“A manifestação do pessoal de sindicatos e partidos”

Bepe Damasco *


As aspas são para os profissionais de imprensa que vendem sua penas para o PIG e para o pelotão das trevas que invade as redes sociais. Definindo dessa forma pejorativa a manifestação das centrais sindicais do dia 11 de julho, buscavam diminuir a luta das representações de trabalhadores, sempre tentando compará-la, numérica e politicamente, à revolta dos bem-nascidos de junho. Da minha parte, aceito de bom grado o desafio da comparação e peço respeito.


Quem esteve nas ruas, na última quinta-feira,foi uma parcela importante dos que conquistaram o direito para que todos pudessem se manifestar.Os que estiveram nas ruas, na última quinta-feira, em boa medida, foram os herdeiros de gerações generosas de brasileiros e brasileiras que deram a vida por liberdade, justiça  e democracia. Quem esteve nas ruas, na última quinta-feira, tem pauta de reivindicações, responsabilidade política, estratégia e sabe o que quer.


A propósito, por mais que os reacionários de sempre da mídia queiram, as manifestações de rua nunca foram, não são e jamais serão monopólio de ninguém. O problema é que comemoraram antes do tempo. Acharam que a babel despolitizada, elitista, errante e violenta de junho tinha o condão de varrer das ruas os velhos lutadores. Justamente os que se graduaram e pós-graduaram no enfrentamento às forças de segurança da ditadura, na luta pela anistia, pela Assembleia Nacional Constituinte, contra a Lei de Segurança Nacional, pelas Diretas Já e pelo impeachmment de Collor.


No Brasil, vai se cristalizando da classe média para cima, depois de anos a fio de serviço sujo feito pela mídia, um sentimento de menosprezo pelos que têm escolhas ideológicas, políticas e partidárias. Além de solapar a consolidação de democracias incipientes como a nossa, esse preconceito antirrepublicano e antidemocrático costuma adubar o terreno para saídas autoritárias, a cargo do salvador da pátria de plantão. Essa onda contra a política dever ser combatida não só pelo PT e partidos de esquerda, como também por todos que têm apreço pelo sistema democrático.


Isso não significa de forma alguma varrer para debaixo do tapete a grave crise de credibilidade que afeta os partidos políticos no Brasil. Os que me dão o prazer de ler os meus posts nesse blog são testemunhas das críticas ácidas que faço à burocratização do PT, à sua institucionalização exagerada, ao seu excesso de moderação política e ao seu afastamento dos  movimentos sociais. Esse debate, esse acerto de contas do PT consigo mesmo, é urgente para a salvação de uma das maiores e mais bem sucedidas experiências da esquerda em todo o mundo e ao longo da história : o Partido dos Trabalhadores.


 


* Bepe Damasco é jornalista. É assessor de comunicação da CUT-RJ.


 


Originalmente publicado no blog do autor, Outro Olhar.

Fonte: Bepe Damasco