A polêmica da TV Digital, somente discutida atualmente longe
das câmeras de TV e dos microfones das rádios comerciais,
gera múltiplas dúvidas entre políticos, o povo brasileiro,
empresários e demais interessados no assunto. O GMídia,
orgulhosamente, vem para explicar todos os pontos desse
assunto, tão polêmico e tão pouco divulgado.
A maior polêmica que envolve o assunto é quanto ao padrão a
ser adotado para esse novo sistema. Atualmente, as
universidades e centros de pesquisa trabalham com o
desenvolvimento de um sistema de TV Digital autenticamente
brasileiro, o SBTVD (Sistema Brasileiro de TV Digital). Além
desse, outros três sistemas – americano, japonês e
europeu – são também cogitados para serem adotados para
serem o novo sistema da TV Digital brasileira.
Para explicar melhor, vamos comparar o sistema da TV Digital
com o oferecido, por exemplo, nos aparelhos de DVD,
video-cassete e de transmissão de TV. O Brasil, desde que a
TV chegou, utiliza um padrão latino – o PAL-M ou PAL – para
transmissão e exibição de vídeo. Este padrão, apesar de ser
diferente do padrão chamado universal (NTSC), não conflita
com outros padrões, reconhecendo então o padrão universal;
ao contrário, o padrão universal não “reconhece” os padrões
latinos PAL e PAL-M, gerando conflitos quando da tentativa
de transmitir uma imagem nesses padrões se não utilizado
um decodificador.
Pois bem, voltando ao caso da TV Digital e suas vantagens:
nesse sistema, são oferecidos 62 canais no sistema VHF
(dos canais 7 ao 69). A maior parte da discussão na mídia
tem sido centrada na escolha do padrão tecnológico que será
utilizado e provavelmente a maior parte da sociedade brasileira
que já ouviu falar sobre o assunto imagina que a TV Digital
significará apenas uma melhoria na qualidade de imagem e
som dos televisores de suas casas, sem ter conhecimento
das mudanças profundas que esse sistema poderá
representar para o cotidiano dos brasileiros. Os debates
intra-populares surgidos sobre o tema estão relacionados com
questões como a democratização da comunicação, a difusão
da diversidade cultural brasileira, o desenvolvimento da
indústria nacional, o acesso à informação e educação, a
inclusão digital e a garantia de direitos fundamentais que estão
previstos na nossa Constituição.
Os que lutam pela democratização da televisão pregam que o
padrão brasileiro (SBTVD) seja o mais adequado às
possibilidades de geração de novos empregos, mão-de-obra
qualificada, geração de novos centros de pesquisa, diminuição
da dependência externa e o não pagamento de royalties de
patentes, além do fato de permitir que ONGs, sindicatos e
movimentos coletivos, entre outras representações da
sociedade civil poderem ter a possibilidade de possuir um
canal de TV. Seu padrão está para ser definido no próximo dia
10 de março, já munido de campanha pelo monopólio. O
Ministério das Comunicações, apoiado por veículos televisivos
como a Rede Globo, defendem o padrão ISBD (japonês),
alegando ser este o de melhor imagem e o que melhoraria
ainda mais os serviços televisivos.
Porém, o que não é mencionado é que a TV Digital com esse
padrão não permite tal multiprogramação discutida no debate
pela democratização da televisão brasileira. Hélio Costa,
ministro das Comunicações, já faz uma campanha pelo
padrão japonês, em clara defesa aos padrões monopolizadores
pregados – principalmente – pela Rede Globo, alegando que “a
qualidade da imagem e do som são o que mais importam para
o desenvolvimento tecnológico da televisão no país”. O que
não é mencionado, por exemplo, é que o telespectador, para
se adequar a esse padrão digital de transmissão, terá também
que se adequar comprando novos televisores. A Globo, nessa
discussão, já anuncia, por exemplo, que os outros canais da
TV Digital podem ser utilizados no padrão japonês para a
transmissão de jogos de futebol “da câmera que o
telespectador gostaria de ver”.
Assim, prega para a população que os outros canais serão
obrigatoriamente ocupados pela própria Globo, não dando
margem à abertura dos outros canais à democratização.
(Em 19/fev)
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