Sindicato dos Bancários/ES faz manifestação contra terceirização no Santander

Dirigentes do Sindicato dos Bancários do Espírito Santo, filiado àFederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo (Fetraf RJ/ES), se concentraram em frente à Superintendência Regional do Santander, na Reta da Penha, em Vitória, para protestar contra o processo de terceirização do banco.

O Santander tem adotado uma prática fraudulenta de contratações. O banco demite o bancário para contratar os trabalhadores por meio de empresas coligadas do grupo. Muitas vezes os próprios bancários são recontratados por meio de subsidiárias do banco, mas sem os direitos e garantias conquistados pela categoria bancária.

“O Sindicato está aqui hoje para denunciar a prática de terceirização e os abusos na contratação fraudulenta do Santander. Isso traz muitos prejuízos para a categoria e os clientes. O objetivo do banco é a retirada de direitos previstos na nossa Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), a única nacional no Brasil. Para os clientes, os prejuízos também são enormes, pois eles deixam de ser atendidos efetivamente por bancários, e passam a ser atendidos por terceirizados. A prática do Santander abre precedente para que outros bancos façam o mesmo, o que vai decretar o fim da nossa categoria”, afirmou o dirigente do Sindicato Cláudio Merçon (Cacau), que também integra a Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander.

Fechamento de agências e postos de trabalho
De 2019 a 2023, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), os bancos fecharam 27 mil postos de trabalho no Brasil, encolhendo o número de bancários de 455 mil para 428. Estranhamente, o Santander, apesar de ter fechado 272 agências nesse período, anunciou que o número de funcionários cresceu. Chamou atenção o fato de o Santander ter reduzido as despesas com pessoal em 22% no banco e aumentado as mesmas despesas em 126% nas controladas e coligadas do grupo. “A explicação para essa discrepância é simples: o Santander está terceirizando sua própria força de trabalho, ou seja, os bancários”, explicou Cacau.

O dirigente acrescenta que empresas como a F1rt, CNAE e Tools contratam esses trabalhadores, mas sem os direitos previstos na CCT e no Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) da categoria bancária. Os dados atualizados apontam que 54% dos funcionários têm vínculo com o banco e 46% com as demais empresas do grupo.

O dirigente lembrou que na Espanha, sede do Santander, os bancários têm mais direitos que no Brasil. “Não somos quintal de ninguém”, afirmou Cacau, destacando que 20% do lucro mundial do banco espanhol são provenientes das operações da instituição no Brasil.

Para o diretor do Sindicato e membro do Comando Nacional dos Bancários, Carlos Pereira de Araújo (Carlão), a terceirização no Santander está vinculada à reforma trabalhista aprovada no governo Michel Temer (2017). “O objetivo do patronato é ter uma classe trabalhadora cada vez mais explorada e sem direitos. Estamos vivendo algo próximo do modelo escravagista. Na Espanha, o Santander não faz isso, pois os trabalhadores se mobilizaram junto ao parlamento espanhol para recuperar direitos”. Carlão também comparou o que está acontecendo no Brasil com o caso mexicano, que é a bancarização sem bancários. “Isso não quer dizer que não tenham trabalhadores, mas são terceirizados e precarizados”. O Santander, afirma Carlão, “funciona como um laboratório da Fenaban [Federação Nacional dos Bancos]. Se der certo, esse modelo vai se estender aos demais bancos”, alertou.

O diretor do Sindicato também disse que o objetivo dos banqueiros é chegar ao modelo 6 X 1, ou seja, seis dias de trabalho para um de folga. “O governo Bolsonaro tentou o tempo todo nos colocar para trabalhar aos sábados, domingos e feriados”. E acrescenta: “Nós somos referência na luta, porque os demais trabalhadores brasileiros olham para nossa categoria com a esperança de resistir a esse modelo perverso. Por isso é necessária a nossa solidariedade e mobilização, nos reconhecer como classe trabalhadora”, concluiu.

Enquanto o Santander segue com seu processo de terceirização, o lucro do banco sobe ano a ano. Em 2024, o Santander lucrou R$ 13,8 bilhões, alta de 48,6% em relação a 2023. Cerca de 90% desse lucro não fica no Brasil, vai parar principalmente nas mãos de investidores espanhóis e holandeses. “A terceirização tem um propósito central: reduzir despesas, sobretudo com pessoal, para aumentar ainda mais as margens de lucro do banco e distribuir mais dividendos para os acionistas, a maioria de fora do país”, criticou Cacau. “Temos que nos mobilizar para mantermos o emprego bancário com todos os direitos e garantias conquistados ao longo de décadas de luta. Não à terceirização. Não à precarização”, enfatizou Cacau.

Tabela abaixo compara direitos da categoria bancária com terceirizados

*Fotos: Sérgio Cardoso / Sindibancários/ES

**Com informações do Sindicato dos Bancários/ES