Vice-presidente do Santander garante: não haverá demissões em dezembro

Executivo também afirmou que demissões de funcionários com estabilidade têm
que ser revertidas imediatamente. Equipe de relações sindicais foi cobrada






Foto: Maurício Morais – Seeb/SP



A Contraf-CUT, federações e sindicatos se reuniram no final da tarde desta quinta-feira (28) com o vice-presidente executivo sênior do Santander, José de Paiva Ferreira, responsável pela área de Recursos Humanos (RH), e cobraram o fim das demissões imotivadas no banco espanhol e melhores condições de trabalho.

A reunião, que durou uma hora e meia, ocorreu nas dependências do Casa 1 do Santander, na zona sul de São Paulo. Também estiveram presentes a nova diretora de RH, Vanessa Lobato, o superintendente de Relações Sindicais, Luiz Cláudio Xavier, a assessora Fabiana Ribeiro e o consultor jurídico Renato Franco.

Corte de 4,5 mil empregos em um ano

Os bancários denunciaram que o Santander é hoje o banco que mais está demitindo no Brasil. Segundo dados do Dieese, a partir dos balanços publicados, mesmo com lucro líquido de R$ 4,3 bilhões até setembro deste ano, houve corte de 3.414 empregos no mesmo período, o que é totalmente injustificável.

Apenas no terceiro trimestre, a instituição eliminou 1.124 postos de trabalho. Já nos últimos 12 meses, a redução alcançou 4.542 vagas, uma queda de 8,2 % no quadro de funcionários que caiu para 50.578 em setembro.

Os dirigentes sindicais questionaram o executivo do Santander por que o corte de empregos ocorre justamente no Brasil, que participa com 24 % do lucro mundial, o maior resultado entre todos os países onde o banco atua.

“Com tantas demissões, hoje faltam caixas e coordenadores na rede de agências, provocando sobrecarga de serviços, assédio moral, estresse e adoecimento de bancários, piorando as condições de trabalho e prejudicando a qualidade de atendimento aos clientes”, disse Maria Rosani, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander, que assessora a Contraf-CUT nas negociações com o banco.

“Não é à toa que o banco voltou a ser campeão em outubro no ranking de reclamações de clientes no BC, num ano em que ocupou essa incômoda liderança por sete meses consecutivos”, lembrou o secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr.

Demissões não são “normais”

Paiva reconheceu que estão acontecendo dispensas e que continuarão ocorrendo, dizendo que são “normais”. Os dirigentes sindicais rebateram, afirmando que para os trabalhadores, principais responsáveis pelos lucros bilionários do banco, são anormais e nada contribuem para melhorar o atendimento e a eficiência da instituição.

Os representantes dos trabalhadores denunciaram que existe uma onda de boatos de novas demissões em massa na véspera do Natal. No ano passado, o banco desligou sem justa causa 1.153 funcionários em todo país, o que representou um corte de 975 empregos. “Não haverá demissões em massa em dezembro”, disse o executivo. “Paiva também se comprometeu a informar previamente o movimento sindical sempre que o banco entender que precisa cortar muitos funcionários de uma vez só”, relata Paulo Roberto Garcez, representante da Fetraf-RJ/ES na COE Santander.

Garcez informa aos dirigentes da base da Fetraf-RJ/ES que passará a fazer um controle quinzenal das demissões nos dois estados, já a partir de dezembro. “Os sindicatos devem fazer o levantamento das homologações da primeira quinzena do mês, e depois, da segunda, e mandar para a sede da nossa federação. Precisamos ter estas informações sempre atualizadas”, orienta o dirigente.

Atual modelo de gestão não serve

O vice-presidente do Santander disse que “o plano do banco é de crescimento de negócios e de clientes e, para crescer, as pessoas devem estar satisfeitas, engajadas, motivadas e felizes”. Os dirigentes sindicais mostraram que a realidade é hoje bem diferente na rede de agências, onde impera o caos diante da falta de funcionários, pressão por metas abusivas, assédio moral, insegurança e condições precárias de trabalho.

Os sindicalistas mostraram ao executivo do Santander que o atual modelo de gestão do banco não serve para motivar os funcionários, melhorar o atendimento e alavancar o banco no mercado. “Os trabalhadores estão hoje inseguros, descontentes e infelizes”, disse a diretora executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Rita Berlofa.

Os representantes dos trabalhadores denunciaram que o banco cortou até despesas de limpeza, o que é um absurdo. “Tem agência onde a funcionária da limpeza passou a trabalhar somente uma ou duas horas por dia. Uma criança de uma cliente vomitou e a trabalhadora não estava lá para limpar o chão”, denunciou Rita. “Dessa forma, as agências serão paralisadas por falta de higiene, assim como já vêm sendo fechadas no horário de almoço e por outros tantos problemas”, apontou.

Segundo Garcez, Paiva ficou visivelmente irritado com esta informação. “Ele informou que o custo do serviço de limpeza aumentou em 12,5 % e que não sabia que tinha havido uma redução do número de funcionários. Me pareceu que ele realmente não tinha conhecimento desta situação e que ficou bastante contrariado ao ser informado sobre as condições em que funcionam as unidades”, informa o dirigente.

“Desafiamos o Santander a mudar a gestão se realmente pretende ser o melhor banco para se trabalhar como vive prometendo”, acrescentou Rita.

Direito à informação e transparência

Os dirigentes sindicais cobraram também transparência em relação às informações sobre os funcionários do banco. Na Espanha, os sindicatos têm acesso a dados como número de contratações, desligamentos e afastamentos, bem como as faixas e níveis salariais, que são divulgados em jornais para o conhecimento de todos.

Paiva disse que concorda em abrir informações para o movimento sindical e ficou de apresentar números de recentes pesquisas feitas com os funcionários do banco.

“Queremos direito à informação e transparência na gestão, como forma de valorização dos funcionários do banco, além de contribuir para elaborar propostas alternativas”, salientou Rita.

Homologação

Foi colocado também o problema que tem sido causado pela tentativa do banco de fazer homologações com prepostos terceirizados. A medida não é prevista em lei e, portanto, não pode ser imposta nem ao trabalhador, nem aos sindicato. “Isto vem acontecendo em todo o país. Mas, como somente um preposto com vínculo empregatício com o Santander pode assinar uma homologação em nome do banco, há casos de bancários com problemas para sacar o FGTS. Já houve 17 casos relatados de trabalhadores demitidos do Santander que não conseguiram sacar o fundo na Caixa porque o funcionário não reconheceu legitimidade do preposto terceirizado. Paiva ficou de dar uma solução para o problema o quanto antes”, informa Garcez.

Regionais

Sobre questões relativas à base do Rio de Janeiro, Garcez traz notícias. Quanto aos locais onde foi suspenso o pagamento do adicional de periculosidade, o movimento sindical solicitou ao banco que entregue os laudos da vistoria que constatou a mudança de layout – e, consequentemente, de periculosidade – dos locais onde funcionam os postos.

Outra questão regional foi o fechamento do ambulatório do Realzão. O serviço foi encerrado de uma hora para outra e o fechamento foi avisado numa sexta-feira no fim do dia, e concretizado na manhã de segunda-feira. “O banco alega baixa utilização, mas ficou de manter o serviço, só que de outra forma. A maneira como o ambulatório passará a funcionar será, segundo promessa do banco, organizada em conjunto com os funcionários”, relata Garcez.

Também foi discutida a segurança dos funcionários do call center – problema comum no Rio e em São Paulo, estados onde há operação de atendimento telefônico. Haverá uma reunião dia 06 para falar especificamente sobre os problemas do call center. Outra questão que vai ser debatida na ocasião diz respeito ao acesso de dirigentes sindicais aos locais de trabalho. “Nossos crachás de funcionário são barrados no call center. Eles dizem que há quebra de sigilo se entrarmos. Mas é claro que não! Nós não vamos ali para isso. Nas agências, o único lugar onde não podemos entar é a tesouraria, este, sim, por questão de segurança e sigilo”, critica Garcez.

Avaliação

Para o diretor da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr, “abrimos um importante canal de diálogo com um dos principais executivos do banco e, mesmo que ele não tenha assumido nenhum compromisso com o fim das demissões, esperamos que a situação real das agências que apresentamos estimule reflexões e mudanças na gestão do banco, sobretudo na relação com os trabalhadores e os clientes”.

“Precisamos continuar fazendo ações sindicais em todo o país, a fim de defender o emprego e os direitos dos trabalhadores e aposentados do banco”, enfatiza Ademir. “Queremos que o Santander respeite o Brasil e os brasileiros”, conclui.

Paulo Garcez destacou que muitas das questões colocadas para Paiva já haviam sido encaminhadas ao departamento de Relações Sindicais, mas sem sucesso. “Mais de uma vez ele indicou que a responsabilidade é da equipe de RH e cobrou dos subordinados que tomem as providências necessárias”, relatou o dirigente.

Participação

Também participaram da reunião os dirigentes sindicais Mário Raia (Contraf-CUT), Alberto Maranho (Fetec-CUT/SP), Bino Koehler (Fetrafi-RS), Tereza Souza (Fetrafi-NE), Leonice Souza (Fetec Centro Norte), Sandro Zanona (Fetec-CUT/PR), Cristiano Meibach (Feeb SP-MS), Adelmo Andrade (Fetec BA-SE), Erik Nilson (Sindicato do ABC), Chocolate (Sindicato de Barretos), Marcelino da Silva (Sindicato de Campinas) e o presidente da Afubesp, Camilo Fernandes.

Fonte: Contraf-CUT, com Fetraf-RJ/ES