Durante anos, os bancos defenderam com veemência a ideia de que suas agências físicas eram essenciais para a sociedade. Usaram esse argumento nos tribunais para impedir greves legítimas dos trabalhadores, alegando que a paralisação de uma agência bancária causaria prejuízos irreparáveis à população. A chamada “tese da essencialidade ampliada” serviu, durante décadas, como ferramenta jurídica para limitar o direito de greve, proteger seus lucros e manter o funcionamento das agências a qualquer custo.
Quem não lembra das liminares de interdito proibitório?
Curiosamente, agora, os mesmos bancos que usavam essa retórica, começam a fechar agências em massa por todo o país. Alegam que a digitalização é mais moderna e conveniente, e que os aplicativos no celular substituem a presença física. A mesma agência, que antes era considerada vital, hoje é tratada como um custo desnecessário.
Essa mudança de discurso expõe uma contradição grave: a essencialidade das agências bancárias sempre foi usada conforme a conveniência do banco. Quando lhes interessava, a agência era indispensável. Agora, que o interesse é reduzir custos e aumentar lucros, ela se tornou obsoleta.
As consequências desse movimento são sentidas principalmente pelos mais vulneráveis: idosos, moradores de áreas rurais, pessoas de baixa renda e pequenos comerciantes, que dependem do atendimento presencial para acessar serviços básicos. Sem agência, essas pessoas são empurradas para a exclusão digital, vendo-se em meio a uma enxurrada de menus de aplicativos.
Além disso, os próprios trabalhadores bancários, antes considerados “essenciais”, agora enfrentam demissões em massa.
Não se trata de ser contra a tecnologia. Mas é preciso responsabilidade social. Bancos são concessões públicas. Têm um papel importante na vida econômica e social do país. Fechar agências, sem garantir inclusão, atendimento de qualidade e respeito ao emprego é, no mínimo, incoerente — e, na prática, injusto.
A Fetraf RJ/ES continuará denunciando essa lógica de mercado que ignora pessoas em nome do lucro. E seguiremos cobrando coerência, responsabilidade e compromisso com a sociedade, de quem tanto lucra à custa dela.
Nilton Damião Esperança – Presidente da Fetraf RJ/ES