O call center do Santander no Rio de Janeiro foi paralisado por quatro horas na manhã desta sexta-feira, dia 08. O protesto foi contra a demissão da bancária Charlene Cruz, que apresentou exames comprovando que estava grávida e não foi reintegrada imediatamente. Quatro turmas de atendentes não entraram e participaram da atividade, prestando total solidariedade à colega.
O Sindicato dos Bancários já estava prestando atendimento a Charlene e não fez a homologação da dispensa. A diretora Fátima Guimarães, bancária do Santander lotada no call center, fez contato com o RH do banco, informando sobre a gestação e enviando o resultado do exame de sangue que comprovou o estado da trabalhadora. Mas o departamento não aceitou somente um teste e exigiu uma ultrassonografia. “Mesmo depois de enviarmos a ultra, o banco não cancelou a demissão e mandou que Charlene fizesse uma segunda, vinte dias depois”, relata Fátima.
Três semanas depois de enviados os exames ao banco, a trabalhadora fez um ultrassom a pedido de seu obstetra, já como parte do pré-natal, e o resultado foi remetido ao RH. “Consultei um médico conhecido e fui informada de que somente o exame de sangue seria suficiente para constatar a gravidez. O primeiro ultrassom já nem deveria ter sido pedido, menos ainda o terceiro. Foi um abuso total do Santander”, critica a dirigente sindical. Fátima nem chegou a informar à bancária que o banco havia exigido outro exame, para poupá-la do aborrecimento durante o estado delicado, e enviou o resultado sem o conhecimento de Charlene.
A resistência do Santander em cancelar a demissão de Charlene levou o Seeb-Rio e a Fetraf-RJ/ES a buscarem a assistência da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Alerj. A presidente da comissão, deputada Enfermeira Rejane (PCdoB), enviou ofício ao presidente do Santander no Brasil, Sérgio Rial, pedindo providências. A parlamentar destacou no texto do ofício não achar “…imaginável que tal política faça parte dos ‘valores’ do Santander para seus colaboradores e colaboradoras”. A deputada também destacou que sua intervenção tinha por objetivo a reintegração imediata de Charlene, já que a situação estava lhe provocando stress, prejudicial à sua saúde. O ofício foi encaminhado também à diretora de RH do banco e à superintendência do call center.
Caso atípico
Segundo Fátima Guimarães, o superior direto de Charlene tomou todas as medidas a seu alcance para o cancelamento da demissão assim que a gravidez lhe foi comunicada. “O gestor do call center já havia enviado os exames ao departamento de pessoal e informado sobre a gravidez, como é praxe nesta situação. Já houve casos em que a demissão foi revertida imediatamente, assim que os próprios gestores comunicaram a gestação. Desta vez houve esta dificuldade toda, com o banco pedindo três exames para confirmar uma gravidez que foi atestada no primeiro. Por isso foi necessário recorrer à Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, ainda tentando uma solução negociada”, informa a sindicalista.
Durante a paralisação no call center, o banco se manteve em contato com os sindicalistas e voltou a pedir o segundo ultrassom, já enviado dias antes. Quando todo o serviço já estava inoperante há quase quatro horas, os sindicalistas receberam um e-mail do RH. A correspondência informava que os médicos do banco haviam analisado os exames e confirmado o estado gravídico de Charlene e que, portanto, sua demissão estava cancelada. “É um despautério o banco solicitar à área médica a avaliação de exames que são de interpretação tão simples. Caso o Santander insistisse em manter a demissão, partiríamos para a Justiça Trabalhista”, informa Luiza Mendes, funcionária do Santander e diretora da Fetraf-RJ/ES.