Uma palavrinha mezzo Inglês, mezzo Havaiano está fazendo o maior burburinho nos últimos dias: Wikileaks. O site já existe desde 2006 e muita coisa já foi publicada em suas páginas, mas os documentos secretos do Departamento de Estado dos EUA são, sem dúvida, as maiores estrelas. Mas, para quem não sabe do que se trata, fica difícil entender.
O nome é formado por duas palavras: wiki, que vem do idioma falado pelos nativos do Havaí, e faz parte da expressão wiki-wiki, que significa rápido. O termo é usado por vários sites de informação colaborativos que podem ser modificados por qualquer usuário de Internet no mundo. Na verdade, no mundo virtual, wiki significa “coletivo”, “colaborativo” e “aberto”. O mais famoso destes sites é a Wikipédia, que é uma enciclopédia com verbetes escritos pelos próprios usuários. Se um internauta percebe que um verbete está incompleto ou com informação equivocada ou tendenciosa, pode se cadastrar no site e alterar o texto.
Já a segunda palavra que forma o nome do site Wikileaks informa sua finalidade. Leaks é o plural de leak, que significa, em bom Português, vazamento. Ou seja: o site foi criado para “vazar” informações que, no entender de quem as obtém, não deveriam permanecer secretas. Quem publica documentos no Wikileaks tem a prerrogativa do anonimato e o site vem sendo usado há alguns anos para denúncias das mais variadas naturezas.
O grupo de ciberativistas que fundou o Wikileaks inclui dissidentes chineses, jornalistas, matemáticos e donos de pequenas empresas de tecnologia dos EUA, Taiwan, Europa, Austrália e África do Sul. No Conselho Consultivo da organização, além de Julian Assange, o australiano autodidata que montou e organizou o projeto, há ativistas digitais, dois líderes dos protestos da Praça da Paz Celestial, na China, e um brasileiro: Francisco Whitaker, um dos coordenadores do Fórum Social Mundial.
Este ano, o Wikileaks ganhou as páginas dos jornais graças a uma intensa atividade de publicação. Em abril foi divulgado um vídeo que mostra um incidente durante a Guerra do Iraque, ocorrido em 2007, no qual civis foram mortos, inclusive dois jornalistas da agência de notícias Reuters, pelas forças armadas dos EUA. Em julho foi divulgado material sobre a Guerra do Afeganistão. Em outubro, foi a vez de documentos sobre a Guerra do Iraque. E, no final de novembro, os telegramas do Departamento Diplomático dos EUA, vieram a público. Nos quatro casos, interesses políticos norte-americanos foram desafiados.
Desde então, o Wikileaks e Julian Assange têm sofrido perseguições. Os servidores que hospedavam o site e seus documentos interromperam o acesso e as páginas da MasterCard e da PayPal, que captavam doações para a organização, suspenderam o serviço. Em agosto – já depois de duas denúncias graves – duas mulheres procuraram a polícia na Suécia para incriminar Assange por estupro e abuso sexual. As alegações feitas pelas duas mulheres não são graves e, apesar das leis suecas para violência sexual serem muito amplas e severas, nem a polícia deu muita atenção na época. Mas depois da divulgação dos telegramas diplomáticos, a Suécia expediu um mandado de prisão contra Assange, que acabou se entregando à polícia em Londres.
Embora a prática de criminalizar a vítima de violência sexual seja altamente condenável, as denúncias feitas pelas duas mulheres sugerem que as coisas não são como parecem. A impressão é de que a prisão de Assange seja uma forma de tirá-lo de circulação ou, pior, manobrar para que seja extraditado para os EUA, onde poderia ser julgado e condenado por espionagem.
É importante ressaltar que, embora fundado e dirigido por nerds que podem perscrutar a rede em busca de informações, o Wikileaks não pratica espionagem. O material secreto chega ao site por denunciantes que podem estar em qualquer lugar do planeta e é simplesmente publicado pelo Wikileaks, que mantém o sigilo da fonte. É digno de nota, também, que jornais respeitados – El País (Espanha), Le Monde (França), Der Spiegel (Alemanha), The Guardian (Reino Unido) e The New York Times (EUA) – tiveram acesso aos mesmos telegramas diplomáticos. Mas a postura destes grupos de mídia, grandes, importantes e antigos, foi mais conservadora, e foi publicada por estes veículos apenas parte dos documentos.
Como reação à prisão de Assange e à suspensão do acesso ao site do Wikileaks, hackers ao redor do mundo se organizaram numa ciberguerra contra os que atacam o site. Um grupo de hackers realizou ataques a sites como das operadoras de cartão de crédito Visa e Mastercard, por terem interrompido o serviço de doações, também ao governo e à Justiça da Suécia, responsáveis pelo processo e ordem judicial de prisão contra Assange. O grupo, intitulado Anonimous, chamou a ofensiva virtual de Operation Payback – ou Operação Troco, em Português.
O governo norte-americano não pode aceitar que seus documentos secretos e a violência de sua política externa sejam divulgados mundialmente. Mas a Wikileaks também é uma ameaça a empresas privadas e membros de sua equipe já anunciaram que organizações no mundo todo serão, em breve, alvo de denúncias publicadas no site. Entre elas, segundo os ativistas, estaria um grande banco.
Tudo indica que o Wikileaks e Julian Assange ainda terão muita confusão pela frente.
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