A ofensiva conservadora que vem se espalhando pelo mundo já começa a ameaçar as conquistas recentes dos trabalhadores latino-americanos. Esta constatação é evidenciada pelos desmandos do recém-empossado novo presidente argentino, Mauricio Macri, que já levaram a milhares de demissões e aumento da inflação. Os trabalhadores de todo o continente devem ficar atentos.
Esta é a percepção do economista Jardel Leal, do Dieese-RJ, e do sindicalista Mário Raia, secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT. Ambos estarão na Fetraf-RJ/ES na próxima quinta-feira para debater com a socióloga argentina Paula Lenguita sobre os “Desafios Atuais dos Trabalhadores Brasileiros e Argentinos”.
Para Jardel Leal, é preciso que os sindicalistas comecem a prestar atenção aos movimentos do empresariado. “Os trabalhadores da América Latina estão constantemente submetidos a ataques aos seus direitos trabalhistas e, hoje, no Brasil, muitas negociações coletivas não resultam nem em reposição da inflação. Os empresários financiam a política e a mídia para que seus interesses sejam garantidos, mas continuam fora de cena. Estamos dando pouca atenção ao poder dos empresários”, alerta o economista.
O técnico do Dieese também destaca que este movimento acontece em todo o mundo e a face mais evidente desta tendência é a transferência de fábricas inteiras para países onde salários são mais baixos e direitos trabalhistas, reduzidos. O grande problema é resistir a esta tendência. “O quadro da Argentina revela o que talvez tenhamos que enfrentar, aqui no Brasil, a partir de 2018. Mas será que os trabalhadores brasileiros estão preparados para resistir a esta onda, aos ataques que terão que enfrentar na cena política para evitar estes retrocessos? Estamos diante da possibilidade de perder todos os avanços conquistados nos últimos anos”, aponta Jardel. “Os trabalhadores precisam rever sua organização e parar de pensar como categoria e passar a atuar como classe trabalhadora”, sugere.
Acordos
O secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Mário Raia, observa que a onda conservadora é uma reação à ascensão de governos progressistas em vários países do continente. O dirigente destaca que este movimento começou com a mobilização contra a formação da ALCA, a aliança de livre comércio proposta pelos EUA no final dos anos 90. “A luta contra a ALCA organizou a esquerda latino-americana. Agora, os EUA abandonaram a ideia de montar um grande bloco e estão propondo acordos de integração bilaterais que excluem das negociações os trabalhadores e até governos. O desafio é articular novamente a esquerda da América Latina para lutar contra estes novos acordos”, avalia o sindicalista.
Iniciativas de integração como a UNI – Sindicato Global são formas dos trabalhadores se organizarem para fazer frente aos avanços conservadores e empresariais. É através da solidariedade entre categorias e entre a classe trabalhadora de vários países que a resistência pode ser construída. Um exemplo deste esforço está sendo feito pela Contraf-CUT e o Seeb-SP, que estão colaborando com bancários norte-americanos para a formação de sindicatos no país. Nos EUA a categoria não é única, mas dividida entre os trabalhadores da área de negócios e os da área operacional. Estes últimos são tão mal remunerados que um terço deles depende de programas assistenciais do governo, sendo que, no estado de Nova Iorque, esta parcela chega a 40% dos trabalhadores. E quando estes bancários fazem alguma tentativa de fundar uma associação ou entidade de classe, são duramente perseguidos e punidos por seus empregadores, para que sirvam de exemplo aos colegas. “É inadmissível que um terço dos bancários do mundo não estejam organizados”, critica Raia.
Jardel Leal e Mário Raia se unem à socióloga Paula Lenguita em debate promovido pela Fetraf-RJ/ES e a AMORJ – Associação de Memória Operária do Rio de Janeiro. O evento será nesta quinta-feira, dia 18, a partir das 10h, na sede da Federação.
Fonte: Fetraf-RJ/ES