Almir Aguiar *
A primeira viagem do novo Papa Francisco ao exterior, para presidir no Rio de Janeiro a Jornada Mundial da Juventude, reveste-se de uma série de significados, discutidos nas redes sociais, mas salta aos nossos olhos a necessidade do surgimento de novas lideranças cristãs em todo o mundo, para o Catolicismo.
A Folha de São Paulo mostrou-nos há dias uma pesquisa do Data Folha, segundo a qual o Brasil, que já foi o maior país católico do mundo, com 95 % de adeptos nos anos 50/60, hoje, meio século depois, detém a menor marca dos últimas décadas: 57 % , fruto da acomodação de uma maioria que permaneceu inerte, ou fruto da antiga divisão interna entre progressistas e conservadores, quem sabe comprometimentos políticos conservadores, distanciados dos interesses do povo, etc. Não seria errado supor que muitas outras organizações estão a precisar, também, de reencontrar seu fóco.
O surgimento do Cristianismo há 2000 anos foi a primeira grande revolução que mudou o Ocidente para sempre, com sua filosofia humanista e solidária a empregar o método da não violência. Segundo ele todos os homens são iguais em dignidade, são irmãos. O pensamento cristão está presente hoje na luta dos trabalhadores em diferentes ideologias por um mundo melhor, na defesa do estado democrático de direito, na construção das liberdades públicas, na solidariedade, nos direitos sociais e em todos os pleitos por justiça. Sabemos que ocorreram desvios ao longo da história da vida cristã, mas a chama do idealismo e da fraternidade nunca se apagou.
Neste momento em que o Brasil recebe o Papa Francisco, apresenta-se a oportunidade de meditarmos que até o Cristianismo quer ouvir seus fiéis, para que eles prossigam na religião e estejam preparados para enfrentar as questões do mundo atual. E Francisco se tornou pobre e simples pelo espírito para marcar seu pontificado, ao assumir o nome do santo de Assis, quem melhor compreendeu o legado de Cristo e quem mais se aproxima hoje dos que lutam por um mundo de conteúdo humanista, com menos consumismo, que recusa a ostentação da riqueza, a vaidade e o poder pelo poder. É o santo dos que não se vendem por nenhum preço e nenhum favor. E este é o Papa que tenta dar nova vida aos valores cristãos e pretende corrigir os desvios dos rumos incertos dos homens em suas aventuras pela vida.
Para mim, a atividade sindical nos ensina, no dia-a-dia, uma lição de vida parecida com a do Cristianismo: lutas e superações para conquistar o bem comum. Mas sabemos também ser preciso falar duro com os poderosos, com os insensíveis que não respeitam os direitos dos trabalhadores. E vemos neste momento o laço comum da necessidade de nos atualizarmos permanentemente, como também as nossas práticas de luta. É preciso refletir sobre o futuro e investir na formação de novos quadros para a militância democrática, porque não somos eternos. E assim como a Igreja quer ouvir e conhecer melhor seu povo, renovar-se e enfrentar as questões que o mundo atual, nós, sindicalistas, comprometidos com o aperfeiçoamento do regime democrático, também devemos procurar ouvir os novos sindicalistas: saber o que pensam da vida, quais suas metas e objetivos, o que querem os jovens trabalhadores, qual discurso devemos utilizar para caminharmos juntos, sem corrermos o risco de estarmos a viver a irrepresentatividade, há pouco revelada nas manifestações das ruas, nem estarmos dissociados daqueles a quem pensamos representar.
Está mais do que na hora de ajustarmos a prática ao discurso e avaliarmos os critérios das alianças que temos ajudado a defender no cenário político nacional, em nome da governabilidade, quando na verdade estas alianças podem estar nos afastando da pureza dos nossos ideais e nos mantendo ligados aos que reprimem e exploram os irmãos.
São pensamentos que me ocorrem e que nos devem levar a fazer uma reflexão sincera, quando ouvimos o Papa Francisco, aqui no Rio de Janeiro, a dizer palavras simples e belas voltadas para a construção de um mundo melhor. Que sejamos capazes de refletir, imbuídos do amor ao outro, do respeito ao companheiro, defendendo os direitos da coletividade e tudo aquilo que possa tornar a vida, melhor para todos os seres que nos acompanham nesta jornada sagrada que é a vida.
* Almir Aguiar é presidente reeleito do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, e coordenador do Site Observatório do Trabalho e da Cidadania
Fonte: Por Almir Aguiar