Nubia Silveira
A fala mansa, o bigode farto, o vocabulário marcado por termos típicos do gaúcho do interior, a serenidade ao expor os pontos de vista fazem de Olívio Dutra o tipo inesquecível de qualquer um que já tenha convivido com ele, nem que seja por apenas alguns instantes. Líder estudantil, sindical e político, o ex-governador gaúcho (1º de janeiro de 1999 a 31 de dezembro de 2002) se diz, antes de tudo, um bancário. Fez concurso para contínuo e depois para escriturário no Banco do Estado do Rio Grande do Sul – Banrisul, onde trabalhou até se aposentar. Há 41 anos trocou a cidade de São Luiz Gonzaga, onde estudou e começou a trabalhar, e o distrito de Bossoroca, onde nasceu, por Porto Alegre. Uma troca forçada pelas autoridades, depois de um desentendimento com o prefeito. Desde aquela época vive no mesmo apartamento de dois quartos, na Zona Norte de Porto Alegre, que comprou de um colega bancário.
Olívio presidiu a União São Luizense de Estudentes e o Sindicato de Bancários de Porto Alegre. Foi prefeito da capital gaúcha, governador de Estado, deputado constituinte e ministro do governo Lula. Nenhum cargo conseguiu mudar seus hábitos. Anda de ônibus pela cidade, atende o celular, sempre bem-disposto, e, aos domingos, quando não chove e está em Porto Alegre, pedala por mais de duas horas, no percurso Zona Norte-Centro-Bom Fim- Zona Norte. Apesar dos boatos, diz que não vai se candidatar ao Senado. Está comprometido com os movimentos sociais. Viaja pelo interior do Estado, segundo ele, não para fazer campanha, mas para falar sobre “a construção partidária”.
Nunca participou de qualquer partido político, antes de ajudar a fundar o PT. Mas, reconhece que tinha simpatias pelo Partidão, ao qual pertencia um tio, irmão de sua mãe. Para Olívio, a importância do PT está em “não se acomodar, não passar de um partido de transformação a um partido da acomodação”. É pelo que ele vem lutando há 30 anos.
Com seu jeito simples e gestos que fortalecem as falas, não se nega a fazer críticas. Elogia os governos do petista e amigo Luiz Inácio Lula da Silva, com quem dividiu o apartamento no tempo da Constituinte, mas reconhece: “a estrutura fundamental do Estado brasileiro não foi mexida”. Outro ponto em que, afirma, o país pouco evoluiu foi na questão da reforma agrária. “Nós, na Constituinte, não conseguimos retirar do texto da Constituição uma espécie de aura sagrada da propriedade”, lembra.
Antes de comemorar os 70 anos, com uma grande festa, realizada no dia 11 de junho, ele deu uma longa entrevista (duas horas e meia de conversa) ao Sul21, da qual participaram os repórteres da casa – Milton Ribeiro, Rachel Duarte e Igor Natusch – e os convidados Antônio Oliveira e Poti Silveira Campos.
Milton — O senhor se formou em Letras. Por quê? Depois, virou bancário. Vamos começar com as Letras.
Olívio Dutra – Não, eu fui bancário antes de qualquer coisa.
Milton — Antes?
Olívio — Claro. Fui bancário por 35 anos, funcionário concursado do Banco do Estado do Rio Grande. E, aliás, entrei por concurso na função de contínuo do Banco, lá em São Luiz Gonzaga. Só depois de três anos, com concurso interno, feito em Santa Maria, junto com outros, passei a ser escriturário. Então, vim me formar em Letras — licenciatura de Língua Portuguesa e Inglesa, Língua e Literatura — aqui na UFRGS, em 1975. Então, fui mais um trabalhador que estudava do que um estudante que trabalhava. A prioridade era o meu trabalho, o meu emprego, né. Porque cheguei aqui com a Judite grávida da Laura e nós tínhamos o Espártaco com um ano de idade.
Milton — Espártaco.
Olívio – É. O Espártaco, meu filho, com um ano de idade. E a Judite grávida da Laura. Eu (era) bancário, com nove anos já de profissão bancária, funcionário do Banco, quando cheguei aqui, em 1970, em Porto Alegre. Então…
“Não nasci na vila da Bossoroca. Nasci no fundão da Bossoroca”
Milton — Então o senhor…
Olívio – Mas deixa eu ver como é que eu respondo, como é a questão, porque eu sou formado em ciências ocultas e letras apagadas…
(risos)
Olívio — Tem um pouquinho de história mais antiga: o meu pai era um carpinteiro lá em São Luiz Gonzaga quando eu nasci. Nasci em Bossoroca, em 1941. Naquela época, Bossoroca era terceiro distrito de São Luiz Gonzaga. E eu não nasci na vila da Bossoroca, eu nasci no fundão da Bossoroca, onde meus familiares eram agregados no fundo dos campos dos fazendeiros lá no rincão chamado Rincão Feio. Nesse local é que eu nasci, já o segundo filho de uma família de sem terras agregados no fundo de campo. Minha mãe na lida de casa. Nunca foi trabalhar na fazenda. Agora, os irmãos da minha mãe eram peões de fazenda. O meu pai era aramador, ou alambrador, como queira. Para nós, era aramador. Era aquele trabalhador que fazia as cercas, estendia os arames, fazia todas aquelas amarrações. Claro, é no mato. Também ajudava a escolher as árvores, fazia o corte adequado, conhecia madeira e árvores como a unha.
Rachel – (servindo vinho) Não entendo muito (de vinho), mas é o que a casa oferece. O que a gente serve para começar?
Olívio – A gente começa com o menos nobre pra deixar o melhor pro fim, mas acho que ambos são bons.
Igor — Vamos de branco? Não, vamos de tinto, né?
Olívio — É, vinho tinto. Mas, a gente pode começar com o branco, né.
Rachel — Então vamos.
Olívio – Depois nós concluímos com o tinto. Mas vejam que o meu pai, além de alambrador, era também um artífice. Era um pequeno artesão. As origens dele eram missioneiras. Era uma mistura de negro com índio, cafuzo. E a família da minha mãe era um pouco mais… Tinha também bugre, mas tinha português e castelhano. Meu avô era Saulistiano do Amaral Beis, meu avô materno. O meu pai foi se desdobrando ao casar, naquele mundo lá. Ele viu que chegou o primeiro filho, chegou o segundo filho. Não dava pra ele viver daquela profissão. Até porque as fazendas estavam também delimitadas. Fazer móveis rústicos para a casa dos fazendeiros — o que ele também fazia — não dava o suficiente. Ele fazia galpões, fazia as mangueiras, fazia os móveis pra dentro de casa também. Então, ele se tocou pra cidade mais próxima: São Luiz Gonzaga. E eu (era) um guri chorão de colo, nos cueros. Ele atou uma vaquinha, que não vendera, atrás de uma carreta. E passaram-se quinze dias (para ir) do local onde eu nasci até chegar em São Luiz Gonzaga. Ele já tinha ido antes a cavalo pra ver onde é que ia se instalar. Comprou um terreninho na periferia de São Luiz. Não tinha luz, não tinha água; tinha que fazer poço e tal. Então foi lá, em São Luiz Gonzaga, que ele criou a família dele: cinco filhos, eu sou o segundo, três homens e duas mulheres. E na profissão dele, carpinteiro. Então, aí ele fazia pequenos serviços de reparação nas casas. Tinha uma caixinha de ferramentas. Foi indo e ele passou a ser um pequeno empreiteiro. Ele tinha a oportunidade de fazer uma casa inteira de madeira. A pessoa que faz uma casa de madeira numa cidade pequena não é ainda das elites. Ele foi sendo referência do trabalho em madeira, e foi também sendo contratado pra fazer as casas, o interior das casas de alvenaria. Contratavam ele pra fazer escadarias como esta, o forro, o assoalho, as janelas, as portas. Então passou a ter uma pequena oficininha em casa. Até hoje tem o banco de carpinteiro dele lá em São Luiz Gonzaga. E quando chega a época de irmos para a escola — entrei no colégio com seis anos, meu irmão tinha sete — não podia ficar em casa, tinha que ir pra escola. Fomos os dois pra escola: o Grupo Escolar Senador Pinheiro, lá em São Luiz Gonzaga. Me formei lá. Eram cinco séries. Depois, não tinha mais que isso. Meu pai não tinha condições de pagar outra escola fora de São Luiz. Os filhos das famílias abastadas ou de classe média podiam ir pra Santo Ângelo, Santa Maria…
Milton — Porto Alegre
Olívio – …Porto Alegre, Passo Fundo. Estancou ali. Tinha o Ginásio Santo Antônio. Esse ginásio era administrado por uma ordem religiosa católica de padres americanos. Eles eram franciscanos menores, conventuais americanos. Aliás, era uma raridade, porque eles só tinham duas missões aqui no Brasil. Uma era lá no Centro-Oeste e outra aqui no Sul, no Rio Grande, nas Missões lá em São Luiz. É um colégio confessional, de uma ordem religiosa, (de) freis católicos menores, conventuais norte-americanos. O que é uma raridade. Entre os americanos, a religião predominante é a protestante; eles eram de uma ordem católica. Alguns deles, hoje lembro bem, eram pessoas de uma formação cultural forte, séria, de (conhecer) grego, latim, línguas, claro, a língua deles inglês, mas chegavam falando português, espanhol, francês. Mas depois, mais adiante, começou a vir padres que eram mais… Parece que tentando se ajeitar na vida, porque tinham sido capelães nas guerras na Indochina e em outros lugares do mundo. E eles estavam lá em São Luiz, dois ou três deles. O padre Kanut, me lembro bem, (era um) sujeito atarracado. A gurizada, quando sabia que eles chegavam lá sem saber falar uma palavra de português, ficava em roda dizendo nome feio, chamando disso e daquilo, até que, claro, aquele padre começou a ver, a desconfiar que ele… E a formação dele não era de educador. Certamente era de uma figura que estava com problemas de existência na questão de pra onde fora como capelão militar naquelas pontas que os Estados Unidos estavam mandando gente pra alguma guerra localizada longe. E então ele reagia com uma violência assim. Quando começava a compreender o português e sabia que a gurizada estava dizendo nome feio pra ele, ele pegava a gurizada, dava uma gravata e enchia de cascudos. Lembro bem de uma ocasião em que um guri mais esperto disse nome feio e já ficou preparado pra correr. Esse guri correu o pátio, o colégio, pulou o muro do colégio para a rua, passou para a praça principal de São Luiz Gonzaga e o padre Kanut atrás dele. O padre não parou enquanto não o pegou, longe do colégio. E a população ficava olhando. Sei que deu uns cascudos no guri, (que estava) cansado. Mas ele não cansou, era atleta, e o…
“Diziam que o filho do carpinteiro era interessado, dedicado. Eu realmente aproveitei a ocasião”
Poti — O senhor nunca entrou no cascudo?
Olívio — Não, nunca entrei no cascudo. Eu sei que esse menino era filho de um militar, porque lá tinha… Isso era antes do golpe. O golpe foi em 1964 e isso aconteceu na década de 50. Então havia militares (em São Luiz Gonzaga). Esse menino era filho de um oficial do Exército. Eu sei que houve problemas lá com os padres, mas a comunidade da cidade, que amparava os padres, as senhoras da alta sociedade, os dirigentes do poder, apaziguaram as coisas.
Mas o meu pai não podia pagar o colégio, que era particular. Mas aí ele trabalhava com os padres na oficina dos padres, que precisavam fazer coisas de carpintaria. Então meu pai pagava a escola, o colégio, o ginásio, pro meu irmão e pra mim, com o trabalho dele. E nós ficamos – eu, particularmente — semi-interno, ajudando a varrer, a cuidar das coisas. Nos finais de semana ia pra casa. Isso era na cidade. E nós morávamos longe, lá na periferia. Então isso me oportunizou a acessar livros, e a aprender inglês. Eles diziam que o filho do carpinteiro era interessado, dedicado e aquela coisa toda, e eu realmente aproveitei a ocasião. Me lembro bem da biblioteca variada. Imagina no ginásio tu leres Machado de Assis. Eles eram americanos. Nos nossos colégios, colégios das freiras na cidade, não se lia Machado de Assis. Tinha que ler os livrinhos religiosos, catecismo, aquela coisa toda. No ginásio, além dos livros religiosos, do catecismo, tive acesso a uma biblioteca e tive acesso a livros em inglês, e tive a oportunidade de ter aulas de inglês fora do horário da aula. Então, a prática me deixou com uma fluência em inglês.
Rachel — Mas o senhor ainda está estudando, né?
Olívio – Isso me deixou fluente…
Rachel — Pra treinar?
Olívio – …pra aquela época. Há 50 anos, eu tinha 14, 15, 16 anos. Então, estou dizendo isso porque depois eu vim fazer Línguas, Literatura, Inglês e Português, porque tem esse passado lá. Mas eu andei estudando também Direito, essas coisas todas. Não concluí porque não tinha em São Luiz Gonzaga, não tinha nem escola de segundo grau, né. Tinha o ginásio e pra onde tu ia depois do ginásio? Depois, mais tarde, ia ter uma escola técnica de comércio, em que eu me formei, já sendo bancário. Depois entrei numa luta junto com outros jovens pra trazer pra São Luiz uma escola da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, a CNEG, hoje é CNEC — Campanha Nacional dos Educandários da Comunidade. Eu me lembro bem. Isso era um movimento na base da Igreja Católica. Começou lá no Norte, no Amazonas, era Tiago Gomes o líder desse movimento que se espalhou pelo país (A Campanha nasceu em 1943, em Recife, idealizada por um grupo de universitários, liderados por Felipe Tiago Gomes. Surgiu com o nome de Campanha do Ginasiano Pobre. Depois, passou a ser chamada de Campanha dos Educandários Gratuitos e Campanha Nacional de Educandários Gratuitos. Atualmente, chama-se Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC). E lá em São Luiz a gente estava na periferia desse movimento, mas conseguimos. Isso é em 1964. Aí é que deu o problema comigo que ocasionou minha transferência pra Porto Alegre. Então eu casei em 1968, 1969. Entrei no Banco em 1961.
Milton — 1961. Vinte anos.
Olívio – É, e não tinha feito o terceiro grau. Tinha feito o primário e o ginásio. Fiz a Escola Técnica de Comércio. Comecei a frequentar umas aulas lá na Fidene (Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Noroeste do Estado), a Fundação que vem a ser hoje a Faculdade de Filosofia lá de Ijuí, e que depois tem uma extensão lá em Santo Ângelo (a Fidene, hoje, é a mantenedora da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí, do Centro de Educação Básica Francisco de Assis — EFA, do Museu Antropológico Diretor Pestana – MADP e da Rádio e Televisão Educativa — RTVE). Aí eu estudava. Pegava um ônibus pra ir nessa cidade estudar depois do expediente.
Milton — O senhor trabalhava, o senhor estudava e, em 1975, o senhor se formou e se tornou presidente do Sindicato dos Bancários.
Olívio – Exatamente.
Milton — Ao mesmo tempo?
Olívio – Exatamente.
Milton — Como é que se consegue se formar e se tornar presidente do sindicato?
Olívio – Mas eu me formei antes de ser presidente.
“Pra começar a greve teve uma reunião, pra terminar não houve nenhuma consulta. Isso ficou martelando na minha cabeça”
Milton — Mas foi no mesmo ano.
Olívio – Claro. Eu militava na base do sindicato. Quer dizer, a primeira coisa que eu fiz, quando cheguei em Porto Alegre, foi me filiar ao sindicato. Eu tinha participado de uma greve, a primeira greve da minha vida, em 1962, lá em São Luiz Gonzaga, um ano depois de ser bancário. Estourou uma greve na nossa categoria no Estado, antes do golpe, em 1962. O sindicato mais próximo era o de Santo Ângelo. O presidente da Federação dos Bancários, naquela época, era o Paulo Eduardo Steinhause, que era de Santo Ângelo. Um grupo, num final de tarde, lá em Santo Ângelo, foi lá pra São Luiz. Mas, primeiro deram umas telefonadas. Pra quem? Pra mim, porque já tinha uma referência e tal. Era uma referência ali até porque minha tarefa como contínuo do Banco era fazer serviço pra fora, entregar aviso de vencimento de duplicata, ir no correio, ir na telefônica, e a telefônica era só na prefeitura, era passar telex, então tinha que ir lá. Isso era o trabalho do contínuo. Então isso fazia eu chegar em todas agências de banco que tinha na época. Tinha poucos bancos: Banco da Província, Banco do Comércio, não tinha ainda o Banco do Brasil, e o Banrisul. Na verdade, eram três agências de banco. Tinha a Caixa Econômica Estadual. Caixa Econômica? Não. Não tinha. Então tocou pra mim dizer pro pessoal e ir convocá-los pra uma reunião depois do expediente, e onde? Na Casa Rural, que é a casa dos fazendeiros. Na Casa Rural de São Luiz Gonzaga. Nos cederam um espaço numa sala lá, para nos reunirmos. Nos reunimos, veio o pessoal do sindicato de Santo Ângelo, a Federação, colocaram as razões da greve, as negociações se desalinhavam e precisaríamos mostrar força pra arrancar alguma proposta dos banqueiros. Então estavam dadas as razões. Teve perguntas nossas pro pessoal. O pessoal decidiu pela greve. Bom, dois dias depois terminou a greve. Mas aí eu fiquei me perguntando: “bom, pra começar a greve teve uma reunião, pra terminar a greve não houve nenhuma consulta?”. Ficou me martelando aquela pergunta. Mas (fazê-la) pra quem? Não tinha sindicato (em São Luiz Gonzaga). O pessoal não voltou lá e tal. E tinha muito bancário lá, que na verdade eram de outras cidades. Naquele tempo bancário tinha certo status.
Rachel — Claro.
Olívio – Faziam o concurso e eram destacados pra lá. Eles vinham de outras cidades e, na primeira oportunidade que tinham, eles voltavam pras suas cidades, pra visitar os familiares, namorar e tal. Então, estourou aquela greve e, sem muita consciência de coisa nenhuma, o pessoal disse: “então vou aproveitar e vou em casa; vou a Uruguaiana; vou visitar minha família, e tu fica acompanhando aí e qualquer coisa tu me avisa”.
(risos)
Olívio – Mas avisar como? “Vai ali naquele programa gauchesco que tem ali na rádio São Luiz e tal”. E uns de São Luiz pegaram uns engradados de Brahma e foram para a costa do (Rio) Piratini. E bueno, e pum! Termina aquela greve e eu fiquei com aquela tarefa de avisar todo mundo. Fui lá no programa da rádio pra dar a notícia que a greve tinha terminado e tal. Eu sei que houve bancário que chegou um dia depois, né.
(risos)
Olívio — Imagina, isso era uma greve antes do golpe de 1964. Bueno, então me ficou martelando na cabeça assim: “mas como é que é esse negócio?”. Bom, 1962. Mas, nesse processo, vem essa luta pela escola da comunidade. Eu e um grupo de jovens achamos que não era possível ficar numa cidade sem uma escola de segundo grau lá. Tinha a União São Luizense de Estudantes. Aliás, também é importante dizer: eu fui presidente dessa União São Luizense de Estudantes.
Igor — Que ano?
Olívio – Eu era solteiro ainda, claro, isso foi em 1958. Por aí.
Milton — Tinha dezessete anos.
Olívio – É, por aí. Foi uma chapa que fizemos pela oposição. O que era a USLE, União São Luizense de Estudantes? Era uma entidade recreativa né, em que a juventude estudantil lá da cidade ia. Os que estavam na direção da USLE eram aqueles que iam estudar fora. Estavam estudando em Santo Ângelo, Cruz Alta, Santa Maria, até mesmo em Porto Alegre. Então a USLE funcionava nas férias, quando eles vinham pra fazer um baile; o baile da rainha dos estudantes e outras coisas.
Rachel — Por isso que ele observou que era solteiro na época: “rainha dos estudantes”.
(risos)
Olívio – E aí nós da cidade, os filhos da família de renda mais modesta, fizemos uma chapa de oposição, e eu fui eleito presidente da USLE. Nós fizemos umas mudanças na atuação da entidade pra ela discutir essas coisas. Mas isso estava dando muito trabalho. Eu tinha que trabalhar; não tinha que estar naquela militância. Eu sei que estive um ano e pouco ali. Acho que antes mesmo de terminar meu período de mandato eu saí. Ficou o vice lá. Eu tinha que estar no batente. Entramos naquela luta da instalação dessa escola. Mas tinha toda uma tramitação. Primeiro que era um movimento da base da Igreja Católica, de cristãos e jovens. E nós éramos uma ala mais, digamos, por ser jovens, justamente, mais rebeldes, e tinha o grupo dos mais velhos naquelas reuniões da base da Igreja, principalmente dos Vicentinos, que é uma congregação dentro da Igreja Católica, da qual a gente participou formalmente. Bom, nessa movimentação toda, nós conseguimos organizar papéis e tudo para essa escola, e quem sabia um pouquinho mais era professor. Eu sabia Inglês, assim como havia outros que sabiam Matemática, Geografia e tal. Tínhamos que nos submeter às exigências que tinham na época. A Fidene em Ijuí nos preparou cursinhos de Pedagogia, de Didática, essas coisas todas, porque era fundamental para que uma escola se instalasse. E aí o golpe já tinha se dado, e qualquer movimento ou coisa integrada já era suspeição de que tinha agito, agitadores e que era subversão e nós, no nosso movimento, nos propúnhamos (ter) eleição direta da direção da escola. O prefeito, por sinal primo do Jango, mas era do antigo PSD, portanto aquele que deu origem à Arena claro. E era cunhado do Gustavo Langsch, que tinha sido presidente da Assembleia Legislativa (de 21 de abil 1962 a 31 de janeiro de 1963) , tinha sido deputado estadual, tinha sido presidente do Banco do Estado, na ocasião era presidente do Banco do Estado do Rio Grande e eu era funcionário do Banco. E o prefeito era cunhado do presidente.
“O prefeito puxou o revólver para mim”
Milton — Só eles.
Olívio – E o prefeito se indispôs comigo por conta que eu era o que mais insistia, e inclusive escrevia no jornalzinho “A Notícia” lá o porquê da eleição direta da direção da escola. E hoje eu lembro as coisas…
(risos)
Olívio — O prefeito chegou a puxar o revólver pra mim.
Rachel — Não.
Olívio – Claro. Fui no Banco trabalhar de manhã. A gente trabalhava sábado inclusive, sábado de manhã. E esse episódio foi um negócio; pra mim, foi um demarcador de situação de vida né, porque aquilo, primeiro, ou me levavam para o quartel para ver se eu estava agindo ao contrário do establishment.
Poti — Que ano isso?
Olívio — Isso já em 1968, acho que já era depois do AI-5.
Poti — Golpe do golpe.
Olívio – É.
Antônio Oliveira — Como era o nome do prefeito, tu lembra?
Olívio – É João Belchior Marques Goulart. É nome de escola (este é o nome do ex-presidente João Goulart, o Jango. O prefeito chamava-se João Belchior Goulart Loureiro e dá nome a um ginásio de esportes).
Igor — E por que do revólver?
Olívio – Porque ele achou que o que eu escrevi no jornal era…
Milton — Libertário.
Olívio – Um desaforo, né
Milton — Subversivo.
Olívio — É, e foi dentro do Banco. (Eu disse:)“Mas se o senhor tem assunto pra conversar comigo nesse teor, então temos que conversar ali fora, na frente do Banco”. (Ele disse:) “Não, mas o senhor me acompanhe”. Eu digo: “acompanho mas…”. E o carro dele estava ali; tinha motorista e tal. E eu fui (no carro do prefeito) para a direção do quartel. Eu digo: “a troco de que o senhor está me levando nessa direção? Não tem nenhuma autoridade e não vou me submeter a isso daqui.” Pedi pro cara parar o carro para descer. Desci por um lado; ele desceu pelo outro com o revólver na mão. Aí me lembro que teve gente lá que viu aquele negócio. Ele se foi e eu voltei a pé pro Banco.
(risos)
Olívio – Mas no dia seguinte, naquele mesmo dia, já estava lá uma transferência, e caso não aceitasse a transferência, uma demissão. Só não me demitiram porque eu não tinha entrado nessa conversa do FGTS, te lembra? O FGTS foi criado para acabar com a estabilidade, e eu não tinha optado. Só fui optar muito mais tarde (O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS foi criado pela Lei 5.107, de 13 de setembro de 1966). Mas aí, então é isso. Venho pra Porto Alegre, porque se eu ficasse tinha uma indisposição com os poderosos.
Igor — O clima não era nada bom.
Olívio – Uma indisposição com os caras do poder local. Então conversamos com o povo nosso, os estudantes (e dissemos): “é isso aí”. E aí que chegamos em Porto Alegre, em maio de 1970. Já faz 41 anos que eu estou aqui em Porto Alegre, e moro no mesmo lugar, no mesmo prédio, no mesmo apartamento ali na Assis Brasil 280, apartamento 420. Criei dois filhos ali, um casal de filhos num apartamento de dois quartos.
Milton — Mas o senhor casou quando?
Olívio – Eu casei lá em São Luiz Gonzaga.
Antônio Oliveira — Já estava casado.
Olívio – Claro.
“A Judite é um amor antigo. Ela é filha de agricultores de origem alemã”
Poti — Quando desse episódio com o prefeito o senhor já estava casado?
Olívio — Claro, nesse episódio que eu falei já estava casado. O Espártaco nasceu lá em São Luiz, a Laura não, ela nasceu aqui. E a Judite é um amor antigo.
Rachel — Mas na época da União dos Estudantes ela não existia. Quando é que surgiu?
Olívio – Não, ela existia. Esse colégio, o Ginásio Santo Antônio de Pádua, era a uma quadra da Praça Central, a duas quadras da Igreja. A Judite, que é filha de agricultores de origem alemã, veio do interior do Rolador, hoje um município autônomo. Mais precisamente da localidade chamada Passo da Quaresma, que fica na barranca do rio Ijuí. O pai dela, seu Alfredo, era proprietário com 11 filhos, numa área de 42 hectares. Uma área de terras dobradas, difícil de trabalhar. Mas ele plantava pra subsistência. Me lembro bem que plantava alfafa. Naquele tempo o quartel era cavalaria, então os agricultores daquela região ganhavam bem, sabendo que tinham pra quem vender, produzindo alfafa. O que hoje é soja, naquela época era alfafa. Tinha alfafa, milho e, claro, aquelas coisas de subsistência. Criava porquinhos, galinha, vaca de leite. Então era uma pequena família de 11 filhos numa terra de 42 hectares, grande parte de área dobrada nas barrancas do rio Ijuí. E a Judite tinha uma irmã mais velha que já estava trabalhando na cidade, numa casa de gente rica da cidade, que era na frente do ginásio Antônio de Pádua. E ela foi então com a irmã dela, que já estava nessa casa e trabalhava meio de gerente de uma loja de confecções. Hoje não existe mais. Então, ela levou a Judite lá pra Judite trabalhar nessa casa também e estudar no colégio de freiras salesianas, duas quadras dali. E foi ali que eu conheci a Judite, porque eu era semi-interno naquele colégio ali, na frente. No outro lado da rua era a casa dessa família onde ela trabalhava e aparecia num balcão. Não sei como chama, numa sacada, e eu lá embaixo…
Rachel — De olho.
Olívio – É, de olho no outro lado da rua, no jardim dos padres. E é isso, e ia na missa, a primeira missa… É aí que nos conhecemos. Mas isso durou oito anos. Namoramos oito anos. Depois um ano de noivado e casamos. Então é isso, casamos depois de nove anos de sequência. Naquele tempo também a gente não se via todo dia, às vezes nem toda semana, passava duas, três…
Poti – Namorava no sofá lá na casa do seu sogro.
Olívio – Não, (ele) morava pra fora; não tinha como ir lá. Tinha que ir de ônibus. Depois, quando já estava no Banco, comprei uma lambretinha. Fiz um empréstimo, um financiamento e comprei uma Lambreta, pra vim lá de casa no Banco. Mas não tinha calçamento; quando chovia, não podia. A Lambreta não anda no barro.
Olívio – Outras ocasiões, quando ia lá (na casa da Judite) e caia uma chuva, digamos sábado, eu posava lá e, no domingo, tinha que voltar porque segunda tinha que estar no batente. Bah! Teve ocasiões que chovia e formou barro e lodo e os rios saiam da caixa. E como é que eu ia sair de lá? Aí os meus cunhados (diziam:) “nós vamos sair bem cedo de madrugada de carroça”. E eu colocava a Lambreta numa carroça puxada a boi e ia lá de onde eles moravam, nos fundões da barranca do Ijuí, até uma estrada um pouco melhor, por onde passava o ônibus. Se desse pra eu vim de bicicleta… de Lambreta pegava. Senão, eles levavam (a lambreta) de volta e eu pegava o ônibus. Então era isso. Nós nos víamos muito pouco; talvez isso tivesse feito resistir…
Milton — Como é que foi tão rápido? Em 1975, o senhor já era presidente do sindicato. Como é que foi esse período?
Olívio – Aí, então, em 1970, eu chego com essas experiências já. Acho que já estou me demorando…
Milton — Já deu um contexto.
Olívio – …me demorando demais nesses relatos.
“Em Porto Alegre, na agência mais periférica da rede do Banco”
Antônio Oliveira — Em Porto Alegre, foste trabalhar em uma agência central logo?
Olívio — Eu fui transferido nessas condições e me colocaram na agência mais periférica da rede do Banco aqui em Porto Alegre. E, naquela época, a mais periférica era a agência ali na esquina da Francisco Trein com a Assis Brasil. Na frente tinha a Varig funcionando.
Milton — O Sindicato dos Metalúrgicos.
Olívio – Isso. E perto do Hospital Cristo Redentor, e tinha aquelas carrocerias Eliziário que depois o Martins comprou e agora é Marcopolo (A empresa Carrocerias Eliziário foi vendida por seu proprietário, Eliziário Goulart, em 1969, para os irmãos Dorval e Paulo Nicola, do Grupo Nicola que, em 1971, passou a se chamar Marcopolo S/A). Então eu vim. Primeiro tinha que vir solito. Digo: “Judite, tem que ser assim, porque tenho que arrumar onde é que nós vamos morar”. Tinha que chegar lá e alugar, ver onde é que eu vou trabalhar e conhecer bem. A Judite era professora do Estado. Ela se formou e passou no concurso e foi lecionar. A Judite também passou um sacrifício, porque, antes de casar comigo, ela foi lecionar sabe onde? Na Coudelaria do Rincão. Coudelaria do Rincão é um enorme latifúndio do Exército lá perto de São Borja, onde eles têm os cavalos; fazem criação de gado e de cavalos. E também serve para manobra do Exército, de exercício. Eu servi o Exército e estive fazendo manobra naquele local. Então a Judite, professora primária, a primeira escola pública que ela foi lecionar foi lá nesse fundão. Ela tinha que morar na escola junto com as outras colegas da Coudelaria do Rincão. Mas isso antes do casamento. Depois de casada, claro, viva, foi transferida para lecionar em São Luiz Gonzaga. Nós morávamos, digamos, no Norte (da cidade), e o colégio que ela lecionava ficava no Sul. Então, pra ir da nossa casa pro Centro, ela tinha que subir. Depois, pra ir de lá pra escola tinha que descer, porque é uma coxilha né. Cidades missioneiras são sempre assim. E nós morávamos na periferia, logo nós morávamos embaixo, tinha que subir, o colégio estava lá na outra periferia…
Poti — Tinha que cruzar.
Olívio – Tinha que cruzar. Aí quando nós chegamos (em Porto Alegre) … Eu vim e consegui aquele apartamento, até porque aquele pessoal (lá da agência) disse: “olha, colega, eu estou sabendo que tem um colega nosso que mora ali na Cairú, que foi premiado com um apartamento num prédio aqui na Assis Brasil, logo aqui perto, onde tem a agência do Banrisul ali”. Era a agência Passo d’Areia, e (eu) estava falando com o pessoal da agência Cristo Redentor. Então, (fui) naquele prédio lá. Digo: “então posso falar com ele lá?”. (Ele) Disse: “pode, te dou o endereço e tu vai lá e tal”. E aí conversei com ele. Era boa pessoa, familiar, uma família grande, que morava ali na Cairú quase com a Farrapos, e ele realmente tinha sido sorteado. O banco financiou a construção daquele prédio, o Mário Trindade. Foi o primeiro prédio construído com o financiamento do antigo BNH. Então, o construtor pegou financiamento do banco e depois se deu mal: terminou a construção, não por completo ainda, e o Banco sentiu que a coisa não estava bem, que o cara não ia pagar ou vender. E o Banco rapidamente se agilizou: fez outros credores. O Banco se pagou com a área onde ele foi instalar a agência e (tinha) seis apartamentos lá, no conjunto 218. Seis apartamentos ali. O Lazzari, esse meu colega, tinha sido sorteado. O Banco sorteou entre os funcionários mais antigos, mais afamiliados como se diz da pessoa da família. E o Lazzari se inscreveu, preencheu os requisitos e foi um dos sorteados lá. Mas claro que tinha que pagar o financiamento do BNH (Banco Nacional de Habitação, criado em 1964 e extinto em 1986). Então ele estava pagando lá e tinha que pagar o apartamento em que ele morava. Estava pesado pra ele. Então, paguei pra ele a transferência pra mim. Paguei em prestação a transferência. E continuei pagando a prestação pro BNH. Tinha duas prestações pra pagar do apartamento. Não é fácil.
Rachel — Não tinha Minha Casa, Minha Vida.
Olívio — Não, não tinha Minha Casa, Minha Vida. E a gente se instalou ali e criamos nossos filhos. E a Judite foi lecionar na Vila Santa Rosa. Lá, na Vila Santa Rosa. Ficou lá por três anos lecionando. Bom, aí eu fui colocado ali nessa agência Cristo Redentor, a mais periférica de toda rede. Não tinha ainda a da Wenceslau Escobar que é na Tristeza. Agora o Banco tem até na Serraria. Tem lá em…
Poti — Belém.
Olívio – Em Belém tem.
Poti — No Lami.
Olívio – Tem lá naquela vila lá …
Poti — Itapuã.
Olívio — Lá depois do… quem vai pro Lami, antes, tem um enorme conjunto habitacional…
“Era o tempo em que questão social era caso de polícia”
Poti — Restinga.
Olívio – É a Restinga. Então hoje tem, é claro, muito mais longe, mas naquela ocasião era a mais longe. E eu me enturmei já, e já tratei de me sindicalizar. Seu Antônio Luiz — eu me lembro bem — era a cara do Khrushchov (Nikita Serguêievitch Khrushchov, secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética de 1953 a 1964. No XX Congresso do PCUS, em 1956, acusou Josef Stalin de crime de genocídio). Chegava no Banco com um sobretudo e percorria as agências em que, ele sabia, estavam chegando bancários transferidos ou admitidos. Ele ia lá com a proposta… Seu Antônio Luiz, quando eu cheguei, já estava com setenta e tantos anos e ia lá com materialzinho sindical e com proposta de filiação e tal. Ele tinha sido dirigente sindical. Tinha sido bancário. Mas antes, ele tinha sido motorneiro de bonde, da antiga Carris. Então ele tinha histórias interessantíssimas, que eu gostava de ouvir, do sindicato, do tempo da ação direta. O pessoal da ação direta, o pessoal anarquista, que era a base do movimento sindical, e que estavam mais na área da ação, na área do transporte, particularmente de bonde. E o velho Antônio Luiz contava boas e diversas situações de como se dava a solidariedade entre uns e outros. Coisas incríveis, Ele (era) motorneiro de bonde, e a polícia andava atrás. Eles tinham jogado uns cartuchos de dinamite nos trilhos do bonde, E não era da categoria dele, porque a categoria dele não estava em greve. Mas eles tinham que parar os bondes e a polícia, claro… Era o tempo em que questão social era caso de polícia.
Igor — Eram criminosos.
Olívio – E o Antônio Luiz contava situações horríveis. Esse era o seu Antônio Luiz. Se recolhessem depoimentos, (daria) a biografia dessa figura.
Milton — O senhor ficou amigo do Khrushchov?
Olívio – Eu fiquei. Ele ficou muito meu chapa. Ele era um cara que percorria os bancos e, claro, que ele ganhava um dinheirinho por conta de…
Antônio Oliveira — Fazia a cobrança…
Olívio – Isso. Fazia a cobrança e tal. Foi através do seu Antônio Luiz, um bancário aposentado, com mais de setenta anos (que me sindicalizei). Eu acho que ele tinha quase oitenta, quando eu cheguei em Porto Alegre. Eu acho que ele morreu com quase cem anos. E era a cara do Khrushchov. Aí então me sindicalizei e vinha no sindicato. Saia de lá da agência, pegava um ônibus e vinha direto ao Centro; passava por dentro do Mercado (Público), estava quase caindo o Mercado, e subia e ia lá na…
Antônio Oliveira — Rua da Praia, né?
Olívio – Era no edifício Cacique ali, é Rua da Praia.
Antônio Oliveira — Quase esquina com a Caldas Junior.
Olívio – Era ali no Hipólito…
Rachel — Hipólito José da Costa (Museu de Comunicação).
Olívio – É isso, bem do lado do Museu ali. Edifício Cacique, 11º andar, ali era a sede do sindicato na época. Depois, nós adquirimos uma sede ali na Galeria Malcon e depois essa sede na General Câmara. Eu conheci o sindicato, a primeira sede do sindicato, a mais antiga, era no edifício Bier Ulmann, ali na rua Uruguai com a Siqueira Campos. Ali naquele prédio foi a primeira sede do sindicato. Bom, aí eu não deixava de vir no sindicato. O pessoal da minha agência dizia: “Olívio, tu é um cara que traz coisinhas do sindicato. Não sei se tu é comunista. Esses comunistas são um perigo. Tu não tem medo de ser preso?” (Eu respondia:) “Não, não”.
“Sou um comunista mais de coração, de sentimento”
Igor — E o senhor era comunista naquela época?
Olívio – Não.
Igor — E como foi o processo de o senhor virar um comunista?
Olívio – Olha, eu sou um comunista mais de coração, de sentimento, na ideia do comunismo como uma partilha não só de bens materiais, mas da convivência, fruição dos bens da vida, de forma não personalista, pessoal. Esse é o meu sentimento. Sou um comunista de sentimento. Mas nunca fui filiado organicamente. Teve — talvez seja bom também (dizer) nas rememorações — uma ocasião em que um tio meu — é vivo ainda o tio Pedro Beis (faleceu há poucos dias, depois da entrevista, aos 94 anos), irmão da minha mãe, irmão mais velho da minha mãe. Deve estar com noventa e poucos anos. Eu era guri, em São Luiz Gonzaga. Nós morávamos nessa periferia da cidade. Morávamos desse lado da rua e o tio Pedro Beis morava do outro lado, nas casinhas humildes. Então, o tio Pedro Beis era gaioteiro. Gaioteiro (é aquele) que tem uma carroça de duas rodas, daquelas puxadas por um cavalo. E ele prestava serviço pra uma loja, que era a Casa Verde, lá no Centro, entregando os ranchos que as pessoas compravam lá. Ele ia entregar naquela gaiota. Colocava ali e levava na casa das pessoas. Era empregado daquela loja.
Milton — Gaioteiro?
Olívio — Gaioteiro. Claro, ele tinha aquele cavalo dele, que ele tinha que dar boia, tinha que dar água. Então, nós andamos muito naquele cavalo. Meus primos e nós nos encarregávamos de montar no cavalo e ir no banhado ali embaixo — nos fundos da casa da gente tinha um banhado — pra dar água pro cavalo do tio Pedro. E também trazer pasto, né. Então, uma parte da infância da gente foi isso. Mas lá um dia, o tio Pedro Beis não vem pra casa e a tia Dolzira ficou preocupada. Falou pra minha mãe: “não sei o que está acontecendo com ele”. Até que veio o delegado, o inspetor, na casa e disse que o tio Pedro Beis estava preso. “Preso? O que ele fez?” Foi preso lá na Praça da Matriz colando cartazes. Isso em 1954, antes do suicídio do Getúlio. Depois é que a história se esclareceu. O tio Pedro Beis, que era o Pedro Goela, que minha mãe chamava, minha mãe tinha discussões com ele. Tinha com outros também. Só que os velhos eram do PTB e ele também. Só que ele era do PTB, mas estava na periferia do partido. Era comunista e a gente nem sabia. Mas, tinha uma célula do partidão, que era uma célula mais do pessoal que morava no Centro: advogados, um ou outro classe média ilustrada e tal. E o tio Pedro foi trazido por esse povo. Ele, cumpridor de tarefa. O PC tinha uma divergência com o Getúlio naquela época. Tinha umas críticas duras ao Getúlio e expressava isso em um material que o Pedro foi destacado pra ir colar. (Devia colar) aqueles cartazes nos postes da Voz Alegre. Ali era uma espécie de radiação de notícias. Em cada canto da praça, tinha um poste com alto-falantes. Então lá da rádio ligavam aqueles alto-falantes. Lá de casa, que era 12 quadras da praça, a gente ouvia as notícias. Um troço que vale. As pessoas ficavam perto daquele poste e vinham. Era um ponto de referência. E o Pedro, em uma madrugada, foi colar cartazes no poste. Colou em um, colou em outro. Ocorre que na frente ficava o clube Harmonia, que era um clube mais grã-fino da cidade. As autoridades ficam lá, carteando, e o promotor, na época, saiu de uma carteada dessas e (o tio Pedro) foi pego pelo próprio promotor, colando. O promotor deu voz de prisão pra ele.
(risos)
Olívio – Bom, mas e daí, como é que a família ia sobreviver e tal? Claro a minha mãe e nós, os pobres tudo ali, nos cotizávamos e tal, pra não deixar faltar comida pra família e ir levar boia pra ele na cadeia. Levei a viandinha de boia pro tio Pedro lá na cadeia da cidade. Na ocasião, me lembro, final de semana, a família ia lá pra visitar o parente na cadeia. E ali tinha uma cela em que estavam presos contrabandistas. Naquela época tinha, também, uns falsificadores de dinheiro. Na frente (da cadeia) tinha um carro — pra época era carro de luxo –, gente bem-vestida pra ir visitar aquelas figuras que estavam ali. E nós naquelas nossas roupinhas pra ir ver o tio Pedro lá. “O tio Pedro vai morrer na cadeia, quem é que vai vim defender?”, minha mãe perguntava: “Mas meu irmão não matou, meu mano não roubou, como é que o homem está preso? Esses aí eu acho que até mataram, esses roubam, esses falsificam, estão aí, vão sair, têm dinheiro, têm advogado. Meu irmão não matou, não roubou e não temos dinheiro pra pagar advogado”. Até que um dia chegou, numa dessas visitas, um advogado famoso na região de Santiago, um criminalista, e disse: “quem são os parentes do seu Pedro?” Minha mãe: “eu sou imã, aquela é a esposa” e tal. E diz ele: “eu vim aqui defender o seu irmão”. E deu o nome e minha mãe disse: “mas o senhor é um advogado de fama. Nós não temos dinheiro pra pagar”. (O advogado disse:) “Mas eu não estou vindo aqui por conta de dinheiro, dona Amélia. O seu irmão está amparado pelo nosso partido, o Partido Comunista.” Ô! A minha mãe…
(risos)
Igor — Deixa preso.
Olívio – Não, a minha mãe passou a dizer: “O meu irmão não matou, o meu irmão não roubou, e tem gente que se dispõe a defender, então nós estamos tudo comunista”. E aí era o Danton, um advogado famoso de Santiago, criminalista, ficou famoso tribuno e tal. Bueno, ele liberou o tio Pedro, e aí o tio Pedro ia ficar fazendo o quê lá em São Luiz? Comunista…
(risos)
Olívio – …quem é que ia dar emprego pra ele? O tio Pedro também pegou a família e as trouxinhas. Colocaram tudo num trem e vieram pra Porto Alegre, morar na Dona Teodora, ali no Navegantes. Situação das mais difíceis. Ele passou a trabalhar na TJ, indústria de importação e exportação de papel e coisas assim. TJ não sei das quantas. Acho que nem existe mais. Então, enquanto isso…
Antônio Oliveira — T. Janér.
Olívio — T. Janér. É a T. Janér. Meu tio veio a ser empregado ali, no almoxarifado, essas coisas assim. Eu conto isso por quê? Porque, quando houve intervenção no nosso sindicato, em 1979, e eu fui preso junto com outros pela Polícia Federal, lá um dia o custodiante dos presos veio dizer, com respeito assim, um carioca, boa gente: “O senhor sabe seu Olívio, tem uma pessoa que diz que é seu parente que veio lhe ver aqui.” “Como é o nome dele?” “Seu Pedro Beis, como o senhor é Dutra..”.
Milton — É Bes?
Olívio — Beis, B-E-I-S. Mas, levaram até meu tio, tio Pedro Beis, que eu não via há muito tempo. Disse: “olha meu sobrinho, eu vim aqui te trazer um cigarro, porque o tempo que eu fui preso tu levou uma vianda de boia pra mim”.
(risos)
Olívio – Ele era da periferia do Partidão, né. Depois daquilo (a prisão), ele estava mais que crente dessa religião. Me lembro de conversas. Meu pai sempre muito quieto. Tinha posições, mas não externava. Minha mãe externava posição. Minha mãe escutava rádio. E o tio Pedro discutia com ela. Minha mãe defendendo o Getúlio, o trabalhismo e o tio Pedro dizendo: “olha, não se iludam, não se iludam porque esses caras (são) tudo gente do dinheiro, fazendeiro. Nós não temos nem fazenda, nem dinheiro e nem emprego. Eles se ajeitam lá e nós levamos ferro aqui”. (Minha mãe dizia:) “Não, mas não, o Getúlio é isso…”. (E ele:) “Não Amélia, a gente não pode se iludir e tal.” São as conversas que eu me lembro, que tinha naquela periferia de mundo, naquela ocasião da minha infância. Bom, então, vejam que eu estou mais voltando pra trás do que…
(risos)
Olívio – Então sou um militante da base do sindicato. Isso em 1970. E, ao mesmo tempo, me preparo pra fazer vestibular, porque eu saí daquela luta por aquela escola e aquela escola precisava de professores e eu não tinha formação de professor né. Eu digo: “não, mas essa luta vai continuar, e eu posso ser convocado pra ela. Então, quero estudar, aproveitar que estou aqui”. E fiz vestibular direto pra fazer Língua e Literatura Inglesa por conta dessa pequena experiência.
Poti — O senhor tinha vontade de ser professor?
Olívio – Era, por conta daquela experiência. Tinha sido professor naquela escolinha que a gente instalou. Não tinha como não ser. Era gratuita a escola. Claro, tinha que funcionar num colégio público. Era gratuita. Não tinha dinheiro pra cobrar, não tinha como cobrar dos alunos. Portanto, não tinha como pagar professor. Então, era mais um trabalho de consciência assim. Hoje elas são pagas. Por isso têm o nome de Escolas da Comunidade. São boas escolas. Algumas. A maioria, eu penso. Tratei, então, de fazer vestibular pra isso, por conta dessa perspectiva e tal. Minha fonte de renda, meu trabalho profissional, era bancário. Então, o meu expediente começava às 12h30 lá nessa agência da Francisco Trein com a Assis Brasil, 12h30 tinha que estar lá, e o curso era aqui na Paulo Gama, perto da Reitoria.
“Demorei mais um ano do que minha turma original pra fazer o curso”
Poti – Na Filosofia.
Olívio – Instituto de Filosofia, Ciências e Letras ali. Se não fosse ali não podia ter feito. Então, eu pegava um ônibus lá na Assis Brasil e descia ali na Farrapos com a Barros Cassal, perto da Igreja da Pompeia. Então, subia a Barros Cassal e descia lá, atravessava a Oswaldo Aranha e ia na Paulo Gama. Era sempre um dos primeiros, senão o primeiro a chegar na aula, porque a última aula não podia pegar, tinha que sair mais cedo de lá.
Milton — Tinha que sair correndo.
Olívio — Tinha que sair correndo, porque nem boia podia pegar. Portanto, demorei mais um ano do que minha turma original pra fazer o curso, mas fiz. Isso em setenta. Ao mesmo tempo, atuava no sindicato. De noite né, depois do expediente, ia pro sindicato; tinha reunião. Essa é uma questão também séria: o primeiro contato que eu tive com a base do sindicato, com o pessoal que já tinha alguma referência sobre mim, de uma área meio que da Igreja, esquerda e tal, tinha dois bancários presos. Um era o Valneri. Te lembra do Valneri? O Valneri foi vereador do PDT aqui, mas foi cassado. Mas antes o Valneri era bancário. Então, em 1970, quando cheguei aqui, o Valneri estava preso e era da direção do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre (Valneri Antunes, ex-presidente do Sindicato dos Bancários, foi preso em 1968, e eleito vereador de Porto Alegre, pelo PDT, em 1984, tendo sido cassado. Hoje é nome de rua, escola e praça). Tinha sido preso por ser um agitador bancário. Tinha o outro, que era secretário da Federação dos Bancários, que é… sempre me esqueço o nome dele, mas hoje é um alto executivo do Santander. Então estavam esses dois presos. Incomunicáveis. Aí aquele pequeno grupo diz: “olha, esses dois estão presos pela ditadura e não se sabe o que está acontecendo com eles. E isso precisa ser denunciado e nós temos que construir essa coisa toda”. Foram torturados. E aí estavam presos e nós dissemos: “pôxa, e o sindicato? O sindicato não tem feito nada”. Então, nós já tínhamos uma indisposição com o sindicato. O presidente era o Luiz Carlos Mazuhy Cunha, uma boa pessoa, um cara do Banco do Brasil, e acho que (era da) periferia do Partidão. Mas, eu não conhecia. Não conhecia nem o sindicato, nem a direção. Estava tomando pé naquela situação e entrando de corpo inteiro pra organizar uma denúncia sobre aquelas duas prisões. Fizemos muitas reuniões. E eu sem conhecer a cidade, sem conhecer o ônibus que tinha que pegar pra ir aqui, pra ir ali, pra fazer uma reuniãozinha semiclandestina, pra organizar um texto que denunciasse aquelas duas prisões. E, depois de produzir aqueles textos, como imprimir? Como fazer chegar na categoria? Então foi um tempo que… Mas, foi possível.
Nós pegamos a lista telefônica e pegamos todos os endereços das agências de banco aqui de Porto Alegre. Depois pegamos envelopes em branco, e uma máquina velha. Passamos uma semana datilografando com os endereços das agências bancárias, em duas, três máquinas diferentes. Depois, nós distribuímos em diferentes pontos da cidade para entregar no Correio. Fomos nas agências de periferia e tal. Colocamos para cada agência, dependendo do tamanho que nós calculávamos para aquela agência, um número maior de folhas. E eu trabalhando na agência. Estava ainda lá na Cristo Redentor. Era o seu Calegaro o gerente. Ele me respeitava muito, porque eu sempre fui de cumprir horário, fazer bem as tarefas. O meu trabalho sempre foi elogiado, né. O gerente me chamava para ser o redator de correspondência e tal. E, claro, eu recebia a correspondência e distribuía. Aí chega aquele envelope (e eu disse:) “seu Calegaro, também tem esse envelope; chegou aqui, junto com outro”. Entreguei pra ele e fiquei né (esperando); aí o seu Calegaro diz: “olha, essa correspondência aqui está meia… Mas, tudo tem cara do sindicato entrega aí pras pessoas que acho que elas têm que ler”. Aí, eu entreguei.
(risos)
Olívio — Aí eu desci. Passei em outro banco na Assis Brasil. Tinha três ou quatro agências (no caminho) antes de chegar em casa, e tive ocasião de ver se tinham recebido ou não. Em algumas, o gerente simplesmente tinha horror. Botava no lixo como se estivesse pegando fogo nas mãos dele.
Olívio – Eu continuei trabalhando no Banco e estudando. Sei que chega um tempo lá (em que) os três diretores antes de mim efetivos, ou quatro, fizeram acordo com o Banco. Foram fazendo. Naquela época os caras queriam se resguardar do sindicato né, para depois não serem demitidos dos bancos. Estavam querendo sair por uma outra, então fizeram acordo com o Banco. Aí o Mazuhy (presidente do Sindicato) disse: “olha, tu é o quarto suplente, e não tem mais (ninguém) aqui. Tu vai ter que assumir e tal”. Aí que eu assumi naquela área de comunicação do Sindicato. A partir dali, nós trabalhamos “O Bancário” (jornal do Sindicato), feito lá pela cooperativa (Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre), e começamos a estabelecer uma relação e a fazer as circulares do Sindicato ser mais atrativas para ser lidas, debatidas, (fazendo) deseínho e tal. Já tinha também a experiência que comecei a ter com o Lula (Luiz Inácio Lula da Silva) — a gente se conheceu em 1975. Também acho que no país já estava começando a ter algum respiro por conta de uma série de coisas. Depois na próxima eleição, em seguida, um ano depois de isso aí, encabecei uma chapa. Encabeçamos uma chapa e apareceu uma chapa… uma chapa…
Antônio Oliveira — Uma chapa de oposição.
Olívio – Não, não de oposição.
Antônio Oliveira — Não?
Olívio — Não, eu não fui oposição ao Mazuhy. Mas tinha uma área daquela direção que não queria nada com o pastel. Muito escagaçada, muito com medo das coisas. E tinha um setor da base que era de centro-direita, de direita escondida, que veio pra eleição e foi derrotada. Aí as coisas vão se desdobrando, se desabrochando o sindicalismo de base que nós sempre propugnamos e começamos a colocar em prática. Aí que eu vim ter a resposta para aquela pergunta que ficou me martelando na cabeça: “por que lá, em 1962, naquela greve, nós fizemos uma reunião pra participar da greve, decidir, e dois dias depois ela terminou sem nenhuma consulta, sem uma nova reunião?” Eu perguntava pra um pessoal mais antigo, pra um colega meu, por sinal já falecido, bela pessoa, o apelido dele era Pelegão.
Igor Natusch — Por que será?
Olívio – Porque ele era…
Rachel — Ah ele que te deu a resposta né? Está certo.
Olívio – É, foi o Pelegão quem me deu a resposta. O apelido dele era Pelegão. O Pelegão vinha para a zona do sindicato, mas ele também era bancário, profissional. Bancário de terno e gravata. Fazia questão disso. Não sei qual era a ligação ideológica e partidária (dele), mas eu acho que ele também era de uma área de periferia do Partidão. O Pelegão vinha pras assembleias e o pessoal, lá na agência dele, da mesa ali do lado, no outro dia, perguntava pra ele: “e aí, o que aconteceu na assembleia? Qual foi a decisão?” E ele ficava (dizendo:) “pô! Por que vocês não foram? Não faltou convite. Tem que ir. Vocês são tudo uns pelegos”. O pessoal carinhosamente começou a chamar ele de Pelegão.
(risos)
Olívio – E ficou com esse apelido carinhoso de Pelegão. Ele era querido do pessoal.
“Se alguém puxasse a nossa gravata, de tão mal que nós estávamos, era capaz de dar descarga”
Rachel — O senhor não tinha apelido?
Olívio — Não.
Rachel – Não?
(risos)
Olívio – Não, não tinha não. Esse pessoal que eu estou falando era um pessoal mais antigo né, que eu vim conhecer aqui. O Pelegão era essa pessoa. Eu disse: “Pelegão, me diz por que aconteceu aquilo?” E o Pelegão diz: “olha, Olívio, seguinte: nós fizemos uma reunião, e os bancários estavam tão mal, que a gente passava de gravata na Rua da Praia no final de expediente com a canetinha Bic, dando as nossas palavras de ordem, mas eu te confesso: se alguém na beirada da calçada puxasse a nossa gravata, de tão mal que nós estávamos, era capaz de dar descarga. A situação estava tão mal, mas nós tínhamos que andar de gravata. Mas se alguma pessoa puxasse
Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES