Santander dá desculpa esfarrapada para demora em cancelar demissão de gestante

O Santander respondeu à carta enviada ao presidente, Sérgio Rial, pela deputada estadual Enfermeira Rejane (PCdoB), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Alerj. Na correspondência para o banco, a deputada solicitava explicações a respeito da demora no cancelamento da demissão da bancária Charlene Cruz, que estava grávida quando foi dispensada. Mas a resposta não agradou. Além da resposta ter sido assinada pelo vice-presidente de Comunicação e Marketing, Marcos Madureira, e não pelo presidente, o conteúdo não apresentou justificativas convincentes.

O banco não informou o que, de fato, aconteceu, e ainda responsabilizou a bancária que, segundo o documento, se recusou a fazer um segundo ultrassom. A exigência de ultrassonografia – quando o exame de sangue Beta-HCG é considerado suficiente – já é um abuso, mas foi justificada por se tratar “procedimento previsto em nossos protocolos”. Mas a justificativa para não aceitação do documento foi ainda mais absurda: “…o ultrassom que nos foi apresentado não possibilitava a confirmação da gravidez”.

Mesmo que as imagens do exame estivessem realmente ilegíveis – o que não é verdade, já que a indicação de SG (saco gestacional) estava bem clara – havia o laudo por escrito. Este definia os detalhes técnicos das condições do útero da mãe e também do embrião. A conclusão, no fim do documento, era categórica: “Gestação de 04/05 semanas”, com desvio-padrão de três dias, para mais ou para menos.

carta_santa_charleneA resposta do banco irritou sindicalistas. “Até pessoas que não entendem do assunto conseguem compreender que o laudo confirma a gestação. Dizer que o documento estava ilegível é uma desculpa mais do que esfarrapada. Se fosse mesmo este o motivo, eles teriam pedido para reenviar a cópia dos exames por e-mail, ou remeter por correio, para confirmação. Definitivamente, não foi esse o motivo para a demora no cancelamento da demissão”, critica Luiza Mendes, diretora da Fetraf-RJ/ES. A exigência de tantos exames também foi alvo da indignação de Fátima Guimarães, diretora do Seeb-Rio. “Consultei mais de um médico sobre a necessidade do ultrassom e todos concordaram que somente o Beta-HCG é suficiente para confirmar a gravidez. Fazer a bancária realizar exames desnecessários é um abuso inaceitável”, avalia a dirigente.

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O executivo de Marketing continua a carta reafirmando os “valores” do banco e a prática de obedecer às leis. Vai adiante, repetindo que 60% do corpo funcional das agências é composto por mulheres. E ainda cita – e envia em anexo, em vídeo – o filme publicitário “Mulheres”, como “o mais claro exemplo de como o Santander respeita e apoia as mulheres”.

Tratar uma gestante com tamanho descaso enquanto anuncia na mídia que “respeita e apoia” as mulheres e, ainda por cima, apresentar justificativas nada convincentes ao questionamento feito por uma parlamentar mostra bem como o banco realmente lida com seus funcionários. “Já tivemos casos de bancárias que tiveram sua dispensa cancelada imediatamente após comprovação da gravidez. Mas, desta vez, foi preciso que o sindicato fizesse uma paralisação nas atividades do call center do Rio para o banco tomar a atitude correta e cancelar a demissão de Charlene. Definitivamente, isto não é respeitar e apoiar as mulheres”, critica Luiza Mendes.

 

 

Fonte: da Redação