CASSI: BB quer passar a conta para os associados

(São Paulo) Depois de três anos de negociações, o Banco do Brasil finalmente apresentou sua proposta para a Cassi. E causou profunda irritação nos representantes dos funcionários, com um projeto irresponsável e que cobra dos associados sua dívida de anos e anos de descumprimento do Estatuto.


 


“A proposta é um tapa na cara dos associados. O banco, além de não assumir sua responsabilidade, ainda quer passar a conta para aqueles a quem prejudicou. Depois de três anos e de ter falado que 2005 era o ano da Cassi, o banco vem com esta proposta lamentável”, comentou Marcel Barros, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB.


 


Pela proposta, o banco continua descumprindo o Estatuto que define a contribuição patronal em 4,5% dos salários. Desde os tempos de FHC, o BB só paga 3% para os novos funcionários contratados após 1998. “Em vez de corrigir essa irregularidade, o BB ainda quer onerar o associado”, explicou Eduardo Araújo, representante de Brasília na Comissão de Empresa. O banco quer aumentar a participação dos associados pós-98 de 3% para 3,75% dos salários e também quer estabelecer sua participação em 3,75%. Ou seja, em vez de pagar 1,5 por 1, como prevê o Estatuto, quer equiparar suas contribuições às do funcionário.


 


O Banco do Brasil também prejudica o associado da Cassi em sua proposta de criar a participação compulsória do associado em exames e eventos. “A Comissão de Empresa não concorda com uma proposta que tem como fundamento aumentar a taxação dos trabalhadores. Foi o banco que levou a Cassi à sua situação atual e agora deveria assumir as conseqüências”, afirmou William Mendes, da Comissão de Empresa.


 


A proposta apresentada pelo banco também ignora o Plano Odontológico, reivindicação antiga do funcionalismo.


Os únicos pontos positivos da proposta ficaram por conta da assunção, por parte do banco, do custeio dos dependentes indiretos e de um aporte financeiro de R$ 120 milhões que se compromete a repassar em quatro anos, a título de investimento em serviços próprios da Cassi.

Fonte: CONTRAF-CUT

ABN REAL: DIA DE LUTA TEM MANIFESTAÇÕES NA BASE DA FEDERAÇÃO

Os sindicatos filiados seguiram a orientação e promoveram manifestações nas unidades do ABN Real em suas bases.


Na Baixada Fluminense, houve distribuição de uma carta aberta – elaborada pelo sindicato – nas principais agências de Caxias, Nilópolis, Nova Iguaçu e São João de Meriti. No corpo-a-corpo com os bancários, os dirigentes perceberam que a isenção de tarifas é um assunto de grande interesse dos trabalhadores. “Vamos continuar com as atividades até sexta-feira, visitando os outros municípios da base”, anuncia Solange Viana, diretora do sindicato e funcionária do ABN Real.


 


No espírito Santo, houve panfletagem no centro de Vitória, em duas agências do ABN Real e duas do Sudameris. Os diretores do sindicato aproveitaram a ocasião para esclarecer os bancários a respeito das demissões anunciadas pelo banco. “Conversando com os bancários, percebemos que todos ficaram muito apreensivos com estas notícias”, relatou Demetrius casado Nunes membro da COE.


 


Em Nova Friburgo, houve distribuição de material específico tanto para bancários, quanto para a população. Os trabalhadores foram informados sobre o corte de 500 postos de trabalho na América Latina e sobre as principais reivindicações nas negociações com o banco. Os clientes receberam um jornal específico tratando de demissões, juros, tarifas altas, venda casada de produtos, entre outros assuntos.


 


No Rio de Janeiro, a panfletagem começou às 7:30 no prédio da Av. Rio Branco, 70, a maior concentração de funcionários do banco no centro do Rio. A atividade contou com apresentação da Cia de Emergência Teatral a respeito do assédio moral provocado pelo e foi interrompida por dois policiais que, a pedido da direção do banco, ordenaram aos manifestantes que saíssem do prédio. “O banco insiste que não impede a organização sindical e proíbe manifestações como esta. Mas o movimento sindical não vai se intimidar”, anuncia Luíza Mendes, bancária do ABN e diretora da Federação.

Fonte:

ENTREVISTA – FERRÉZ: “Estão escondendo os corpos porque é tudo execução”

Em entrevista à Carta Maior, o escritor Ferréz denuncia onda de matança na periferia: “Estão escondendo os corpos porque é tudo execução, com tiro na cabeça. Hoje os policiais estão desfilando aqui na rua com toca ninja e camisa Le Coq, que é um grupo de extermínio da polícia”.


Bia Barbosa – Carta Maior


SÃO PAULO – O balanço divulgado na noite de quinta-feira (18) pela Secretaria de Segurança Pública do governo de São Paulo totaliza em 152 o número de mortos na onda de violência que atingiu o estado na última semana. Destes, 107 foram mortos pela polícia em supostos confrontos. Muitos ainda não tiveram seus nomes divulgados e dezenas de corpos estão no IML (Instituto Médico Legal) a espera de identificação. Na quarta-feira, tiveram início as primeiras denúncias de que a polícia estaria cometendo abusos no combate aos ataques do PCC, o Primeiro Comando da Capital. Casos que começaram a estampar as páginas dos jornais e que agora não pararam de chegar às organizações de defesa dos direitos humanos.


Na quinta-feira, o escritor Ferréz fez um apelo à população em seu blog, para que todos ajudassem a divulgar que “a Policia Militar e a Policia Civil, afetadas com a onda de matança, estão fazendo da nossa periferia um estado pra lá de nazista”. “Não está acontecendo confronto, e isso é uma prova que todos vão ter em alguns dias, quando a mídia começar a ir atrás de novas notícias e decidir falar a verdade. Não adianta ofender, não adianta ameaçar, a boca só se cala quando a guerra não for injusta”, escreveu.


Reginaldo Ferreira da Silva – o nome literário é uma homenagem a Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (Ferre), e a Zumbi dos Palmares (Z) – nasceu no Capão Redondo. O bairro, na Zona Sul de São Paulo, é considerado uma das regiões mais violentas da capital. Filho de um motorista e de uma empregada doméstica, ele escreveu os primeiros versos aos sete anos de idade. Trabalhou como chapeiro numa lanchonete, balconista em bar e padaria, foi vendedor ambulante de vassouras e auxiliar-geral numa empresa metalúrgica antes de publicar suas primeiras obras. É autor de Fortaleza da Desilusão, Capão Pecado e Amanhecer Esmeralda. Em 1999, fundou a 1DASUL, um movimento que promove eventos culturais em bairros da periferia. E, em 2001, lança a revista Literatura Marginal, em parceria com a revista Caros Amigos, que recebe o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte de Melhor Projeto de Literatura.


Firme e forte, como “um elo da corrente”, como ele sempre escreve, Ferréz concedeu à CARTA MAIOR a entrevista abaixo:


CARTA MAIOR – Você denunciou em seu blog que a polícia matou quatro jovens inocentes esta semana no Capão Redondo. Como isso aconteceu?


FERRÉZ – Todos os dias de manhã, eu vou a um bar tomar café. O bar fica em frente a uma pequena loja de camisetas que eu tenho lá na rua. Todos os dias eu via esses meninos lá. Um deles vendia flor, o outro, produtos de limpeza. Estão sempre lá tomando café também antes de irem trabalhar. Na segunda-feira, cheguei no bar e estava um movimento estranho. E aí me falaram que os caras tinham atirado nos meninos no domingo à noite. Eles estavam tomando cerveja numa barraca de lanches. Isso foi numa rua próxima, onde todo mundo sempre vai. Um lugar conhecido no bairro. Chegou um carro preto – alguns moradores disseram que viram uma viatura também –, desceram cinco homens de toca ninja e atiraram nas pessoas na barraca. Até o dono foi alvejado. Quatro morreram e três estão no hospital ainda. Um se chamava Maurício e o outro, Brigadeiro. Mas a polícia não divulgou ainda o nome dos mortos. O mais velho tinha 27 anos e nenhum estava envolvido com o crime. Dos três que estão hospitalizados, nenhum tinha passagem pela polícia. No Parque Ipê, que é uma favela, colocaram fogo na moto de um menino que entregava pizza. Ele também morreu. Invadiram as casas das pessoas, uma por uma. Invadiram as casas no meio da madrugada.


CM – Nesta quinta-feira, a polícia realizou uma operação com 400 homens na favela Helba, usando um mandado coletivo de busca. O que você acha dessas operações?


FERRÉZ – O estranho disso tudo é que não foi a população que declarou guerra à polícia militar. Foi o PCC. E quem está pagando é a população. A polícia recebe coação há tempos dos bandidos; ela criou este estado. E agora está guerreando com isso, porque solta as pessoas com alto grau de periculosidade. E quem paga é o povo, porque o cara do PCC não fica moscando na rua de bobeira. Aí a polícia pega o popular, confunde com outra coisa, e ripa o pessoal da favela. Tinha que ter mandado coletivo em Brasília, porque lá já foi provado que as pessoas são criminosas. Mas é mais fácil entrar na casa da população e bater num pobre do que olhar no olho de um ladrão, porque eles tremem quando isso acontece.


CM – Tremem por que? Você acha a polícia despreparada?


FERRÉZ – A polícia tem vontade de fazer alguma coisa e acaba fazendo com as pessoas, por despreparo dos policiais. As pessoas que estão morrendo agora não são culpadas. Me revoltei por isso. Por que é assim, matou e enterrou? A vida do cara é isso? Espera aí! O cara foi assassinado e isso não vai ser investigado porque ele é pobre? A polícia científica esteve no lugar em que os meninos morreram e começaram a perguntar pras pessoas se eles eram “nóia”. Ou seja, estavam procurando alguma razão pra justificar depois as mortes. Este é o único país em que o morto é culpado. Você morre e ninguém investiga. Estamos recebendo várias cartas de outras pessoas denunciando isso. Não é possível que todos estejam mentindo. Não é possível que fique assim. Estão escondendo os corpos porque é tudo execução, com tiro na cabeça. Hoje os policiais estão desfilando aqui na rua com toca ninja e camisa Le Coq, que é um grupo de extermínio da polícia.


CM – Mas não é de agora que há denúncias de grupos de extermínio agindo na periferia com a participação de policiais. Em que a situação atual diferente da de antes?


FERRÉZ – Apanhar da polícia não é novidade. A polícia sempre pega as pessoas, bate, espanca, não acha nada e fica nervosa. A PM pega as pessoas e diz que elas são lixo, dão bronca porque não têm roupa, porque estão “desarrumados”. Muitas pessoas acham isso estranho porque moram do outro lado da cidade, onde os cidadãos são tratados como seres humanos. Aqui é diferente. Mas chacina não tinha há muito tempo. Um cara entrar na viatura e sumir sempre tem. Mas chacina do jeito que está não tinha. E a mídia não reportou a chacina. Como 107 podem ser mortos suspeitos? Depois que a pessoa morre, como é que você recupera a vida dela?


CM – Como está sendo a atuação da polícia esses dias no Capão Redondo?


FERRÉZ – Estão pegando qualquer um que tenha ficha. Se tiver passagem, apanha. Tenho um amigo que foi solto há dois anos, estava trabalhando, sossegado. A polícia pegou a ficha dele e veio atrás. No sábado, ele foi às Casas Bahia pagar uma conta e, quando voltou, a polícia o seguiu, o pegou, levou e bateu muito nele. Deu choque, bateu com pedaço de pau. Ele estava com outro amigo. Depois foi solto. Agora ele não sai de casa mais, está super nervoso, não conversa com ninguém. Está revoltado de novo, porque estava trabalhando sossegado. Mas é assim que você cria uma fábrica de fazer vilão, pegando pessoas que não tem nada a ver. A guerra é entre o PCC e eles, e não com a população. Não temos que pagar por isso, não lucramos nada com isso.


CM – Diante do quadro histórico do país, você acha que essa crise de violência demorou para explodir aqui em São Paulo?


FERRÉZ – Essa situação existe há muito tempo e as pessoas não queriam ver. Há quatro anos publiquei um artigo na Folha de S.Paulo que já falava isso. Era pela guerra e pelo terror ou pela arte. Ninguém tem arte, cultura, informação. A prisão não reeduca, só repreende. O caminho é esse, o Estado vai se fortificando e já era. Mas hoje o Estado está submisso. Tinha que fazer política pública de segurança de verdade, e não brincar com a população. O Furukawa [secretário de Administração Penitenciária] e o Saulo [Abreu de Castro, secretário de Segurança Pública] estão brincando há muito tempo, até com a vida dos policiais, que estão abandonados. O cara está na rua, no combate corpo-a-corpo e não tem preparo, não tem curso, não aprende. Aí fica um brutamonte contra o outro na rua, e nós no meio, desarmados, querendo trabalhar.


CM – As pessoas estão conseguindo trabalhar esses dias?


FERRÉZ – As pessoas estão arriscando a vida para trabalhar. Tenho dois cunhados que voltam de noite pra casa, se arriscando. Mas as pessoas têm que ganhar o pão delas. O comércio aqui está fraco, está um clima estranho, as pessoas não saem de casa.


CM – Os senadores e deputados em Brasília devem aprovar nos próximos dias um pacote de leis para aumentar o combate à criminalidade. Há propostas com forte linha repressora. Você acha que este é o caminho?


FERRÉZ – Acho que o Estado está fazendo corda pra se enforcar. A elite já é suicida há muito tempo e agora o Estado está sendo. Quando você reprime uma criança no primeiro dia, ela sorri pra você. No segundo, já faz uma cara de desconfiada. No terceiro, ela te olha de cara feia. Tenho um amigo que diz que diz que quando você prende um cachorro e todo dia o chuta um pouco, quando você o solta ele te morde, e não te faz carinho. O sistema carcerário é a mesma coisa. Ele tem que ser uma tentativa de restabelecer o convívio do preso, e não só a sua punição. Quando ele for pra rua, vai reagir. Acho que essas leis são um tiro na testa. A questão do Brasil é de educação, desde o primeiro ano. Só que ninguém faz nada. Todo mundo que é um pouco mais esclarecido sabe que o negócio é mais embaixo. Mas infelizmente a coisa vai sendo levada na brincadeira. Essas leis de agora são medidas políticas, que fazem um governo aqui brilhar mais do que o de lá.


CM – Você falou que a elite é suicida há muito tempo. Por quê?


FERRÉZ – Em um estado onde uma pessoa tem milhões e a outra não tem o que comer no dia, esses mundos acabam se encontrando um dia. E é claro que vão se encontrar, porque é a gente que limpa a casa deles, que cuida da segurança deles, que dirige o carro deles. Não tem como um cara carregar uma carroça o dia inteiro e ver um Audi ali do lado, com um cara no ar condicionado confortável, e dar tchauzinho. As pessoas vão tomando ódio, porque querem que o seu filho também tenha respeito e educação, querem que o posto de saúde funcione, que os policiais não entrem na sua casa. Não é brincadeira. O dia em que a população estiver conscientizada, não vai ter como conter isso. Vai chegar uma hora que o povo vai gritar. Falamos que o brasileiro é pacato, mas quando a bomba explode, olha o que acontece? As pessoas trabalham doze horas por dia e não têm pão pra colocar na mesa. Isso é culpa de quem, do pobre?


CM – O governador Cláudio Lembo deu uma entrevista para a Folha de S.Paulo em que responsabilizou a elite sobre o que está acontecendo. O que você acha disso?


FERRÉZ – Todo cara da elite retrata a elite como se fosse o outro. A elite sempre é o cara que tem mais do que eu. Eu tenho pouca terra, tenho pouca Mitsubishi, pouco Chrysler. Mas elite é o outro, que tem iate. A elite não se enxerga como elite. Ninguém é culpado…


CM – Você é de uma região que já foi considerada uma das mais violentas do mundo. Ainda há um estigma da classe média e da classe alta em relação à população da periferia?


FERRÉZ – Pra mim, muita gente da classe média e da classe alta também é ladrão. Vivem explorando os outros. Eu acho que tínhamos que abrir a conta dessas pessoas, fazer uma reviravolta no passado delas. Os bancos estão ganhando 60% de lucro por ano num país que é miserável. Algo está errado. Não é à toa que queimaram as agências bancárias. Depois falam que o crime não está politizado. Tem coisa mais politizada que queimar agência bancária?


CM – Há regiões da cidade em que a população diz que tem mais medo da polícia do que dos criminosos, porque não sabe que tipo de comportamento esperar dos policiais. Você concorda com isso?


FERRÉZ – Sim. A farda causa uma coisa estranha. Você conversa com um policial num dia e, no outro, se ele passa na viatura, nem fala com você. Tem uns policiais do bairro que vão na minha loja, pedem desconto, e no dia em que estão fardados nem me olham na cara. Não não existe polícia que sorri pra uma criança, que fale bom dia. A polícia comunitária é uma piada. Nunca vi isso, é um fracasso. É a mesma arrogância e prepotência; não mudou nada. Já os bandidos mataram apenas um civil, a namorada do policial, porque ele bateu o carro e ela estava dentro. Pelo lado dos policiais, quantas pessoas morreram? Acho que a máscara vai cair uma hora. Quando divulgarem os nomes, vão ver que muitas das pessoas não têm passagem, não têm nada a ver com a coisa. Isso se contarmos somente as mortes que foram assumidas, porque o IML falou que está cheio de cadáveres que não há como identificar. E os massacres que não entraram no índice? Além da morte desses quatro meninos, um outro morreu no Parque Santo Antônio e mais dois foram atingidos num campo de futebol. A viatura chegou, os caras saíram de touca ninja, mandaram os caras que estavam conversando no campo à noite se ajoelharem e atiraram nos moleques. Um morreu e o outro está no hospital. De dia são as abordagens pra bater. De noite, o bicho está pegando.


CM – Esta noite não houve mortes, pelo menos divulgadas. Você acha que a situação se acalmou?


FÉRREZ – Não sei. Estou como a população de São Paulo. Sem saber o que vai acontecer.

Fonte: Agência Carta Maior

Bancários do Rio Grande do Norte continuam filiados à CUT

61,48% a 36,26%


Com 1.143 (61,48%) votos a favor da permanência à filiação e 674 (36,26%) em prol da desfiliação da CUT (diferença de 469 votos), os bancários que integram a base do Sindicato do Rio Grande do Norte acabam de dar uma lição tão imensa, que chega a sair das fronteiras do Estado e se estende ao resto do país. É uma lição simples, mas dotada de grande significado. É a lição de unidade e também de repúdio a uma tentativa de colocá-los na contra-mão da história e de jogá-los numa aventura da qual não se sabe onde a categoria poderia descambar. Ao dar um SIM à permanência, os bancários também não deixam de dar um grande aviso aos que fazem a CUT: a Central foi organizada pelos trabalhadores brasileiros e deve estar, incondicionalmente, ao lado dos trabalhadores brasileiros. Essa é a razão da existência da CUT.


Ao dizer SIM à permanência na CUT, os bancários do Rio Grande do Norte mostraram como deve seguir o movimento da categoria em nível nacional: unido, coerente, amplo. Essas três características são essenciais. Sem elas seria impossível aos bancários tornarem-se a única categoria de trabalhadores no Brasil a ter uma Convenção Coletiva de Trabalho.


A permanência na CUT é uma mostra de que os bancários potiguares não querem ficar de costas para uma Confederação que aglutina a categoria em nível nacional, a CONTRAF, e uma Federação que traz a marca da unidade na Região Nordeste, a FETEC/NE. A permanência na CUT é um antídoto contra o retrocesso representado pela Contec e a pirotecnia de propostas mirabolantes.


Permanecer na CUT, este foi o recado que os bancários do Rio Grande do Norte deram neste plebiscito.


Outra mensagem saída das urnas, agora mais essencial ainda, aponta a necessidade do respeito e a valorização da unidade, itens sem os quais é impossível conduzir uma luta contra patrões tão poderosos como os banqueiros e enfrentar uma campanha salarial tão cheia de desafios, como esta que se avizinha. Passadas as emoções do plebiscito, no qual aparentemente a divisão campeou, os bancários voltam a ser, novamente, uma categoria coesa. Agora não há mais bancários contra ou a favor, colocados em posições que os distanciam. Agora há bancários de mãos juntas contra a exploração dos banqueiros e a favor da dignidade proporcionada pelo salário justo, pela respeito à jornada de trabalho e pela luta constante por seus direitos.


Os bancários do Rio Grande do Norte são uma categoria que faz história.

Fonte:

FUP: Direita em polvorosa tenta frear nova geopolítica do petróleo na América do Sul

A nacionalização das reservas de petróleo e gás da Bolívia foi decidida pela população em plebiscito realizado em 18 de julho de 2004, cujo resultado é a Lei de Hidrocarbonetos, que foi aprovada em 17 de maio de 2005. O presidente Evo Morales nada mais fez do que cumprir a Constituição Boliviana. O tom golpista com ares de guerra fria que a mídia tem dado à cobertura deste evento é um desrespeito absurdo à autodeterminação dos povos. A gritaria e o estardalhaço são reações tardias a uma decisão soberana da Bolívia, mas que a direita e os neoliberais, como de costume, achavam que podiam sufocar.


 


A integração em marcha na América do Sul está estabelecendo uma nova configuração geopolítica na região produtora de petróleo e gás. As multinacionais, por sua vez, perdem cada vez mais grande parte do poder que tinham. Uma derrota incontestável do projeto neoliberal de desregulamen-tação e desmonte do estratégico setor energético. Por isso, é imperativo para as forças conservadoras deter o avanço da esquerda no continente.


 


O Brasil, sem dúvida, tem papel de relevância neste cenário e é um país fundamental para a consolidação da integração sul-americana. Portanto, vale tudo para impedir a continuidade do projeto iniciado pelo Governo Lula. Essa é a tônica da pseudo crise armada pela mídia, com foco nos interesses de tucanos, pefelistas e companhia.


 


Reações contra essa nova tentativa de golpe da direita ecoam em toda a América do Sul. Centrais sindicais, movimentos sociais, intelectuais, artistas, instituições democráticas e partidárias se manifestam publicamente em solidariedade à Bolívia e em apoio aos governos e candidatos de esquerda que lutam para consolidar as mudanças políticas no continente.


 


DISTORÇÕES E ESPECULAÇÕES – A tática dos neoliberais e direitosos é sempre a mesma: distorcer e especular os fatos de acordo com os seus interesses. E a mídia conservadora é um poderoso instrumento para legitimar a farsa e confundir a sociedade. Criaram uma suposta crise entre o Brasil e a Bolívia, que foi prontamente desmentida pelo governo. Tentaram, então, desqualificar a política externa e o próprio Lula, que se viu envolvido em uma fictícia guerra de poder com Hugo Chavez criada pela mída. A revista Veja chegou ao cúmulo de publicar uma insultosa matéria de capa, ridicularizando o presidente, num desrespeito à República sem precedentes em nosso país.


 


Expropriação, confisco de ativos e desabastecimento são alguns dos enfoques mais utilizados pela mídia na cobertura da pretensa crise gerada pela decisão boliviana. Em vez de informar com responsabilidade e imparcialidade, como preza o bom e ético jornalismo, os meios de comunicação fazem terrorismo, alegando defender os interesses nacionais. Se por uma lado, incentivam e cobram reações extremistas contra a Bolívia, por outro tentam desqualificar as soluções diplomáticas e negociadas buscadas pelo governo brasileiro. A mesma manipulação ocorrida na cobertura da greve dos petroleiros brasileiros em 1995, levianamente acusados pela mídia de desabastecerem a população de gás de cozinha, quando na verdade os responsáveis foram as distribuidoras que sonegaram o produto.


 


O PASSADO TUCANO CONDENA – A imprensa que hoje brada em pretensa defesa dos interesses da Petrobrás é a mesma que calou-se categoricamente diante dos ataques sofridos pela estatal nos governos passados. A empresa foi o principal instrumento utilizado pelos neoliberais FHC e Sánchez de Lozada para beneficiar as multinacionais na exploração, escoamento e distribuição do gás boliviano. A Petrobrás assumiu sozinha todos os riscos da construção e operação do gasoduto Bolívia-Brasil. Além de investir cerca de 2 bilhões de dólares no gasoduto, a empresa durante anos foi obrigada a pagar por um volume de gás que não utilizava (contrato pegue ou pague). Em meados de 2003, a Petrobrás bancava 24 milhões de metros cúbicos de gás por dia, mas só utilizava 9 milhões.


 


Além disso, a estatal brasileira foi obrigada pela dupla FHC-Lozada a assumir os riscos de desenvolver o mercado de gás na Bolívia e no Brasil, beneficiando diretamente empresas como Enron, TotalFina Elf e Shell. Sem falar no fiasco das termoelétricas, parcerias entre as multinacionais e a Petrobrás, que causaram o maior prejuízo da história da estatal. Cerca de 1,5 bilhão de dólares que o atual governo conseguiu reduzir para 500 milhões de dólares, após rever toda a estratégia de investimentos da Petrobrás. O governo Lula também brecou o projeto original de privatização do gasoduto Bolívia-Brasil, compromisso assumido por FHC.


 


Esses e outros fatos que a mídia conservadora omitiu foram denunciados pela FUP, CUT e demais entidades representativas da sociedade civil. A FUP e os sindicatos de petroleiros sempre defenderam a busca pela auto-suficiência na produção de petróleo e gás e o desenvolvimento de fontes alternativas de energia. Ao contrário do que vem vem fazendo o atual governo, o projeto tucano tinha como meta o desmonte e privatização da Petrobrás e a desregulamentação total do setor energético. A intenção era tornar o país dependente de reservas externas, como tentaram fazer em relação ao gás da Bolívia.

Fonte: Federação Única dos Petroleiros

Brasil se retira da reunião da OMC contra desnacionalização do ensino

Por: Leide Maia/HP


 


O Brasil retirou-se da reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), na última segunda, dia 15, em Genebra, num protesto contra a proposta de países, entre eles o EUA, de permitir a entrada de capital e o controle estrangeiro sobre a Educação. “A Educação não é um negócio, sujeito às regras de mercado. Trata-se de um serviço público, de direito do cidadão, e o MEC reconhece e elogia a atitude da delegação brasileira em Genebra”, ressaltou Alessandro Candeas, chefe da Assessoria Internacional do MEC.


 


Para o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, “foi muito importante o governo brasileiro ter um posição firme na reunião da OMC para impedir a tentativa das grandes potências de mercantilizar a Educação. Estes países querem acabar com a nossa liberdade, com a nossa soberania, com a nossa independência. Eles querem influenciar a nossa juventude e a Educação é um dos principais instrumentos de dominação”. Em abril, a UNE lançou a campanha “Nossa Educação não está à venda!”, contra a entrada do capital externo na Educação brasileira.


 


DESNACIONALIZAÇÃO – Recentemente a universidade paulista Anhembi-Morumbi, que tem 25 mil alunos, foi vendida para o grupo norte-americano Laureate. Este grupo controla vinte universidades espalhadas pela Ásia, Europa e outros países da América Latina, como Peru e Chile. É a primeira vez que um grupo estrangeiro vai controlar uma universidade no Brasil.


 


Atualmente, na Legislação brasileira não há limite para estrada de capital estrangeiro na Educação. Para limitar a interferência de outros países, o governo federal quer, através da Reforma Universitária, restringir em 30% a participação do capital externo nas universidades brasileiras.


 


“A Educação é um dos principais pilares do desenvolvimento e, por isso, é essencial que o governo brasileiro tome medidas, como esta da OMC e como a Reforma, que impeçam o controle estrangeiro das nossas escolas e universidades”, destacou Gabriel Alves, presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES).


 


DESMONTE – Esta realidade é fruto do processo de privatização do ensino que teve seu grande momento de expansão durante o governo tucano, pois FHC privilegiou o setor privado enquanto sucateou a escola pública. Só para se ter uma idéia, de 1996 a 2004 foram criadas mais de mil instituições privadas de ensino superior, totalizando 1.780 instituições, que agora são alvos da especulação internacional.


 


Outro exemplo da desnacionalização é o da Faculdade Pitágoras, em Minas Gerais, que teve metade das suas ações vendidas para o grupo norte-americano Apollo, que também controla a Universidade de Phoenix. O grupo agora quer passar a mão na maior universidade privada do país, a Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, que têm 120 mil alunos.


 


A posição da delegação brasileira na reunião da OMC foi definida durante um encontro, no final de março, que reuniu representantes do Itamaraty, do MEC, da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e do Fórum de Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais (Faubai).

Fonte: CUT

Por que a UERJ está em greve

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro é a primeira, a mais tradicional e mais consolidada das instituições de ensino superior sob a responsabilidade direta do poder público estadual. É este patrimônio dos cidadãos do nosso Estado que se encontra atualmente ameaçado.


 


Foi largamente documentado o recente desmoronamento no prédio principal da UERJ. É preciso, no entanto, tornar público que esta é apenas a implicação mais evidente de uma grave sucessão de cortes orçamentários (50% do previsto para 2006, a que se propõe agora sobrepor mais 25% no custeio), além da aguda desvalorização salarial (nenhuma reposição nos últimos cinco anos), que comprometem o legado humano e material que a UERJ representa.


Não se constrói uma Universidade a partir do nada: para desempenhar o papel que lhe é devido na sociedade, em termos de excelência acadêmica, de inovação, de expressão cultural e relevância social, uma instituição de ensino superior tem que atrair e manter os profissionais que dão alma ao projeto universitário, fornecendo-lhes recursos para que sua tarefa possa efetivamente ser realizada.


 


Na última década, a UERJ buscou reunir essas condições, de que resultaram sua ampliação e reconhecida consolidação – em grande parte garantidas pela significativa expansão de sua pós-graduação. Isso se deveu, sem qualquer dúvida, à iniciativa qualificada de professores da UERJ, que souberam captar para a instituição não apenas as verbas dos órgãos de fomento, como o interesse, a confiança e o reconhecimento da sociedade. Mas essas conquistas foram também resultado de políticas nacionais de longo alcance – que, deixando de mirar resultados instantâneos e passageiros, levaram à mobilização de investimentos em construções sociais mais duráveis.


É nesse cenário que a UERJ já desponta como instituição de peso nacional, no ensino, pesquisa e extensão, com 54 cursos de graduação, envolvendo cerca de 25.000 alunos, e 38 Programas de pós-graduação credenciados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). No âmbito da pós-graduação, cerca de 2.500 alunos se distribuem entre 37 cursos de mestrado e 21 cursos de doutorado. De uma perspectiva histórica, o número de programas de pós-graduação dobrou, em 10 anos. Mas esse crescimento não foi só numérico. A qualidade desses programas, alguns considerados de nível internacional, está expressa nas avaliações anuais da CAPES. Por esses resultados, os Programas de Pós-graduação levantaram recursos na ordem de 18 milhões de reais de fontes externas ao Governo do Estado, em 2005. A UERJ está, no entanto, chegando a um limite, no que se refere à continuidade dessa trajetória, tendo em vista a dilapidação da infra-estrutura (laboratórios, bibliotecas, equipamentos), a crônica insuficiência das condições de segurança patrimonial e humana em seus campi, a ausência de uma política salarial honrada – recursos essenciais não só para a pesquisa, como para a garantia das atividades mais cotidianas.


 


Porém a manutenção da infra-estrutura básica e das despesas de pessoal é a contrapartida mínima exigida com crescente rigor ao Estado por todas as agências que vêm financiando a maior parte dos projetos da Universidade. Ora, é essa contrapartida que se está pretendendo negar, como final de um processo perverso e agudo de abandono das responsabilidades do Governo do Estado com a educação pública do Rio de Janeiro.


 


Face ao exposto, os coordenadores dos cursos de pós-graduação da UERJ conclamam toda a sociedade do Estado do Rio de Janeiro, a comunidade acadêmica, as sociedades científicas, as entidades de pesquisa, as demais Universidades, todos os que queiram emprestar sua voz à indignação que assoma à universidade a, reconhecendo as razões da greve, se posicionarem em defesa da UERJ.


 


Fórum dos coordenadores de Pós-Graduação da UERJ

Fonte:

Bancos americanos vão atrás dos 40 milhões sem serviço financeiro

Para a maioria de nós, os bancos são um mal necessário. Para muitos outros, é um luxo inalcançável. Nos Estados Unidos, pelo menos 12 milhões de lares não possuem conta em banco – são os “sem-banco”, no horrendo jargão do setor. Uma vez contabilizados os imigrantes não-naturalizados e os “sub-banco” – um termo ainda mais feio usado para aqueles que possuem baixa pontuação de crédito ou nenhuma -, algumas estimativas superam os 40 milhões.


 


Durante anos os bancos não olharam para essas pessoas como potenciais clientes. Não surpreende: os bancos vêem pouco lucro nos pobres e nas pessoas que estudaram pouco.


 


Mas isso está mudando. No mês passado o Citibank anunciou uma parceria com a 7-Eleven, grande rede de lojas de conveniência, para colocar sua marca em mais de 5.500 terminais automáticos que serão instalados dentro das lojas, alguns dos quais serão quiosques de auto-atendimento para transferências, descontos de cheques e pagamentos de contas. Isso vai levar o Citibank a áreas onde ele não tem agências, mas também permitirá ao banco atender aqueles não possuem conta bancária. Enquanto isso, o JP Morgan Chase está se voltando para os “sem-banco” através de seu novo “cartão de benefício direto”, que permite a pessoas sem contas em banco receberem eletronicamente créditos tributários do governo em cartões de débito que tenham seguro de crédito federal, ao invés de receber esses créditos via cheque.


 


Tudo isso são boas notícias para os sem-banco, que sempre usam caros “provedores financeiros alternativos” para pagar contas, descontar cheques e tomar empréstimos. Por exemplo, os bancos que emprestam a curto prazo (normalmente duas semanas) sempre cobram taxas de juros anualizadas que superam os 470% – o que não é pouco quando você vive de um salário pago em cheque após outro. E pior: aqueles que não têm conta em banco têm dificuldade para poupar, construir históricos de crédito e obter empréstimos a taxas razoáveis. Um estudo publicado pelo Federal Reserve Bank de Chicago e a Brookings Institution relata que cidades com proporções maiores de pessoas com contas em banco tendem a ter maiores níveis de renda, emprego e casa própria, e taxas de criminalidade menores.


 


A lei conhecida como Community Reinvestment Act (CRA), de 1977, foi promulgada com o intuito de levar os serviços financeiros aos pobres, ao exibir que os bancos atendessem suas “necessidades de crédito” nas áreas em que operam. Os bancos são examinados regularmente sobre suas práticas de empréstimos, seus investimentos no desenvolvimento da comunidade e a prestação de serviços bancários em áreas de baixa renda. Mas ativistas comunitários queixam-se que os critérios para os serviços bancários são muito brandos. Por exemplo, os bancos ganham pontos dentro da CRA se estabelecem agências em áreas pobres, o que pode encorajar as pessoas que não possuem conta a abri-las, mas também por colocarem funcionários nos conselhos dos grupos que promovem a disponibilização da casa própria, o que provavelmente não encoraja essas pessoas.


 


Talvez a CRA esteja além do ponto. Jennifer Tescher, do Centro de Inovação dos Serviços Financeiros, uma organização sem fins lucrativos, afirma: “Para os bancos aceitarem o desafio, eles precisam ver os sem-banco como um negócio sustentável – e não só como um meio de desenvolvimento da comunidade”. Em outras palavras, se os bancos se dispuseram a ir atrás dos sem-banco, eles terão que ver lucro nisso.


 


Surpreendentemente, eles poderão lucrar. A Visa avalia que os sem-banco, os sub-banco e os imigrantes não-registrados recebem quase US$ 1 trilhão por ano de seus empregadores, do governo, das seguradoras e assim por diante. Esse dinheiro flui através dos prestadores alternativos de serviços financeiros. Transferir parte dele para o sistema bancário – por uma taxa – poderia significar lucros substanciais, além de livrar os sem-banco das taxas de juros exorbitantes e de outras despesas que eles precisam pagar. Elizabeth Rowe da Guideline, uma consultoria de Nova York, acredita que os bancos que absorvessem os negócios do setor financeiro alternativo iriam atrair US$ 9 bilhões antes de qualquer venda cruzada de outros produtos. “Os sem-banco são uma população que está subindo na escala social”, diz ela.


 


Otimista? Talvez. Mas não muito tempo atrás os bancos evitavam fazer transferências e empréstimos para pessoas com históricos de crédito fracos. Hoje, os grandes bancos, ansiosos por novas áreas de crescimento, estão se oferecendo com grande estardalhaço para fazer transferências eletrônicas para imigrantes. E as hipotecas sub-prime tiveram uma explosão.


 


É verdade que é difícil encontrar a maneira certa de atender os clientes mais pobres. Alguns bancos tentam atrair os sem-banco oferecendo transferências grátis ou cobrando taxas pequenas para descontar cheques, caso eles abram uma conta-corrente. Mas para fazer dinheiro dessa maneira, os bancos dependem das taxas de penalidade, como as cobradas dos clientes quando eles estouram seus limites ou quando cheques são devolvidos, o que tende a amedrontar os possíveis clientes. Uns poucos bancos comunitários, como o Mitchell Bank de Wisconsin, estão tentando atrair clientes jovens abrindo agências dentro de escolas de segundo grau, em áreas onde existe um grande número de imigrantes sem conta em banco.


 


Um banco que parece estar fazendo a coisa direito é o El Banco de Nuestra Comunidad, estabelecido em 2001 e voltado para os imigrantes hispânicos sem-banco da Geórgia. Ele não fornece talões de cheques grátis: “Seria como dar a eles uma arma carregada”, diz Drew Edwards, seu diretor-presidente. Ao invés disso, o banco se orgulha de conhecer a fundo seus clientes – sabendo assim pelo que eles estão dispostos a pagar.


 


Tome por exemplo as 12 lojas do El Banco. Ao invés de escritórios e vidros à prova de bala, há televisores, pilhas de brinquedos, livre acesso à internet e um staff de imigrantes (não um staff “bilíngüe”, observa rapidamente Edwards). O El Banco ataca as instituições que descontam cheques cobrando taxas menores, oferecendo depois aos seus clientes, mediante uma taxa, contas simples elaboradas para suprir as necessidades dos imigrantes: acesso imediato a dinheiro-vivo (ao invés dos cinco dias em média que os clientes de outros bancos têm de esperar pela compensação dos cheques), desconto ilimitado de cheques sem o risco de devolução destes – porque esses clientes não possuem talões de cheques.


 


O El Banco afirma que recolhe em média US$ 40 por clientes em taxas, antes de empréstimos e tudo o que ele consegue com as vendas cruzadas de hipotecas e seguros. Ele já transferiu cerca de metade de seus 20.000 clientes para contas que dão direito a talões de cheques e tem planos de ampliar suas operações para além da Geórgia. Outros bancos da Carolina do Norte e do Tennessee já adotaram essa plataforma e estratégia.


 


Outros modelos novos estão surgindo em instituições financeiras não-bancárias e grupos varejistas, que freqüentemente são mais ágeis e sujeitos a uma regulamentação mais frouxa que a dos bancos. Os cartões pré-pagos que permitem aos clientes depositar dinheiro nesses cartões, como o cartão de benefício direto do Chase, estão crescendo muito. Os quiosques da 7-Eleven exigem pouca mão-de-obra para funcionar e atraem mais pessoas para as lojas. A Wal-Mart, a gigante do varejo que está solicitando uma licença bancária limitada, já desconta milhões de cheques todos os meses, além de realizar transferências eletrônicas e outros serviços. Talvez os sem-banco dos Estados Unidos não precisem de banco, afinal.

Fonte: The Economist, publicado no Valor Econômico

BC vê espaço para concentração bancária ainda maior no Brasil

Alex Ribeiro


 


O Banco Central vê espaço para maior concentração no mercado bancário brasileiro, sem que, necessariamente, haja prejuízo para a concorrência. Fusões e aquisições, como a compra do BankBoston pelo Itaú e do Pactual pelo UBS, serão analisadas caso a caso, seguindo o trâmite normal, que envolve o Conselho Administrativo de Direito Econômico (Cade). Mas, para fontes que tratam do assunto no BC, a figura geral ainda é benigna.


 


O BC considera bastante provável que outras instituições, sobretudo estrangeiras, se posicionem no Brasil nos próximos meses e anos, para disputar um mercado de crédito que cresce aceleradamente, em um país que está cada vez mais próximo de obter o grau de investimento.


 


Apesar da inegável concentração bancária ocorrida nos últimos dez anos, a posição brasileira ainda é vista como “moderada” pelo regulador do sistema financeiro, comparando com a realidade de outros países semelhantes. Estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) envolvendo 146 países aponta que, no Brasil, os dez maiores bancos detêm 70% dos ativos do sistema bancário, enquanto no México esse percentual é de 95%. O BC avalia que o sistema bancário ainda pode avançar para chegar mais próximo do percentual mexicano.


 


Houve considerável concentração bancária no Brasil na última década, devido a fatores como a crise bancária do Plano Real, a privatização de bancos estaduais e a busca de escala pelas instituições financeiras. Isso fez com que, de 1996 a 2004, os dez maiores bancos elevassem sua participação no total de ativos de 60,1% para 68%, segundo dados do BC (que usa base de dados diferente do FMI).


 


O entendimento da autoridade monetária é que, em decorrência dos avanços no uso da tecnologia da informação, os bancos fazem uma busca natural por ganhos de escala. O desafio será, ao mesmo tempo em que permite que os bancos reduzem e diluem os seus custos por meio das fusões e de aquisições, assegurar que haja competição, considerada essencial para que esses benefícios sejam distribuídos para toda a sociedade.


 


Nessa tarefa, BC e Cade agem de duas formas: de um lado, pela análise individual dos casos, para medir os impactos das operações nos chamados mercados relevantes; de outro, tomando medidas estruturais que ampliem a concorrência no mercado.


 


As fusões e aquisições são analisadas caso a caso porque uma operação que, no consolidado do sistema financeiro, não causa danos – já que o nível de concentração no mercado brasileiro ainda é baixo relativamente a outros países -, pode ter consequências em determinados nichos. No caso da operação envolvendo o HSBC e a Losango, por exemplo, ficou decidido que o mercado relevante era o de crédito ao consumidor, com exame mais detalhado pelos órgãos de defesa da concorrência. O crédito bancário a grandes empresas, por outro, tem características nacionais, e não regionais.


 


BC e o Cade dividem essa tarefa. Cabe à autoridade monetária decidir sobre aqueles casos considerados importantes para a confiabilidade e segurança do sistema financeiro. O Cade dá a palavra final em todos os demais. As duas mais recentes operações, envolvendo o BankBoston e o Pactual, ainda vão ser submetidos à análise técnica pelo BC.


 


O BC também está tomando um conjunto de medidas para ampliar a competição do sistema. É o caso, por exemplo, da portabilidade dos dados cadastrais e da divulgação, na página do BC na internet, das tarifas e taxas de juros cobradas pelas diferentes instituições.


 


O incentivo à abertura e fortalecimento de cooperativas bancárias também é uma iniciativa para atenuar a concentração do sistema. Outras duas medidas estão em estudo – permitir que o trabalhador escolha o banco em que vai receber o salário e um instrumento conhecido como DOC reverso.

Fonte: Valor Econômico

Artigo: “Nacionalização do gás é vitória para movimento sociais da América Latina”

Emir Sader*


 


O decreto do presidente da Bolívia Evo Morales que nacionalizou as reservas de gás e petróleo do país representa uma vitória para todos os movimento sociais latino-americanos. É o que afirma Emir Sader, sociólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, Morales tem o apoio dos bolivianos porque está cumprindo o que prometeu na campanha eleitoral.


 


“As suas reivindicações fundamentais que levaram à eleição dele foram a convocação da Assembléia Constituinte e a nacionalização dos recursos energéticos ele está cumprindo. Por isso ele tem uma popularidade altíssima e que vai aumentar. Então, a vitória dos movimento sociais bolivianos – que não apenas criticaram e resistiram, mas construíram seu projeto partidário e político – é uma vitória para todo os movimentos da América Latina. O MAS [Movimento ao Socialismo] é um exemplo para o continente”.


 


Mais da metade do gás natural comercializado no Brasil vem da Bolívia, onde a Petrobrás mantém duas refinarias que foram atingidas pela estatização. Emir Sader diz que as negociações do governo brasileiro devem ser feitas no sentido de não só expressar, mas também agir com vistas à integração dos países da América do Sul.


 


“A Petrobras terá que encontrar uma maneira de colaboração e participação – e certamente encontrará – para que o Brasil participe na integração não apenas através de projetos gerais, mas também na relação bilateral solidária e mutuamente dependente do Brasil com a Bolívia e vice-versa”.


 


As empresas que não aceitarem as condições impostas pela nacionalização das reservas de gás e petróleo têm um prazo de seis meses para deixar a Bolívia.


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*Emir Sader é sociólogo e professor da USP

Fonte: Agência Notícias do Planalto