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Plínio, o bom combate

Frei Betto*


 


Em tempos de fracasso da seleção brasileira na Copa e de eleições, convém manter vivo o exemplo de Plínio de Arruda Sampaio, de quem fui amigo e discípulo.

Ele poderia ter repetido o que disse Antônio Callado em sua última entrevista: “Sempre lutei do lado certo e perdi todas as batalhas.” Seria um exagero, já que Plínio participou da luta contra a ditadura, da criação do Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea), da fundação do PT, da Constituinte de 1988, da direção do jornal Correio da Cidadania e da fundação do PSOL.

Porém, transvivenciou sem ver seu maior sonho realizado: a reforma agrária no Brasil. Neste quesito ele poderia fazer eco a Darcy Ribeiro: “Fracassei em tudo o que tentei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.”

Plínio, como tantos políticos brasileiros, iniciou sua militância na Ação Católica. Era discípulo do padre Lebret, dominicano francês, fundador do movimento Economia e Humanismo.

Parlamentar pelo PDC, cassado em 1964 pela ditadura, exilou-se no Chile e nos EUA. Eleito deputado federal, atuou como constituinte petista em 1988, e foi candidato a presidente da República pelo PSOL em 2010. Primou pela coerência com seus princípios evangélicos e ideológicos. Como dizia, não foi ele quem se afastou dos partidos a que esteve filiado, foram os partidos que se afastaram dele.

Sabemos todos que, sem reforma, a política brasileira continuará se destacando como caso de polícia, em decorrência de tanto nepotismo, malversação e corrupção, acrescidos de impunidade e subserviência ao poder econômico. Política no Brasil é como salsicha: melhor não saber como ser faz.

Plínio, no entanto, sabia. E protestava contra as maracutaias, as alianças espúrias, o toma-lá-dá-cá. Seu fio de prumo não era uma teoria política ou um programa partidário. Era o amor aos pobres. Em se tratando de sem-terra, sem-teto, sem transporte ou moradia, e outros direitos essenciais, ele punha as mãos na massa.

Não era político de gabinetes, salões e conchavos regados a bebidas caras. Pedisse a ele participar de uma reunião de adolescentes, fazia-se presente com seu sorriso cândido, a fala mansa, os olhos arregalados ao enfatizar ideias, a gesticulação ponderada e, sobretudo, a lucidez sustentada pelo raciocínio ágil e prodigioso. Aos 82 anos, como se tivesse 28, misturou-se aos jovens manifestantes na Avenida Paulista, em junho de 2013.

Sua morte deixa um legado a todos que alimentamos nossas vidas na direção de utopias libertárias. De imediato, prosseguir na luta por reforma agrária. Jamais esquecer o que disse o papa João Paulo II ao presidente Sarney, em julho de 1986: “No Brasil não haverá democracia, enquanto não houver reforma agrária.”

Plínio esperava participar também da convocação de uma Constituinte Exclusiva para promover a reforma política. Resta-nos homenageá-lo mobilizando a nação a manifestar-se a favor no plebiscito da Semana da Pátria.

A ele se aplicam as palavras do apóstolo Paulo em carta a seu companheiro Timóteo: “Chegou o tempo de minha partida. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor.” (2 Tim. 4, 6-8).

* Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor de “Reinventar a vida” (Vozes), entre outros livros.
www.freibetto.orgtwitter: @freibetto.


 





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O Salmo de Wagner Moura

Frei Betto*


 


Diante da censura da arquidiocese do Rio ao uso da imagem do Cristo Redentor no filme “Inútil paisagem”, de José Padilha, fico em posição inusitada: sou um homem de Igreja; sou contra censuras a obras de arte; e sou companheiro de Wagner Moura em encontros de oração e meditação, dos quais participam artistas e jornalistas.

Por que a fala do personagem do Wagner seria ofensiva? A meu ver, ela não ofende Jesus; ao contrário, reconhece que a imagem em placas de pedra-sabão é expressão da presença invisível dele, a quem se dirige inconformado.

Encaro a fala do personagem como a do salmista que protesta contra Javé, acusando-o de indiferença e omissão: “Ó Deus, não fiques calado, não fiques mudo e inerte, ó Deus!” (Salmo 83). “Por que me rejeitas, Javé, e escondes tua face longe de mim?” (Salmo 88).

O personagem de Wagner Moura, magoado porque Cristo não atendeu às  preces concernentes à sua relação com a personagem Clara, suplica que o Redentor saia de sua imobilidade pétrea e vá “lá embaixo” e interfira para que haja mais amor, a polícia não atue como assassina, evite as inundações que afogam vidas, propicie escolas a todas as crianças.

Na fala de Wagner há uma crítica teológica pertinente: é um erro, nós cristãos, esperarmos que Deus atue em nosso lugar. Oramos para que ele nos infunda fé, esperança e amor, para que sejamos capazes de agir como Jesus agiu, conforme descrevem os evangelhos.

Deus jamais é tapa-buraco de nossa omissão. Ele age através de nós, que somos seus “templos vivos”, segundo Paulo na Carta aos Coríntios (3, 16-17). Sonho com uma Igreja que censure, sim, governos e poderosos que, por suas decisões, apoiam policiais torturadores e assassinos, sonegam educação de qualidade às crianças pobres, e condenam milhares de “templos vivos” à miséria, à exclusão, a uma vida ingrata e infeliz.

Uma criação artística não deve sofrer censura, exceto a que procede do gosto do público.

Equivoca-se quem sobe ao Corcovado na expectativa de encontrar Cristo. Ele não está naquele bloco de granito. Está “lá embaixo”, e quem “não tem amor” jamais será capaz de encontrá-lo onde ele mesmo disse estar: em quem tem fome, sede, está enfermo, é imigrante ou carente de bens tão essenciais como a roupa do corpo (Mateus 25, 31-46).

O Antigo Testamento relata como os hebreus insistiam em adorar Javé através da veneração a um bezerro de ouro ou um frondoso carvalho. Procedimento sempre condenado pelos profetas como idólatra. Será que Deus exigia dos hebreus um alto grau de abstração, a ponto de prescindirem de qualquer referência sensível ao prestar-lhe culto? Ao contrário, Javé queria apenas que eles o vissem no próximo, no ser humano criado à sua “imagem e semelhança”.

O Cristo Redentor é um monumento público, como a Estátua da Liberdade e a Torre Eiffel. Embora seja patrimônio da arquidiocese, é símbolo da Cidade Maravilhosa e foi eleito uma das sete maravilhas do mundo moderno. Seu valor simbólico ultrapassa-lhe o estatuto patrimonial. Tombado desde 1937 pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), é também considerado pela UNESCO patrimônio mundial, por se situar no Rio, eleita, em 2012,  primeira cidade Patrimônio Cultural da Humanidade.

A fala censurada repete, em outras palavras, o que já está dito por outros artistas, como Chico Buarque em Subúrbio (“Lá tem Jesus / E está de costas”); Zélia Duncan em Braços cruzados (“Eu quero menos abandono, mais cuidado / Cristo Redentor / Eu vi seus braços cruzados, tudo é ilusão”); e Cazuza em Um trem para as estrelas (“Depois dos navios negreiros / Outras correntezas / Estranho o teu Cristo, Rio / Que olha tão longe, além / Com os braços sempre abertos / Mas sem proteger ninguém”).

O papa Bento XVI, ao visitar Auschwitz em abril de 2010, exclamou: “Por que, Senhor, permaneceste em silêncio? Onde estava Deus nesses dias?” O próprio Jesus se queixou de Deus: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Marcos 15, 34).

Queixar-se a Deus é uma forma de oração.

* Frei Betto é escritor, autor de “Reinventar a vida” (Vozes), entre outros livros.
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Síndrome da Gata Borralheira

Frei Betto*


 



Eis a síndrome da gata borralheira: o político, em mãos da fada marqueteira, ganha o perfil de linda donzela, e ainda acredita que atrairá eleitores quais príncipes enamorados. Nesse baile de nobres, seu discurso adquire moderação, os temas polêmicos ficam debaixo do tapete, já não se pode distinguir entre a gata borralheira e as moças da corte.



Há na propaganda política uma abissal diferença entre o Brasil real e o Brasil eleitoral. Nos programas partidários exibidos na TV, as cenas externas, sempre produzidas do ponto de vista do candidato “diretor”, têm um único objetivo: impressionar os eleitores. Não seria um caso típico de propaganda enganosa?



Os grandes partidos e coligações pagam milhões para a montagem dos programas para a propaganda de TV e rádio que, por sinal, nada tem de gratuita. Na verdade, as emissoras de rádio e TV não perdem um tostão por cederem seus espaços aos políticos, porque ganham isenção tributária correspondente ao que ganhariam com publicidade naquele horário.



O eleitor recebe, pela janelinha eletrônica, um produto tão maquiado quanto um refrigerante ou uma margarina. O candidato não fala o que pensa nem o que sente. Lê no teleprompter um texto elaborado pelos marqueteiros. Tudo soa falso: o sorriso, o tom de voz, o gesto e, quase sempre, as promessas.



Um modo de quebrar esse reino de cinderelas seria introduzir nas campanhas debates televisivos obrigatórios. Assim, a campanha seria pra valer, sem maquiagem, sem teleprompter, sem gestos ensaiados. O candidato diria o que pensa e o que não pensa, reagindo com suas emoções e convicções.



A propaganda eleitoral pela TV pesa muito nas oscilações da bolsa eleitoral de um candidato. Ocorre que o meio é a mensagem e, a TV, um veículo viciado. Nela o conteúdo importa menos que a emoção.



Em se tratando de campanha, tudo se complica, porque sobe nas pesquisas quem  produz mais efeitos especiais. O bonito ganha do feio, o rico do pobre, o histriônico do tímido, o mentor de assassinos daquele que defende os direitos humanos.



Em suma, essa engrenagem eleitoral é para manter o sistema e, com ele, as oligarquias no poder.
Por isso a reforma política é tão urgente quanto a agrária, em especial nos itens fidelidade partidária e controle dos fundos que sustentam as campanhas. Por enquanto, resta ao eleitor ficar atento para separar o joio do trigo.


 


 



* Frei Betto é autor de “Reinventar a vida” (Vozes).
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Política & salsicha

Frei Betto*


 


 


Política é como salsicha, melhor não saber como se faz. Em campanha eleitoral tudo fica mais complicado; os ingredientes da receita nem sempre condizem com o paladar dos eleitores.

Os candidatos pertencem a um partido que, na teoria, defende um programa. Se você pedir a seus candidatos para destacar dez pontos fundamentais do programa de seus partidos, o que diriam? Desconfio de que a maioria nunca o leu.

Há eleitores que priorizam a preferência partidária, e não o candidato. Se o político troca de partido, corre o risco de perder votos. Muitos eleitores negam apoio a quem cede ao pecado da infidelidade partidária.

Assim, os partidos transformam-se em confederações de tendências. São como a matrioska, aquela coleção de bonecas russas encaixadas uma dentro da outra. Os partidos abrigam partidecos que, por sua vez, travam suas disputas internas. Deve ser por isso que se chamam partidos… Alguns deveriam ser qualificados de repartidos.

Na eleição a governador e presidente da República o que conta – além do horário gratuito no rádio e na TV – é o marketing, resultante de três afluentes que desaguam em imensa pororoca: o candidato, o partido e a agência de publicidade contratada para maquiar o político. Um minuto a mais na TV vale tanto que há quem troque a coerência política por um prato de lentilhas…

Os candidatos procuram um publicitário ou jornalista que tenha com eles um mínimo de afinidade ideológica e, se possível, afetiva, e o contratam.

Tudo se complica quando chega a hora do rádio e da TV. Os marqueteiros eleitorais são poucos e, em geral, disputadíssimos. Por isso, são caros. E trabalham para quem paga. Os partidos conservadores, fartos em dinheiro, contratam os mais competentes. Para a direita tudo é mais simples, pois se move por interesses, ao contrário da esquerda, que se move por princípios (ou deveria fazê-lo).

Marqueteiros eleitorais dificilmente são progressistas. Eis um complicador. Alguém deve ceder: o marqueteiro, submetendo-se às decisões da coordenação da campanha, ou o candidato, submetendo-se às exigências de marketing.

Em geral, cede o candidato e, com ele, ficam desfigurados seu perfil ideológico, o programa da campanha e o caráter do partido.

Resultado: o candidato encantador vira abóbora ao ser eleito, e o eleitor que não examinou bem antes de votar fica chupando os dedos…

Valorize o seu voto. E a sua inteligência!

* Frei Betto é autor de “Calendário do Poder” (Rocco)
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Alguns riscos e possibilidades das exportações de petróleo pelo Rio de Janeiro

Nos últimos anos, tem-se observado uma crescente concentração das exportações fluminenses à indústria do petróleo.

As exportações de petróleo que, no final dos anos 1990, representavam menos de 1 % do total exportado pelo Rio de Janeiro, em 2012, chegam a responder por cerca de 70 % , segundo informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O último dado disponibilizado pelo próprio MDIC confirma essa constatação, uma vez que o óleo bruto de petróleo representa 56,8 % das exportações fluminenses, entre janeiro e abril de 2014. Considerando ainda as vendas de óleo combustível e combustíveis para aeronaves, o segmento petróleo é responsável por dois terços das exportações fluminenses. Isso significa uma exportação de US$ 3,7 bilhões desses itens de um total de US$ 5,5 bilhões.

Convém lembrar que os resultados acima refletem tanto o avanço na produção interna de petróleo quanto o efeito de elevações dos preços desta principal fonte de energia para a indústria e os transportes, em todo mundo.

Diante dessa constatação, convém tomar em consideração algumas preliminares. Antes de mais nada, o aumento da produção nos últimos anos, mais do que qualquer coisa, implica em uma falta de política de administração de reservas, buscando pura e simplesmente explorar o mais rápido possível as reservas conhecidas, sem tomar em consideração que o petróleo é um bem finito, e que a sua extração hoje significa que o país não deterá capacidade futura de produção a menos que descubra novas áreas de produção. Além disso, a aposta na ampliação da produção rápida de um bem com enormes consequências ambientais na sua utilização também deveria ser objeto de discussão aprofundada. Finalmente, o setor de petróleo funciona como um complexo, e se o Rio é um grande exportador, também é um grande importador (em menor escala, entretanto) de petróleo, gás e bens integrados à indústria do petróleo.

Dois dos principais fatores que explicam a predominância da indústria petrolífera nas exportações fluminenses são as vantagens comparativas apresentadas no estado, principalmente em razão das grandes reservas de petróleo existentes na Bacia de Campos e no chamado Pré-Sal, bem como a forte concentração dos investimentos da Petrobras no Rio de Janeiro. É justamente após o processo de abertura do setor, propiciada pela mudança do marco regulatório, no final dos anos 1990, e de um novo ciclo de expansão da Petrobras nos anos 2000, que as atividades petrolíferas na região iniciam uma trajetória de acelerado crescimento no estado, impulsionada primordialmente pelo amadurecimento da exploração das descobertas realizadas de forma ampliada, desde fins dos anos 1970, efeitos das crises internacionais de petróleo e da disparada dos preços, pela atração de novos investimentos (públicos e privados) e pela entrada de novas empresas. Esse crescimento se materializa não apenas num aumento da produção do setor, como também numa expansão da produtividade industrial setorial, da expansão da infraestrutura estadual e do crescimento do emprego e da renda.

Não é por acaso que a Petrobras assume um papel central nas exportações fluminenses. A estatal brasileira alcança o posto de principal empresa exportadora do Rio de Janeiro, respondendo por 33,7 % do total das exportações no primeiro quadrimestre de 2014. Ao mesmo tempo, com a abertura do setor, outras operadoras petrolíferas também ganham destaque como exportadoras estaduais. Todas as vendas externas da Statoil, da BG E&P, da Sinochem Petróleo, da Chevron, da Petrogal e da OGX representam 25,4 % das exportações fluminenses. Considerando todas essas operadoras de petróleo, suas exportações alcançam 59,07 % do total.

A crescente dependência da indústria de petróleo para as exportações do Rio de Janeiro, entretanto, não se deve apenas ao fortalecimento de suas atividades mas, também, à retração relativa das outras indústrias estaduais. Ou seja, em termos relativos, as demais indústrias de transformação – e suas exportações – têm perdido espaço quando comparadas com o segmento petróleo. Isso, em alguma medida, é uma consequência do processo de abertura do setor externo – a partir da década de 1990 – que, por meio do crescimento das importações e do câmbio valorizado, impôs um grande acirramento competitivo para a indústria nacional.

Em alguma medida, a pauta de exportação do Rio de Janeiro comprova esse diagnóstico, isto é, a maior parte dos bens exportados atualmente possui menor intensidade tecnológica ou são commodities primárias. Entre os vinte principais itens exportados pelo estado fluminense, no primeiro quadrimestre de 2014, destacam-se produtos tais como: ferro e aço; tubos de ferro e aço, minérios de níquel, pneus e tubos de plásticos. Os únicos produtos considerados de média e/ou alta intensidade tecnológica, nessa lista, são automóveis, chassis e máquinas e equipamentos mecânicos que respondem por 4,31 % das exportações fluminenses (US$ 237,2 milhões). Desse modo, os bens intensivos em tecnologia têm uma participação muito pequena em nossa pauta de exportação, dominada por commodities.

Desse modo, por um lado, o eixo econômico formado pela maior a atuação da Petrobras, num quadro em que se permitiu a entrada de novos investimentos privados e/ou estrangeiros, gera um grande dinamismo das exportações do setor petróleo no Rio de Janeiro. Por outro lado, a abertura do setor externo criou grandes dificuldades para as demais indústrias competirem com as importações, desde os anos 1990. Esse é não apenas um quadro do Rio de Janeiro, mas se tomarmos em consideração outros bens minerais e agrícolas, é um quadro do país.

Do ponto de vista do mercado de trabalho, a dependência da economia local em um setor industrial pode afetar drasticamente o emprego e a renda, em períodos de retração da atividade desse setor. Isso é mais grave no setor petróleo, uma vez que seus preços são determinados no mercado internacional. Deve se tomar em consideração ainda que a cadeia produtiva do petróleo é intensiva em capital e não em trabalho, ou seja, gera relativamente poucos empregos. Esse é um fator que deve ser considerado para a realização de investimentos futuros na indústria fluminense.

Fonte: Dieese-RJ

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Para decidir os rumos do Brasil

Frei Betto*

Mês que vem começa a propaganda eleitoral compulsiva e compulsória. Mais uma eleição em outubro, da qual é importante todos nós participarmos. Antes, porém, haverá algo tão importante quanto: o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana, na Semana da Pátria (1 a 7 de setembro).

Eis a ocasião de dar uma virada no jogo! Vamos responder à questão: “Você é a favor de uma Constituinte Exclusiva e Soberana sobre o sistema político?” Adianto aqui a minha resposta: eu sou.

Não será a primeira vez que isso acontece. Em 2002, o presidente FHC queria que o Brasil integrasse a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), monitorada pelos EUA. O povo brasileiro foi consultado em plebiscito. Foram coletados 10.234.143 votos em 46.475 urnas em todo o país. O resultado comprovou a vontade popular: 98,32 % dos eleitores se manifestaram contra a entrada do Brasil na Alca.

No mesmo plebiscito havia outra pergunta: se o Brasil deveria ceder o território de Alcântara (MA) para os EUA instalarem uma base militar. Resultado: 98,54 % votaram contra. O acordo foi anulado.

Outros plebiscitos foram convocados: em 2000, sobre a dívida externa; em 2007, sobre a privatização da Vale do Rio Doce (que só piorou após sair do controle do Estado).

A Constituição de 1988, em vigor, representa uma transição conservadora da ditadura à democracia. Teve o erro de não ser exclusiva. Foram seus formuladores os mesmos deputados e senadores eleitos para o Congresso pelo atual sistema político viciado. Por isso, preservaram muitos resquícios da ditadura, como a militarização da polícia, a estrutura fundiária favorável ao latifúndio, o pagamento da dívida pública, a injusta anistia aos torturadores e assassinos do regime militar, impunes até hoje!

A Constituinte Exclusiva e Soberana deverá ser unicameral, sem o Senado, e sem tutela do Judiciário e ingerência do poder econômico. Só através dela nosso país alcançará, de modo pacífico, as tão almejadas reformas de estruturas, como a agrária e a tributária, e priorizará a qualidade da educação, da saúde, do transporte público e de outras demandas populares.

Com essa Constituinte, proposta pelos movimentos sociais, poderemos aperfeiçoar a democracia representativa e participativa, e fortalecer o controle social sobre as instituições brasileiras.

Participe desde já! Esta é a forma e o momento de mudarmos o sistema político do Brasil, que hoje monopoliza em mãos do Congresso a convocação de plebiscitos e referendos.

Organize um Comitê Popular ou participe dos já criados em sua cidade, bairro, sindicato, movimento social ou partido político. Faça de seu computador uma arma para o aperfeiçoamento de nossa democracia! Saiba como fazê-lo e onde os comitês já atuam através destes contatos:


plebiscitoconstituinte.org.br / facebook.com/plebiscitoconstituinte[email protected]

* Frei Betto é escritor, autor do romance “Aldeia do silêncio” (Rocco), entre outros livros.
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Fonte: Frei Bettio

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A mulher

Frei Betto *

O papa Francisco convocou, para outubro, o Sínodo da Família. Dom Damasceno, cardeal-arcebispo de Aparecida (SP), será um dos presidentes da reunião destinada a atualizar a pastoral da Igreja Católica em relação ao tema.

A família, tal como a conhecemos hoje, é uma instituição recente, filha da modernidade. Hoje, novas formas de união conjugal e a frequência de recasamentos, obrigam a Igreja a rever conceitos e atitudes.

A argentina Jaquelina Lisbona, há 19 anos casada com um divorciado, foi proibida de comungar no dia da crisma de suas filhas, na cidade de San Lorenzo, porque o marido, Julio Sabetta, já havia sido casado. O pároco disse que, por mais que ela se confessasse, ao retornar à casa estaria de novo em pecado…

Jaquelina, em setembro de 2013, enviou carta ao papa Francisco. Perguntou o que fazer, já que, para ela, não faz sentido participar da missa sem receber a eucaristia. Não tinha a menor esperança de merecer uma resposta.

Em abril, o telefone tocou na casa de Jaquelina; do outro lado da linha, a voz se identificou como “aqui fala o padre Bergoglio”. Após se desculpar pela demora em responder-lhe, o papa disse que ela “está livre de pecado” e deve comungar “tranquilamente” em outra paróquia, para não causar atrito com o padre que lhe negou o sacramento.

“Há padres mais papistas que o papa”, disse Francisco. E acrescentou que também Julio, seu marido, poderia comungar: “O divorciado que comunga não está fazendo nada de mau.”

Há tempos, na TV alemã, o entrevistador perguntou a um bispo se daria comunhão a um divorciado. O prelado disse que não. Indagou, em seguida, se o faria a uma mulher que tivesse trocado cinco vezes de marido e, agora, vivesse com um sexto homem que não era seu marido.

O bispo, com uma expressão indignada, frisou que tal mulher procedia de modo contrário à vontade de Deus e às leis da Igreja. “Uma promíscua não tem o direito de se aproximar da eucaristia”, exclamou.

O entrevistador sorriu qual pescador que vê o cardume cair na rede e comentou: “Esta ‘promíscua’, que o senhor exclui da salvação, é a samaritana que Jesus encontrou à beira do poço de Jacó, de acordo com o capítulo 4 do Evangelho de João.” Pego no laço, o bispo se retirou da entrevista.

Uma das características da espiritualidade de Jesus é o antimoralismo. Em nenhum momento ele acusou a samaritana, cuja má fama conhecia, de devassa, ou aconselhou-a a pôr fim à sua rotatividade conjugal.

Ao contrário, percebeu ali um coração sedento de amor, e elogiou-a por dizer a verdade. E a ela se revelou como o Messias.

A samaritana, embevecida, voltou à cidade para anunciar que encontrara Aquele que era o esperado. O que significa que ela foi, de fato, a primeira apóstola.

O Sínodo da Família deverá debater questões candentes, como divórcio e união entre pessoas do mesmo sexo. E comprovar que a Igreja é mãe, e não a bruxa retratada em histórias para crianças.

* Frei Betto é escritor, autor de “Fome de Deus” (Paralela), entre outros livros.


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Fonte: Frei Betto

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Sinfonia de corpos

Frei Betto *

Na festa do Corpo de Cristo, deixarei o meu flutuar em alturas abissais. Acariciarei uma por uma de minhas rugas, desvelarei histórias em meus cabelos brancos, apreenderei, na ponta dos dedos, meu perfil interior.

Não recorrerei ao bisturi das falsas impressões. Nem ao espectro da magreza anoréxica. O tempo prosseguirá massageando meus músculos até torná-los flácidos como as delicadezas do espírito.

Suspenderei todas as flexões, exceto as que aprendo na academia dos místicos. Beberei do próprio poço e abrirei o coração para o anjo da faxina atirar, pela janela da compaixão, iras, invejas e amarguras.

Pisarei sem sapatos o calor da terra viva. Bailarino ambiental, dançarei abraçado à Gaia ao som ardente de canções primevas. Dela receberei o pão; a ela darei a paz.

Acesas as estrelas, contemplarei na penumbra do mistério esse corpo glorioso que nos funde, eu e Gaia, em um único sacramento divino. Seu trigo brotará como alimento para todas as bocas, e suas uvas farão correr rios inebriantes de saciedade.

Na mesa cósmica, ofertarei as primícias de meus sonhos. De mãos vazias, acolherei o corpo do Senhor no cálice de minhas carências.

Dobrarei os joelhos ao mistério da vida e contemplarei o rosto divino na face daqueles que nunca souberam que cosmo e cosmético são gregas palavras, e deitam raízes na mesma beleza.

Despirei os meus olhos de todos os preconceitos e rogarei pela fé acima de todos os preceitos. Como Ezequiel, contemplarei o campo dos mortos até ver a poeira consolidar-se em ossos, os ossos se juntarem em esqueletos, os esqueletos se recobrirem de carne, e a carne inflar-se de vida no Espírito de Deus.

Proclamarei o silêncio como ato de profunda subversão. Desconectado do mundo, banirei da alma todos os ruídos que me inquietam e, vazio de mim mesmo, serei plenificado por Aquele que me envolve por dentro e por fora, por cima e por baixo.

Suspenderei da mente a profusão de imagens e represarei no olvido o turbilhão de ideias. Privarei de sentido as palavras. Absorvido pelo silêncio, apurarei os ouvidos para escutar a brisa de Elias e, os olhos, para admirar o que tanto extasiou Simeão.

Não mais farei de meu corpo mero adereço estranho ao espírito. Serei uma só unidade, onda e partícula, verso e reverso, anima e animus.

Recolherei pelas esquinas todos os corpos indesejados para lavá-los no sangue de Cristo, antes que se soltem de seus casulos para alçar o voo salvífico das borboletas.

Curarei da cegueira os que se miram no olhar alheio e besuntarei de cremes bíblicos o rosto de todos que se julgam feios, até que neles transpareça o esplendor da semelhança divina.

Arrancarei do chão de ferro os pés congelados da dessolidariedade e farei vir vento forte aos que temem o peso das próprias asas. Ao alçarem o topo do mundo, verão que todos somos um só corpo e um só espírito.

Farei do meu corpo hóstia viva; do sangue, vinho de alegria. Ébrio de efusões e graças, enlaçarei num amplexo cósmico todos os corpos e, no salão dourado da Via Láctea, valsaremos até que a música sideral tenha esgotado a sinfonia escatológica.

Na concretude da fé cristã, anunciarei aos quatro ventos a certeza de ressurreição da carne e de todo o Universo redimido pelo corpo místico de Cristo. Então, quando a morte transvivenciar-me, o que é terno tornar-se-á eterno.

* Frei Betto é escritor autor, em parceria com Leonardo Boff, de “Mística e espiritualidade” (Vozes), entre outros livros.


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A festa do corpo

Frei Betto *

Corpus Christi é a festa em que a Igreja Católica celebra a instituição do sacramento da eucaristia. No século 13, santa Juliana, francesa, viu em sonho, aos 16 anos, a Lua com pequena mancha escura. Interpretou como sendo a Igreja iluminada por suas festas e, a mancha, sinal da ausência de data dedicada ao Corpo de Cristo.

O cristianismo é a religião do corpo, malgrado as sequelas platônicas. No Credo, proclamamos nossa fé, não na ressurreição da alma ou do espírito, mas na “ressurreição da carne”.

A cultura da morte faz do corpo objeto de sujeição. A pessoa é reduzida à força de trabalho. Suga-se de seu corpo toda a vida, sem que lhe pague o salário justo para que possa florescer em sua potencialidade espiritual: cultura, lazer, criatividade.

Tais direitos ficam restritos àqueles que podem gravitar em torno do culto hedonista do corpo. Há um infindável estímulo consumista para exaltar a estética do corpo: publicações, cosméticos, academias de ginásticas, cardápios diet etc.

A cultura da vida sacraliza o corpo. Para Jesus, ele é morada de Deus. A própria divindade se faz corpo no homem Jesus. A quem lhe indagou o percurso para a vida eterna (o doutor da lei, Zaqueu, Nicodemos etc.), Jesus respondeu com ironia.

A quem lhe pediu vida nesta vida, um corpo saudável como expressão do dom maior de Deus, Jesus atendeu com amor: o cego que pediu a cura para recuperar a visão, o paralítico que desejou andar, a mulher atormentada pela hemorragia, o homem da mão seca que suplicou por saúde.

Jesus restaurou corpos (milagres); alimentou corpos (partilha dos pães e dos peixes); celebrou corpos (bodas de Caná e o Reino de Deus comparado a banquetes).

ma sociedade que segrega corpos pela cor da pele ou submete-os por relações injustas de trabalho é contrária aos princípios do Evangelho.

O corpo de Deus, em Jesus, é rejeitado, difamado, preso, condenado, torturado, crucificado. Contudo, “no primeiro dia da semana”, seu corpo ressuscitou, primícia e promessa de que nossos corpos haverão de vencer a morte.

Jesus permanece entre nós na forma de pão. Todo pão que se partilha é eucaristicamente dotado de presença divina. Pães materiais – salário digno, emprego, direitos reconhecidos; e pães simbólicos – o gesto de carinho, a solidariedade, o amor.

Nosso corpo traz a história do Universo. Todas as células foram tecidas por moléculas feitas de átomos engendrados no Big Bang e cozinhados no calor das estrelas. Somos feitos de matéria estelar. Na intimidade atômica, cada partícula é também onda, como se a natureza risse de nossa lógica cartesiana incapaz de apreender que toda matéria, inclusive o nosso corpo, é energia condensada.

Espírito não é algo que se opõe à carne, mas sua expressão mais profunda e luminosa. É fantástico que a própria natureza, em trajes bordados pela química e em baile ritmado pela física, tenha aflorado em seres dotados de inteligência capaz de decifrar os seus enigmas e apreender o seu sentido.

* Frei Betto é escritor, autor de “A obra do Artista – uma visão holística do Universo” (Agir), entre outros livros.


www.freibetto.org     twitter: @freibetto


 


 


 





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Fonte: Frei Betto

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Fome de pão e justiça

Frei Betto *


 


Olivier De Schutter, belga, 45 anos, encerrou neste semestre seu mandato de seis anos como relator da ONU para o direito à alimentação. Declarou que se dependesse de uma única decisão para erradicar a fome no mundo optaria pela “generalização da proteção social” que, nos países pobres, representaria menos de 7 % do PIB.


 


Segundo a FAO, há 842 milhões de pessoas (12 % da população mundial) em situação de desnutrição crônica. De Schutter acredita que o dado da FAO está subestimado, pois considera apenas quem passa fome 12 meses por ano, e não a carência sazonal.


 


Ele avalia em 1 bilhão o número de famintos crônicos. E admite que “cometemos o erro de apostar demasiado nos ganhos de produtividade, e não investimos o suficiente na proteção e no apoio aos pequenos agricultores.”


 


Acrescenta que faliu a “solução” apontada pela OMC (Organização Mundial do Comércio): os países com mais poder de produção agrícola exportarem para os países com menos. A prática demonstrou que isso é mero neocolonialismo, para reforçar a dependência dos pobres em relação aos ricos, e eliminar a agricultura familiar dos países importadores.


 


Nos últimos 50 anos, a produção de alimentos aumentou anualmente 2,1 % , enquanto as vítimas da fome diminuíram pouco. Dados da FAO indicam que em 1990 elas eram 900 milhões.


 


Está provado que não basta ampliar a produção nem promover a desaceleração demográfica para resolver o problema. Se não há carência de alimentos nem excesso de bocas, é obvio que a causa reside na falta de justiça social.


 


De Schutter propõe um novo paradigma na produção alimentar favorável à agricultura familiar e à agroecologia: “Não nos colocamos a questão de saber se a industrialização da agricultura era compatível com o respeito pelos ecossistemas, e negligenciamos a questão da saúde, da diversidade alimentar. São três dimensões – justiça social, sustentabilidade ambiental e saúde.”


 


O ex-relator da ONU aponta como uma das dificuldades o descompasso entre o governo e a iniciativa privada. Das empresas surgem as decisões estratégicas. Elas vinculam o produtor ao consumidor. O grave, segundo ele, é que “tomam decisões em função do lucro esperado, e as questões de sustentabilidade, desenvolvimento rural e igualdade na compensação dos atores não as preocupam muito.”


 


Acelera-se, hoje, a mercantilização dos produtos alimentares e também de suas fontes, como a terra e a água: “Os consumidores do Norte (do mundo), que querem carne e biocombustíveis, fazem concorrência aos do Sul, que querem a mesma terra e água para as suas necessidades essenciais. É um problema ético e jurídico.”


 


O Brasil se gaba de ser um dos pioneiros em matéria de biocombustíveis. Eis o que destaca De Schutter: “A corrida à produção de biocombustíveis produz três tipos de impactos: primeiro, vincula o mercado alimentar ao da energia. Quanto mais sobe o preço do petróleo, mais rentável se torna a produção de biocombustíveis, e mais aumenta a produção sobre o mercado agrícola. Segundo, os biocombustíveis fazem pressão sobre a terra arável do Sul. Terceiro, o mercado de biocombustíveis encoraja a especulação financeira, pois quando a União Europeia e os EUA anunciam metas de produção e consumo de biocombustíveis até 2020, eles dão um recado aos investidores: ‘Independentemente de variações, os preços vão continuar a subir. Especulem!'”


 


De Schutter elogia a preocupação de José Graziano da Silva, ex-ministro de Lula e atual diretor geral da FAO, quanto ao desperdício no mundo, que atinge, hoje, a cifra de 1/3 dos alimentos produzidos! Ao todo, 1,3 bilhão de toneladas por ano. Isso equivale a mais da metade dos cereais cultivados anualmente.


 


Agora entendo por que minha mãe dizia quando, na infância, eu mirava inapetente o prato de comida: “Come, menino. Há muito gente passando fome.” Por uma questão de justiça.


 


 


* Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.
www.freibetto.org     twitter: @freibetto


 


 





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Fonte: Frei Betto