Foto: Hudson Bretas
Representantes da base da Federação participaram de uma audiência pública realizada na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados na tarde do último dia 16. A audiência foi convocada para discutir o projeto de lei que suspende as mudanças na legislação dos correspondentes bancários determinadas pelo Banco Central. Mais cedo, o movimento sindical fez uma manifestação em frente à sede do Bacen, que editou as normativas com as modificações que ampliam a atuação dos correspondentes.
O presidente da ContrafCUT, Carlos Cordeiro, teve assento na mesa e fez duras críticas à atuação do Bacen. “O Banco Central funciona hoje como um verdadeiro sindicato nacional dos bancos. Em vez de se preocupar com a sociedade e com o desenvolvimento econômico e social do país, age única e exclusivamente a serviço do sistema financeiro”, acusou Cordeiro. O sindicalista destacou que a mudança na legislação vai precarizar o trabalho, já que as tarefas tipicamente bancárias serão desempenhadas por trabalhadores que não terão a remuneração, a jornada e os benefícios assegurados pela Convenção Coletiva de Trabalho dos bancários.
Chinelo
Criados para levar serviços bancários a áreas remotas do país nos anos 70, os correspondentes foram ampliando sua atuação, respaldados por uma legislação cada vez mais elástica. Para os bancos, estes estabelecimentos passaram a ser não só postos avançados, mas, principalmente, locais onde são atendidos os clientes e usuários que não interessam. Com a desculpa da capilaridade, aproveitam para fazer do correspondente bancário uma agência de segunda linha, para segmentar o atendimento. “As pessoas também ganham, porque os correspondentes levam comodidade ao atendimento, que é feito em locais próximos às residências, em horário de atendimento ampliado, em locais onde as pessoas podem frequentar com seus chinelinhos”, disse Gérson Gomes da Costa, representante da Febraban na audiência.
Entre os sindicalistas a fala de Costa, apesar de apenas expor em palavras o que já se pratica cotidianamente nos correspondentes, causou indignação. “Este depoimento deprimente sobre o vestuário dos usuários demonstra claramente a intenção de afastar a população de baixa renda das dependências bancárias”, avalia Nilton Damião Esperança, vice-presidente da Federação.
Além de inseguros, os correspondentes prestam mau atendimento, conforme relatou Amaury de Oliva, diretor-substituto do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça. Oliva informou que as reclamações contra correspondentes bancários são muito comuns. Uma das queixas mais frequentes a respeito destas instituições é relativa aos empréstimos. “Muitos deles (os correspondentes bancários) se aproveitam da ignorância da população de baixa renda e negociam a quitação de uma dívida em troca de novos empréstimos para conseguir comissão”, relatou Amaury.
Alguns deputados integrantes da comissão argumentaram que as populações das cidades pequenas do interior precisam dos serviços dos correspondentes. Mas a deputada Erika Kokai (PT-DF), que foi presidenta do Sindicato dos Bancários de Brasília, ressaltou que a categoria não reivindica a extinção deste serviço. “Defendemos que os correspondentes continuem, mas sem precarização. Estão em risco a confiabilidade e o sigilo, que estão sendo transferidos para profissionais que não têm qualquer vínculo com as instituições financeiras”, destacou a deputada.
Lavagem
Pela manhã, o movimento sindical bancário realizou uma manifestação que contou com a lavagem da rampa de acesso do prédio do Banco Central. Com pai e filhos de santo, água de cheiro, rosas brancas e tambores, foi feito o “descarrego” contra as resoluções que tornaram ainda mais ampla a atuação dos correspondentes. “Hoje é o dia de dizermos um grande não à precarização do trabalho e ao nivelamento dos clientes e usuários somente pela renda. Pedimos transparência das decisões do Banco Central à sociedade, emprego decente e condições de atendimento adequadas para a população”, discursou Miguel Pereira, secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT.
A diretoria da Federação e dos sindicatos filiados fez um esforço para enviar dirigentes a Brasília para as duas atividades. A delegação da base foi formada por sindicalistas da Baixada Fluminense, Campos, Espírito Santo, Itaperuna, Niterói, Nova Friburgo, Petrópolis, Rio de Janeiro, Sul Fluminense, Teresópolis e Três Rios. “Gostaria de parabenizar nossos sindicatos filiados, pela demonstração de união e luta demonstrada em Brasília contra os absurdos defendidos pelo Banco Central e por alguns deputados”, destacou Nilton Damião Esperança, vice-presidente da Federação.
Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES