LULA ASSINA PACOTE TRABALHISTA E SINDICAL, E CRIA REGRAS PARA COOPERATIVAS DE TRABALHO
BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou nesta segunda-feira um pacote de medidas na área trabalhista e sindical, entre elas a criação do Conselho Nacional das Relações do Trabalho (CNRT) e o reconhecimento das centrais sindicais como órgãos de representação legal dos trabalhadores.
Para acabar com a farra das cooperativas de trabalho que atuam nos setores de produção e serviços que são criadas para burlar direitos trabalhistas, o governo decidiu criar regras claras para o segmento, subordinado à Lei do Cooperativismo de 1971. Por outro lado, quem estiver em situação regular será beneficiado com menos burocracia e maior acesso ao crédito. Em vez de 20 cooperados, poderão ser formadas com cinco, mas terão que distribuir aos seus associados, no mínimo, o piso da categoria. Caso seja comprovada a relação de emprego, a cooperativa será dissolvida, além de sofrer sanções penais e pagamento de multa.
A proposta consolida também decisão da Justiça trabalhista, que proibiu a criação de cooperativa com o fim exclusivo de intermediar mão-de-obra.
Apesar da urgência do tema, o governo optou por fazer as mudanças via projeto de lei, anunciado ontem em solenidade no Palácio do Planalto. Em contrapartida, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cedeu à pressão dos sindicalistas e assinou duas medidas provisórias. Uma que legaliza as centrais sindicais, que passarão a brigar por parte do dinheiro arrecadado com a contribuição sindical, e outra que cria o Conselho Nacional de Relações do Trabalho, formado por representantes dos trabalhadores, patrões e governo.
No discurso, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, prometeu que nos próximos dias o governo baixará ainda um decreto em que vai garantir a participação dos trabalhadores nos conselhos de administração das estatais. A decisão atende pedido dos funcionários dessas empresas, que querem opinar sobre questões relativas a investimentos, por exemplo. O alvo principal é a Petrobras.
O pacote, segundo o ministro, incluirá também a adesão do Brasil à convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre o direito de greve dos funcionários públicos e o projeto para regulamentar o trabalho aos domingos e feriados. Esses dois pontos ainda estão em fase de negociação com sindicalistas e empregadores.
Marinho lembrou que o reconhecimento das centrais sindicais estava previsto na proposta de Reforma Sindical – enviada ao Congresso há mais de um ano e que não avançou devido à crise política – mas que o movimento insistiu na antecipação desse item, antes do fim do mandato do presidente Lula.
– Eles me pediram que fosse feito na base da canetada – contou o ministro, acrescentando que a edição das MPs já foi negociada com o Congresso.
Segundo o ministro, o conselho tripartite será um espaço permanente para o diálago e aproximará empregadores e trabalhadores, que poderão propor mudanças na estrutura dos sindicatos e na legislação trabalhista. Mas, ele reiterou que o atual governo não tomará medidas para retirar direitos dos trabalhadores.
– No governo do presidente Lula, não há qualquer possibilidade de pensar a reforma trabalhista sob a ótica de retirar direitos – destacou o ministro.
Presentes no evento, as duas maiores centrais sindicais (CUT e Força Sindical) informaram que vão atuar no Congresso para incluir na MP o direito de receber a partir de 2007 os 20% do imposto sindical obrigatório hoje destinados ao Ministério do Trabalho e aplicados nas Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs). A maior parte do dinheiro (60%) vai para os sindicatos; 15% para as federações e os 5% restantes para as confederações.
– Somos a instância máxima do movimento sindical e vamos ao Congresso para pedir os 20% que vão para o Ministério do Trabalho – afirmou o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (o Paulinho).
Técnicos do Ministério afirmaram, porém, que o governo não aceita esse pleito, sobretudo por discordar da cobrança do imposto sindical , que correponde a um dia de serviço, descontado do trabalhador, independentemente de ser ou não sindicalizado.
Em nota a Federação do Comércio de São Paulo (Fecomécio) criticou o pacote trabalhista do governo. Segundo a entidade, as centrais deveriam exercer papel essencialmente político e a criação do conselho, que ficará no âmbito do Ministério, é inconstitucional por representar interferência do Estado nos sindicatos.
NOVA LEI QUER COIBIR COOPERATIVAS DE FACHADA
BRASÍLIA. Para acabar com a farra das cooperativas de trabalho que atuam nos setores de produção e serviços que são criadas para burlar direitos trabalhistas, o governo decidiu criar regras claras para o segmento, subordinado à Lei do Cooperativismo de 1971. Por outro lado, quem estiver em situação regular será beneficiado com menos burocracia e maior acesso ao crédito. Em vez de 20 cooperados, elas poderão ser formadas com cinco, mas terão que distribuir aos seus associados, no mínimo, o piso da categoria. Caso seja comprovada a relação de emprego, a cooperativa será dissolvida, além de sofrer sanções penais e pagamento de multa.
A proposta consolida também decisão da Justiça trabalhista, que proibiu a criação de cooperativa com o fim exclusivo de intermediar mão-de-obra.
Apesar da urgência do tema, o governo optou por fazer as mudanças via projeto de lei, anunciado ontem em solenidade no Palácio do Planalto. Em contrapartida, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cedeu à pressão dos sindicalistas e assinou duas medidas provisórias. Uma que legaliza as centrais sindicais, que passarão a brigar por parte do dinheiro arrecadado com a contribuição sindical, e outra que cria o Conselho Nacional de Relações do Trabalho, formado por representantes dos trabalhadores, patrões e governo.
Trabalhador vai ajudar a decidir investimentos
No discurso, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, prometeu que nos próximos dias o governo baixará ainda um decreto em que vai garantir a participação dos trabalhadores nos conselhos de administração das estatais. A decisão atende a pedido dos funcionários dessas empresas, que querem opinar sobre questões relativas a investimentos, por exemplo. O alvo principal é a Petrobras.
O pacote, segundo o ministro, incluirá também a adesão do Brasil à convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre o direito de greve dos funcionários públicos e o projeto para regulamentar o trabalho aos domingos e feriados. Esses dois pontos ainda estão em fase de negociação com sindicalistas e empregadores.
Marinho lembrou que o reconhecimento das centrais sindicais estava previsto na proposta de Reforma Sindical – enviada ao Congresso há mais de um ano e que não avançou devido à crise política – mas que o movimento insistiu na antecipação desse item, antes do fim do mandato do presidente Lula.
– No governo do presidente Lula, não há qualquer possibilidade de pensar a reforma trabalhista sob a ótica de retirar direitos – destacou o ministro.
Centrais pleiteiam parte do imposto sindical
Presentes no evento, as duas maiores centrais sindicais (CUT e Força Sindical) informaram que vão atuar no Congresso para incluir na MP o direito de receber a partir de 2007 os 20% do imposto sindical obrigatório hoje destinados ao Ministério do Trabalho e aplicados nas Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs). A maior parte do dinheiro (60%) vai para os sindicatos; 15%, para as federações; e os 5% restantes, para as confederações.
– Somos a instância máxima do movimento sindical e vamos ao Congresso para pedir os 20% que vão para o Ministério do Trabalho – afirmou o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.
Técnicos do Ministério do Trabalho afirmaram, porém, que o governo não aceita esse pleito, sobretudo por discordar da cobrança do imposto sindical , que corresponde a um dia de serviço, descontado do trabalhador, independentemente de ser ou não sindicalizado.
Em nota, a Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio) criticou o pacote trabalhista do governo. Segundo a entidade, as centrais deveriam exercer papel essencialmente político e a criação do conselho, que ficará no âmbito do ministério, é inconstitucional por representar interferência do Estado nos sindicatos.
AS MEDIDAS DO PACOTE
Centrais Sindicais:
Ganharão legitimidade para representar seus associados e, com isso, poderão participar de negociações coletivas no âmbito nacional e representar seus filiados perante a Justiça. Essas entidades hoje não fazem parte da estrutura sindical. Para serem reconhecidas, as centrais terão que ter, no mínimo, cem sindicatos filiados, distribuídos nas cinco regiões do país e representar pelo menos cinco setores da atividade econômica.
Conselho Nacional de Relações do Trabalho:
Será formado por representantes dos trabalhadores, empregadores e governo, e ficará no âmbito do Ministério do Trabalho.
Cooperativas de trabalho:
Essas entidades não poderão ser criadas para fins exclusivos de intermediação de mão-de-obra. Elas terão que distribuir mensalmente aos seus cooperados (que são sócios) pelo menos o piso salarial da categoria e realizar assembléias periodicamente. Caso seja comprovado vínculo empregatício, haverá a dissolução da entidade, além de sanções penais e pagamento de multas. Será criada linha de financiamento destinada às cooperativas, que poderão ser formadas com cinco cooperados.
Participação nas estatais:
O governo pretende baixar um decreto que permitirá aos trabalhadores de estatais indicarem representantes nos conselhos de administração das empresas.
Greve no setor público:
O Ministério das Relações Exteriores deverá enviar ao Congresso comunicado com a adesão do Brasil à norma da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que reconhece o direito de greve aos funcionários públicos.
Trabalho aos domingos e feriados:
Ainda em negociação no governo, a idéia é enviar projeto de lei ao Congresso que regulamenta o funcionamento do comércio aos domingos e feriados.
REFORMA ACANHADA
Mariza Louven
O reconhecimento das centrais sindicais como representantes dos trabalhadores fortalece estas entidades, mas divide as opiniões. Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcelo Paixão, a medida aumenta o poder das cúpulas sindicais e diminui o das bases, ampliando a possibilidade de corrupção e atuação de pelegos — que deveriam mas não defendem os interesses dos trabalhadores. Para ele, só o fim do imposto e da unicidade sindical significaria reforma efetiva do sistema sindical no país.
– A proposta do novo sindicalismo, prevista pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), é de acabar com o imposto sindical e com a unicidade, para dar mais liberdade de organização ao trabalhador – acrescentou.
O economista da PUC José Marcio Camargo concorda que a verdadeira reforma implicaria acabar com o imposto sindical. Mas não vê razão para proibir as centrais de representarem os trabalhadores nas negociações coletivas. Hoje, só os sindicatos, federações e confederações têm este poder. Para ele, o fortalecimento das centrais melhora a organização dos trabalhadores, mas o conjunto de medidas foi acanhado.
– A proposta encaminhada no início do governo Lula era muito mais ampla – disse.
Já a regulamentação das cooperativas de trabalho foi mais bem recebida. O procurador do Trabalho Rodrigo Carelli, que coordena uma força-tarefa encarregada de apurar fraudes nas relações do trabalho, achou a medida positiva:
– É importante incentivar as verdadeiras cooperativas. Mas também ter cuidado com os intermediadores de mão-de-obra, os “coopergatos” – afirmou Carelli.
Para o secretário-adjunto da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), Fabio Sanches, a regulamentação vai inibir fraudes – porque cria penalidades e conceitua melhor o que é cooperativa. Além disso, deve levar ao aumento do número desses empreendimentos – hoje de 1,6 mil no país – porque, além do programa de crédito e outros incentivos, reduziu de 20 para cinco o número mínimo de integrantes exigido para se formar uma cooperativa.
João Roberto Lopes, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), também acha que as medidas vão alavancar o cooperativismo no país.
Fonte: O Globo