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Candidatos, todos iguais?

Frei Betto *

Em época de eleição respira-se emoção. A razão entra em férias, a sensibilidade  fica à flor da pele. Em família e no trabalho, todos manifestam opiniões sobre eleições e candidatos.

O tom das opiniões varia do palavrão (a desqualificar toda a árvore genealógica do candidato) à veneração acrítica de quem o julga perfeito. Marido briga com a mulher, pai com o filho, amigo com amigo, cada um convencido de que possui a melhor análise sobre as eleições…

Há quem insista em se manter indiferente ao período eleitoral, embora não o consiga em relação a candidatos, todos eles considerados corruptos, mentirosos, aproveitadores e/ou demagogos.

Não há saída: estamos todos sujeitos ao Estado. E este é governado pelo partido vitorioso nas eleições. Portanto, ficar indiferente é passar cheque em branco, assinado e de valor ilimitado, a quem governa. Governo e Estado são indiferentes à nossa indiferença e aos nossos protestos individuais.

É compreensível uma pessoa não gostar de ópera, jiló ou cor marrom. E mesmo de política. Impossível é ignorar que todos os aspectos de nossa existência, do primeiro respiro ao último suspiro, têm a ver com política.

A classe social em que cada um de nós nasceu decorre da política vigente no país. Houvesse menos injustiça e mais distribuição da riqueza, ninguém nasceria entre a miséria e a pobreza. Como nenhum de nós escolheu a família e a classe social em que veio a este mundo, somos todos filhos da loteria biológica. O que não deveria ser considerado privilégio por quem pretence às classes média e rica, e sim dívida social para com aqueles que não tiveram a mesma sorte.

Somos ministeriados do nascimento à morte. Ao nascer, o registro segue para o Ministério da Justiça; vacinados, Saúde; ao ingressar na escola, Educação; ao arranjar emprego, Trabalho; ao tirar habilitação, Cidades; ao aposentar-se, Previdência Social; ao morrer, retorna-se ao Ministério da Justiça. E nossas condições de vida, como renda e alimentação, dependem dos ministérios da Fazenda e do Planejamento.

Em tudo há política. Para o bem ou para o mal. Há política até no calendário. Dezembro, deriva de dez; novembro, de nove; outubro, de oito; setembro, de sete.

Outrora, o ano tinha dez meses. O imperador Júlio César decidiu acrescentar mais um em sua homenagem. Criou julho. O sucessor, Augusto, não quis ficar atrás. Criou agosto.

Como os meses se sucedem na alternância 31/30, Augusto não admitiu seu mês ter menos dias que o do antecessor. Obrigou os astrônomos da corte a equipararem agosto e julho em 31 dias. Não titubearam: arrancaram um dia de fevereiro e resolveram a questão.

O Brasil é o resultado das eleições de outubro. Para melhor ou pior. E os que o governam são escolhidos pelo voto de cada eleitor.

Faça como o Estado: deixe de lado a emoção, pense e vote com a razão. As instituições públicas são movidas por politicos escolhidos por nós e pessoas indicadas por eles. Todos os funcionários são nossos empregados.

* Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do poder” (Rocco), entre outros livros.
www.freibetto.org     twitter: @freibetto.


 


 





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Coerência partidária

Frei Betto*

Se nossos partidos políticos fossem coerentes, expulsariam de suas fileiras todo político ficha suja e comprovadamente corrupto. Não aceitariam financiamento de campanhas eleitorais por pessoas jurídicas, como empresas e bancos.

Se fossem coerentes, os partidos obrigariam seus candidatos, uma vez eleitos, a cumprir o que prometeram, sob ameaça de denúncia e expulsão. E suspenderiam a filiação de todos os suspeitos de corrupção até dada a palavra final pela Justiça.

Se os partidos fossem coerentes, jamais admitiriam que candidatos flagrados em corrupção ou vetados pela Justiça Eleitoral indicassem a mulher ou o filho para ocupar seu lugar na disputa eleitoral.

Se fossem coerentes, os partidos tornariam transparente sua contabilidade e revelariam quem financia seus candidatos e com que valor.

Se os partidos fossem coerentes, fariam formação política de seus militantes e investigariam a vida pregressa de quem pretende se filiar a eles.

Se fossem coerentes, os partidos não permitiriam a projeção de caciques nem que eles se perpetuassem na sua direção, como ditadores que jamais cedem lugar a novos filiados.

Se os partidos fossem coerentes, não fariam alianças espúrias nem nomeariam para cargos públicos políticos e filiados que são obviamente safados, corruptos e oportunistas.

Se fossem coerentes, os partidos teriam militantes voluntários em suas campanhas eleitorais, sem necessidade de pagar pessoas desocupadas para distribuir propaganda eleitoral nas ruas.


 


Se os partidos fossem coerentes, divulgariam mais seus programas de governo e não candidatos de última hora, que neles ingressam para pegar carona motivados apenas por ambição de poder.

Se fossem coerentes, os partidos implantariam núcleos de base em periferias, favelas e bairros populares, fora do período eleitoral.

Se os partidos fossem coerentes, jamais aceitariam a filiação de quem não defende os direitos humanos proclamados pela Carta da ONU em 1948.

Fossem coerentes, os partidos não seriam como geleia que se adapta ao pote de poder no qual são inseridos, e proclamariam seus princípios e objetivos.

Se os partidos fossem coerentes, antecipariam a Reforma Política dentro de sua estrutura interna, e jamais se deixariam mercantilizar como legendas de aluguel.

Se os partidos políticos fossem coerentes, teríamos no Brasil uma verdadeira e saudável democracia.


 


 


* Frei Betto é escritor, autor de “Reinventar a vida” (Vozes), entre outros livros.
www.freibetto.org     twitter: @freibetto.






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Mortes precoces

Frei Betto*

O Brasil é o 6º país em mortes de jovens no mundo. Aqui eles são mortos pela polícia, por balas “perdidas”, pela guerra entre traficantes e por acidentes de moto ou carro. O dado é da UNICEF. Em números absolutos, o Brasil teve, em 2012, mais de 11 mil homicídios de pessoas entre 0 e 19 anos de idade, atrás apenas da Nigéria, que teve 13 mil.

Aqui ocorrem 17 assassinatos em cada 100 mil jovens. E 10 % das meninas com menos de 19 anos já fizeram sexo forçado. Em geral, a pedofilia ocorre no próprio âmbito familiar.

A UNICEF pesquisou 190 países. À frente do Brasil em assassinatos de jovens estão El Salvador (27/100 mil), Guatemala (22), Venezuela (20), Haiti (19) e Lesoto (18).

Jovens negros sofrem o risco três vezes maior de serem assassinados que brancos da mesma faixa etária. Nossa polícia, com raras exceções, não é treinada para agir sem preconceito racial e com respeito à cidadania dos mais jovens.

Segundo o UNICEF, a violência cresceu “dramaticamente” nas grandes cidades brasileiras nos últimos anos. Isso se deve à desigualdade social, ao acesso facilitado às armas de fogo, ao alto consumo de drogas e ao crescimento da população jovem.


 


“O homicídio é a primeira causa de morte entre homens de 10 a 19 anos no Brasil, no Panamá, na Venezuela, na Guatemala,  na Colômbia, em El Salvador e Trinidad y Tobago”, afirma o relatório.

Em 1/5 dos assassinatos no mundo as vítimas têm menos de 20 anos. Em 2012, essas vítimas precoces somaram 95 mil!

Uma em cada 10 meninas em todo o mundo já sofreu algum tipo de ato sexual forçado. Os abusos costumam ser praticados por pais e parentes. E 6, em cada 10 crianças entre 2 e 14 anos, são regularmente agredidas por seus pais. Estes ignoram que criança surrada tende a ser adulto revoltado, capaz inclusive de crimes hediondos.

Entre cada dez adultos, três acreditam que castigos físicos são necessários para criar os filhos. Em 58 países, 17 % dos menores sofrem “graves formas de castigos físicos”, índice que sobe para 40 % em países como Egito e Iêmen.

É urgente os governos adotarem políticas em relação à violência infantil, que não é normal nem tolerável. Em junho, a presidente Dilma Rousseff sancionou o projeto que criou a Lei da Palmada, para punir adultos que submetam menores a castigos que resultem em sofrimento físico. A lei determina que as crianças sejam educadas sem castigos físicos ou “tratamento cruel ou degradante como forma de correção ou educação.”

O relatório do UNICEF, de 206 páginas, indica que cerca de 120 milhões de meninas e adolescentes de menos de 20 anos (ou uma em cada dez) já sofreram violência sexual.

Metade das jovens entre 15 e 19 anos consideram justificável que o marido bata na mulher “em determinadas circunstâncias”. A proporção chega a 80 % em países como Afeganistão, Jordânia e Timor Leste. A violência doméstica é encoberta pelo medo das vítimas de denunciarem o agressor, o que agrava o problema.

Quem bate não ama. Quem abusa é tarado. Quem mata merece cadeia.

* Frei Betto é escritor, autor de “Alfabetto – autobiografia infantil” (Ática), entre outros livros.
www.freibetto.org     twitter: @freibetto.


 





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Receita eleitoral

Frei Betto *



Trate de se apresentar muito bem preparado ao discursar. Em campanha eleitoral, você precisa obter o apoio dos amigos e o apreço do povo.


Faça amizades de todo tipo: para ter uma boa imagem, com homens de carreira e nomes ilustres (os quais, mesmo se não têm interesse em declarar seu voto, ainda assim conferem prestígio ao candidato).


Três coisas levam os homens a dar apoio eleitoral: favor, esperança ou simpatia espontânea. Graças aos mais insignificantes favores, as pessoas são levadas a julgar que há motivo suficiente para declarar seu apoio.


Quanto aos que são atraídos pela esperança, aja de modo a parecer disposto a prestar ajuda, e também de forma a perceberem que você é um observador cuidadoso das tarefas executadas por eles.


O terceiro tipo é o apoio espontâneo, que será preciso consolidar expressando agradecimentos, adaptando os discursos aos argumentos que parecem seduzir cada adepto isoladamente, dando mostras de retribuir-lhes a mesma simpatia, sugerindo que a amizade pode transformar-se em íntima e habitual.


 Volte sua atenção para a cidade inteira, todas as associações, todos os distritos e bairros. Se atrair seus líderes à amizade, facilmente terá nas mãos, graças a eles, a multidão restante.


Habitantes de cidades pequenas e da zona rural, se os conhecemos pelo nome, acham que privam de nossa amizade.


Agora, cuidado com o seguinte: se alguém lhe prometeu fidelidade e você descobrir que tem duas caras, finja que não ouviu ou percebeu; se alguém, julgando que você suspeita dele, quiser atestar inocência, garanta com firmeza que nunca desconfiou do apoio que recebe nem tem por que desconfiar.


Você deve ensaiar, até que pareça agir naturalmente; é preciso certa bajulação, a qual mesmo sendo viciosa e torpe no restante da vida, é imprescindível na campanha eleitoral.


Outro conselho diz respeito a um pedido ao qual não seja capaz de atender: nesse caso, negue de modo simpático ou, então, não negue de jeito nenhum; a primeira atitude é de um bom homem; a segunda, de um bom candidato. Todas as pessoas, no íntimo, preferem uma mentira a uma recusa.


Cuide para que sua campanha seja brilhante, esplêndida e popular, que tenha uma imagem e um prestígio insuperáveis.


O texto acima foi escrito por Cícero, em Roma, há 2077 anos, para seu irmão, Marco Cícero, candidato, em 63 a.C., ao mais alto cargo da República, o de cônsul, equivalente ao de Presidente atualmente.


 



* Frei Betto é escritor, autor de “Reinventar a vida” (Vozes)
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O Brasil e o mundo hoje

Frei Betto *



O diagnóstico da ONU sobre a “saúde” do mundo se chama IDH – Índice de Desenvolvimento Humano. Divulgado a 24 de julho, abarca 187 países. O Brasil ficou em 79º lugar. Melhorou, mas ainda anda mal das pernas.


Na América Latina, quatro países ocupam melhor posição que o Brasil: Chile (41º), Cuba (44º), Argentina (49º) e Venezuela (67º). E não dá para acusar a ONU de esquerdista…


No mundo, os cinco melhores colocados são, pela ordem: Noruega, Austrália, Suíça, Holanda e EUA.


O diagnóstico reconhece que o Brasil avançou em quase todos os quesitos, mas tropeçou na educação. E aplaude o Bolsa Família, o aumento de consumo das classes de baixa renda, o avanço do emprego e a redução das disparidades raciais graças ao sistema de cotas nas universidades.


O governo federal não gostou do que ouviu. Alega que a saúde do Brasil está bem melhor. Mereceria o 67º lugar, empatado com a Venezuela. A ONU é que teria se baseado em dados ultrapassados.


O IDH tem por objetivo indicar o calcanhar de Aquiles, os pontos vulneráveis de cada país, de modo a evitar retrocessos sociais.


Nós, brasileiros, segundo a ONU, temos 7,2 anos de escolaridade. O governo diz que são 7,6. Ainda assim é pouco, considerando que no Chile e na Argentina a frequência à escola é de 9,8 anos e, em Cuba, 10,2, o melhor índice da América Latina.


Nossa expectativa de vida é de 73,9 anos. Para o governo, 74,8 anos. Na década de 1980, não passava de 64 anos. Esse prolongamento de vida se deve à redução da mortalidade infantil, às políticas de direitos sexuais e reprodutivos, à ampliação do atendimento de emergência em hospitais e ao Programa Mais Médicos, que atua sobretudo na prevenção.


Se o balanço da ONU considerasse a desigualdade social, o Brasil figuraria na 95ª posição. Embora este fosso  tenha diminuído na última década, aqui os 10 % mais ricos detêm 42 % da renda. E 1 % destes possui renda 87 vezes superior à dos 10 % mais pobres.


A ONU alerta que dos 7 bilhões de habitantes da Terra, 2,2 bilhões vivem na pobreza, dos quais 1,2 bilhão sobrevivem na miséria, com renda mensal de, no máximo, R$ 80. No Brasil, 6 milhões de pessoas são muito pobres.


O nó que ainda impede o nosso país de avançar no placar da ONU é a educação. Embora quase todas as crianças cursem o ensino fundamental, faltam creches e é grande a evasão no ensino médio. A escola particular é cara e a pública, de má qualidade, com professores que trabalham muito e ganham pouco. E o que esperar de um aluno que fica apenas quatro horas por dia na escola? Ensino básico de qualidade só se consegue com tempo integral.


Como cada um de nós pode ajudar o Brasil a melhorar seu IDH? Temos em mãos uma boa ferramenta para isso: o voto, dia 5 de outubro. São as políticas sociais adotadas pelo governo que fazem um país melhorar ou piorar. E o governo é integrado por homens e mulheres eleitos pelo nosso voto.


 


 


* Frei Betto é escritor, autor da obra infantil “Começo, meio e fim” (Rocco), entre outros livros
www.freibetto.org     twitter: @freibetto.


 






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Plebiscito à vista!

Frei Betto *

A maioria da população brasileira (89 % ) é favorável à reforma política, constatou pesquisa da Fundação Perseu Abramo. Como atingir esse objetivo?


A CNBB convocou uma centena de entidades da sociedade civil para propor o Projeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política.


O projeto inclui a proibição do financiamento de campanha eleitoral por empresas. Hoje, nós votamos e o poder econômico elege! O financiamento deveria ser com recursos públicos e contribuição de pessoa física no limite de R$ 700.


No sistema atual, qualquer candidato pode ser financiado por empresas. Uma vez eleito, passa a defender interesses corporativos, e não da população.


Exemplos de aprovações que favorecem o lucro de empresas são a liberação dos agrotóxicos, a isenção fiscal ao agronegócio, os contratos de empreiteiras em obras públicas e a política de juros altos.


Em política, empresário não faz doação. Faz investimento. Essa promiscuidade entre interesses políticos e negócios privados estimula a corrupção.


Por considerá-la contrário à Constituição, a OAB levou ao STF esta contradição: pessoas jurídicas, que não têm direito a voto, influem mais nas eleições que eleitores ao exercerem seu direito de cidadania. A 2 de abril o STF julgou a ação.


Transcrevo trecho do voto do ministro Marco Aurélio Mello: “Segundo dados oficiais do TSE, nas eleições de 2010, um deputado federal gastou, em média, R$ 1,1 milhão; um senador, R$ 4,5 milhões; e um governador, R$ 23,1 milhões. A campanha presidencial custou mais de R$ 336 milhões. Nas eleições municipais de 2012, segundo recente contabilização do Tribunal, teriam sido gastos incríveis 6 bilhões de reais. E os maiores financiadores são empresas que possuem contratos com órgãos públicos. O setor líder é o da construção civil, tendo contribuído com R$ 638,5 milhões; seguido da indústria de transformação, com R$ 329,8 milhões; e do comércio, com R$ 311,7 milhões.”


O ministro Gilmar Mendes pediu vistas e suspendeu-se a votação. Porém, o resultado já está definido: seis dos onze ministros já votaram contra o financiamento de campanhas por pessoas jurídicas!


Vitória? Ainda não. Parlamentares querem mudar a Constituição e tornar legal a prática de empresas financiarem campanhas eleitorais.


Daí a importância de participarmos do Plebiscito por uma Constituinte Exclusiva e Soberana na Semana da Pátria.


 


* Frei Betto é escritor, autor do livro infantil “Começo, meio e fim” (Rocco)
www.freibetto.org     twitter: @freibetto.


 


 





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O Diabo nas finanças do Vaticano

Frei Betto *



Não sei se o diabo veste Prada e se habita a livraria do cônego, como atestou Eduardo Frieiro. Sei que gosta do cheiro do dinheiro e, agora, parece perder espaço no banco do Vaticano, oficialmente IOR (Instituto para Obras de Religião).


O papa Francisco, na ânsia de reformar a Cúria Romana, a 9 de julho substituiu o presidente do banco, o alemão Ernst Von Freyberg, nomeado por Bento XVI, pelo francês Jean-Baptiste de Franssu.


O combate à corrupção e à lavagem de dinheiro no banco do Vaticano decorre da decisão do “G9”, o grupo de nove cardeais que assessora o papa na reforma da Igreja.


Entre as 19 mil contas do banco, três mil, consideradas suspeitas, já foram canceladas após a auditoria ordenada por Francisco. O papa “quer que as mudanças aconteçam rapidamente”, declarou o cardeal George Pell, que dirige a recém-criada Secretaria da Economia do Vaticano.


O objetivo de Francisco é enxugar o IOR, torná-lo um banco acessível apenas a funcionários da Igreja e instituições católicas. Segundo o cardeal Pell, transformá-lo em um simples “prestador de serviços à Igreja”.


No início de julho, o IOR publicou seu balanço de 2013. Anunciou o bloqueio de 1.329 contas pessoais e 762 institucionais. O encerramento dessas contas representa para o banco uma perda de 44 milhões de euros.


“Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”, disse Jesus (Lucas 16, 13). E ele próprio quebrou as bancas dos cambistas do Templo de Jerusalém (Mateus 21, 12).


Ações mafiosas na Igreja não são novidade. Teve repercussão mundial o caso Marcinkus, arcebispo ítalo-americano que presidiu o banco do Vaticano entre 1971 e 1989. Foi acusado de responsável pela quebra do Banco Ambrosiano de Milão, em 1982, declarado insolvente pelo governo italiano após ter sido descoberto um rombo de US$ 1,5 bilhão. O Vaticano possuía 10 % do capital do Ambrosiano.


Ao investigar a falência do banco, a Justiça descobriu operações fraudulentas, como pagamentos ilícitos à loja maçônica P-2 e desvios de fundos para contas em proveito particular. Acusado formalmente, Marcinkus escapou da prisão ao se asilar no Vaticano, que gastou US$ 100 milhões para ressarcir clientes do Ambrosiano.


Em lances dignos das novelas de Ian Fleming, dois meses antes da quebra do banco, seu presidente, Roberto Calvi, apareceu enforcado sob uma ponte em Londres. Atribuiu-se a suicídio. Exumado o corpo, se comprovou que havia sido assassinado num terreno baldio próximo à ponte e ali dependurado.


O católico Richard Hammer, agente do FBI, narra em seu livro “The Vatican connection” (Conexão vaticana), como descobriu, por acaso, em 1971, que o cardeal Tisserant, via Marcinkus, aceitara cobrir o déficit do banco do Vaticano, no valor de US$ 950 milhões, recebendo da máfia a metade do valor em ações da Bolsa “perfeitamente” falsificadas.


O fato de as Igrejas gozarem, no Brasil, de isenção tributária, facilita a corrupção e dificulta a transparência de suas transações financeiras. Mais lamentável é padres e pastores de alguns países, como Alemanha e Argentina, receberem salários do Estado, o que os impede de exercerem o profetismo de denunciar as mazelas do governo. Talvez isso explique a cumplicidade de muitos padres e pastores alemães com o nazismo, e argentinos com a ditadura militar.


O papa Francisco, na primeira semana de seu pontificado, foi visto apagando as luzes dos salões do Vaticano. Indagado por que se ocupava com aquilo, respondeu: “A conta de luz de um mês desses salões dá pra sustentar por um ano um sacerdote na América Latina”.


O que vale para a Igreja, vale para o mundo: enquanto perdurar a idolatria do dinheiro, com o seu valor acima do valor das pessoas, estaremos longe da proposta de Jesus de criar uma sociedade em que “todos tenham vida e vida em abundância” (João 10, 10).


 


 


* Frei Betto é escritor, autor de “Reinventar a vida”, que a editora Vozes lança neste fim de julho.
www.freibetto.org     twitter: @freibetto.


 


 





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A evolução do crédito na economia brasileira de 2008 a 2013

O crédito desempenha importante papel nas economias capitalistas modernas, uma vez que assume papel essencial no financiamento dos investimentos dos setores produtivos e do consumo das famílias. No Brasil, a oferta de crédito, medida pela relação crédito/PIB, sempre foi historicamente baixa em comparação a outros países, a despeito de o sistema financeiro de nosso país ser considerado um dos mais sólidos e desenvolvidos do mundo, na atualidade. Uma das razões para explicar essa aparente contradição é que, em virtude de certas características do processo de desenvolvimento econômico brasileiro, os bancos, em vez de financiar preferencialmente as atividades produtivas, optaram por aplicar seus recursos na rolagem da dívida pública, devido à atratividade dos juros. Ainda assim, a relação crédito/PIB, que era 23,8 % , em dezembro de 2002, passou a 55,8 % , em fevereiro de 2014(1).

A oferta de crédito tem se elevado no país devido a uma série de fatores, entre eles, a retomada do crescimento econômico, a forte recuperação do mercado formal de trabalho e o crescimento dos rendimentos do trabalho, impulsionado pela política de valorização do salário mínimo e pelos ganhos reais obtidos por diversas categorias nas negociações coletivas. Além disso, houve uma clara orientação de política econômica, na última década, no sentido da ampliação do crédito, especialmente pelos bancos públicos federais e pelo BNDES, com vistas à sustentação do crescimento econômico, em resposta aos efeitos da crise econômica mundial. Com este objetivo, diversas modalidades de crédito foram criadas, aperfeiçoadas e ampliadas, como o crédito consignado em folha de pagamento, os cartões de crédito, o crédito para aquisição da casa própria e o crédito rural, entre outros.

No entanto, a atuação das instituições financeiras brasileiras, no processo recente de ampliação do crédito, não ocorreu de forma homogênea. Os bancos públicos tiveram um papel de destaque com a propagação da crise econômica internacional, no final de 2008, e, também, a partir de abril de 2012, quando foram acionados pelo governo federal para reduzir o spread bancário(2). Como resposta à crise, os bancos privados promoveram forte retração do crédito. Frente ao que a oferta de crédito passou a ser crescentemente sustentada pelos bancos públicos, que atuaram de forma anticíclica(3) para evitar uma maior desaceleração da economia. A atuação dos bancos públicos ocorreu em todas as modalidades de crédito – pessoa física e jurídica, recursos livres e direcionados.

Houve aumento da participação dessas instituições no total do crédito ofertado à economia brasileira. Nos bancos públicos, o saldo das operações de crédito cresceu 210 % em termos reais, enquanto nos bancos privados nacionais e estrangeiros, a expansão foi de 54 % e de 46 % , respectivamente. Em função disso, a participação relativa dos bancos públicos, no saldo total das operações de crédito da economia, saltou de 36 % , em janeiro de 2008, para 51 % , em dezembro de 2013. Em consequência, os bancos privados nacionais e estrangeiros reduziram a participação na oferta de crédito, de 43 % para 33 % e de 21 % para 16 % , respectivamente.

Entre as modalidades de crédito que tiveram melhor desempenho no período, destaca-se o crédito com recursos direcionados – crédito imobiliário, rural e recursos do BNDES para investimentos, microcrédito e agroindústria, conforme veremos alguns destaques a seguir.

O volume do saldo da carteira de crédito direcionado para aquisição e financiamento imobiliário cresceu 4,7 vezes (474,8 % ) entre 2008 e 2013. Esse crescimento se refletiu na maior participação da carteira de crédito imobiliário no total dos recursos direcionados, que era de 15,7 % , em janeiro de 2008 e passou a ser de 33 % , em dezembro de 2013. Vários fatores influenciaram esse crescimento substancial do crédito habitacional, como o aumento da renda das famílias, a estabilidade econômica, a entrada e maior atuação dos bancos privados nessa modalidade de crédito, uma vez que grande parte destes financiamentos era realizada pelos bancos públicos, principalmente a Caixa Econômica Federal, além do incentivo do governo aos programas como o “Minha Casa, Minha Vida”.

O crédito rural – destinado aos produtores, cooperativas e associações, com o objetivo de estimular a produção agrícola, os investimentos e a comercialização de produtos agropecuários – representava 3,4 % do PIB, em janeiro de 2008. Ao longo desse período, tal como ocorreu com a maioria das linhas de crédito da economia, esse percentual se ampliou, passando a representar 4,6 % de toda a riqueza gerada no país. Vale lembrar que somente o Banco do Brasil tem 66,1 % de participação de mercado em créditos rurais e agroindustriais.

No que se refere à atuação do BNDES, destacam-se as linhas de crédito “capital de giro” e “financiamento de investimentos”, para pessoa física e para pessoa jurídica. O saldo do crédito para capital de giro com recursos do BNDES para pessoas jurídicas apresentou crescimento real acumulado de 99 % , entre janeiro de 2008 e dezembro de 2013, alcançando o patamar de R$ 23,052 bilhões. No mesmo período, o financiamento de investimentos às empresas apresentou crescimento real de 170 % , chegando a R$ 482,686 bilhões.

No que tange ao crédito com recursos livres, o consignado foi um dos destaques no empréstimo voltado ao incremento do consumo das famílias, amparado na recuperação dos indicadores do mercado de trabalho e da renda. Em dezembro de 2013, o saldo total das operações de crédito consignado da economia brasileira foi de R$ 221,8 bilhões, sendo R$ 17,9 bilhões destinados aos empregados da iniciativa privada, R$ 137,1 bilhões aos do setor público e R$ 66,7 bilhões aos aposentados e pensionistas do INSS. Em relação a janeiro de 2008, o saldo total destas operações teve crescimento real acumulado de 128,9 % . O maior crescimento ocorreu entre os trabalhadores do setor privado, de 155,4 % , seguido de 134,4 % entre os trabalhadores do setor público e 112,9 % entre aposentados e pensionistas. Contudo, quando se observa o comportamento das taxas de crescimento real do saldo das operações de crédito consignado, acumulado em 12 meses, nota-se uma expansão mais acelerada, a partir do final de 2009 até o início de 2011. Desde então, as taxas de crescimento desaceleram e, em 2012 e 2013, praticamente retornam aos patamares vigentes no início do período.

Há de se ressaltar, entretanto, que apesar do crescimento verificado, a continuidade da expansão do crédito no país, especialmente dos recursos direcionados, depende de uma série de fatores. Em termos mais pontuais e imediatos, destacam-se as recentes medidas do governo que visam permitir a portabilidade de crédito entre instituições financeiras e que levar ao aumento da concorrência e da redução das taxas de juros. Do ponto de vista estrutural, os desafios estão colocados pela elevada taxa de juros e altos spreads do sistema financeiro nacional, uma vez não ser possível ampliar a oferta de crédito de forma persistente e segura, isto é, sem aumentar a inadimplência, na vigência de juros e spreads tão elevados.

A experiência recente mostra que a tentativa de redução de juros e spreads enfrenta forte resistência por parte dos setores rentistas, entre eles, os grandes bancos, que detêm parcela expressiva dos títulos da dívida pública brasileira corrigidos pela variação da taxa básica de juros da economia – Selic. Ou seja, a ampliação da oferta de crédito requer alterações em um dos fundamentos que têm alicerçado a política macroeconômica do país há praticamente duas décadas. Sem isso, o país não alcançará níveis mais elevados de crescimento econômico e, principalmente, de desenvolvimento com distribuição de renda.

* Este texto foi elaborado a partir da Nota Técnica n.º 135, “A evolução do crédito na economia brasileira 2008-2013”, publicada em maio de 2014 pelo DIEESE. Para ler a versão integral, acesse o endereço eletrônico http://www.dieese.org.br/notatecnica/2014/notaTec135Credito.pdf.





(1) Informações apuradas pelo Banco Central do Brasil.
(2) Em linhas gerais, spread bancário pode ser entendido como a diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar e a taxa que ele mesmo paga ao realizar uma captação.
(3) Atuação anticíclica corresponde, sinteticamente, à busca de reversão das flutuações econômicas, em especial nos momentos de retração ou expansão da atividade.

Fonte: Dieese

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Um sopro de esperança

Países emergentes reunidos no Brasil crescem como novo bloco econômico mundial, os “BRICS”


 


Por Almir Aguiar*



Um fato muito bom para o planeta acaba de acontecer no Brasil em meio ao caos que assola a economia da maioria dos países, com imensas legiões de desempregados, depressão e injustiças. Este fato bom tem 5 letrinhas: B, R, I, C, S: formando a sigla BRICS, que significa o companheirismo e a cooperação econômica entre cinco nações em desenvolvimento, que chamam a atenção do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (esta, representada pela letra S, de South África). O mundo vê, hoje, que estes países representam 21 % do PIB mundial e a China, considerada país em desenvolvimento, assume cada vez mais seu papel de grande potência emergente, seja por sua população de 1,5 bilhão de habitantes, seja por sua economia que assusta o mundo capitalista com índices de crescimento que, mesmo considerados abalados pela crise mundial, são extremamente positivos.

Estes cinco países não propõem, pelo menos por enquanto, uma nova ordem mundial. Eu disse por enquanto. Mas eles, que só vinham tendo vida própria ma mídia quando se reuniam para discutir suas questões econômicas, acabam de criar um banco internacional e um fundo de reserva para financiamentos entre si, com um capital de 50 bilhões de dólares, superior em 10 bi ao Banco Mundial, manipulado e dirigido pelas potências capitalistas da atualidade, ou seja, Estados Unidos e companhia. A sede do Banco BRICS ficará em Xangai, na China, e a presidência (rotativa) caberá desta vez à India. O Brasil ficará com a Presidência do Conselho.

Para reforçar este fato novo, a informação que se consolida a cada dia: os Estados Unidos não são mais o maior parceiro comercial do Brasil. Quem aos pouquinhos foi crescendo, ganhando espaço e hoje responde pelo maior volume de negócios conosco é a República Popular da China. A China também é, hoje, um grande investidor no Brasil, e nós já temos, também, algumas empresas brasileiras atuando por lá, onde pretendem crescer comercialmente. O que o Brasil mais exporta para a China são alimentos, proteínas e minérios. E cresce o comércio bilateral de produtos manufaturados.

Um outro setor no qual o Brasil pretende ser parceiro da China é o das Ferrovias. A China, maior em extensão territorial, tem estradas de ferro cortando o país em todas as direções, transportando passageiros e mercadorias. É este conhecimento técnico que o Brasil tem interesse em compartilhar com a China para aplicar aqui. Foi o que afirmou a presidenta Dilma em entrevista à TV Chinesa, para 500 milhões de telespectadores interessados em saber mais sobre o Brasil.

A VI Cúpula dos BRICS começou a se realizar em Fortaleza quando acontecia o último jogo da Copa do Mundo de Futebol, e teve a seguir novas reuniões de chefes de Estado em Brasília, que coincidiram com um outro encontro, de nações latino-americanas e caribenhas que também quiseram tirar uma casquinha do grande evento e propuseram parcerias com este novo banco internacional, para se livrarem dos altíssimo juros cobrados pelo FMI quando precisarem de recursos, sem falar nas intromissões políticas neoliberais nos negócios internos dessas nações. Portanto prestemos atenção a este novo fato econômico mundial, que revela o quanto a grande mídia capitalista e a brasileira, especificamente, estavam erradas e comprometidas com suas elites, quando noticiavam que os BRICS não tinham muita importância no desenvolvimento global.

Desde 2008 o mundo capitalista vem sendo atingido por uma crise econômica muito forte, cujas soluções apontam sempre para castigar o bolso dos trabalhadores e da classe média urbana, com recessão, desemprego, fim dos programas sociais e muito sofrimento para o povo. Os BRICS só vieram a ser atingidos em torno de 2011 e 2012, mas foram atingidos.

Sobre este fato que acabamos de narrar, a presidenta Dilma fez três declarações:


 



  • A taxa brasileira de crescimento desacelerou e o novo banco dos BRICS significa oxigênio para que nossas cinco nações terem fôlego para enfrentar mais uma crise capitalista.
  • Todos nós desaceleramos a nossa taxa de crescimento. O novo banco dos BRICS é uma resposta porque implica numa nova fonte de financiamento para aqueles países que acreditam que não é possível só fazer recessão, cortar empregos, onerar os trabalhadores e acabar com os processos de inclusão social.
  • Hoje os brasileiros têm novas demandas, novos anseios, novas preocupações e novos desejos. Por quê? Porque quando você dá um passo além do mínimo para viver, você passa a querer o máximo para desfrutar. O nosso sonho é esse, transformar o Brasil num país em que todos os brasileiros tenham o máximo para viver melhor.

Trata-se, portanto, de um sopro de esperança para os dias conturbados deste nosso planeta. Mas, o que é a vida, senão, apenas um sopro, como dizia o nosso sábio arquiteto e humanista Oscar Niemeyer?


 


 


*Almir Aguiar é bancário, advogado e presidente licenciado do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro

Fonte: Almir Aguiar

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40 anos do martírio de Frei Tito

Frei Betto*


 


Em agosto faz 40 anos que frei Tito de Alencar Lima foi induzido ao suicídio, na França, devido às torturas sofridas sob a ditadura militar no Brasil. Tinha 28 anos. Fomos companheiros na Ação Católica, na Ordem Dominicana e no Presídio Tiradentes.

Na sexta, 8 de agosto, haverá celebração eucarística, às 19h, na igreja de São Domingos, em São Paulo (rua Caiubi 164), de onde Tito, em companhia de outros frades, foi retirado pelo delegado Fleury, em novembro de 1969, para ser seviciado no DEOPS.

Preso até janeiro de 1971, Tito foi libertado graças ao sequestro do embaixador suíço. Banido do Brasil e enviado para o Chile, refugiou-se na França.

No sábado, 9 de agosto, a partir de 9h30, haverá o seminário “Frei Tito e a revolução brasileira”, no auditório do Colégio Rainha da Paz (R. D. Elisa de Moraes Mendes 39, Alto de Pinheiros, São Paulo).

Alfredo Bosi abordará “Recordar frei Tito hoje”. João Pedro Stédile e padre José Oscar Beozzo falarão sobre “Sentido histórico da ditadura civil-militar no Brasil e o papel da Igreja na resistência armada”.

Após o almoço comunitário (a preço de R$ 8), Mariana Pasqual Marques e Ivo Lesbaupin abordarão “Educação popular como caminho para a libertação”.

O tema “Socialismo e lutas contemporâneas” será tratado pelo Levante Popular da Juventude e por mim. O evento se encerra às 17h.

Inscrições (gratuitas) e informações pelo site www.freititovive.wordpress.com e pelo facebook.com/freititovive

Recordar o testemunho militante de frei Tito neste ano de 2014, que marca o cinquentenário do golpe militar, é resgatar o exemplo de todos, homens e mulheres, que lutaram na resistência à ditadura.

O Brasil ainda guarda fortes sequelas dos 21 anos de regime militar (1964-1985) e nossa democracia permanece dominada pelos mesmos grupos econômicos que, patrocinados pela Casa Branca, subverteram nossa ordem constitucional e implantaram o terror como forma de governo.

Comemorar (no sentido de fazer memória) frei Tito é combater o memoricídio, esse empenho das forças conservadoras para impedir que os jovens conheçam a história recente do Brasil.

É estarrecedor constatar que, ainda hoje, nossas Forças Armadas, em resposta cínica e mentirosa à Comissão Nacional da Verdade, declarem que nenhuma instalação militar foi utilizada no período da ditadura para violar direitos humanos…

Tito, Rubens Paiva, Stuart Angel e tantos outros que perderam a vida em mãos de militares torturadores e assassinos são homens insepultos. O exemplo e o sacrifício deles clamam por justiça e fortalecem a esperança de tantos que, hoje, nas ruas, lutam por direitos sociais, pelo aprimoramento de nossa democracia (votemos no plebiscito pela reforma política na Semana da Pátria!) e por alternativas ao capitalismo, que aprofunda a desigualdade e a exclusão sociais.

* Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros.
www.freibetto.org     twitter: @freibetto.

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Fonte: Frei Betto