Pela coincidência das datas, parece que abril não é um bom mês para os elevadores do prédio administrativo da CEF no Rio de Janeiro, na Avenida Almirante Barroso. Neste dia 15 fez um ano que um acidente sério fez dois feridos, sendo um deles a dirigente sindical Neusa Iório, que hoje ocupa a vice-presidência da CIPA do edifício. Este ano, houve duas ocorrências na primeira quinzena do mês: na primeira, dia 05, o rompimento de uma fita metálica que tem o comprimento igual à altura do prédio fez uma trabalhadora terceirizada sofrer tamanho susto que desmaiou e precisou ser atendida por uma ambulância e ficar dois dias licenciada. Na última segunda-feira, dia 11, ocorreu um princípio de incêndio em outro elevador, decorrente da explosão do reator de uma lâmpada fluorescente. Entre os funcionários, a sensação é de medo.
Diante da gravidade da situação, o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro fez um protesto no último dia 14, quinta-feira, bem no horário do almoço, entre 12:30 e 13:30. O sindicato distribuiu panfletos, exibiu faixas e abriu o microfone para sindicalistas denunciarem a situação. Mas a atividade mais impactante foi impedir o acesso aos elevadores da ala Carioca do edifício por 15 minutos.
Além da manifestação, o sindicato partiu para uma ação mais incisiva, enviando ofícios ao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura e Agronomia – CREA e também à Defesa Civil, solicitando fiscalização nos elevadores. Solicitação semelhante será encaminhada ao Ministério do Trabalho e Emprego nos próximos dias. “Num prédio deste porte, com mais de 30 andares, e com tantos trabalhadores circulando diariamente, a manutenção dos elevadores tem que ser eficaz. É preciso que a CEF tome providências para prevenir novos acidentes e evitar que haja uma vítima fatal”, defende Almir Aguiar, presidente do Seeb-Rio.
O acidente sofrido por Neusa e outras 12 pessoas, em abril de 2010, foi o mais grave ocorrido no prédio nos últimos anos. Houve uma pane no sistema de funcionamento do elevador e a cabine despencou do 17º ao 8º andar em poucos segundos, com 13 pessoas. O técnico residente já havia saído, uma vez que já passava das 20h, e a brigada de bombeiros civis do prédio não pôde fazer o resgate, já que a legislação municipal determina que só bombeiros militares realizem esta operação. O esperado era que, acionado o sistema de emergência, o elevador fosse nivelado num andar para que as portas fossem abertas para retirar os passageiros. Mas a pane foi tão severa que o elevador ficou travado entre dois andares e nem mesmo o técnico, que chegou mais tarde, conseguiu destravá-lo. Foi preciso resgatar as pessoas por uma abertura no teto da cabine, passando perto das engrenagens que sustentam a caixa. A passagem era estreita, dificultando a retirada das pessoas, e o resgate só foi concluído mais de duas horas depois. Neusa sofreu um entorse no tornozelo esquerdo no momento da queda, precisando ser engessada e se licenciar do trabalho por duas semanas. “Fora o pânico. Tinha gente cardíaca, gente hipertensa. Foi difícil manter o controle”, relata a sindicalista.
Além da nomenclatura
A administração da CEF admite que os problemas nos elevadores são comuns, mas, exceto pelo acidente sofrido por Neuza, classifica a maioria com “incidente”, situações que provocam “desconforto”. “Nunca negamos os problemas, mas a maior parte não envolve riscos à segurança dos passageiros”, pondera Milton Gil, assistente de Sustentação ao Negócio da RSLOG, departamento responsável pelos contratos com a empresa de manutenção dos elevadores. O acidente com a fita seletora dos andares, ocorrido no dia 05, foi interpretado desta maneira. “O rompimento da fita não oferece risco de morte, o elevador não despencou. Mas a fita é muito longa e, quando arrebenta e cai, faz muito barulho, e isso assusta. A trabalhadora que estava dentro do elevador é claustrofóbica e hipertensa e, com o susto, passou mal”, completa Milton.
A RSLOG enfatiza que os elevadores, como os aviões, são meios de transporte muito seguros. “São os dois mais seguros do mundo. Tanto elevadores quanto aviões têm sistemas de segurança redundantes. Se um, por acaso, falhar, os outros entram em ação”, explica Francisco Felipe, coordenador eventual de Sustentação ao Negócio do departamento. “Cada um destes elevadores é sustentado por oito cabos e, segundo os técnicos, cada cabo, sozinho, pode suportar o peso de um elevador com carga máxima. Para a cabine realmente despencar, é preciso que os oito cabos se rompam ao mesmo tempo”, completa Francisco.
Mas para Neusa Iorio, a questão é que um mero incidente técnico, que, a princípio, não apresenta grandes riscos, pode se transformar num acidente na medida em que as vítimas sofrem algum ferimento ou dano. “A terceirizada teve um pico de pressão e desmaiou, ela só se lembra do momento em que a fita se rompeu, por causa do barulho, e de quando acordou na ambulância. Por causa disso tudo, ficou dois dias sem trabalhar. As consequências poderiam ter sido bem mais graves. Isso é, sim, um acidente”, rebate Neusa.
O rompimento de uma fita seletora não é inédito no prédio e a própria RSLOG informa que já houve outros casos. “O que soubemos é que essa última que arrebentou era nova”, informa Neusa. Mas, justamente por não ser um problema inédito a preocupação aumenta. “As fitas ficam corroídas rápido e já ouvimos dizer que o problema seria causado por pombos que entram na casa de máquinas. Se isso for verdade, é preciso que seja dada uma solução, impedir que as aves cheguem perto dos equipamentos”, argumenta a cipeira.
No caso do princípio de incêndio ocorrido na última segunda-feira, a postura da RSLOG é a mesma: não havia risco de morte nem houve um problema de conservação. De fato, o defeito no reator de uma lâmpada não tem relação direta com a manutenção do sistema do elevador em si, e a explosão poderia ter acontecido em qualquer outra lâmpada, em qualquer outro lugar do prédio. Mas Neusa destaca que não se tem notícia de que tenha havido revisão das luminárias dos demais elevadores após o ocorrido.
O que se nota é que os dois lados não oferecem relatos semelhantes. “Há uma diferença muito grande entre o que a administração informa e o que os acidentados contam. A senhora que estava no elevador quando a fita rompeu disse que a cabine despencou, mas os técnicos e a administração dizem que isso não aconteceu. No caso do princípio de incêndio, a RSLOG diz que houve um pouco de fumaça e chamas pequenas, mas uma das vítimas disse que foi preciso usar o extintor de incêndio para apagar o fogo”, pondera Neusa.
Trabalho invisível
O prédio da Barroso é bastante antigo e, de alguns anos para cá, os problemas nos elevadores se tornaram cada vez mais frequentes, o que obrigou a CEF a modernizar os equipamentos. A RSLOG afirma que isso não significa que a manutenção dos antigos elevadores será negligenciada. “Não vamos dar menos atenção aos elevadores que não foram modernizados. Pelo contrário, vamos fazer tanta ou até mais manutenção que a que fazemos hoje”, adianta Milton Gil.
O funcionário da RSLOG enfatiza que há uma equipe de técnicos residentes que permanecem no prédio das 06h às 20h, mais a brigada civil privada, contratada pela CEF, que fica de prontidão 24 horas por dia para prestar socorro aos trabalhadores caso ocorra qualquer problema no prédio. Milton destaca, ainda, que qualquer problema relatado, por mínimo que seja, é informado à Atlas Schindler, empresa fabricante e mantenedora do equipamento. “Nós não só informamos, com relatórios detalhados, como também cobramos esclarecimentos e providências. E a brigada é sempre acionada para socorrer as pessoas mesmo quando é um problema simples, ninguém paga para ver”, destaca o funcionário da RSLOG.
Mas, entre os funcionários, a sensação é de muita insegurança, já que os “incidentes” são constantes. Neusa relata que, na última quinta-feira, ao voltar do almoço, o elevador não parou nos andares 22, 23 – o dela – e 27, parando apenas no 29º, mesmo assim, com um desnível de mais de 30 cm. A bancária informa, ainda, que a subida não foi suave e silenciosa, como esperado. “O elevador foi dando tranco até o final, quase parando entre os andares. Quando a porta abriu no 29, saí do elevador e desci de escada. Esse tipo de coisa acontece quase todo dia. Nem os elevadores da gerência funcionam direito!”, destaca Neusa. De fato, são comuns os relatos de problemas como solavancos, botões do painel que não acendem quando acionados e elevadores que não param ou não abrem as portas em vários andares. “A CEF informa que está tomando medidas para tornar elevadores mais seguros, mas não estamos vendo os resultados, uma vez que os acidentes estão ficando cada vez mais frequentes. Por este motivo o sindicato está tomando providências para forçar o banco a adotar medidas mais eficazes para evitar estes acidentes”, acrescenta Almir Aguiar.
Os problemas dos elevadores, além de levarem medo, também já estão afetando relações entre chefes e subordinados. “Dependendo do horário, um funcionário pode ficar até 15 minutos esperando o elevador para subir ou descer. Com isso, muita gente chega atrasada. Os chefes chamam a atenção, mas o trabalhador não tem como resolver a situação. Aí, muita gente não almoça direito, porque perde tempo saindo ou entrando do prédio”, relata a sindicalista.
O $ do problema
A modernização dos elevadores já está em curso, e três novos devem ser entregues ainda este ano. “Três, com certeza. É possível que mais alguns também fiquem prontos em 2011, mas não podemos garantir”, adianta Milton Gil. Mas, embora a RSLOG controle os contratos de manutenção e cobre da empresa as soluções para os problemas, sensação de insegurança é muito grande, já que os problemas são comuns.
A impressão que se tem é de que falta dinheiro para modernizar ou que há problemas com a administração do condomínio, já que o prédio não pertence à CEF, mas a um fundo de investimentos imobiliários. Algumas tarefas de manutenção ficam a cargo da CEF, outras do proprietário, mas nenhuma das partes assume total responsabilidade pelos elevadores. “Quando este prédio foi inaugurado, era considerado o mais moderno do Brasil, mas, hoje, está nestas condições que estamos vendo. E ninguém sabe quem é o síndico, não fica claro até onde vai a responsabilidade de um e de outro”, completa Neusa.
Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES