Thaís Tibiriçá
O escândalo de espionagem protagonizado pela Agência de Segurança Nacional dos Estados
Unidos (em inglês, National Security Agency – NSA) fez com que se descobrisse que o
país do Tio Sam está há anos construindo prisões secretas na Europa. A questão
complica-se quando os meios de comunicação estão a par desta situação, mas preferem se
manter em silêncio.
Esse dois acontecimentos refletem o poder do Estado sobre os veículos de comunicação,
podendo silenciá-los quando lhes convêm e, principalmente, a tranqüilidade como se
viola atualmente a Constituição dos Estados Unidos. O presidente George W. Bush está
retomando uma velha prática de Richard Nixon, cuja lógica diz que toda e qualquer
atitude do presidente sempre será constitucional.
Infelizmente esta não é a primeira vez que a Casa Branca silencia a imprensa e impede
que notícias cheguem à população. A idéia é que o presidente tenha seus poderes cada
vez mais expandidos, só que descumprindo e desconsiderando que há uma Constituição. O
que se nota durante a história dos Estados Unidos é que, sendo o presidente
republicano ou democrata, invariavelmente ele deseja espionar sua população, violando
sua privacidade, interceptando ligações telefônicas e chegando ao extremo de invadir
domicílios. Tudo praticado pelo FBI, internamente, e pela CIA, externamente, que
passam a ser as polícias presidenciais – que gravam, espionam e interceptam aquilo que
seu patrão deseja.
Esta denúncia sobre o poder do presidente da terra do Tio Sam se encontra no livro “We
want freedom”, escrito pelo jornalista Múmia Abu-Jamal (www.mumia.org/freedom.now/). O
povo estadunidense foi criado sobre o dogma da primeira emenda constitucional, que dá
a garantia, entre outros direitos, da liberdade de imprensa. A questão está em quantas
vezes a imprensa resolveu-se calar em nome da boa relação, que julga necessário ter,
com a Casa Branca, o FBI, a CIA e tantas outras entidades governamentais.
Exemplos históricos
A crise na Baía dos Porcos, ocorrida em Cuba, em 17 de abril de 1961, foi uma invasão
organizada pela CIA para derrotar os exilados cubanos, mas que acabou sendo derrotada
pelo exército cubano. O New York Times sabia desta invasão do governo dos Estados
Unidos e, na época, pretendia denunciá-lo em seu editorial. Mas o presidente Kennedy
persuadiu o jornal para que não publicasse o texto. Alegava motivos de segurança
nacional. O jornal calou-se.
A própria CIA comandou, secretamente, agências de notícias, empregando muitos
jornalistas que não sabiam, ou não desejavam saber para quem realmente trabalhavam.
Usou os serviços de cerca de 50 jornalistas, dentro e fora dos Estados Unidos. Entre
estes profissionais os da Newsweek, Time, New York Times, United Press International,
CBS e muitas outras publicações em inglês espalhadas por todo o mundo. O livro
“Declarações de Independência: reexaminando a ideologia norte-americana”, do
historiador Howard Zinn, relata vários casos do governo dos Estados Unidos impedindo a
publicação de histórias, mudando os empregos de jornalistas e principalmente
modificando as verdadeiras histórias.
Atualmente, a descoberta das espionagens de milhares de norte-americanos pela NSA
provocou entre a elite política dos EUA um ataque severo sobre os jornalistas,
acusando-os de não exercerem seu trabalho. Mas esqueceram de apontar os reais
culpados, ou seja, os responsáveis pela espionagem.
Omissão e descrença pública
Talvez a diminuição da circulação dos jornais na terra do Tio Sam seja em razão da
falta de confiança dos leitores na imprensa, que cada vez mais se envolve em novos
escândalos que comprovam sua omissão informativa. Podemos até arriscar e acreditar que
essa falta de confiança na mídia esteja ocorrendo em relação a todos os leitores de
todos os jornais do mundo, incluindo o Brasil.
Para se comprovar isso, devemos nos recordar da massiva campanha da imprensa sobre a
Guerra do Iraque, protegendo o poder imperial de Bush. O que se noticia é o mundo dos
poderosos e não o do povo. Cada vez mais jornalistas são convidados para participar de
festas de empresários e políticos famosos e poderosos. Não por acaso seus interesses
são transformando-as em ‘belas’ reportagens.
Por fim, é interessante ressaltar que as grandes emissoras de televisão cada vez mais
se orgulham pelo fato de que seus apresentadores são confundidos com celebridades.
Muitos repórteres vestem esse perfil de famosos e deixam de atuar nas ruas, passam
apenas a produzir reportagens com conteúdos limitados e contratam assessores de
imprensa. Algo que a Casa Branca adora que ocorra, mas que infelizmente não se
restringe aos Estados Unidos. Precisamos que nossos jornalistas não se deixem calar
diante do Estado e dos poderosos, pois a liberdade de imprensa é um direito que deve
ser cumprido.
Fonte: Fazendo Media www.fazendomedia.com