Por Almir Aguiar *
Lastimável termos de assistir semana passada, em nosso país, às cenas dos trotes universitários que representam até hoje as marcas de como os estudantes brasileiros, da época do Brasil-Colônia, eram recebidos pelos portugueses quando iam estudar na Côrte de Lisboa ou em Coimbra. Em nossa cultura o trote veio marcado como uma permissão das classes dominantes portuguesas para que os “bugres”, ou súditos brasileiros, lá pudessem estudar, o mesmo acontecendo também em Coimbra. Tratava-se de uma demonstração da falsa superioridade da burguesia local contra os colonizados, gestos repetidos hoje sem qualquer tipo de criatividade, apenas acrescidos de truculência.
Pois os telejornais acabam de mostrar fatos recém-acontecidos na outrora pacata Minas Gerais: um trote acadêmico na Faculdade de Direito da UFMG, com saudações nazistas e práticas racistas que nada têm a ver com a formação do nosso povo. Elas mostram como sobrevivem hábitos da elite ainda arraigados nas diversas camadas da população.
Fatos históricos à parte, mais condenável ainda é que veteranos, que deveriam mostrar mais experiência, acolhimento e espírito democrático, ao invés de adotarem iniciativas cidadãs, como a doação de sangue ou algum serviço à comunidade, pintarem de preto, numa atitude racista, uma caloura, colocarem corda em seus pulsos e uma tabuleta onde se lia “Chica da Silva, caloura escrava”. Não bastasse isto, calouros foram pintados pelos veteranos com cruzes suásticas, símbolo do nazismo que provocou a 2ª Guerra Mundial, causadora de quase 20 milhões de mortos.
Todos sabemos que os trotes não são invenção brasileira, que vêm desde as primeira universidades européias da Idade Média. Em Portugual os trotes eram violentíssimos –os populares “canelões”- e a elite brasileira da época o trouxe prazerosamente para o Brasil, como forma de humiulhar os mais novos, quando aqui surgiram as primeira universidades.
A opinião pública brasileira, em especial os sindicatos, condenaram esta atitude excludente e racista. Que renasçam, com mais força, tentativas isoladas surgidas nos anos 90, na PUC de São Paulo, como a doação de alimentos e de remédios às comunidades carentes. Independente das motivações históricas, por isso ou por aquilo, os bancários do Rio de Janeiro, que formam um Sindicato-Cidadão, abominam esta prática e reforçam a luta por uma escola pública de qualidade, que possa educar a garotada secundarista a fim de que, com visão mais ampla, já universitários, recebam os mais jovens com espírito fraterno e sintam a responsabilidade de contribuir para uma cidadania forte.
* Almir Aguiar é presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro
Fonte: Almir Aguiar