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Vigilantes de agências do BB em Niterói paralisam atividades por pagamentos de benefícios atrasados

Vigilantes que atuam na segurança do Banco do Brasil decidiram paralisar suas atividades nesta terça-feira, 09, para cobrar o recebimento do tíquete refeição, férias trabalhadas e horas extras. Os trabalhadores estão com todos esses proventos atrasados. A paralisação é intermediada pelo Sindicato dos Vigilantes de Niterói. Pela manhã, o presidente do SVNIT, Cláudio Vigiante, esteve na agência do Banco do Brasil na Avenida Amaral Peixoto, em Niterói, onde se reuniu com os trabalhadores e uma comissão foi criada para negociar com a gerência administrativa do banco. A agência é uma das maiores do banco em toda região. Vigilantes de Niterói, São Gonçalo e Alcântara participam do manifesto.


Em contato com a empresa, ela se comprometeu a depositar ainda nesta terça-feira os valores referentes aos tíquetes alimentação atrasados desde que os trabalhadores reassumissem seus postos de trabalho. Já com relação às férias e horas extras, a empresa se comprometeu em regularizar as pendências até a próxima quinta-feira, 11.


Após uma intensa negociação, os trabalhadores resolveram voltar ao trabalho dando um voto de confiança à direção da empresa. Os vigilantes apresentaram ainda uma condição, que caso os tíquete alimentação não fosse pago como se comprometeu a empresa, a categoria cruzaria, novamente, os braços nos próximos dias só retornando ao trabalho após a quitação de todas as pendências.


A proposta dos trabalhadores foi acatada pela direção da empresa que reafirmou o compromisso com Sindicato diante da gerência do banco de cumprir o acordado sob pena de uma nova paralisação por tempo indeterminado.


O presidente do SVNIT, Cláudio Vigilante, parabenizou o poder de mobilização dos vigilantes. “A organização da categoria é muito importante na reivindicação dos nossos direitos. Essa união nos fortalecerá ainda mais para combatermos os maus empresários”, afirma.


A direção do sindicato avaliou como positiva a solução encontrada para resolver o conflito. A aproximação cada vez maior da categoria mostra claramente aos empresários que a entidade vai defender os interesses dos trabalhadores custe o que custar.


“Só quem sabe o que o vigilante sofre em seu posto de serviço é o próprio Vigilante”, assegura o SVNIT.

Fonte: Sindicato dos Vigilantes de Niterói

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A crise e a dívida pública

Frei Betto *


Desde de 2008, quando estourou a crise do capitalismo, os governos afetados fazem das tripas coração para salvar, não a população ameaçada de desemprego (já são 25 milhões de desempregados na Europa), e sim o sistema financeiro.


Democracia é, hoje, mera expressão retórica. O que temos, de fato, é uma moneycracia.


Segundo o FED (Banco Central estadunidense), o governo de Tio Sam repassou aos bancos privados, como boia de salvação, US$ 16 trilhões. Como a lista é longa, assinalo aqui a gordura do Papai Noel dos três principais beneficiados nos EUA: Citigroup, US$ 2,5 trilhões; Morgan Stanley, US$ 2,04 trilhões; Merrill Lynch, US$ 1,949 trilhão.


No Brasil, a crise começa a bater à porta. Onde a porca torce o rabo é na dívida pública. Em 2011, juros e amortizações da dívida consumiram 45,05 % do orçamento da União, ou seja, R$ 708 bilhões. Você imagina o quanto se poderia fazer com tamanho recurso? Daria para promover 28 Copas do Mundo! A Copa de 2014 está orçada em R$ 25 bilhões. Para se ter ideia desse dinossauro que sustentamos, no mesmo ano de 2011 a Saúde mereceu 4,07 % do orçamento e a Educação 2,99 % .


Se os dados acima impressionam, veja os atualizados: de janeiro a fevereiro deste ano a dívida pública subiu mais R$ 26 bilhões, atingindo R$ 1,95 trilhão! E a previsão é de que alcançará a cifra de R$ 2,24 trilhões até o fim do ano! Isso significa mais R$ 232 bilhões em relação ao montante da dívida em 2012. Os dados são do Plano Anual de Financiamento do Tesouro Nacional, divulgados em março.


Você, eu, todos nós pagamos a dívida pública ao receber salário e consumir. E pagamos ou padecemos ao NÃO RECEBER melhores serviços públicos: Saúde, Educação, Segurança, Transporte, Cultura etc.


O governo não divulga o montante dos juros nominais da dívida pública efetivamente pagos. Nem a CPI da Dívida, encerrada em 2010 na Câmara dos Deputados, quebrou o lacre desse segredo. Daí a importância de uma Auditoria Cidadã da dívida pública. Meta que deveria constar da pauta de partidos progressistas, sindicatos, movimentos sociais e ONGs voltadas à cidadania.


Os sinais de que a marolinha brasileira pode terminar em tsunami estão à vista: privatização das jazidas do pré-sal, de portos, aeroportos e hospitais universitários; menos recursos aos programas sociais; leilões de rodovias; inflação em alta etc.


O modelo desenvolvimentista está esgotado. O resultado dele é nefasto: 1 % de habitantes do planeta concentra, em mãos, riqueza equivalente à renda de 57 % da população mundial!


Mas quem de fato articula alternativas viáveis? Cadê a esquerda com os pés na base popular e a cabeça na formulação de estratégias a longo prazo?


“Naquele tempo nós fizemos História; agora vocês fazem política”, diz o personagem Rubashov no romance O zero e o infinito, de Arthur Koestler.



* Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou” (Saraiva), entre outros livros.
www.freibetto.org   twitter: @freibetto





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Fonte: Frei Betto

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Santander se compromete a não cobrar metas dos caixas

Em reunião do Comitê de Relações Trabalhistas realizada na última quinta-feira, dia 04, o banco Santander surpreendeu os sindicalistas com a promessa de enviar comunicado aos funcionários determinando que os caixas não tenham metas a bater. É uma resposta positiva a oito anos de reivindicações do movimento sindical.


Mas os demais itens da pauta da reunião ficaram sem resposta satisfatória. “Reivindicamos que o Santander retire todas as ações que ajuizou contra os sindicatos impedindo o uso do nome do banco em campanhas e matérias jornalísticas, mas os representantes do patrão não quiseram discutir o assunto. O banco tem que suspender estas práticas antissindicais que são obstáculos à liberdade de organização e de expressão do movimento sindical bancário do Brasil”, apontou Paulo Roberto Garcez, representante da Federação no CRT-Santander.


Outros itens também ficaram sem definição: a situação dos call centers e seus funcionários e as eleições para conselhos do SantanderPrevi. O que saiu foi o compromisso de realizar reuniões. No dia 12 haverá encontro para tratar situações dos funcionários com deficiência. No dia 22 será a vez de discutir questões relativas ao fechamento de agências e remanejamento de funcionários. “O banco não está informando nada sobre isso, já houve caso de bancário que ficou sabendo do fechamento por um cliente, que procurou a agência para saber detalhes depois de receber uma carta informando que sua conta seria transferida para outra unidade”, relata Garcez. A preocupação é com o destino dos funcionários. “Embora o movimento sindical não tenha detalhes, sabemos que a previsão de abertura de novas agências é pequena, enquanto a de fechamento é muito grande. Precisamos saber o que o banco vai fazer com as pessoas. O que estamos reivindicando é que não haja novas contratações até que se definam os remanejamentos de empregados das agências fechadas”, acrescenta o sindicalista.


Uma terceira reunião poderá acontecer no dia 30, que é uma data ainda em aberto. A pauta não está definida, mas os sindicalistas esperam poder discutir a situação do call center ou a eleição no fundo de pensão.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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Ato contra PL 4330 paralisa centro financeiro do Rio

Sindicatos da capital e do interior se unem em ato para pressionar os deputados federais do estado


A manhã desta quinta-feira, 04 de julho, foi marcada pela paralisação total de agências bancárias no Centro do Rio de Janeiro até o meio-dia. Nenhum bancário entrou para trabalhar nas agências paralisadas. A atividade, convocada pela Contraf-CUT e organizada pela Federação e o Sindicato do Rio, foi uma forma dos bancários protestarem contra o Projeto de Lei 4330 e seu substitutivo, que tramitam na Câmara dos Deputados. Além de contatarem diretamente o parlamentares fluminenses, os sindicalistas fizeram o ato público para pressioná-los a não aprovarem o texto. O PL propõe legalizar a terceirização de trabalho, permitindo que qualquer atividade seja terceirizada, e representa uma ameaça capital à classe trabalhadora.


Proposto pelo deputado Sandro Mabel, representante da bancada dos empresários, o PL 4330 já foi alterado desde que foi proposto. O substitutivo que tramita agora é ainda pior que o texto original e está sendo analisado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. A proposta estava na pauta para ser votada no último dia 11, mas uma intensa mobilização de sindicalistas de todo o país – que foram a Brasilia e ocuparam a sala das comissões durante a sessão – conseguiu que a votação fosse adiada por 30 dias. Com a nova data se aproximando, as centrais sindicais e suas entidades filiadas estão promovendo manifestações e paralisações para informar à sociedade sobre o PL e para pressionar os parlamentares a não aprovarem o texto.


Os sindicatos do interior engrossaram o ato no Rio de Janeiro. Somente três sindicatos filiados não estiveram presentes neste ato, porque realizaram atividades em suas bases – Espírito Santo, Niterói e Sul Fluminense. Representantes das entidades presentes apresentaram diversas questões importantes que esclarecem os riscos que o PL 4330 representa para o mundo do trabalho no Brasil.


O presidente do Sindicato de Angra dos Reis, Rogério Salvador, pondera que toda a classe trabalhadora terá perdas, mas alguns trabalhadores serão mais prejudicados que outros. “As categorias mais fortes e mais organizadas vão sofrer, imagine o que vai acontecer com as categorias mais frágeis, como dos trabalhadores em asseio e conservação e da construção civil, por exemplo. Além disso, como o PL 4330 prevê a liberação da terceirização no serviço público, os concursos se tornarão desnecessários. Não haverá mais servidores, mas terceirizados com salário menor e sem nenhuma garantia de emprego. O sonho da estabilidade de um cargo público vai acabar”, prevê Rogério.


Para Pedro Batista, coordenador do Sindicato da Baixada Fluminense, o trabalho sindical é de suma importância. “Esta briga é nossa, os sindicalistas precisam entrar firme para mobilizar todos os trabalhadores. É preciso derrubar esse PL para garantir não só os empregos desta geração, mas também das gerações futuras. Se esta proposta virar lei, o que será do futuro do trabalho e dos trabalhadores? Todos terão subempregos. É preciso que a juventude, que foi às ruas reivindicar uma série de mudanças importantes para o país, faça da defesa do emprego uma das pautas principais”, pondera o sindicalista.


No entendimento de Rafanele Pereira, o grande desafio a vencer é a desinformação. “A classe trabalhadora não está ciente das perdas que vai sofrer se este projeto passar. Nós, como representantes da classe trabalhadora, temos que ir aos locais de trabalho para esclarecer. O PL 4330 vai facilitar a “pejotização”, que é a substituição de funcionários por empresários prestadores de serviço. o trabalhador que vira pessoa jurídica – PJ – tem muitas perdas econômicas, como 13º salário, férias, FGTS, e o salário que passa a ganhar, mesmo que um pouco mais alto, não compensa o que ele perde. Além disso, a tendência é que os trabalhadores trabalhem por pouco tempo numa mesma empresa, porque o rompimento do contrato tem custos mais baixos que os de uma demissão sem justa causa. A carteira de trabalho vai perder seu valor”, destaca Rafanele.


João Batista da Silva, presidente do Sindicato de Itaperuna, destaca que a luta não deve se restringir aos trabalhadores do ramo financeiro. “Este projeto não envolve só os bancários, mas toda a classe trabalhadora. Basta lembrar que foi proposto pelos empresários, já que eles têm sido derrotados nas ações sobre terceirização que chegam à Justiça Trabalhista. Eles querem uma lei que remova os obstáculos para que tudo possa ser terceirizado. Para eles, terceirizar traz vantagens porque retira direitos e conquistas das categorias”, lembra o Batista.


O diretor do Sindicato de Macaé Fábio Mendonça Machado alerta que uma forma de terceirização que já existe vai se tornar oficial. “Os funcionários de correspondentes bancários já substituem a categoria. Um caixa de supermercado, por exemplo, já faz trabalho de caixa de banco, recebendo boletos de cobrança. Nós combatemos esta forma de precarização porque o funcionário do correspondente não ganha o mesmo salário, nem os mesmos benefícios, que os bancários têm assegurados pela Convenção Coletiva. Se o PL 4330 passar, isto ficará oficializado. Nossa categoria vai acabar. E o mesmo vai acontecer com outras categorias”, aponta Fábio.


Já Max Bezerra, presidente do Seeb Nova Friburgo, aponta que este PL segue a mesma linha de outras tentativas de flexibilização das leis trabalhistas. “O PL 4330 é um retrocesso porque é uma forma piorada da Emenda 3, que liberava a pejotização, e da alteração do artigo 618 da CLT, que trata da negociação coletiva. Estas duas iniciativas são da época do governo FHC, mas, com a eleição de Lula, estas mudanças foram barradas. Há alguns dias, ouvi um professor de História avaliar que, mesmo com todas as garantias que temos, inclusive a jornada de trabalho limitada, um trabalhador de hoje trabalha tanto quanto um trabalhador do século XIX. E, se esse PL passar, vamos trabalhar ainda mais”, alerta Max.


Iomar Torres, diretor do Sindicato de Petrópolis, destaca que a proposta vai na contramão da política de desenvolvimento econômico e social adotada na última década. “O que o Brasil precisa é de distribuição de renda. É preciso valorizar os salários e não precarizar o trabalho. Se este projeto virar lei, os acordos coletivos das categorias não serão mais cumpridos e haverá redução da massa salarial, porque todos os trabalhadores vão passar a ganhar menos. Por isso é preciso que os sindicalistas estejam na rua, conversando com o povo, e explicando o que é este projeto”, declarou Iomar.


Almir Aguiar, presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, destaca outra questão importante: “O trabalhador terceirizado trabalha para a empresa contratante, mas é funcionário da terceirizada. E quem fiscaliza a terceirização é a empresa contratante. O Ministério do Trabalho vai ter dificuldade de acesso aos contratos entre as empresas e a fiscalização vai ficar impossível”, salienta o sindicalista. Para Almir, a grande cartada da bancada empresarial foi inverter a lógica para chegar ao mesmo objetivo. “O PL 4330 é uma reforma trabalhista inversa, porque não acaba com a CLT, mas faz com que cada vez menos trabalhadores sejam contratados como funcionários. O número de contratados como pessoa jurídica vai aumentar espantosamente e teremos muitas demissões. No caso do setor bancário, que sempre teve alta rotatividade e que vem enfrentando o encerramento de muitos postos de trabalho, isso vai ser uma calamidade”, prevê o dirigente.


Ana Paula Pries, do sindicato de Teresópolis, destaca que toda a organização dos trabalhadores está ameaçada. “Além de precarizar o trabalho, este PL derruba direitos das categorias. A Convenção Coletiva Nacional dos bancários, que é a pioneira e única no Brasil há mais de 20 anos, vai perder sua razão de ser. E nós, sindicalistas, também perderemos a razão de existir. A quem vamos representar, se as categorias vão praticamente desaparecer? A bancada dos empresários não conseguiu acabar com a CLT, mas está agindo pelas beiradas desmontando as categorias organizadas”, analisa a dirigente.


O presidente do Sindicato dos Bancários de Três Rios, Nilton Damião Esperança, destaca que o projeto só traz retrocesso. “Este PL não ajuda em nada, só precariza. Um dos motivos é que a terceirização traz menos segurança no trabalho, e isso aumenta o risco de acidentes, como vêm mostrando os números da terceirização que já é praticada. Outro problema é que as empresas que contratam vão deixar de ser responsáveis pelos direitos trabalhistas dos terceirizados, ao contrário do que acontece hoje. Todas as categorias serão prejudicadas se este projeto virar lei.
Nilton, que também é vice-presidente da Federação, explica que o ato desta manhã de quinta-feira foi engrossado com a participação de sindicalistas do interior do estado. “Fizemos o esforço coletivo de reunir os sindicatos na capital porque, aqui, a visibilidade é maior. Mas os filiados estão orientados a realizar atos nas suas bases porque o PL 4330 é prejudicial a toda a classe trabalhadora. Como todos os nossos filiados atuam como sindicatos cidadãos, além de realizar atividades em suas bases, também devem contatar entidades representantes de trabalhadores de outros setores que atuem em sua região. O movimento sindical bancário é forte, com muita tradição de luta, e precisamos estar na vanguarda, estimulando outras categorias a se engajarem nesta pressão aos parlamentares”, destaca o dirigente sindical.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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Recado das ruas

Frei Betto *



As manifestações de rua no Brasil fundem a cuca de analistas e cientistas políticos. Dirigentes partidários e lideranças políticas se perguntam perplexos: quem lidera, se não estamos lá?


Recordo quando deixei a prisão, em fins de 1973. Ao entrar, quatro anos antes, predominava o movimento estudantil na contestação à ditadura. Ao sair, encontrei um movimento social – Comunidades Eclesiais de Base, oposição sindical, grupos de mães, luta contra a carestia – que me surpreendeu. Do alto de meu vanguardismo elitista fiz a pergunta: como é possível se nós, os líderes, estávamos na cadeia?


Como essa mesma perplexidade Marx encarou a Comuna de Paris, em 1871; a esquerda francesa, o Maio de 1968; e a esquerda mundial, a queda do Muro de Berlim e o esfacelamento da União Soviética, em 1989.


“A vida extrapola o conceito”, já dizia meu confrade Santo Tomás de Aquino, no século 13. Agora, aqui no Brasil, todas as lideranças políticas encaram confusas e despeitadas as recentes manifestações de rua. Com a mesma interrogação invejosa que a esquerda histórica do Brasil mirou o surgimento do PT em 1980: que história é essa de, agora, os proletários quererem ser a vanguarda do proletariado?


Historicamente eram os líderes da esquerda brasileira homens oriundos da classe média (Astrogildo Pereira, Mário Alves e João Amazonas), dos círculos militares (Prestes, Gregório Bezerra, Apolônio de Carvalho) e da intelectualidade (Gorender e Caio Prado Júnior). Marighella foi das raras lideranças provenientes das classes populares.


O recado das ruas é simples: nossos governos se descolaram da base social. Para usar uma categoria marxista, a sociedade política se divorciou da sociedade civil, risco que previ e analisei no livro “A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco, 2005).


A sociedade política – executivo, legislativo e judiciário – se convenceu de que representava de fato o povo brasileiro, e mantinha sob seu controle os movimentos de representação da sociedade civil, como ocorre, hoje, com a UNE e a CUT.


Nem só de pão vive o homem, alertou Jesus. Embora 10 anos de governo petista tenham melhorado as condições sociais e econômicas do Brasil, o povo não viu saciada sua fome de beleza – educação, cultura e participação política.


O governo petista optou por uma governabilidade assegurada pelo Congresso Nacional – onde ainda perduram os “300 picaretas” denunciados por Lula. Desprezou a governabilidade apoiada nos movimentos sociais, como fez Evo Morales, com êxito, na Bolívia.


Assim, nosso governo aos poucos perdeu os anéis para conservar os dedos. Acreditou que tudo permaneceria como dantes no quartel de Abrantes. Seja porque a oposição anda enfraquecida por suas próprias disputas internas, seja porque considera Eduardo Campos e Marina Silva meros balões de ensaio.


O que nem a Abin (olhos e ouvidos secretos do governo) previu foi o súbito tsunami popular invadindo as ruas do Brasil em pleno período da Copa das Confederações – quando se esperava que todos estivessem com a atenção concentrada nos jogos.


Agora o governo inventa o discurso de que sem partidos não há política nem democracia. Ora, basta uma aula de história de ensino médio para aprender que a democracia nasceu na Grécia muitos séculos antes da era cristã, e mais ainda do aparecimento de partidos políticos.


Hoje, a maioria dos partidos nega a democracia ao impedir um governo do povo com o povo. Não basta pretender governar para o povo e, assim, considerar-se democrata. O povo nas ruas exige novos mecanismos de participação democrática, enquanto manifesta sua descrença nos partidos. Estes são intimados a renovar seus métodos políticos ou serão atropelados pela sociedade civil.


Eis o recado das ruas: democracia participativa, não apenas delegativa, ou seja, governo do povo, com o povo e para o povo. Isso não é utopia, desde que não se considere modelo perpétuo o pluripartidarismo e se admita que o regime democrático pode e deve ganhar novos desenhos de participação popular nas esferas de poder.



* Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.
www.freibetto.org     twitter: @freibetto.






Copyright 2013 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (
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Fonte: Frei Betto

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BB: Rafael Matos é o novo Caref

Rafael Matos, candidato apoiado pela maioria dos sindicatos do país venceu as eleições para Conselheiro Administrativo Representante dos Funcionários – Caref e passará a ocupar um dos sete assentos no Conselho de Administração do BB. Rafael teve 21.081 votos e o segundo colocado, Ronaldo Zeni, teve 18.008.


Para Sérgio Farias, representante titular da Federação na CEE/BB, independente do resultado a eleição em si é uma vitória. “Foi um processo democrático, construído de maneira orgânica e com ampla participação do funcionalismo. É digno de nota, também, o alto nível de competência dos dois candidatos mais votados, Rafael e Ronaldo”, ressalta Sérgio.


William Mendes, coordenador da CEE/BB, também considera a reconquista da vaga do representante dos trabalhadores no Conselho uma vitória. “A eleição é uma conquista das centrais sindicais, capitaneada pela CUT. É um avanço importante porque dará à representação dos trabalhadores o direito de participar da instância máxima do Banco do Brasil, onde são tomadas as decisões estratégicas, desde negócios, crédito, orçamento, investimentos e remuneração dos dirigentes, dentre outras questões”, acrescenta William.


A função do Caref é ser a voz do funcionalismo no Conselho de Administração do BB, que é composto pelo presidente do banco, três membros indicados pelo governo, mais dois indicados pelos acionistas minoritários – que hoje são indicados pela Previ. Cargo semelhante existia no BB e em outras estatais até 2000, mas foi extinto por uma canetada do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Somente em 2011, através de lei específica, todas as empresas públicas ou de economia mista com mais de 200 funcionários passaram a ter direito a representação dos empregados no Conselho Administrativo, que é a mais alta instância da gestão de uma empresa. “A criação do Caref não veio de graça, foi uma conquista do movimento sindical de várias categorias, que passou dez anos reivindicando este espaço. Devemos apoiar Rafael porque ele representa todos os empregados, não só os que votaram nele. É importante que o funcionalismo entenda que este espaço é fundamental para melhorar as condições de trabalho dentro do BB”, destaca Sérgio Farias.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES com Contraf-CUT

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Contraf-CUT apoia Chapa 1 na eleição para a Fundação Itaú Unibanco

A Fundação Itaú Unibanco, que abriga os diversos planos de previdência complementar da instituição financeira, realiza entre os dias 13 a 22 de julho, até às 18h, eleição para escolha de seus representantes ao Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal e Comitês de Planos. A Contraf-CUT apoia a Chapa 1 Convicção e Experiência.


“Apoiamos a Chapa 1 porque ela é formada por companheiros e companheiras indicados pelo movimento sindical. Alguns participam da eleição pela primeira vez e outros já têm experiência na direção da Fundação Itaú-Unibanco e são os principais responsáveis pelas mudanças dos últimos oito anos que melhoraram os benefícios dos participantes”, afirma Jair Alves, da coordenação da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Itaú.


Todos os participantes (ativos, autopatrocinados, optantes pelo BPD e assistidos) poderão votar de duas formas: pelo sistema eletrônico no site da entidade (www.fundacaoitauunibanco.com.br) ou por telefone, com senha que será enviada por correio aos participantes.


Além da Chapa 1 Convicção e Experiência, a Contraf-CUT também apoia candidatos avulsos aos Comitês de Gestão de todos os planos da Fundação Itaú-Unibanco. Confira abaixo a relação dos candidatos:


Conselho Deliberativo


Efetivos
Érica Monteiro de Godoy
André Luís Rodrigues


Suplentes
Carlos Maurício de Oliveira
Cesar Gomes Caldana


Conselho Fiscal


Efetivos
Mauri Sérgio Martins de Souza
Ted Silvino Ferreira


Suplentes
José Ribamar Don Pacheco
Onísio Paulo Machado


Comitês de Gestão dos planos


Franprev – Adriano Campos Rodrigues
Plano Itaubanco CD – Darci Torres Medina (Lobão)
PAC – Marcelo Abrahão
Futuro Inteligente e Itaubank – José do Egito Sombra
Prebeg – José Geraldo Martins
Benefícios 002 – Antônio Guimarães de Oliveira (Magaiver)

Fonte: Contraf-CUT

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Bancários do Rio e Espírito Santo definem propostas para Campanha Nacional

A 15ª Conferência Interestadual dos Bancários do Rio de Janeiro e Espírito Santo foi realizada no último sábado (29), no Senac de Guarapari, no litoral capixaba. Entre os principais discutidos estavam o combate ao substitutivo do deputado federal Artur Maia (PMDB-BA) ao Projeto de Lei 4330/04, do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), o atual contexto político pautado pelas manifestações populares nas ruas de todo o Brasil e a reestruturação do BB.


Os sindicalistas consideram a ampliação desenfreada da terceirização, proposta pelo projeto dos parlamentares peemedebistas, um ataque sem precedentes aos direitos trabalhistas e uma ameaça a própria existência e a organização coletiva das categorias de trabalhadores do país.


“Se depender da atual composição de forças do Congresso Nacional, os trabalhadores não vão conseguir avançar. Precisamos derrotar, com a mobilização popular, o PL 4330 e mais seis projetos em andamento no parlamento contra a classe trabalhadora”, disse o diretor do Sindicato e da CUT/RJ, Marcello Azevedo.


Ele lembra que o movimento sindical nunca deixou de realizar protestos nas ruas. “A CUT fez seis marchas em Brasília e na pauta sempre incluímos itens como saúde e educação. Vamos intensificar as mobilizações nas ruas, onde nos criamos e de onde nunca nos ausentamos”, acrescenta.


A 15ª Conferência Interestadual reuniu 530 delegados da base territorial dos dois estados e a jornada de debates durou desde as 9 horas até o início da noite.


Violência contra a mulher


Na abertura do evento foi passado um belo vídeo com imagens fortes sobre a violência contra a mulher no mundo. Segundo previsão do FBI (Federal Bureau of Investigation), o Departamento Federal de Investigação dos EUA, uma em cada três mulheres sofrerá algum tipo de violência na vida.


Almir Aguiar, presidente do Seeb-Rio, cobrou ainda igualdade de oportunidades nos bancos. “A mulher ganha menos que os homens numa mesma função e com o mesmo nível de escolaridade; e as mulheres negras são ainda mais discriminadas e recebem salários ainda menores”, denuncia.


O que foi aprovado


Entre os principais itens de reinvindicações dos bancários, a 15ª Conferência Interestadual aprovou um reajuste salarial de 10 % mais a inflação do período e uma PLR de três salários mais R$ 4.500. Foi aprovado ainda o fim das metas e do assédio moral.


Os bancários identificaram também a necessidade de avaliação dos resultados práticos da cláusula da Convenção Coletiva de Trabalho que prevê mecanismos de combate ao assédio moral.


As propostas aprovadas serão agora levadas à 15ª Conferência Nacional.


Avaliação


O secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT, Miguel Pereira, que é da base territorial do Sindicato dos Bancários do Sul Fluminense, sugere a realização da Conferência Interestadual em pelo menos dois dias. “Um dia tem sido impossível para aprofundar os debates da categoria”, aponta.


Para Nilton Damião Esperança, vice-presidente da Federação, mesmo curta, a conferência foi positiva: “Todas as tendências e forças políticas tiveram suas opiniões respeitadas, discutidas e votadas democraticamente”, relata o sindicalista. Nilton ressaltou que a efervescência política que o país vive é positiva para as categorias que estão iniciando suas campanhas salariais. “O entendimento de todos que participaram da Conferência Interestadual foi de que a conjuntura atual favorece nossa campanha nacional. O momento é este, temos que aproveitar esta onda de politização para dizer para os banqueiros o que queremos: mais saúde e melhores condições de trabalho, mais segurança para bancários e clientes, fim da rotatividade, das metas e do assédio moral e um salário compatível com a lucratividade dos bancos e o empenho dos bancários. Isto nos dá muita disposição de luta para a Conferência Nacional e para construirmos uma greve forte”, avalia Nilton.


A Federação vai enviar 79 delegados e 8 observadores à Conferência Nacional dos Bancários, que acontece nos dias 19, 20 e 21 de julho. Ao todo, serão 600 delegados e 61 observadores, mais os 35 membros do Comando Nacional, totalizando 696 bancários de todo o país.

Fonte: Feeb RJ/ES, com Contraf-CUT e Seeb-Rio

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Itaú não comparece a audiência na Alerj sobre demissões

Em audiência pública na Alerj para discutir as demissões, o Itaú mostrou, mais uma vez, que não dá a menor importância ao assunto. O banco foi o único convidado ausente. Já o Ministério Público do Trabalho, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e a Contraf-CUT estiveram presentes, discutindo não só as demissões, mas também outros problemas enfrentados pelos empregados do banco. “Não vamos nos conformar com a ausência do banco hoje. Vamos insistir em marcar uma reunião com os representantes do Itaú para tratar deste assunto”, anunciou o deputado Paulo Ramos, presidente da Comissão de Trabalho Legislação Social e Seguridade Social, que convocou a audiência.


Os sindicalistas demonstraram com estudos e gráficos não só as 14 mil demissões em todo o país desde a fusão com o Unibanco, mas também outras discrepâncias. “Um executivo do Itaú ganha 190 vezes mais por ano que um caixa do banco. Este bancário precisaria trabalhar 18 anos e seis meses para receber o que o executivo ganha em apenas 12 meses. Mas quem se esforça, atende público, bate metas – e adoece – é o bancário que está na agência”, aponta Miguel Pereira, Secretário de Organização da Contraf-CUT.


Cortes e precarização


Miguel também ressaltou que os correspondentes bancários precariza o trabalho não só dos trabalhadores destas empresas, mas também dos bancários. “Temos hoje no Brasil menos de 20 mil agências e postos bancários e mais de 360 mil unidades de correspondentes. É cômodo para o Banco Central transferir esta responsabilidade estatal dizendo que, com os correspondentes, está fazendo inclusão. Mas isto é uma distorção”, critica Miguel. O deputado Paulo Ramos concordou. “Vejo que as lotéricas realizam muitas operações. É uma transferência das atribuições da Caixa. Além do problema da segurança, tem também a questão da remuneração, já que o funcionário da lotérica não ganha o mesmo que um bancário. Podemos verificar se é possível, para o próximo ano, fixar o piso salarial para estes trabalhadores no estado do Rio de Janeiro”, propôs o deputado Paulo Ramos. O deputado Gilberto Palmares, que também integra a Comissão de Trabalho da Alerj, sugeriu que os parlamentares simpáticos às causas dos trabalhadores fizessem um esforço concentrado. “Podemos usar uma tática de guerrilha, atacando em muitas frentes, com vários projetos de lei para melhorar o atendimento bancário, a segurança e também para propor o horário ampliado de funcionamento das agências”, propôs Palmares.


Sobrecarga e adoecimento


Esta questão do expediente bancário foi ressaltada pela vice-presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Adriana Nalesso. “O movimento sindical bancário sempre defendeu a extensão do horário de atendimento. Há muito reivindicamos que os bancos funcionem das 09h às 17h, com dois turnos de trabalho, para que os bancários tenham sua jornada de seis horas respeitada. O Itaú está praticando horário estendido em algumas agências, mas não só não respeita as seis horas, como impõe jornadas exaustivas aos bancários. A medida foi implantada unilateralmente e sequer serviu para abrir novos postos de trabalho. Há ocasiões em que os funcionários de algumas dessas agências chegam a trabalhar 12 horas por dia, o dobro da jornada fixada pela CLT”, ressalta Adriana.


E não é só nas agências com horário estendido que a situação dos bancários é dramática. “Só no município do Rio de Janeiro foram eliminados cerca de dois mil postos de trabalho no Itaú. Com menos funcionários, os que permanecem acabam ficando sobrecarregados. E isso se reflete na saúde do bancário. Hoje, na secretaria de Saúde do sindicato, 57 % dos bancários atendidos são do banco Itaú. E, quando este bancário adoecido é afastado pelo INSS, quem paga a conta é o Estado”, acrescenta a vice-presidenta.


Além dos custos para o INSS, as dispensas também preocupam pelo efeito que provocam na sociedade como um todo. “Estas demissões geram outros desempregos. Quando os bancários perdem o emprego, deixam de consumir e isso acaba afetando vários setores da economia, é um efeito cascata”, ponderou Vinícius Assumpção, Secretário de Desenvolvimento Econômico Solidário do município e ex-presidente do Seeb-Rio.


Ninguém acredita


Uma das dificuldades que o movimento sindical enfrenta é o reconhecimento, por parte do judiciário, de que as demissões são em massa. “É difícil convencer a Justiça e o Ministério Público de que estas dispensas são, no mínimo, coletivas. Os números estão aí e mostram que há demissões de muitos trabalhadores de uma só vez. Já fizemos denúncia ao MPT sobre as demissões no Itaú, mas o processo não andou”, aponta Ronald Carvalhosa, diretor do Seeb-Rio. Sobre este ponto, o deputado Paulo Ramos fez uma proposta concreta: marcar uma reunião com o presidente do TRT-RJ. O parlamentar sugeriu ainda que o sindicato prepare um material completo para apresentar durante a reunião, com todos os dados sobre as dispensas e as iniciativas já adotadas junto ao judiciário.


Não pode


A relação entre demissões e adoecimento não passa só pela sobrecarga de trabalho. Ronald Carvalhosa destacou que o banco está se livrando de todos os trabalhadores que não interessam mais à empresa. “Além das demissões serem em massa, muitas são ilegais. Hoje mesmo atendi um bancário que foi demitido, mesmo estando ainda no período de estabilidade depois de um afastamento prolongado”, relata o dirigente. Carvalhosa também informou que o banco vem abusando da justa causa, para descartar funcionários com estabilidade, alegando razões insuficientes para a imputação da pena máxima ao trabalhador. “Os bancos podem tudo? Me parece que as ruas estão dizendo que não”, ponderou o sindicalista, fazendo referência às manifestações populares que se espalham pelo Brasil desde o início do mês de junho.


Ronald lembrou que na mesma data completavam-se 16 anos da privatização do Banerj, com a venda para o Itaú. “Precisamos discutir as privatizações. Quando as empresas públicas começaram a ser vendidas, a justificativa era que sobraria mais dinheiro para educação, saúde e segurança pública, entre outras demandas da sociedade. Mas isso não aconteceu. Podemos fazer da Alerj um pólo para discutir as mudanças que o país reclama”, sugeriu o dirigente.


Para frente


Para Miguel Pereira, da Contraf-CUT, a audiência foi positiva. “É importante fazermos esforços em várias frentes a fim de conquistar aliados para a empreitada de garantir os direitos dos trabalhadores. Os números comprovam que há demissões em massa, mas ainda dependemos de entendimento e interpretação, não há uma definição clara. Esta aproximação que houve aqui com o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho e Emprego é importante para a construção do conceito de demissão em massa”, analisa o sindicalista. Ele lembra que o esforço da Contraf-CUT neste sentido gerou a liminar que suspendeu as demissões no Santander em dezembro de 2012. “Fomos até a promotora, conversamos, demonstramos os números e conseguimos convencê-la”, lembra Miguel.


Os sindicalistas concordam que esta discussão também levanta outra questão. “Temos que discutir o papel do sistema financeiro do país. Os bancos ganham muito e não dão nenhum retorno à sociedade. Que responsabilidade social é esta, principalmente do Itaú, que faz tanta propaganda dizendo que é socialmente responsável? O maior banco privado do país eliminou mais de 14 mil postos de trabalho, isto é inaceitável”, pondera a vice-presidenta do Seeb-Rio, Adriana Nalesso.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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A plebe e a nobreza

Frei Betto *


Era uma vez um reino governado por um rei despótico. Sua majestade oprimia os súditos e mandava prender, torturar, assassinar quem lhe fizesse oposição. O reino de terror prolongou-se por 21 anos.


Os plebeus, inconformados, reagiram ao déspota. Provaram que ele estava nu, denunciaram suas atrocidades, ocuparam os caminhos e as praças do reino, até que o rei perdesse a coroa.


Vários ministros do rei deposto ocuparam sucessivamente o trono, sem que as condições econômicas dos súditos conhecessem melhoras. Decidiu-se inclusive mudar a moeda e batizar a nova com um título nobiliárquico: real.


Tal medida, se não trouxe benefícios expressivos à plebe, ao menos reduziu as turbulências que, com frequência, afetavam as finanças da corte.


Ainda insatisfeita, a plebe logrou conduzir ao trono um dos seus. Uma vez coroado, o rei plebeu tratou de combater a fome no reino, facilitar créditos aos súditos, desonerar produtos de primeira necessidade, ao mesmo tempo em que favorecia os negócios de duques, condes e barões, sem atender aos apelos dos servos que labutavam nas terras de extensos feudos e clamavam pelo direito de possuir a própria gleba.


O reino obteve, de fato, sucessivas melhoras com o rei plebeu. Este, porém, aos poucos deixou de dar ouvidos à vassalagem comum e cercou-se de nobres e senhores feudais, de quem escutava conselhos e beneficiava com recursos do tesouro real. Obras suntuosas foram erguidas, devastando matas, poluindo rios e, o mais grave, ameaçando a vida dos primitivos habitantes do reino.


Para assegurar-se no poder, a casa real fez um pacto com todas as estirpes de sangue azul, ainda que muitos tivessem os dedos multiplicados sobre o tesouro real.


Do lado de fora do castelo, os plebeus sentiam-se contemplados por melhorias de vida, viam a miséria se reduzir, tinham até acesso a créditos para adquirirem carruagens próprias.


Porém, uma insatisfação pairava no reino. Os vassalos eram conduzidos ao trabalho em carroças apertadas e pagavam caros reais pelo transporte precário. As escolas quase nada ensinavam além do beabá, e os cuidados com a saúde eram tão inacessíveis quanto as joias da coroa. Em caso de doença, os súditos padeciam, além das dores do mal que os afetava, o descaso da casa real e a inoperância de um SUStema que, com frequência, matava na fila o paciente em busca de cura.


Os plebeus se queixavam. Mas a casa real não dava ouvidos, exceto aos aplausos refletidos nas pesquisas realizadas pelos arautos do reino.


O castelo isolou-se do clamor dos súditos, sobretudo depois que o rei abdicou em favor da rainha. Infestado de crocodilos o fosso em torno, as pontes levadiças foram recolhidas e as audiências com os representantes da plebe canceladas ou, quando muito, concedidas por um afável ministro que quase nenhum poder tinha para mudar o rumo das coisas.


Em meados do ano, a corte promoveu, com grande alarde, os jogos reais. Vieram atletas de todos os recantos do mundo. Arenas magníficas foram construídas em tempo recorde, e o tesouro real fez a alegria e a fortuna de muitos que orçavam um e embolsavam cem.


Foi então que o caldo entornou. A plebe, inconformada com o alto preço dos ingressos e o aumento dos bilhetes de transporte em carroças, ocupou caminhos e praças. Pesou ainda a indignação frente a impunidade dos corruptos e a tentativa de calar os defensores dos direitos dos súditos contra os abusos dos nobres.


A vassalagem queria mais: educação da qualidade à que se oferecia aos filhos da nobreza; saúde assegurada a todos; controle do dragão inflacionário cuja bocarra voltara a vomitar chamas ameaçadoras, capazes de calcinar, em poucos minutos, os parcos reais de que dispunha a plebe.


Então a casa real acordou! Archotes foram acesos no castelo. A rainha, perplexa, buscou conselhos junto ao rei que abdicara. Os preços dos bilhetes de carroças foram logo reduzidos.


Agora, o reino, em meio à turbulência, lembra que o povo existe e detém um poder invencível. O castelo promete abrir o diálogo com representantes da plebe. Príncipes hostis à rainha ameaçam tomar-lhe o trono. Paira no horizonte o perigo de algum déspota se valer do descontentamento popular para, de novo, impor ao reino o regime de terror.


A esperança é que se abram os canais entre a plebe e o trono, o clamor popular encontre ouvidos no castelo, as demandas sejam prontamente atendidas.


Sobretudo, dê a casa real ouvidos à voz dos jovens reinóis que ainda não sabem como transformar sua indignação e revolta em propostas e projetos de uma verdadeira democracia, para que não haja o risco de retornarem ao castelo déspotas corruptos e demagogos, lacaios dos senhores feudais e de casas reais estrangeiras.



* Frei Betto é escritor, autor de “Aldeia do silêncio” (Rocco), entre outros livros.
www.freibetto.org twitter: @freibetto






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Fonte: Frei Betto