atendimento (PAB), corte de funções comissionadas e Plano de Aposentadoria Incentivada (PEAI) – têm o mesmo objetivo.

Isto não é especulação. Em 12 de maio, horas depois do afastamento de Dilma Roussef da presidência, o então interino Michel Temer publicou a Medida Provisória 727, que cria o Programa de Parcerias e Investimento. Em setembro, o Congresso a ratificou e converteu na lei 13.334/2016. Apesar do nome “parcerias”, a nova lei inclui a íntegra da Lei 9.491, que criou o Programa Nacional de Desestatização, em 1997.

Para onde vai?

Pelo plano atual, haverá extinção de funções e redução da dotação das unidades. “Ninguém sabe para onde vai, as pessoas vão ficar numa situação que é chamada de sem localização”, explica Rita Mota, bancária do BB e representante da base da Fetraf-RJ/ES na CEE/BB. Com número menor de agências e menos postos de trabalho em boa parte das dependências, vai ser difícil realocar todo mundo.

Os descomissionamentos e a redução de dotação também podem gerar abundância de escriturários. Os empregados que mantiverem sua comissão vão ter que assumir o serviço dos colegas que perderam. Em momentos de necessidade, quem retornou ao posto inicial pode acabar desempenhando outras tarefas, inclusive aquelas do cargo que não ocupa mais. Há risco de sobrecarga de trabalho, que provoca adoecimento, e de desvio de função, que gera passivo trabalhista.

Trauma

O PDV de 1995, que preparou o BB para a privatização, foi traumático. Os empregados foram pressionados a aderir e a angústia tomou conta de quem ficou. “Houve uma quebra de paradigma. As pessoas esperavam trabalhar no Banco do Brasil até se aposentar. Com o PDV, percebemos que não podíamos mais ter esta expectativa. Numa cartilha distribuída aos funcionários naquela época, o BB deixou claro que não estava oferecendo nenhuma garantia de emprego”, lembra Rita Mota.

O impacto emocional do PDV de 1995 era previsto, tanto é que a consultoria de RH contratada para montá-lo elaborou um material para orientar os gestores a lidarem com a situação. “Eles sabiam que a quebra do vínculo psicológico entre os funcionários e o banco teria consequências graves. Então, prepararam os gerentes para o que viria pela frente”, lembra Rita. Uma das situações previstas era que os remanescentes sofressem depressão. A consequência mais severa foi a ocorrência de dezenas de suicídios.

Mais grave

O PEAI oferece vantagens atraentes para os bancários que aderirem. “O BB queria que o número de adesões chegasse o mais perto possível da meta de 9,3 mil funcionários”, esclarece Rita Mota. De fato, esta meta foi superada, com 9,4 mil adesões.

Mas quem permaneceu terá que enfrentar a uma situação adversa. Já em 1995 o BB anunciava que estava se transformando num “banco de mercado” e isto foi plenamente implementado nos últimos anos. Esta mudança de perfil fez as pressões por cumprimento de metas e o assédio moral atingirem níveis insuportáveis. Os bancários do BB passaram a fazer uso regular de medicamentos “tarja preta” e os transtornos mentais já empatam com as LER/DORT como causa de afastamentos.

A tendência é que este quadro piore. “O emprego no BB continua sendo visto como estável, já que as demissões são raras, mas os descomissionamentos geram muita angústia e ansiedade. Com a reestruturação, estamos vendo uma nova quebra do vínculo psicológico”, avalia Rita Mota.

Se considerarmos a reforma da previdência e o risco da terceirização ilimitada ser aprovada no Congresso, temos hoje uma situação muito mais alarmante. Nesta conjuntura, o impacto de uma reestruturação deste porte sobre a saúde psicológica dos funcionários tende a ser ainda maior.