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Ataque sem precedentes ao sindicalismo nas Américas

Por Artur Henrique *


Não e só na Europa que o Estado de Bem-Estar social, os sindicatos e os direitos dos trabalhadores vêm sendo atacados. Em recente viagem por vários países das Américas pudemos ver de perto a difícil situação dos sindicatos progressistas e democráticos, atacados sistematicamente por governos de direita e empresas.


Nos EUA, em diversos estados governados pela direita, ou no Canadá, que tem um governo conservador, assistimos uma campanha contra a existência dos sindicatos. A mudança que vem sendo proposta na legislação sindical daqueles países tem como tema: “O Direito ao Trabalho”.


À primeira vista, para nós brasileiros, ler essa frase pode nos fazer acreditar que se trata de uma campanha para fortalecer a luta dos trabalhadores (as). Mas se trata na verdade da mais bem orquestrada campanha já realizada contra a existência dos sindicatos. E com o apoio institucional de governos, e com o uso de ferramentas de marketing e publicidade. Ou seja, uma campanha aberta, nada velada.


A campanha tem como objetivo reforçar o individualismo dos trabalhadores e atacar o papel dos sindicatos e das negociações coletivas. O tal “direito ao trabalho” quer dizer: você tem direito a trabalhar sem a “interferência” de um sindicato; você tem o direito de trabalhar quanto tempo você quiser, sem precisar cumprir uma jornada máxima; você tem o direito de “trabalhar” durante suas férias sem ser pago por isso; você tem o “direito” de trabalhar logo depois de ter um (a) filho (a), se esta for a “sua vontade”, e por aí vai. Ou seja, a mensagem é de que o sindicato atrapalha, não devia existir. A negociação coletiva e os direitos dos trabalhadores deveriam ser decididos por você, individualmente. “Nós” não precisamos “deles”, dos sindicatos, vamos acabar com “eles”. Em se tratando de uma nação em que a legislação trabalhista é totalmente precária – lá não existe, por exemplo, licença-maternidade –, isso configura um escândalo, no mínimo.


O mesmo ataque acontece no México e na Nicarágua, de uma forma um pouco diferente – com toques de filme de gângster – mas com o mesmo objetivo. Nesses países, ouvimos em todos os lugares o conceito de “acordos de proteção”. Mais uma vez, somos levados a imaginar que poderia ser uma campanha em favor dos trabalhadores.


Mas não é nada disso. Trata-se de “proteção” para as empresas contra os sindicatos livres, democráticos e representativos. Se você for um empresário que tem interesse em instalar uma fabrica ou comercio nesses países, pode procurar antecipadamente um “protetor” e fazer um acordo em troca de dinheiro ou outros favores.


Esse “protetor” pode ser um advogado, um escritório, ou mesmo um sindicato fantasma, pelego, que vai “te proteger”, inclusive de forma física e armada, se for o caso, do “perigo” dos sindicatos combativos. De forma fictícia, antes de as operações comerciais terem início, a futura empresa fecha acordos ditos coletivos, a portas fechadas, com esses “protetores”, o que inviabiliza qualquer ação sindical real quando o empreendimento começar a funcionar.  Isso significa falta de direitos, de proteção, de salários dignos.


No México, alguns casos são históricos e simbólicos desse ataque:


No caso dos eletricitários, existia um acordo coletivo para os 40 mil trabalhadores da empresa estatal de energia firmado com o sindicato nacional da categoria, um dos mais importantes do país. O governo então resolveu mudar o nome da empresa (com isso a empresa nova deixa de ter sindicato), demitir todos os trabalhadores e passar a fazer o serviço com outras empresas, com o único e claro objetivo de destruir o sindicato, que continua na luta jurídica e política para recuperar seus direitos.


Já no sindicato dos mineiros, a postura de empresas e governos conservadores e de direita levou à morte de quatro dirigentes sindicais e a expulsão do país do presidente da entidade, que há sete anos vive no Canadá. A denúncia está ainda aguardando encaminhamento na Comissão de Direitos Humanos da OEA e, portanto, a luta continua.


Em todos esses países, centrais sindicais como a UNT-Mexico, a CLC do Canadá, a AFL-CIO dos EUA, filiados à CSA (Confederação Sindical das Américas) e sindicatos independentes vêm se mobilizando para contra-atacar, construir unidade e fortalecer a luta dos trabalhadores e de seus sindicatos. São campanhas publicitárias, pressão sobre deputados e senadores nas suas bases eleitorais, mobilizações de rua, etc.


Para além da solidariedade internacional, que é fundamental nessa luta, a CUT, através do IC-CUT (Instituto de Cooperação da CUT) propôs, em todos os encontros que tivemos com nossos parceiros nesses países, que devemos realizar uma grande campanha continental em defesa da liberdade de organização sindical.


Devemos construir uma grande unidade em torno dessa bandeira, da mesma forma que por razões diferentes nos juntamos na luta vitoriosa contra a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas).


Atuar juntos na OIT, na Comissão de Direitos Humanos da OEA, nas reuniões do G-20, nos encontros internacionais de ministros do Trabalho, de presidentes dos nossos países, criar tribunais internacionais independentes, denunciar empresas e fazer uma lista “suja” daquelas que atacam os direitos dos trabalhadores em todo o mundo.


É uma luta em defesa da democracia e da liberdade. Afinal, todo trabalhador tem direito de se organizar livremente em um sindicato e ter direito à negociação coletiva para melhorar as condições de trabalho e de vida, conforme disposto na Convenção 87 da OIT (Organização Internacional do Trabalho).


Temos que praticar a solidariedade internacional e reafirmar que enquanto um trabalhador e seu sindicato estiverem sendo atacado no mundo, não descansaremos e estaremos juntos na luta para defendê-lo.


 


* Artur Henrique é secretário-adjunto de Relações Internacionais da CUT, presidente do IC-CUT e vice-presidente da CSA

Fonte: Artur Henrique

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Feminista de Batom

Jô Portilho *


Ana Cecília, 17, é a neta mais nova da Maria Leucádia. Semana passada, a professora de sociologia pediu à jovem que fizesse uma entrevista com sua avó. A ideia era levantar dados e inspiração para uma redação sobre a adolescência, essa fase tão controvertida da vida humana…


A avó adorou a “brincadeira” e preparou um bolo de fubá para o dia do encontro. Arrumou a mesa com uma toalha de crochê que havia feito, aos 14 anos, para seu enxoval e cobriu a iguaria com um guardanapo de linho bordado com as iniciais de seu falecido marido. Enquanto Esmeralda, empregada da família há 30 anos, completava a mesa com outras tantas gostosuras, Maria Leucádia arranjava as flores do campo em um vaso de cristal, presente de bodas de ouro.


Quando Ana Cecília chegou com seu tablete, a avó foi logo buscar seu diário de recordações e um bloco de papel e lápis para que a adolescente tomasse nota das respostas. Mas Ana preferiu gravar o diálogo com seu celular para não perder nenhuma informação, enquanto se ocupava em fazer um vídeo da avó, servindo o lanche, para colocar no Youtube.


Maria Leucádia contou para neta que aos 16 já estava casada e aos 17 já era mãe. Disse que, na época, se sentia ainda uma menina brincando de boneca…
“Aninha, nem eu nem minhas amigas de escola sabíamos o que era adolescência e muito menos sexo. O sutiã era uma espécie de cinto de castidade que não tirávamos nunca, nem para dormir. Por isso que, nos anos 60, quando umas mulheres fizeram uma manifestação em praça pública e jogaram cílios postiços, revistas femininas, produtos de limpeza, sapatos de salto e sutiãs num latão de lixo para queimar eu vibrei sozinha em casa…”.


Ana Cecília então perguntou à avó se ela era feminista e teve uma resposta surpreendente: “Aninha, eu fui criada para ser uma dona de casa de classe média alta; estudei piano, boas maneiras, bordado e Francês e nunca refleti sobre se era ou não aquilo que queria para minha vida. Até que um dia a Esmeralda chegou aqui para trabalhar com as mãos queimadas pelo marido ciumento. Ele estava desempregado e achava que ela devia dar a ele todo o salário que ela havia recebido naquele dia. Acontece que ela já tinha gasto quase tudo para pagar o aluguel e comprar comida para os filhos. Aí ele usou o ferro que ela estava passando roupas e deixou na Esmeralda o “selo do seu autoritarismo”.


“Nossa vó, que horror!”, comentou a neta indignada.


A avó continuou: “Fui falar com seu avô e decidimos trazer a Esmeralda e os filhos aqui pra casa para protegê-los daquele monstro. Depois de levá-la ao hospital, fomos juntos à delegacia de polícia. Depois disso, o marido dela sumiu na vida! Naquele momento eu comecei a pensar em como as mulheres deviam lutar juntas contra as injustiças de sua condição feminina na sociedade. Mas embora seu avô fosse um homem muito íntegro, ele achava que aquelas coisas só aconteciam a mulheres pobres e que eu não devia me envolver com o problema dos outros.”


A neta foi logo chamando o avô de machista mas a avó logo a interrompeu: “Minha filha, se ele foi machista, eu fui covarde de não ter insistido… todos temos responsabilidades sobre as injustiças! Acontece que quando ele adoeceu e eu tive de tomar as rédeas da casa, das finanças da família e de todas as decisões que nunca lutei para compartilhar com ele, eu descobri um mundo de possibilidades… e medos também. E novamente foi Esmeralda quem me ensinou a lidar com a vida real!


Ana Cecília perguntou para a avó se então ela passou a ser feminista e Maria Leucádia sorriu um pouquinho encabulada: “Meu docinho, na minha geração se pensava que feministas eram mulheres más ou que preferiam ser homens. E toda vez que eu concordava com os protestos que elas faziam, defendendo direitos iguais, eu temia que me achassem masculina e ia logo passar um batom!”


Depois de um gole de chá, Maria Leucádia suspirou profundamente e admitiu: “Quando Esmeralda apareceu queimada, eu soube que a luta das feministas era nossa também! Naquela noite eu comecei a romper lentamente meus preconceitos e decidi que até passar batom seria algo que eu faria quando eu bem entendesse e não só para “disfarçar” o feminismo que pulsava dentro de mim. Fui firme para que seu avô registrasse a carteira de trabalho da Esmeralda, assim como ele fazia com os trabalhadores da fábrica e nunca permiti que sua mãe e suas tias não tivessem os mesmos direitos e deveres dos seus tios. Continuei passando batom todos os dias que tive vontade, sabendo que eu era feminista!



* Jô Portilho é Sindicalista, Mestra em Políticas Trab. e Globalização (GLU) e em Serviço Social (UERJ). Atualmente é doutoranda do PPGSS/UERJ, Feminista e gosta muito de batom!  [email protected]

Fonte: Jô Portilho

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Trote em Minas Gerais, repetição de uma ignorância secular

Por Almir Aguiar *


Lastimável termos de assistir semana passada, em nosso país, às cenas dos trotes universitários que representam até hoje as marcas de como os estudantes brasileiros, da época do Brasil-Colônia, eram recebidos pelos portugueses quando iam estudar na Côrte de Lisboa ou em Coimbra. Em nossa cultura o trote veio marcado como uma permissão das classes dominantes portuguesas para que os “bugres”, ou súditos brasileiros, lá pudessem estudar, o mesmo acontecendo também em Coimbra. Tratava-se de uma demonstração da falsa superioridade da burguesia local contra os colonizados, gestos repetidos hoje sem qualquer tipo de criatividade, apenas acrescidos de truculência.


Pois os telejornais acabam de mostrar fatos recém-acontecidos na outrora pacata Minas Gerais: um trote acadêmico na Faculdade de Direito da UFMG, com saudações nazistas e práticas racistas que nada têm a ver com a formação do nosso povo. Elas mostram como sobrevivem hábitos da elite ainda arraigados nas diversas camadas da população.


Fatos históricos à parte, mais condenável ainda é que veteranos, que deveriam mostrar mais experiência, acolhimento e espírito democrático, ao invés de adotarem iniciativas cidadãs, como a doação de sangue ou algum serviço à comunidade, pintarem de preto, numa atitude racista, uma caloura, colocarem corda em seus pulsos e uma tabuleta onde se lia “Chica da Silva, caloura escrava”. Não bastasse isto, calouros foram pintados pelos veteranos com cruzes suásticas, símbolo do nazismo que provocou a 2ª Guerra Mundial, causadora de quase 20 milhões de mortos.


Todos sabemos que os trotes não são invenção brasileira, que vêm desde as primeira universidades européias da Idade Média. Em Portugual os trotes eram violentíssimos –os populares “canelões”- e a elite brasileira da época o trouxe prazerosamente para o Brasil, como forma de humiulhar os mais novos, quando aqui surgiram as primeira universidades.


A opinião pública brasileira, em especial os sindicatos, condenaram esta atitude excludente e racista. Que renasçam, com mais força, tentativas isoladas surgidas nos anos 90, na PUC de São Paulo, como a doação de alimentos e de remédios às comunidades carentes. Independente das motivações históricas, por isso ou por aquilo, os bancários do Rio de Janeiro, que formam um Sindicato-Cidadão, abominam esta prática e reforçam a luta por uma escola pública de qualidade, que possa educar a garotada secundarista a fim de que, com visão mais ampla, já universitários, recebam os mais jovens com espírito fraterno e sintam a responsabilidade de contribuir para uma cidadania forte.

* Almir Aguiar é presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro

Fonte: Almir Aguiar

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Esgarçamento da política

Frei Betto *





Esgarçar: afastarem-se, soltarem-se os fios de um tecido (Caldas Aulete).


Quem é direita e esquerda hoje no Brasil? Eis um dilema shakespeariano. A direita, representada pelo DEM, se acerca do PMDB e, na palavra do senador Agripino Maia, propõe “oposição branda” ao governo Dilma Rousseff, que se considera de esquerda.


O PPS do deputado Roberto Freire, versão ao avesso do Partido Comunista, apoia as forças mais retrógradas da República. O PDS de Kassab e o PMDB de Sarney ficam em cima do muro, atentos para o lado em que sopram os ventos do poder.


Como considerar de esquerda quem elege Renan Calheiros presidente do Senado, e Henrique Alves, da Câmara dos Deputados. Você, caro(a) leitor(a), qualifica como de esquerda quem se apoia em Paulo Maluf, Fernando Collor de Melo e Sarney?


Desde muito jovem aprendi que a esquerda se rege por princípios e, a direita, por interesses. E hoje, quem coloca os princípios acima dos interesses? Como você, que é de esquerda, se sente quando se depara com comunistas apoiando o texto do Código Florestal que tanto agrada a senadora Kátia Abreu?


A esquerda entrou em crise desde que Kruschov, líder supremo da União Soviética, denunciou os crimes de Stalin, em 1956. Naquela noite de fevereiro, vários dirigentes comunistas, profundamente decepcionados, puseram fim à própria vida.


Depois que Gorbachev entregou o socialismo na bandeja à Casa Branca, e a China adotou o capitalismo de Estado, a confusão só piorou.


Muitos ex-esquerdistas proclamam que superaram o maniqueísmo esquerda x direita, inadequado a esse mundo globalizado. Mera retórica para justificar o aburguesamentos de quem, em nome da esquerda, alcançou um estilo de vida à imagem e semelhança dos poderosos da direita: muita mordomia e horror, como confessou o general Figueiredo, ao “cheiro de povo” (exceto na hora de angariar votos).


Ser de esquerda, hoje, é defender os direitos dos mais pobres, condenar a prevalência do capital sobre os direitos humanos, advogar uma sociedade onde haja, estruturalmente, partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano.


O fato de alguém se dizer marxista não faz dele uma pessoa de esquerda, assim como o fato de ter fé e frequentar a igreja não faz de nenhum fiel um discípulo de Jesus. A teoria se conhece pela práxis, diz o marxismo. A árvore, pelos frutos, diz o Evangelho.


Se a prática é o critério da verdade, é muito fácil não confundir um militante de esquerda com um oportunista demagogo: basta conferir como se dá a relação dele com os movimentos populares, o apoio ao MST, a solidariedade à Revolução Cubana e à Revolução Bolivariana, a defesa de bandeiras progressistas, como a preservação ambiental, a união civil de homossexuais, o combate ao sionismo e a toda forma de discriminação.


Quem é de esquerda não vende a alma ao mercado.


 


* Frei Betto é escritor, autor do romance histórico “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.
www.freibetto.org     Twitter:@freibetto.





Copyright 2013 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária ([email protected])

Fonte: Frei Betto

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“Enegrecer o feminismo”: movimentos de mulheres negras no Brasil

Bárbara Araújo *







“As mulheres negras não existem. Ou, falando de outra forma: as mulheres negras,
como sujeitos identitários e políticos, são resultado de uma articulação de
heterogeneidades, resultante de demandas históricas, políticas, culturais,
de enfrentamento das condições adversas estabelecidas pela dominação ocidental
eurocêntrica ao longo dos séculos de escravidão, expropriação colonial e
da modernidade racializada e racista em que vivemos.”


(Jurema Werneck em “Mulheres Negras: um olhar
sobre as lutas sociais e as políticas públicas no Brasil
”)



É importante que desnaturalizemos palavras usadas tão corriqueiramente como “mulher” e “negra”. As mulheres negras são mulheres negras porque são consideradas assim histórica, sociológica e culturalmente. O discurso racista e o discurso sexista têm usado referências biológicas tais como o fenótipo, a cor da pele e os órgãos genitais para hierarquizar seres humanos e inferiorizar as mulheres e os negros. Em reação a isso, os grupos marginalizados por esse processo vem se organizando ao longo da história para lutar contra sua subalternização.


Angela Davis, ativista negra norte-americana


 


A combinação de preconceitos como o racismo e o machismo tem sido pensada através da interseccionalidade, conceito que se refere mais amplamente às articulações entre a discriminação de gênero, a homofobia, o racismo e a exploração de classe. Ele teve origem nas reivindicações de feministas negras, judias, lésbicas, operárias, etc., que demandaram atenção para a multiplicidade contida na ideia de “mulher”, argumentando que a opressão não poderia ser entendida unicamente pelo viés da diferença de gênero.




Saiba mais >> Vozes-Mulheres de escritoras e intelectuais negras


A partir da década de 1980, o chamado “feminismo da diferença” procurou entender como as diversidades culturais, raciais e de classe contribuíram para as distintas experiências das mulheres. Essa perspectiva complexificou-se a partir do surgimento da teoria do ponto de vista feminista (“feminist standpoint”), segundo a qual







“a experiência da opressão é dada pela posição que ocupamos numa matriz de dominação onde raça, gênero e classe social interceptam-se em diferentes pontos. Assim, uma mulher negra trabalhadora não é triplamente oprimida ou mais oprimida do que uma mulher branca na mesma classe social, mas experimenta a opressão a partir de um lugar, que proporciona um ponto de vista diferente  sobre o que é ser mulher numa sociedade desigual, racista e sexista.”

(Luiza Bairros em “Nossos feminismos revisitados”)


Na história brasileira, encontramos organizações específicas de mulheres negras desde o início do século XX. A  Sociedade de Socorros Mútuos Princesa do Sul, fundada em 1908, e a Sociedade Brinco das Princesas, de 1925, respectivamente em Pelotas e São Paulo, eram formadas estritamente por mulheres negras. Elas integraram também uma grande parcela da Frente Negra Brasileira (FNB), fundada em 1931 e considerada a entidade negra mais importante do país na primeira metade do século XX, tendo arregimentado mais de 20 mil associados em diversos estados. Ainda nos anos 30 foi fundada a primeira associação de trabalhadoras domésticas no estado de São Paulo, que teve como principal representante a ativista Laudelina Campos Melo, que também integrava a FNB. Já em 1950, foi fundado o Conselho Nacional da Mulher Negra, formado por mulheres vinculadas à cultura, às artes e à política. Infelizmente os registros da atuação deste conselho são bastante escassos.


 
Lélia Gonzalez


 


É a partir dos anos 1970 que as organizações de mulheres negras ganham força no Brasil, reivindicando duplamente o movimento negro e o feminismo. A partir desse período, os movimentos de mulheres negras procuraram explicitar a diferença entre as formas de mulheres e homens negros sentirem a discriminação racial, acrescentando a problemática do gênero à questão do racismo. As feministas negras denunciavam, por um lado, posturas machistas na militância negra e, por outro, as desigualdades e o racismo presentes no movimento de mulheres. Lélia Gonzalez foi uma das pioneiras a chamar atenção para essa interseção de preconceitos. Como muitos intelectuais negros, Lélia combinou uma intensa militância de rua a uma atividade de produção intelectual militante.



Em 1988 foi criado o GELEDÉS
, organização que visa à valorização das mulheres negras e ao combate ao racismo. No ano 2000, mais de 20 entidades de mulheres negras pelo Brasil, inclusive o GELEDÉS, compuseram a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB). O objetivo inicial da AMNB era organizar as reivindicações das mulheres negras brasileiras durante a realização da III Conferência Mundial contra o Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, ocorrida em Durban, na África do Sul, em 2001. Posteriormente, a entidade ampliou seus objetivos, dedicando-se a reivindicação de políticas públicas de proteção e promoção dos direitos das mulheres negras no país, bem como a luta contra o racismo, o machismo e a homofobia.


Suely Caneiro, do GELEDÉS, no I
Encontro Nacional das Blogueiras Feministas

As entidades feministas negras são muitas e estão espalhadas por todo o Brasil. Integradas ao movimento anti-racista e ao movimento feminista, essas associações revelam o quanto é essencial compreender as matizes da discriminação e a amplitude da diversidade para que a luta pela igualdade aconteça de forma plena e verdadeira.



“Enegrecer o feminismo” é um importante artigo da intelectual negra Suely Carneiro, disponível on line aqui.


 


* Bárbara Araújo Machado é professora, mestranda em História na UFF, feminista e blogueira. Escreve o blog Ou Barbárie (http://oubarbarie.wordpress.com/).


 





>> Artigo publicado originalmente no blog Blogueiras Feministas,
aqui. 

Fonte: Bárbara Araújo Machado

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Nota técnica: A desoneração dos produtos da Cesta Básica

Nota Técnica 120 – Março 2013


 


O Governo Federal editou, em 08 de março de 2013, a Medida Provisória nº 609, que reduz a zero as alíquotas da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins, bem como do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, incidentes sobre as receitas com vendas de alguns produtos de alimentação e higiene pessoal. Além de baratear estes produtos essenciais, a medida foi adotada objetivando estimular a economia, através da ampliação do consumo de produtos de primeira necessidade pelas famílias, sobretudo aquelas de baixa renda.


Para contextualizar a edição desta MP pelo governo, vale lembrar que, em 2012, ao examinar a MP 563/12, que tinha como objetivo desonerar a folha de pagamento de diversos setores da indústria nacional (1), o Congresso Nacional incluiu um artigo prevendo a desoneração dos produtos alimentícios componentes da cesta básica. Esta emenda foi vetada pela Presidenta da República, que baixou decreto criando Grupo de Trabalho governamental para estudar e fazer propostas sobre o assunto.


A MP 609 anunciada no dia 8 ampliou o número de produtos já isentos de tributação pelo PIS-Cofins e IPI, por serem considerados como produtos essenciais consumidos pela população brasileira. A Medida Provisória isentou de pagamento de PIS-Cofins as carnes bovina, suína, de aves, caprina, ovina e o pescado; arroz, feijão, leite integral, café, açúcar, farinhas, pão, óleo, manteiga, frutas, legumes, sabonete, papel higiênico e pasta de dentes. O açúcar e o sabonete também ficam isentos do IPI.
A incidência de tributos sobre os produtos essenciais da MP 609 é apresentada na Tabela 1, que relaciona produtos (e alíquotas) abrangidos pela medida, tanto aqueles que já estavam isentos dos tributos federais quanto os que estão tendo seu custo desonerado.




A MP 609 de 08/03/2013 e o Decreto Lei 399 de 1938



O DIEESE realiza, mensalmente, em todos os estados onde está instalado, a Pesquisa Nacional da Cesta Básica. Por meio desta pesquisa são acompanhados, em 18 capitais brasileiras, os preços de 12 ou 13 produtos alimentícios, definidos com base no Decreto Lei 399 de 1938, que estabeleceu parâmetros legais para uma cesta básica de alimentos. Este decreto determina, ainda, que o salário mínimo é a remuneração devida ao trabalhador adulto, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço, capaz de satisfazer, em determinada época e região do país, as necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transportes (DL 399 art. 2º).


O DL 399 foi precedido de um estudo censitário realizado em cada região do país, e de informações salariais obtidas junto às empresas das várias localidades, que permitiram às Comissões do Salário Mínimo, criadas antes da instituição do Decreto, a definição de valores mínimos regionais a serem pagos aos trabalhadores. Acompanhava esta definição, uma lista de alimentos, com as respectivas quantidades. Esta cesta, chamada Cesta Básica Nacional, seria suficiente para o sustento e bem-estar de um trabalhador em idade adulta, contendo quantidades balanceadas de proteínas, calorias, ferro, cálcio e fósforo. Os bens e as quantidades estipuladas são diferenciadas por região, e podem ser vistas na Tabela 2.




A MP 609 não tem como objetivo rever o Decreto Lei 399. Ou seja, a MP 609 não define de forma completa a estrutura de uma nova cesta básica, que possa substituir a cesta definida pelo Decreto Lei. Desta forma, o DL 399 continua sendo a legislação vigente sobre este assunto. Embora a MP 609 tenha tomado como referência inicial os 13 produtos do Decreto Lei 399, para fins de desoneração tributária foram acrescentados a eles os itens relativos à higiene pessoal (sabonete, papel higiênico, pasta de dente). Além disso, a MP também considerou o desdobramento do item carne, adicionando à carne bovina outros tipos igualmente consumidos no país (suína, aves, peixes, caprina e ovinos). Entretanto, não houve definição das quantidades que devem ser consumidas de cada item.


Impacto no custo da Cesta Básica do Decreto nº 399 de 1938


Não é possível fazer uma previsão segura dos efeitos que a desoneração dos tributos federais terá sobre o custo da Cesta Básica. Entre os motivos que dificultam esta previsão estão a multiplicidade de fatores que determinam os preços finais ao consumidor, tanto do lado da oferta quanto da demanda. Entre estes fatores podem ser citados: o custo de produção, o desempenho da safra, os efeitos do clima, o comércio internacional, as condições de distribuição nas cidades, entre outros. A tributação é mais um desses fatores, e depende da alíquota, da base de cálculo, do regime de apuração etc.
Ademais, cabe ressalvar que a desoneração tributária de um produto pode não chegar ao consumidor final de maneira integral ou mesmo parcialmente, caso este benefício seja retido pelas empresas como forma de ampliar margens de lucro sobre o faturamento. A possibilidade de que tal apropriação ocorra é maior quando uma ou mais empresas detêm grande poder sobre o mercado do produto em questão. No caso da cesta básica, mesmo que a maior parte dos produtos seja comercializada de maneira concorrencial, alguns têm a produção ou processamento concentrada em poucas empresas.


Feitas estas ressalvas, cabe dizer que a desoneração da cesta básica poderia, caso inteiramente repassada aos preços, representar um alívio no orçamento das famílias. Para dar uma indicação de qual seria esta potencialidade, tomou-se o gasto mensal com a Cesta Básica apurado pelo DIEESE, baseada no Decreto Lei 399 de 1938, já que este continua a ser a referência legal de definição dos produtos que compõem a Cesta Básica, indicando as respectivas quantidades (Tabela 3).





Com base neste Decreto, o DIEESE pesquisa mensalmente o custo da Cesta Básica em 18 capitais estaduais. Caso a isenção de tributos prevista na MP estivesse vigorando em fevereiro de 2013, isto poderia corresponder potencialmente a reduções, no gasto total de uma cesta básica, de -3,14 % , em Manaus a -4,51 % , em Florianópolis. As maiores reduções encontram-se nas cidades do sul uma vez que a carne tem maior peso no consumo destas regiões, conforme observa-se na tabela 2.


Vale fazer outra ressalva, pois nesta simulação a incidência dos tributos foi calculada pelas alíquotas nominais e não pelas alíquotas efetivas. No entanto, os estudos sobre tributação mostram que a arrecadação efetiva da Cofins é menor do que sua alíquota nominal. Sendo assim, a isenção deste tributo, mesmo se repassada integralmente, poderá ter efeito menor que o simulado, proporcional à sua alíquota efetiva (3).



Desoneração tributária e a taxa de inflação



A simulação dos impactos da MP 609 sobre a taxa de inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), não foi divulgada pelo governo (4). Entretanto, mensurações apresentadas por importantes assessorias especializadas convergem para um impacto (5) estimado sobre o IPCA de -0,60 p.p. e -0,61 p.p., tomando-se como referência a taxa do IPCA de fevereiro de 2013. No caso do Índice do Custo de Vida do DIEESE para a cidade de São Paulo, a estimativa foi de – 0,75 p.p.


Desoneração da cesta básica e justiça tributária


A estrutura tributária brasileira é reconhecidamente regressiva, ou seja, o peso dos tributos diminui na medida em que o poder aquisitivo das famílias é maior. Enquanto as famílias que se encontram no grupo do decil de renda mais baixa (10 % das famílias com menor renda), destinam 32 % de sua renda para o pagamento de impostos, as famílias de maior renda (acima do último decil) contribuem com 21 % do que recebem para o financiamento do Estado. Esta situação é contrária ao princípio da capacidade contributiva inscrito na Constituição Federal.


A regressividade da tributação está relacionada ao elevado peso dos tributos indiretos no total da carga tributária – 48 % do total de receitas tributárias em 2008 provinham de tributos sobre a produção e o consumo de bens e serviços. Tributos indiretos têm a mesma incidência, independentemente da renda do contribuinte, o que os torna mais pesados para as famílias com menor renda, comparativamente às de renda mais elevada.
Sendo assim, a desoneração dos produtos da cesta básica tende a beneficiar de forma mais significativa às famílias de renda menor, atenuando sobre estas a carga tributária e conferindo à medida um caráter de justiça fiscal. Para tanto, também será necessário que a medida se converta, efetivamente, em redução dos preços ao consumidor e não se transforme em ampliação das margens de lucro das empresas e seus acionistas.



Desoneração da cesta básica e reforma tributária


Diante das dificuldades encontradas no passado para encaminhamento de projetos abrangentes de reforma tributária, o Governo Federal tem buscado atuar na questão tributária com medidas específicas. A chamada “reforma fatiada” incluiria a elevação dos limites de enquadramento no Supersimples, o combate à guerra fiscal (no que diz respeito à “guerra dos portos” (6)), a revisão das regras para a repartição do fundo de participação de estados e municípios, as mudanças na Cofins e a desoneração da folha de pagamentos. Além de responder a circunstâncias conjunturais, tais como a crise da indústria, a valorização cambial e a alta dos preços, as medidas visam também objetivos estruturais, tais como o aumento da competitividade, a simplificação do sistema tributário e a desoneração dos investimentos.


A desoneração da Cesta Básica pode ser vista como mais uma medida da denominada reforma tributária fatiada, na medida em que reduz a carga tributária. O governo estima que a renúncia fiscal será de R$ 5,54 bilhões em 2013 e de R$ 7,387 bilhões por ano a partir de 2014.


Contudo, um dos principais problemas de uma reforma tributária fatiada é o fato de ela não permitir uma visão de conjunto sobre suas repercussões (7). As desonerações que têm sido concedidas aos setores econômicos, por exemplo, geram preocupações quanto ao financiamento das políticas sociais e da Previdência Social. Vale notar que o PIS-Pasep financia o Abono Salarial e o Seguro Desemprego, a Cofins é uma fonte de receita vinculada ao financiamento da Seguridade Social e a contribuição previdenciária patronal – que tem sido reduzida a zero pela desoneração da folha e parcialmente compensada com novo tributo sobre o faturamento – financia o Regime Geral de Previdência Social.


Torna-se, portanto, indispensável que o governo brasileiro mantenha-se diligente quanto à verificação e fiscalização da implementação da MP 609 de 08/03/13, de modo a garantir sua efetividade quanto à redução dos preços destes produtos essenciais à população mais pobre do Brasil.


 


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(1) Indústria localizada em solo brasileiro.
(2) Cesta Básica do Decreto Lei 399 de 1938 e MP nº609 de 08/03/2013.
(3) Anfip – Associação Nacional de Auditores Fiscais da Receita.
(4) Segundo o Ministro Mantega, este impacto nos cálculos “..feitos, pelos analistas diferem. Alguns falam em 0,2 % ,0,3 % , e outros falam de 0,5 % ou 0,6 % . Saberemos quando o IPCA captar essa redução.” (Fonte: Assessoria de Comunicação GMF- 13/03/13).
(5) Estas estimativas foram apresentadas, respectivamente, pelo DEPEC-BRADESCO e pela LCA- Curto Prazo. Em ambos os casos, entretanto, há a expectativa de que apenas 2/3 desta estimativa seja repassada para o IPCA –IBGE, ou seja, cerca de 0,40 p.p.
(6) Alguns estados concediam redução de ICMS a produtos estrangeiros para atrair a movimentação de carga através dos portos ou fronteiras. Como os produtos nacionais não contavam com taxas diferenciadas, a prática acarretava em perdas de competitividade para a indústria nacional. A Resolução do Senado No. 72 de 2010, aprovada em abril de 2012, passou a estabelecer uma taxa única interestadual de 4 % para o ICMS para produtos nacionais e importados, válida a partir de janeiro de 2013.
(7) Ainda, segundo a declaração do ministro da Fazenda, as demais desonerações em curso totalizaram R$46 bilhões em 2012, e devem atingir a R$ 53 bilhões em 2013.


 


Dieese:


Rua Aurora, 957 – 1º andar
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Presidente:
Antônio de Sousa Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico de Osasco e Região – SP
Secretária Executiva:
Zenaide Honório APEOESP Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – SP
Vice Presidente:
Alberto Soares da Silva Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Energia Elétrica de Campinas – SP
Diretor Executivo:
Edson Antônio dos Anjos Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de Máquinas Mecânicas de Material Elétrico de Veículos e Peças Automotivas da Grande Curitiba – PR
Diretor Executivo:
Josinaldo José de Barros Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Materiais Elétricos de Guarulhos Arujá Mairiporã e Santa Isabel – SP
Diretor Executivo:
José Carlos Souza Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Energia Elétrica de São Paulo – SP
Diretor Executivo:
Luis Carlos de Oliveira Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico de São Paulo Mogi das Cruzes e Região – SP
Diretora Executiva:
Mara Luzia Feltes Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramentos Perícias Informações Pesquisas e de Fundações Estaduais do Rio Grande do Sul – RS
Diretora Executiva:
Maria das Graças de Oliveira Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Estado de Pernambuco – PE
Diretora Executiva:
Marta Soares dos Santos Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de São Paulo Osasco e Região – SP
Diretor Executivo:
Paulo de Tarso Guedes de Brito Costa Sindicato dos Eletricitários da Bahia – BA
Diretor Executivo:
Roberto Alves da Silva Federação dos Trabalhadores em Serviços de Asseio e Conservação Ambiental Urbana e Áreas Verdes do Estado de São Paulo – SP
Diretor Executivo:
Ângelo Máximo de Oliveira Pinho Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – SP


Direção técnica
Clemente Ganz Lúcio – diretor técnico
Ademir Figueiredo – coordenador de estudos e desenvolvimento
José Silvestre Prado de Oliveira – coordenador de relações sindicais
Nelson Karam – coordenador de educação
Rosana de Freitas – coordenadora administrativa e financeira


Equipe técnica
Ademir Figueiredo
Carla M.B. Massabki
Clóvis Scherer
Cornélia Nogueira Porto
Fernando Adura Martins
Paulo Jager (revisão técnica)
Iara Heger (revisão de texto)

Fonte: Dieese

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Câmara elege um estranho no ninho

Almir Aguiar *


Em uma semana na qual a História da América perde um líder da estatura de Hugo Chávez, um estadista gigante que uniu os latino-americanos em torno de um ideal libertário e de integração, vem a Câmara colocar uma nódoa em nossa história, elegendo para a presidência da Comissão de Direitos Humanos um parlamentar descomprometido com as minorias, justamente as que ela deveria defender. Está há dois dias a presidi-la um deputado racista e homofóbico, Marcos Feliciano, publicamente apoiado por um deputado carioca, inimigo da democracia, defensor da tortura e da ditadura militar, o conhecido Jair Bolsonaro.


Circulam na rede social milhares de manifestações contrárias à sua escolha, algumas delas vinculadas à opção religiosa do parlamentar. Não defendo a crítica sob esta ótica, pois respeito todas as crenças, e em todas elas há bons e maus seguidores. O nosso repúdio deve ir mais longe e, como cidadãos e eleitores, é fundamental fazermos uma fiscalização severa dos atos desta Comissão, de vital importância para a cidadania.


Quando a notícia caiu como uma bomba, começaram a pipocar nas redes sociais os vídeos mostrando quem é o novo presidente da CDH, fazendo declarações públicas ofensivas á nossa população negra (“Sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids, fome… Etc”).


Vivemos em uma sociedade laica e sou contrário a que qualquer parlamentar use o seu mandato para legislar fazendo proselitismo religioso, querendo impor à sociedade, sua visão religiosa de mundo. O deputado Marcos Feliciano encaixa-se exatamente neste perfil. Ele não atende aos pressupostos do cargo, pois sua visão é estreita e se opõe á abertura de idéias da nossa época. Suas declarações sobre negros e homossexuais nos deixam antever novos pronunciamentos destemperados, em dissonância com o papel que se exige da Câmara dos Deputados.


Que o Congresso Nacional, como um todo, fique atento a esta lamentável eleição interna da Câmara, possivelmente fruto de alianças partidárias. Porque nós, como Sindicato-Cidadão, iremos exigir que a Comissão de Direitos Humanos cumpra a sua função constitucional.


 


*Almir Aguiar é presidente do Sindicato dos Bancários do Município do Rio de Janeiro

Fonte: Almir Aguiar

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O filho de Franciscos

Frei Betto *


Temos novo papa com o nome de dois Francisco: o de Assis (1182-1226) e o Xavier (1506-1552), este jesuíta como ele. Papa que, ao se apresentar ao mundo, da sacada do Vaticano, dispensou as vestes pontificais e pediu aos fiéis que rezassem por ele.


É significativo que dom Cláudio Hummes, cardeal brasileiro, tenha aparecido ao seu lado no momento em que se apresentou. Agora sabemos que foi um convite do próprio eleito. Dom Cláudio se sentou ao lado do cardeal Bergoglio durante o conclave. E foi o principal articulador de sua eleição. Não me surpreendeu saber que o nome de Francisco foi sugerido pelo ex-bispo do ABC paulista, pois dom Cláudio é franciscano e, no início da década de 1980, defendeu os metalúrgicos em greve liderados por Lula.


O nome de um papa revela um programa. No caso de Francisco, vários fatores são relevantes. São Francisco de Assis é o santo que, filho de Bernardone, pioneiro do capitalismo, criticou o novo sistema produtivo que gerava miséria. Até então a pobreza na Europa Ocidental decorria de guerras e pestes. Todos tinham ao menos uma gleba de terra para cultivar seus alimentos e criar uns poucos animais que garantissem seu sustento.


Graças à sua manufatura, Bernardone levou à falência inúmeros artesãos que produziam tecidos. As tinturas eram importadas da França. Tamanha a sua admiração pela nação que exercia hegemonia sobre a Europa Ocidental que batizou o filho com o nome de Francesco – aquele que vem da França.


Ao despir-se na praça de Assis, Francisco rejeitou o processo produtivo inaugurado por seu pai e fez opção pelas vítimas, os pobres. São Francisco é também o padroeiro da ecologia, amigo dos animais e enamorado do Sol e da Lua, aos quais dedicou cânticos.


Ao entrar na capelinha de São Damião, em Assis, o jovem Francisco escutou Jesus pedir-lhe que reconstruísse a igreja. Com seus amigos, Francisco se dispôs a restaurar a igreja da Porciúncula (hoje dentro da catedral de Assis) que estava em ruínas. Até que se deu conta de que a voz divina lhe fazia um apelo mais abrangente: tratava-se de reformar a Igreja Católica, o que o levou a fundar a Ordem dos Franciscanos.


Bergoglio é jesuíta. E nos primórdios dessa Ordem religiosa se destaca São Francisco Xavier, que evangelizou indianos e japoneses. Com certeza o novo papa, ao adotar o nome de Francisco, pensou no que significam para a Igreja os exemplos dos dois Francisco.


A notícia de que Bergoglio, quando padre e bispo, teria sido cúmplice da ditadura argentina (1976-1983) não procede, segundo afirmação de Adolfo Perez Esquivel, prêmio Nobel da Paz, em quem confio. Bem comparando, Bergoglio não teve uma atuação profética como tiveram, sob a ditadura no Brasil, dom Paulo Evaristo Arns, dom Helder Camara e dom Pedro Casaldáliga. Esteve mais próximo da atuação de dom Eugenio Sales, que preferiu agir nos bastidores em defesa dos perseguidos.


Um detalhe merece atenção. Karol Woityla, cardeal da Polônia, foi eleito papa no momento em que a Guerra Fria esquentava e Reagan desempenhava forte ofensiva ao socialismo no Leste Europeu. O pontificado de João Paulo II foi marcado pela queda do Muro de Berlim.


Nessa atual conjuntura em que governos populares e progressistas se disseminam pela América do Sul – Kirchner, Maduro, Dilma, Mujica, Morales, Correa – e Raúl Castro, de Cuba, preside a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), verá a Casa Branca no novo papa um aliado para recuperar sua hegemonia sobre o Sul de nosso Continente?


 


* Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.
www.freibetto.org     twitter:@freibetto.






Copyright 2013 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (
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Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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Histórias do papado

Frei Betto *


Ainda esta semana saberemos quem será o novo papa. Possivelmente tomará posse oficial no domingo de Ramos, 17 de março, de modo a liberar os cardeais para retornarem a seus países a tempo de participarem das celebrações da Semana Santa e da Páscoa.


Teremos, agora, o 266o pontífice. Na lista sucessória oficial, iniciada pelo apóstolo Pedro, constam 263, já que Bento IX ocupou por três vezes o pontificado: eleito em 1032, o depuseram por corrupção em 1044. Voltou em 1045 e abdicou meses depois, para retornar em 1047, até ser definitivamente derrubado em 1048.


Até o século IV os papas eram eleitos por voto dos diáconos e padres de Roma. Assim como os fiéis das dioceses votavam na escolha de seus bispos. Evitava-se envolver os demais bispos nas questões internas da sé romana.


O pontificado mais curto da história foi o de Estêvão II, de apenas 3 dias. O mais longo, de São Pedro, 34 anos. Seguido por Pio IX, que dirigiu a Igreja por 32 anos.  A média é de 8 anos – tempo de Bento XVI.


O período mais longo em que a Igreja esteve acéfala foi de 3 anos, 7 meses e 1 dia, de outubro de 304 a maio de 308.


Nove papas renunciaram à chefia da Igreja: Clemente I (ano 88), Ponciano (235), Silvério (537), João XVIII (1009), Bento IX (1045), Gregório VI (1046), Celestino V (1294), Gregório XII (1415) e Bento XVI (2013).


A renúncia mais exemplar foi a de Celestino V. A demora do conclave levou o monge eremita, Pedro Morrone, a escrever aos cardeais, acusando-os de abusar da paciência do Espírito Santo. Tocados pela carta, os cardeais o elegeram. Coroado com o nome de Celestino V, em 1294, não suportou a politicagem eclesiástica e renunciou quatro meses depois. Na bula alegou fazê-lo para “salvar a minha saúde física e espiritual”. Retornou às montanhas e, mais tarde, foi canonizado.


Fechar o colégio cardinalício em conclave (= com chaves) teve início em 1274, quando o impasse durou dois anos e nove meses, em Viterbo. A população decidiu mantê-los a pão e água e destelhar o local. Por temerem a penúria e os rigores do frio, os cardeais aceleraram a decisão.


A eleição de papas por cardeais teve início em 1059. Cardeal vem de “cardo”, dobradiça de porta, e é título de honra que o papa tem o direito de conceder a qualquer católico, como fez João Paulo II ao estender o chapéu cardinalício a dois teólogos europeus: o dominicano francês Yves Congar e o suíço Hans Urs von Balthazar. Havia também um cardeal in pectore, ou seja, conhecido apenas pelo coração do papa e por quem foi nomeado.


A Igreja tem, hoje, 209 cardeais em 48 países. Dos quais 115 elegerão o novo papa, pois têm menos de 80 anos (dois outros eleitores abdicaram do direito de votar: o da Indonésia, por doença; o da Escócia, por admitir abusos sociais).


Paulo VI fixou em 120 o número máximo de cardeais presentes ao conclave. A eleição por 2/3 dos votos foi decidida por Alexandre III, em 1180, reformulada por João Paulo II (metade mais um) e de novo alterada por Bento XVI: 2/3.


Todo homem batizado na Igreja Católica é virtualmente candidato a papa. Se eleito, deve abandonar a família, abraçar o celibato e ser ordenado bispo. Gregório Magno, eleito em 590, era prefeito de Roma. O último papa não cardeal foi Gregório XI, eleito em 1370.


O primeiro papa a abdicar de seu nome de batismo para adotar um novo foi João II (533), que se chamava Mercúrio, considerado muito pagão para nome de pontífice. Nunca um papa adotou o nome de Pedro II nem dos evangelistas Mateus e Lucas.


O nome mais adotado é João (23 vezes), seguido por Gregório e Bento (16), Clementino (14), Leão e Inocêncio (13), e Pio (12). Dos 264 papas, 210 nasceram na Itália, 16 na França, 12 na Grécia, 6 na Alemanha, 6 na Síria, 3 na Palestina, 3 na Espanha, 3 em países da África e 2 em Portugal. Inglaterra, Holanda e Polônia, cada um deu à Igreja um único papa.



* Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.
Www.Freibetto.Org     twitter:@freibetto


 





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Fonte: Frei Betto

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“Beware the Jabberwock, my son!
    The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and shun
    The frumious Bandersnatch!”

Blockquotes

Let’s keep it simple. Italics are good to help set it off from the body text (and italic Georgia is lovely at this size). Be sure to style the citation.

Good afternoon, gentlemen. I am a HAL 9000 computer. I became operational at the H.A.L. plant in Urbana, Illinois on the 12th of January 1992. My instructor was Mr. Langley, and he taught me to sing a song. If you’d like to hear it I can sing it for you. — HAL 9000

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