Sindibancários/ES realiza exposição fotográfica sobre os 90 anos de história e lutas

Na última sexta-feira, 31 de janeiro, o Sindicato dos Bancários do Espírito Santo, filiado à Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo (Fetraf RJ/ES), realizou a exposição fotográfica 90 anos do Sindibancários/ES: nossa história, nossas lutas, no Centro Sindical dos Bancários. A exposição conta com 1.384 fotos.

O evento foi marcado pela emoção, a começar pelo discurso de abertura da cerimônia. Defensora incansável da preservação da história da entidade, Rita Lima, coordenadora-geral do Sindicato, destacou que a memória é um antídoto contra o autoritarismo. “Tornar público registros fotográficos é tirar do esquecimento histórias de homens e mulheres que em luta conquistaram direitos, mudaram costumes, romperam com o instituído, fixaram novos parâmetros nas relações de trabalho, fortaleceram suas organizações e a democracia no Brasil, construíram contra poderes, fizeram história”. A dirigente acrescentou: “Preservar nosso patrimônio histórico é importante para sempre nos lembrarmos de tudo que fizemos, do que fomos, do que somos e dos caminhos que devemos trilhar para construirmos um amanhã sem exploração e sem opressão”.

Durante a exposição, o Sindicato também fez o lançamento de uma revista especial que faz um resgate da trajetória da entidade nos últimos dez anos, período em que a categoria bancária e os trabalhadores em geral resistiram a duros ataques aos direitos conquistados. Carlos Pereira de Araújo (Carlão), que é diretor de Comunicação do Sindicato, aproveitou a ocasião para homenagear os profissionais que integram sua equipe. “Hoje, queremos saudar, especialmente, essas trabalhadoras e esses trabalhadores, camaradas essenciais para a luta sindical”.

Para falar sobre a preservação da memória, propósito da exposição, da revista e do livro lançado no ano passado que registra os 80 anos do Sindicato, Carlão buscou inspiração em Karl Marx. Ele lembrou que a luta de classes é também uma luta pela narrativa histórica. Marx ensinou que preservar a memória das resistências e das opressões, seria crucial para evitar a alienação e construir uma consciência coletiva revolucionária. “Como dizia o bom e velho Marx, ‘a história só surpreende aquele que nada de história entende’. Aqui está a história viva de um sindicalismo classista e de luta. Hoje é um motivo de orgulho para todos nós”, afirmou Carlão.

Rita Lima completou: “É uma emoção muito grande para nós”. Ela destacou a importância da diretoria do Sindicato ter abraçado a ideia porque compreendeu a necessidade de registrar e catalogar a nossa história para que ela não se perca. “É uma longa história de homens e mulheres que dedicaram suas vidas para lutarmos pelos nossos direitos”. Rita disse ainda que colocar todo esse acervo à disposição da sociedade é uma conquista desta diretoria.

Projeto desafiador

O fotógrafo Sérgio Cardoso, que é autor da grande maioria das fotos expostas, falou sobre a grandiosidade do projeto e do diferencial da exposição, que é permanente. “Eu sempre quis fazer uma exposição definitiva. O material que utilizamos é para durar muito tempo. A garantia do fabricante é de cinco anos”. Sérgio contou que a ideia da exposição nasceu do trabalho de catalogação das fotos do Sindicato. Para além da categoria bancária, ressaltou Sérgio, as fotos registram a história do sindicalismo capixaba. Parte dessa história sindical vai ficar exposta aqui, aberta para todos”, afirmou o fotógrafo.

Parceria com as entidades

Lideranças de movimentos sociais e bancários também enalteceram a iniciativa do Sindicato de criar uma exposição permanente com um acervo tão rico para a história do sindicalismo capixaba. Marco Antonio Carolino, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), lembrou que muitas das fotos registram ações do MST e do Sindicato, que foram muitas “Para nós do MST, o Sindicato dos Bancários é um instrumento da classe trabalhadora. O Sindicato sempre teve essa clareza da identidade da classe trabalhadora para além da categoria [bancária]. Fizemos muitas parcerias, construímos o movimento campo-cidade no Espírito Santo, e desenvolvemos muitas lutas juntos. O MST tem muito orgulho dessa parceria e queremos mantê-la por mais 100 anos”, afirmou Carolino.

Heider José Boza, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Espírito Santo, também destacou a parceria com o Sindicato, que já dura quase dez anos. “Desde o rompimento da barragem, no final de 2015, quando o MAB chegou aqui no Espírito Santo, o Sindicato dos Bancários se colocou à disposição do MAB”. Ele recordou que as primeiras lutas que o MAB fez em Colatina, foram marcadas pelo protagonismo do Sindicato na organização. “Essa aliança se deu desde o primeiro momento que nasceu o MAB no Espírito Santo”. Heider conta que oito a dez dias depois do rompimento da barragem de Mariana (MG), o MAB já estava em Colatina com o Sindicato na luta em defesa dos atingidos por barragens. “Essa luta segue até hoje”.

O Movimento Policiais Antifascismo também marcou presença na exposição. A ativista Maria Helena Vasconcelos contou que começou  a se aproximar do Sindicato como aprendiz. “O Sindicato abriu as portas para a formação política dos policiais civis. Isso é história. Isso é fazer história. Isso é dizer que estamos todos juntos. Somos trabalhadores e trabalhadoras e precisamos unificar nossas lutas e nossa força. “Maria Helena destacou a importância da exposição: “Resgatar a memória é uma viagem no tempo. Não podemos esquecer as nossas lutas”.

O Sindicato registrou a ausência da presidente da CUT-ES, Clemildes Cortes Pereira, que não pode comparecer ao lançamento da exposição devido ao falecimento, na sexta-feira (31), de João Rafael Scardua, um dos fundadores da CUT no Espírito Santo. Foi registrado os sentimentos, em nome do Sindicato, aos familiares e amigos de Scardua.

110 mil fotos

Rita Lima lembrou que a seleção das 1.384 fotos que compõem a exposição é parte de um acervo de mais de 110 mil fotos. “Essa é uma história muito valiosa”. A coordenadora acrescentou que o Sindicato já tem um novo desafio: a catalogação documental de todo o material de vídeo das ações do Sindicato em arquivos. A dirigente frisou ainda que a atual diretoria quis contar essa história não só pelos indícios, mas pelos fatos. “Tivemos a preocupação de não só contar a história de lutas dos bancários e das bancárias, porque a história da categoria bancária se mistura com a história da luta de classes no Espírito Santo. O Sindicato tem a preocupação de estar juntos com os indígenas, com o MST, com os quilombolas, com o movimento das mulheres, dos negros, porque é assim a nossa história. Nós não podemos contar a história deles, mas podemos contar a nossa história junto com eles”, finalizou.

Fonte: Sindibancários/ES