Secom estuda como distribuir publicidade a veículos regionais e comunitários

A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, que agora também comanda a distribuição da publicidade do governo federal, anunciou que abrirá um debate sobre como criar critérios objetivos para atingir veículos regionais, comunitários e educativos.

 

Atualmente, os índices de audiência e circulação disponíveis excluem, por exemplo, emissoras de televisão regionais ou rádios comunitárias. O objetivo da secretaria é buscar formas de medir o retorno da publicidade para esse público como forma de concretizar uma política de democratização da comunicação.

 

Atualmente, a distribuição da publicidade é feita por meios de índices que medem audiência no rádio, na televisão e na internet, além da circulação de exemplares para mídia impressa (jornais e revistas). Em entrevista à Agência Brasil, o sub-chefe executivo da secretaria, Ottoni Fernandes Jr., explica que esses indicadores de alguma maneira excluem veículos menores.

 

“Um exemplo, se você usar o Ibope [instituto de pesquisa], você exclui TVs menores regionais, que podem ser comerciais. E o que Secom está procurando, em conjunto com as estatais e ministérios, é construir critérios novos. Como atender as demandas de TVs regionais?

 

Elas têm uma audiência tão baixa que o Ibope não consegue captar. É uma coisa que estamos discutindo, mas tem que ser construído um critério”, diz.

 

Fernandes Jr. defende que o critério inclua preceitos básicos como verificação da audiência, mediação do retorno da publicidade e respeito à legislação tributária. “Isso pode estar na discussão da construção de um critério e passar a incentivar uma distribuição de uma parcela das verbas para esse tipo de mídia”, explica. “É uma discussão que vamos fazer com a sociedade, com as organizações que representa movimentos regionais, como as TVs comunitárias.”

 

O sub-chefe executivo ainda ressaltou que as novas regras precisam dar “segurança” para os gestores públicos para investir os recursos públicos. “Segurança de que estamos colocando dinheiro em uma mídia que tem o alcance desejado e está fortalecendo a democratização dos meios de informação, que também deve ser o objetivo da política de governo. Quanto mais você puder ter canais de veiculação, seja por televisão, rádio, internet, mídia impressa, que expressem a diversidade regional, social e política do Brasil é importante para o fortalecimento democrático”, diz.

 

Um balanço apresentado pela Secretaria de Comunicação Social mostra que, em 2006, o governo federal gastou R$ 1,015 bilhão em publicidade, um aumento de 5,48% na comparação com o ano anterior. Segundo Fernandes Jr., esse aumento se deve ao crescimento dos investimentos das estatais, que representam 76% do total.

 

Fonte: Agência Brasil

Leonardo Boff e Ratzinger: velhos conhecidos

A condenação de Boff em processo conduzido pelo então cardeal Ratzinger completa 20 anos; a única que coisa que mudou é que ele virou papa


Marcelo Netto Rodrigues


 


O alemão Joseph Ratzinger, hoje papa Bento XVI, é um velho conhecido do teólogo Leonardo Boff. Em setembro de 1984, na condição de cardeal e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – novo nome dado ao antigo tribunal da Inquisição –, Ratzinger conduziu o interrogatório que culminou com a condenação de Boff a um ano de “silêncio obsequioso”, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro “Igreja: Carisma e Poder”.


 


À época, Boff foi obrigado a sentar-se na mesma cadeira que Galileu Galilei sentou 400 anos antes. E escutou de Ratzinger as seguintes palavras: “Eu conheço o Brasil, aquilo que vocês fazem nas Comunidades Eclesiais de Base não é verdade, o Brasil não tem a pobreza que vocês imaginam, isso é a construção da leitura sociológica, ideológica, que a vertente marxista faz. Vocês estão transformando as Comunidades Eclesiais de Base em células marxistas”.


 


Dom Paulo Evaristo Arns, que acompanhava Boff no tribunal, retrucou no momento apropriado. Referindo-se a um documento que, havia saído três dias antes, condenando a Teologia da Libertação, disse: “Cardeal Ratzinger, lemos o documento e ele é muito ruim. Não o aceitamos porque não vemos os nossos teólogos dizendo e pensando o que o senhor diz da Teologia da Libertação. Se quero construir uma ponte, chamo um engenheiro, e o senhor, para construir a ponte, chamou um gramático, que não entende nada de engenharia”.


 


Mais de 20 anos após o encontro entre os dois no salão do Santo Ofício, no Vaticano, Leonardo Boff discorre em entrevista sobre quais seriam as reais razões que trazem – o agora – papa Bento XVI ao Brasil. Apesar do tempo, as motivações de Ratzinger, na opinião de Boff, continuam a ser as mesmas da época de sua condenação.


 


Brasil de Fato – Na realidade, por detrás do discurso oficial, em sua opinião, por que Ratzinger vem ao Brasil nesse exato momento?


Leonardo Boff –Com ou sem o papa aconteceria a 5ª Conferência dos Bispos Latino-Americanos que se realiza a cada dez anos. A reunião iria se realizar em Quito, no Equador. Mas quando o atual papa soube da espantosa emigração de católicos que ocorre cada ano rumo a outras denominações evangélicas de cunho carismático e popular decidiu fazer a reunião no Brasil. Seguramente, a intenção é sustar esta sangria no corpo católico. Talvez chegue a acusar o engajamento dos cristãos em questões políticas e sociais, como a principal causa desta emigração católica. Mas esta explicação representaria falta de auto-crítica. Onde há igrejas engajadas como em São Paulo a saída é bem menor do que onde está ausente esta dimensão como é o caso claro do Rio de Janeiro. Nesta Igreja, as Comunidades Eclesiais de Base foram perseguidas e os teólogos da libertação proibidos de qualquer atividade. Impôs-se uma Igreja rígida com os dois ouvidos voltados para Roma e longe dos miseráveis. Eu falei na diocese do papa em Roma, perto do Vaticano, mas nunca pude dar uma palestra sequer, em 20 anos de atividade teológica, no Rio de Janeiro por causa da pronta proibição de dom Eugênio, hoje já aposentado. A causa principal da saída dos católicos é a falta de inovação no seio da Igreja, é a rigidez dogmática de seus ensinamentos, é a falta de bom senso nas questões de moral e de sexualidade onde ela mostra um rosto cruel e sem piedade, é a proibição de se fazer qualquer criação no campo litúrgico, mesmo em se tratando de culturas diferentes como aquela dos indígenas e dos afro-descendentes. A maioria dos católicos não está mais sentindo sua igreja como um lar espiritual. Ou sofre e tolera com dor a mediocrização a que todos estão submetidos ou simplesmente abandona a Igreja. O papa deve enfrentar-se com esta questão. Temo que siga o caminho mais fácil de culpabilizar os outros e não fazer auto-crítica sobre o tipo de presença que a Igreja está tendo na sociedade.


 


O senhor acredita que Ratzinger irá aproveitar o simbólico 13 de maio – por coincidência mesmo dia em que João Paulo II sofreu o atentado em 1982 e dia de Nossa Senhora de Fátima para anunciar a beatificação de João Paulo II em Aparecida?


Boff – Não creio que fará aqui a beatificação de João Paulo II. Ele é um santo para os europeus, italianos, polones e os movimentos conservadores que sempre bajularam o papa. Lá é o ambiente adequado para a sua beatificação e santificação. Nós não contamos muito para o Vaticano, pois somos periféricos. Querem que cresçamos, mas desde que sempre submissos aos ditames emanados de Roma. Quer dizer, nos querem cristãmente colonizados e neocolonizados.


 


Sobre as declarações de dom Odilo Scherer de que a “Teologia da Libertação já passou”. O que o senhor teria a dizer a ele?


Boff – Suas declarações mostram o nível de desinformação e alienação que esse arcebispo tem a respeito das coisas internas da própria Igreja que ele, por profissão, deveria conhecer. Os teólogos da libertação que eram e são maioria no Brasil estão ainda vivos, produzem teologia e não se tem notícia que se tenham reconvertido à uma teologia distanciada do povo e da caminhada das comunidades. A Teologia da Libertação nasceu ouvindo o grito dos pobres e excluídos. Esses aumentaram no mundo inteiro. Bom seria se não existissem mais. Mas seu grito virou clamor. É o que faz com que a Teologia da Libertação mantenha vigência e continue pensando a partir dos crucificados para que possam ressuscitar. Se com o desaparecimento da Teologia da Libertação, como pensa o arcebispo de São Paulo, tivessem desaparecido também os pobres e os excluídos, então ele seria um sério candidato a prêmio Nobel de Economia. Conseguiu o feito messiânico de libertar a Terra de todos os filhos e filhas condenados e junto com isso libertado a Igreja da Teologia da Libertação.

 




 

Clique aqui e leia “A Teologia da Libertação vive. Por isso, Ratzinger vem ao Brasil”

Fonte: Brasil de Fato

A Teologia da Libertação vive. Por isso, Ratzinger vem ao Brasil

Principal objetivo é tentar frear o êxodo de fiéis na América Latina, região que abriga metade dos católicos do mundo; canonização de frei Galvão seria apenas um detalhe, na visão de teólogos da libertação, que acreditam que sua “opção preferencial pelos pobres” seja o verdadeiro alvo


 


Marcelo Netto Rodrigues


 


Pergunte a um católico comum por que o papa vem ao Brasil, e a ladainha será a mesma: “Bento XVI vem canonizar frei Galvão, o primeiro santo genuinamente brasileiro”. Tente perguntar a um leigo, e a sua resposta virá acrescida de uma sigla enigmática para os que não acompanham a história da Igreja: “Ele vem para a abertura da 5ª Conferência do Celam”. Agora, pergunte a representantes da Teologia da Libertação, e a jovial visita de Ratzinger transmuta-se em recado claro no qual frei Galvão é apenas o coadjuvante popular de um plano para conter o êxodo católico; e a Conferência, o palco principal para atacar os que vivem sob o prisma da “opção preferencial pelos pobres” – opção aliás germinada em Medellín (Colômbia), em 1968, durante a 2ª edição do encontro, e regada na reunião seguinte em Puebla (México), em 1979.


 


Bento XVI não escolheu o Brasil por acaso para sua primeira viagem ao continente americano como papa. Sua estadia, mesmo que curta, pode traçar os rumos da Igreja na América Latina para os próximos dez anos. Isso porque tradicionalmente a fala inaugural da Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (Celam) – que será feita por Ratzinger no mesmo dia em que deixa o país, dia 13 de maio – serve para demarcar o terreno das discussões, que desta vez serão travadas por 280 bispos que permanecerão reunidos em Aparecida até o dia 31 de maio.


 


E é justamente aí que entra a preocupação de Ratzinger, que pisará em território brasileiro pela terceira vez no dia 9 de maio – a primeira foi em 1985, logo após o processo contra o teólogo brasileiro Leonardo Boff, (leia entrevista ao lado), e a segunda, em 1990, para ministrar um curso a bispos brasileiros no Rio de Janeiro. Quase metade dos católicos existentes no planeta mora na América Latina. São 480 milhões de fiéis que pouco a pouco estão abandonado a Igreja Católica – de acordo com teólogos da libertação ouvidos pelo Brasil de Fato, por sua inteira culpa. E Ratzinger espera que sua fala tenha influência direta nas linhas de ação pastoral tiradas pelos bispos ao final do encontro.


 


Como curiosidade dessa batalha entre a Igreja Católica e as igrejas neo-pentecostais, basta dizer que a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, acaba de anunciar a distribuição de camisinhas para seus fiéis, seguindo o exemplo do que já tem sido feito pela própria Universal na África do Sul.


 


Tira-gosto


Essa linha de argumentação sustenta em parte a opinião do padre João Pedro Baresi, comboniano alinhado à Teologia da Libertação. “A vinda de Ratzinger faz parte de um plano em que a maior preocupação é com o êxodo dos católicos”, mas não só isso. Para Baresi, o papa também vai aproveitar a viagem para tentar “dar um basta à Teologia da Libertação” – já que Ratzinger credita à Teologia da Libertação a responsabilidade pela perda crescente de fiéis desde sua afirmação na década de 1960 enquanto teologia.


 


“O que o recém-empossado arcebispo de São Paulo dom Odilo Scherer disse dias atrás, de que o tempo dessa teologia passou, pode ser um tira-gosto disso”, acredita Baresi. E nesse contexto, a fala inaugural da Conferência do Celam é importantíssima para que o papa dê o seu recado. “A canonização de frei Glavão complementa o plano: “é a religiosidade popular católica usada para segurar o povo em êxodo.”


 


Ainda sobre dom Odilo, Baresi complementa:“Que ele documente a sua declaração. Segunda coisa, o que importa não é a Teologia da Libertação, mas a libertação, como sempre fala Gustavo Gutierrez. Se alguém tiver algo melhor que contribua para o compromisso da libertação à luz da da fé, que indique”.


 


Mas a declaração de Scherer não é a única pista deixada pelo papa atual no meio de seu trajeto à América Latina. A recente advertência do Vaticano ao jesuíta alinhado à Teologia da Libertação Jon Sobrino, que vive em El Salvador, soa como uma nova condenação de Ratzinger a essa chave de interpretação do Evangelho.


 


Teologia da Libertação vive




O monge beneditino Marcelo Barros defende que a Teologia da Libertação só estaria superada se as condições e motivos pelos quais ela nasceu tivessem passado. “Ora, todos sabemos que, ao contrário, a pobreza injusta e a desigualdade social aumentaram muito, como também se pode dizer que está mais organizada a ressurgência de movimentos populares, indígenas e camponeses, assim como, no mundo todo, cresce o número dos que se organizam para que um mundo diferente seja possível. Como muitas dessas pessoas são crentes, cristãos ou de outras religiões, não somente a Teologia da Libertação continua válida, como ela deixou de ser só latino-americana para ser mundial.”


 


Barros, que pertence à Comissão Teológica da Associação Ecumênica dos Teólogos do Terceiro Mundo, diz que tem ocorrido uma aproximação entre a Teologia da Libertação e a Teologia do Pluralismo Cultural e Religioso. “Isso significa que existe hoje uma Teologia da Libertação inter-religiosa e não somente cristã. Com uma ampla literatura não existente antes sobre Teologia Negra, Teologia Indígena, Teologia Feminista… Eco-teologia… que passam a ser considerados ramos novos da Teologia da Libertação.”


 


O dominicano Frei Betto também foi contactado pela reportagem, mas foi informada por sua assessora que Betto estava em Cuba, e em virtude do acesso à internet ser dificultado pelo bloqueio dos Estados Unidos, ele não poderia responder.


 


 

Clique aqui e leia “Leonardo Boff e Ratzinger: velhos conhecidos”

Fonte: Brasil de Fato

MESA REDONDA NA DRT, DIA 9, quarta-feira

Das 41 reintegrações conseguidas através de negociação na semana retrasada com a direção do HSBC, dez foram do Rio de Janeiro. Sendo 5 bancários da Baixada Fluminense e mais 5 de Niterói.Além da pressão dos sindicatos, foi feito um levantamento detalhado do histórico de cada demissão, quebrando de todas as formas possíveis os argumentos do banco.


 


Na próxima quarta-feira, dia 09, os diretores do HSBC, Antonio Carlos e Gilmar Lepchack, estarão participando da mesa-redonda na DRT que tratará das demissões no banco.


 


É importante nessa segunda reunião com o banco, que os sindicatos levem dossiês acompanhados de documentação, para que possamos continuar reintegrando companheiros do HSBC.Existem diversos casos de demitidos em situação de pré-aposentadoria, doença ocupacional e boa avaliação.



Mais informações a respeito da mesa redonda que ocorrerá na DRT no dia 09, às 14 horas, com os integrantes da COE.

Fonte: Bancarios RJES

Entrevista: Fabio Colleti Barbosa

Há oito anos, o banqueiro Fábio Barbosa tomou uma decisão aparentemente contrária aos interesses dos acionistas do Banco Real, instituição que preside.
Barbosa decidiu criar linhas de crédito em condições especiais para clientes com boas políticas ambientais e recusar empréstimos a empresas que embora tivessem capacidade de pagamento, desrespeitassem o meio ambiente ou fossem tolerantes com práticas trabalhistas inaceitáveis.
A decisão, que se mostrou acertada, transformou Barbosa, que acaba de ser empossado na presidência da Febraban, em uma das maiores referências em sustentabilidade no mundo dos negócios . Não apenas pelos critérios éticos de sua orientação, mas por conciliá-los com perfeição na busca por lucros. Formado em administração pela FGV, casado e com três filhos, Barbosa , 52 anos, diz que uma de suas prioridades na Febraban será desfazer a má imagem – segundo ele injusta – que os brasileiros têm dos bancos.


V – Um país como o Brasil pode crescer sem afetar negativamente o meio-ambiente?
FB – Esse é um falso dilema. É possível respeitar o meio ambiente e ser lucrativo , crescer e ser ambiental e socialmente responsável…


V – O senhor não teme que a sustentabilidade se transforme num modismo vazio ao qual empresas aderem mais por conveniência do que por convicções?
FB – Por convicção ou por conveniência, o fato é que as melhores empresas e alguns países estão repensando sua maneira de fazer negócios. Por crença ou por pressão da sociedade, não importa. O assunto sustentabilidade está na pauta de todos os executivos. Sem falar que as empresas que não respeitam as leis ambientais estão sujeitas a multas milionárias, o que compromete a própria existência delas…


V – Mas qual é o significado exato de sustentabilidade ou de responsabilidade social? Pode-se considerar socialmente responsável uma empresa que mantêm ações sociais e ambientais corretas, mas que não paga impostos e vive na informalidade?
FB – Ainda há muito a ser feito, no campo da responsabilidade social mas não seria construtivo invalidar o esforço feito na direção correta só porque o movimento não está completo. É preciso reconhecer que pessoas estão sendo levadas à contravenção por um sistema tributário e trabalhista que se prova quase indutor de comportamentos. Não podemos condenar todos os que estão nesse caminho. Precisamos atacar as causas que estão levando empresas e pessoas a trabalhar nesse ambiente de contravenção. Essas pessoas não são , em sua maioria, contraventores por natureza. Para contornar isso, precisamos não apenas de reformas como a tributária e a trabalhista, mas também de uma reforma de valores. É preciso reconhecer que existe uma certa leniência ao chamar de informalidade o que, na verdade, é ilegalidade, e como tal precisa ser tratada.


V – Não faz parte da responsabilidade social dos bancos informar seus clientes sobre os riscos do endividamento exagerado?
FB – O endividamento, no Brasil, é algo relativamente novo. Precisamos nos adaptar. Mas já são várias as iniciativas dos bancos nesse sentido. Alguns produziram cartilhas nas quais explicam quais as formas mais baratas de financiamento diante da necessidade de cada pessoa. Gerentes também têm sido treinados para prestar esse tipo de orientação.
A Febraban tem uma cartilha que orienta os consumidores a respeito dos riscos do endividamento. Como presidente da Febraban, pretende intensificar a transparência dos bancos para com seus clientes.


V –  Por que os bancos, de forma geral, não têm avaliação muito positiva da população?
FB – Essa imagem negativa nos preocupa muito, mas ela não é exclusiva dos bancos brasileiros. Não podemos nos esquecer de que as instituições financeiras estão na posição ingrata de cobrar empréstimos em qualquer lugar do mundo. Mas há um aspecto histórico brasileiro. No passado, a inflação prejudicou demais a transparência do relacionamento do cliente com a instituição financeira. Os prazos de empréstimos eram curtíssimos, não havia confiança na moeda. Não existiam tarifas, porque os bancos ganhavam com o dinheiro parado nas contas. Isso mudou completamente. Além do mais, acho que a expectativa sobre os serviços que devem ser prestados pelos bancos precisa ser mais bem compreendida.


V – Os lucros dos bancos parecem exagerados, se comparados ao desempenho do resto da economia…
FB – Não são apenas os bancos que vivem um momento especial, mas todo o país… No setor de crédito, precisamos discutir , por exemplo , a carga de impostos sobre os empréstimos.


V – O s juros bancários cobrados no Brasil caíram, mas ainda estão entre os maiores do mundo. Por quê?
FB – Os juros cobrados pelos bancos têm caído, mas há mais pessoas tomando dinheiro emprestado. A base de credores cresceu e estamos trabalhando com uma clientela nova. Não conhecemos o histórico bancário desses novos clientes, que , por esse motivo, tendem a pagar taxas mais elevadas…


V – Que papel deve exercer o sistema bancário em uma economia como a brasileira?
FB – Os bancos, quando executam bem o seu papel, aprimoram a alocação de recursos e impulsionam a economia. É importante que o sistema financeiro esteja azeitado para cumprir bem as tarefas que lhe cabem. São três essas tarefas: rentabilizar a poupança que lhe foi confiada; financiar o consumo e o investimento; e efetuar pagamentos…


V – O que o senhor espera do segundo mandato do governo Lula?
FB – … Diante da falta de recursos públicos, o país deveria aproveitar o bom momento para fazer reformas e acelerar o crescimento. Para isso seria fundamental atrair investimentos do setor privado.

Fonte:

Rádios comunitárias reivindicam audiência com Hélio

Delcimar Pires, assessor da presidência, avalia que “o governo terá de se estruturar nessa área”; possibilidades vão do fortalecimento do ministério das Comunicações no setor à adoção de modelo como o da agricultura, em que uma pasta cuida do agronegócio e outra da reforma agrária.


————————————————–


SÃO PAULO – As entidades que se dedicam às bandeiras da radiodifusão comunitária, como a Abraço (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária) e a Amarc (Associação Mundial de Rádios Comunitárias) , devem realizar no início de maio uma audiência com o ministro das Comunicações do governo federal, Hélio Costa. A reivindicação foi apresentada em audiência das entidades da sociedade civil ligadas à democratização da comunicação com o ministro, realizada na última terça-feira (24).

Na reunião, foi apresentada uma pauta comum dos movimentos e entidades deste campo, que inclui a realização de uma audiência específica sobre as rádios comunitárias. Hélio Costa solicitou que o assunto fosse encaminhado junto à sua assessoria e a expectativa é de que a audiência possa ocorrer nas primeiras semanas de maio.

Entre os temas a serem pautados na audiência, estariam o fim da criminalização das emissoras comunitárias, ampliação dos debates e prazos para a digitalização do rádio no país, mecanismos para sustentação das comunitárias e aceleração dos milhares de processos de habilitação de rádios desse gênero que se encontram estacionados no ministério.

O tema é um dos calcanhares- de-aquiles do governo de Luiz Inácio Lula da Silva na área da comunicação. Um grupo de trabalho interministerial (GTI) foi formado ainda no primeiro mandato de Lula e apresentou em 2005 sugestões para solucionar os maiores problemas do setor. O relatório final do GTI foi encaminhado pelo ministério das Comunicações (MiniCom) a Lula, mas até o momento as soluções não foram tornadas práticas do governo.

“Existe realmente uma dificuldade do MiniCom para tratar esse setor. É algo manifestado pelo próprio ministério e pelos movimentos”, reconhece Delcimar Pires, assessor especial da presidência da República e que participou dos trabalhos do GTI. Segundo Pires, “o governo, por excelência, tem que encontrar saída para os problemas que afetam a população. E esse tema das rádios comunitárias é algo que o governo Lula não pretende deixar sem uma resposta”.

Em entrevista à Carta Maior, Pires ponderou que existem exemplos em outras áreas do governo que trazem indicações sobre como trabalhar a situação. “O Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério da Agricultura, por exemplo, cuidam ambos da produção no campo, da terra, da agricultura, mas um é voltado ao agronegócio e o outro à agricultura familiar e à reforma agrária”. Para ele, deve e também pode existir esse tipo de corte nas comunicações, “mas é preciso ver qual seria esse corte”.

No caso da criação de uma rede de TV pública, houve desencontros quanto a quem capitanearia o processo, que agora se encontra sob o comando do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins.

No caso das rádios comunitárias, uma das possibilidades cogitadas pelo governo, surgida a partir de diálogos com o próprio movimento de radiodifusão comunitária, seria no sentido o governo federal repassar as questões ligadas ao tema para a pasta comandada por Martins. Algo que o novo ministro de início parece não ter muito interesse em assumir, tanto pelas dificuldades que hoje envolvem a questão quanto pela possível indisposição que criaria com Hélio Costa.

Segundo Delcimar Pires, trata-se de uma possibilidade completamente incipiente, seja do ponto de vista do governo seja do ponto de vista dos movimentos. O que está claro para o governo, de acordo com o assessor da
presidência, é que a situação das rádios comunitárias “é um desafio que vamos ter de enfrentar, e para trabalhar melhor isso, o governo certamente terá de se
estruturar nessa área”. Com o diagnóstico consolidado, o governo agora analisará internamente sobre como trabalhar o tema em definitivo. “Não posso falar em nome do governo, até onde e como irá este diálogo e se será algo rápido, mas certamente não iremos nos furtar a isso”.

A reportagem de Carta Maior procurou ouvir outros setores sobre a possibilidade de a Secom se tornar a pasta responsável pela radiodifusão comunitária. O Minicom não se pronunciou a respeito. Na Secretaria-Geral da presidência da República, a assessoria afirmou não saber se a idéia era tema de debate do governo como um todo. Na assessoria da Casa Civil, foi sugerido à reportagem procurar a própria presidência ou a Secom. E a Secom propôs que a reportagem ouvisse o assessor da presidência Delcimar Pires.

Fonte: Antonio Biondi – Carta Maior

POLÍCIA DE SP VAZOU OPERAÇÃO TÊMIS

O subprocurador-geral da República, Francisco Dias Teixeira, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta quinta-feira, dia 03, que dois policiais militares vazaram informações da Operação Têmis (aguarde o áudio).


 


Teixeira indiciou seis pessoas pelo vazamento de informações a respeito da Operação Têmis. Nessa operação, a Polícia Federal investiga venda de sentenças. Os policiais que vazaram a informação são um investigador e um escrivão.


 


“Através das conversas telefônicas, eles (os investigados) sempre manifestavam o temor de chegar a eles uma investigação. E, num determinado momento essa preocupação se acirrou e eles procuraram esse agente de polícia, inicialmente o escrivão da polícia estadual, para entrar em contato com o funcionário da Telesp (Telefônica) e verificar se havia alguma ordem judicial de sigilo telefônico deles”, disse Teixeira.


 


Segundo Teixeira, a Telefônica não deve ser responsabilizada pelo vazamento. Apenas o funcionário que participou do esquema deve responder processo.


 


Leia a íntegra da entrevista de Francisco Dias Teixeira:


 


Paulo Henrique Amorim Eu vou conversar agora com o doutor Francisco Dias Teixeira, subprocurador-geral da República que pediu o indiciamento de seis pessoas pelo vazamento de informações a respeito da Operação Têmis, da Polícia Federal. Doutor Francisco, o senhor vai bem?


 


Francisco Dias Teixeira – Tudo bem, obrigado.


 


Paulo Henrique Amorim – É um prazer falar com o senhor.


 


Francisco Dias Teixeira – Igualmente.


 


Paulo Henrique Amorim – Doutor Francisco, quais são os indícios de que o senhor dispõe para pedir esse indiciamento de que de fato houve um vazamento criminoso?


 


Francisco Dias Teixeira – Na verdade, os indícios foram colhidos através da própria interceptação telefônica que objetivava apurar vários crimes envolvendo uma suposta organização criminosa, entre eles magistrados, empresários, advogados e funcionários da Receita Federal. Então, ao se ouvir as conversas deles relativas a esses crimes, ouviu-se também conversas em que eles revelaram que tiveram conhecimento de que estavam sendo investigados e passaram, inclusive, a falar por código. Mas, através desses elementos, chegou-se a conclusão firme de que eles tinham conhecimento das operações da diligência e começaram inclusive a tomar providência para ocultar prova, falando em código, que não iriam falar sobre as investigações, porém, não poderiam deixar de falar totalmente em telefone porque senão haveria a suspeita de que eles estavam sabendo da conversa telefônica e, enfim, foram se revelando os nomes que estariam envolvidos na quebra desse sigilo.


 


Paulo Henrique Amorim – Agora, primeira pergunta: esse vazamento prejudica a investigação, ou seja, os beneficiados pelo vazamento conseguiram destruir provas que prejudiquem o trabalho do Ministério Público e da Polícia Federal?


 


Francisco Dias Teixeira – Sim, numa primeira análise nós concluímos que houve sim. A interceptação da conversa telefônica – que já se desenvolvia por alguns meses – tinham indícios de uma série de elementos, de provas, de valores que eles se referiam que estariam movimentando, uma série de elementos de provas que nós estávamos já, enfim, catalogando para culminar na diligência posterior que seria a busca e apreensão. E nessa diligência de busca e apreensão, muitas daquelas coisas que seriam objeto de provas e que tínhamos indícios da existência delas não foram encontradas. De forma que já dá pra assegurar que prejudicou a coleta de provas.


 


Paulo Henrique Amorim – Quem são os que mais se beneficiaram com esse vazamento?


 


Francisco Dias Teixeira – Olha, os mais beneficiados estão exatamente na proporção dos mais envolvidos nos crimes de investigação da organização criminosa. Enfim, esses é que realmente foram os mais beneficiados porque, pelas conversas telefônicas, eles é que eram detentores do maior acervo de provas comprometedoras e de vários crimes, crime financeiro, lavagem de dinheiro, corrupção, enfim.


 


 


Paulo Henrique Amorim – O ministro Medina, do STJ, teria se beneficiado de algum vazamento?


 


Francisco Dias Teixeira – Não, não. Nessa investigação da Operação Têmis não há qualquer referência ou conexão com os fatos que o ministro Medina pelos os quais ele é denunciado.


 


Paulo Henrique Amorim – Outra pergunta: o senhor poderia nos dizer se esse esquema de vazamento tem conivência ou cumplicidade dentro do aparato público, ou seja, dentro da Polícia Federal, dentro do Ministério Público?


 


Francisco Dias Teixeira – Com referência a agentes públicos, sim. Foi detectado e foram denunciados dois policiais estaduais.


 


Paulo Henrique Amorim – De que Estado?


 


Francisco Dias Teixeira – Do Estado de São Paulo.


 


Paulo Henrique Amorim – Policiais civis ou militares?


 


Francisco Dias Teixeira – Policiais militares. Um investigador de polícia e um escrivão. Que, na verdade, foram os personagens básicos do vazamento. Eles revelaram que tinham contato, acesso a funcionário, técnicos da empresa Telefônica.


 


Paulo Henrique Amorim – Devem ser os mesmos que deixaram a escada pro Champinha fugir…


 


Francisco Dias Teixeira – Talvez não sejam os mesmos, mas fazem parte do mesmo gênero de policial.


 


Paulo Henrique Amorim – Então seriam agentes do Estado de São Paulo?


 


Francisco Dias Teixeira – Exatamente. A operação se desenvolvia no âmbito federal, mas, enfim, eles também…


 


Paulo Henrique Amorim – Mas como é que eles chegaram a ter informação sobre a iminência da operação?


 


Francisco Dias Teixeira – Os investigados, permanentemente, estão, diria, alerta eventualmente de serem investigados. E a partir de operações que acontecem, enfim, eles, através das conversas telefônicas, eles sempre manifestavam o temor de chegar a eles uma investigação. E, num determinado momento essa preocupação se acirrou e eles procuraram esse agente de polícia, inicialmente o escrivão da polícia estadual, para entrar em contato com o funcionário da Telesp (Telefônica) e verificar se havia alguma ordem judicial de sigilo telefônico deles.


 


Paulo Henrique Amorim – E qual foi a providência que o Ministério Público tomou em relação à Telesp, em relação à Telefônica? Porque aquilo ali parece então um queijo suíço.


 


Francisco Dias Teixeira – Então, realmente, é uma questão muito grave. Por enquanto, não há uma evidência de uma responsabilidade da empresa. A questão está realmente centrada no funcionário, que é um funcionário subalterno, que trabalha lá no setor operacional, mas, enfim, óbvio, é uma função de extrema relevância e que deve ser um funcionário de extrema confiança. E ele é que vazou. Não sentenciou um comprometimento da empresa.  


 


Paulo Henrique Amorim – Mas eu digo, a empresa não vai tomar providência? Aquele sistema não será, digamos, blindado para evitar que isso aconteça de novo?


 


Francisco Dias Teixeira – Não exatamente. Com referência a isso nós estamos solicitando providência, comunicação à empresa, enfim, do fato para que ela tome a providência de ordem administrativa. Agora, sobre o aspecto penal, neste momento, a responsabilidade está centrada no funcionário que foi denunciado.


 


Paulo Henrique Amorim – Muito obrigado, doutor Francisco. Foi um prazer falar com o senhor.


 


Francisco Dias Teixeira – Igualmente, obrigado o senhor também.

Fonte: Jornalista Paulo Henrique Amorim – Blog Conversa Afiada

Reflexos do desmatamento na Amazônia

Derrubar a floresta amazônica para plantar soja é mais prejudicial ao clima do que desmatar para criação de gado. Essa é a principal conclusão de um estudo realizado por equipe da UFV – Universidade Federal de Viçosa publicado na edição atual da revista Geophysical Research Letters.

 

A literatura científica aponta que qualquer desmatamento na Amazônia contribui para mudanças climáticas ao provocar redução na precipitação. Mas, de acordo com a nova pesquisa, os campos de soja reduzem as chuvas em até quatro vezes mais do que as pastagens.

 

Sob coordenação de Marcos Heil Costa, professor do Departamento de Engenharia Agrícola do Centro de Ciências Agrárias da UFV, os pesquisadores registraram as mudanças na refletividade de campos experimentais de soja e aplicaram os dados em um modelo climático.

 

“Havia muitos estudos sobre os efeitos climáticos da substituição de florestas por pastagens. Assumia-se, no entanto, que não haveria diferença se a floresta desse lugar a outras atividades. Para testar a hipótese, comparamos tais resultados com as parametrizações que obtivemos com um estudo experimental em uma lavoura de soja”, disse Costa à Agência Fapesp.

 

Os pesquisadores utilizaram, para as parametrizações, uma plantação de soja de alguns milhares de hectares na região de Paragominas (PA). Numa simulação em que três quartos da área de floresta foram substituídos por soja, a redução de chuvas chegou a 15,7%. Quando a área foi substituída, no modelo, por pastagens, a queda de precipitação foi de 3,9%.

 

“Atribuímos essa grande diferença à maior refletividade da plantação de soja, que absorve menos radiação solar do que o pasto ou a floresta, esquentando menos a superfície. Isso diminui as precipitações, pois as chuvas na região são primordialmente convectivas – ou seja, dependem do aquecimento da superfície para formação de nuvens”, explicou Costa.

 

Expansão da soja – Segundo o pesquisador da UFV, o estudo indica a necessidade de mais estudos sobre os efeitos microclimáticos das diferentes culturas na região. “Precisamos também saber como essas culturas estão se distribuindo espacialmente para podermos avaliar a influência climática na Amazônia de forma mais ampla”, disse.

 

Na próxima fase da pesquisa, a equipe pretende trabalhar com parâmetros mais realistas de desmatamento. “Estamos montando um banco de dados da distribuição espacial das culturas. Queremos fazer uma revisão dos dados na área do arco do desmatamento”, disse Costa, referindo-se à faixa que vai do sul do Maranhão até Rondônia, concentrando os desflorestamentos da região.

 

De acordo com o cientista, nas duas últimas décadas a floresta amazônica tem sido desmatada principalmente para dar lugar a pastagens. No entanto, nos últimos anos, a cultura da soja tem avançado sobre as áreas de pastagens.

 

“O que constatamos é que, hoje, a soja ocupa 15% das áreas agrícolas na Amazônia. O resto corresponde, na maior parte, a pastagens. Mas, de 2000 a 2005, a soja cresceu 17% ao ano. Achamos que ela poderá avançar até chegar a um terço da área agrícola”, apontou.

 

Costa destaca que as culturas agrícolas absorvem quase integralmente a parte visível da luz solar, que interessa às plantas por ser fotossinteticamente ativa. Mas outro componente da luz – o infravermelho próximo – é quase absolutamente refletido.

 

“Isso é possivelmente conseqüência da própria seleção genética a que submetemos as plantações. Aplicado em grande escala, o fenômeno pode ter efeitos climáticos imensos”, disse Costa.

 

O artigo Climate change in Amazonia caused by soybean cropland expansion, as compared to caused by pastureland expansion, de Marcos Heil Costa e outros, pode ser lido por assinantes da Geophysical Research Letters em www.agu.org/journals/gl.

 

Fonte: Ambientebrasil (Fábio de Castro/ Agência Fapesp)

Entrevista: “É Educação ou Exército na rua”

O Globo – O senhor diz que a escola pública no Brasil foi desenhada para a classe média, que hoje em dia está na escola particular, e que esse modelo, portanto, não serve à educação das camadas mais pobres.
Jean Hérbard – Foi um erro dos anos 50 repartir o mundo entre duas escolas, a particular e a pública. Porque o que faz a democracia num país é a possibilidade de todas as crianças estarem aprendendo na mesma escola… A coisa mais importante é dar a população pobre a melhor cultura possível, e não uma cultura desvalorizada. Não se pode deixar a classe média confiscar a cultura somente para ela. Senão vamos para um mundo em que cada um estará fechado em seu condomínio, com cerca elétrica.



OG – O senhor avalia que essa situação se reflete na segurança pública?
JH – Certamente. A violência nasce dessa falta de convivência. É preciso abrir um espaço novo para a confrontação social. E o único momento em que se pode fazer isso é a infância.O que de melhor uma família pode fazer hoje por suas crianças é oferecer a elas a possibilidade de encontrar crianças de outras classes sociais. Que não sejam apenas os filhos da empregada, claro. Senão o mundo fica patriarcal. Nesse sentido, o Brasil de hoje pouco difere dauqele do século XIX. A diferença é o nascimento da classe média, o que é muito importante, porque é essa classe que pode fazer a democracia. E ela precisa abrir mão de privilégios.



OG – O senhor acredita que seria um movimento a favor da democracia se a classe média voltasse a pôr seus filhos na escola pública e exigisse qualidade?
JH – Minha filha se casou com um brasileiro, vive aqui. E vejo que ele está se abrasileirando, poruqe pôs o filho na escola particular. Eu disse a ela : você foi da escola pública na França a vida toda. Acho, sim, que tem que haver um movimento para a classe média voltar para a escola pública. O que faz diferença é a capacidade de viver junto. É preciso que a escola reaja, seja capaz de fazer uma proposta nova de cultura, que una a sociedade. Eu vejo que o Brasil não gosta de construir sua própria história. Não é o futebol que faz uma nação , é a história. E a história, na escola, foi completamente abandonada…



OG – Os gestores dos centros culturais , como o CCBB e o Instituto Moreira Salles queixam-se que, apesar daprogramação gratuita, as pessoas pobres não frequentam esses lugares. Elas simplesmente não entram lá.
JH – Para entender por que razão, a questão da pré-escola é fundamental. As crianças da classe média não precisam tanto da pré-escola, porque têm tudo em casa, têm acesso a ela. As crianças pobres, que precisam demais porque não têm nada em casa, não. A criança vai para a escola muito tarde no Brasil… A idade para começar na escola  é aos 3 anos. Porque a criança precisa de três anos para ser alfabetizada, para dominar a língua e começar a utilizá-la de forma criativa, inteligente. Se a criança pobre vai para a escola com 6 ou 7 anos, e só vai ser alfabetizada – se for – lá pelos 10 anos , ela perde o interesse. Vai preferir ficar na favela trabalhando com drogas para ganhar algum dinheiro… O tempo que a criança fica  fora da escola organiza a sua desculturação.



OG – O governo brasileiro anunciou um plano…
JH – É preciso sair dessa idéia de que um plano é a solução, um milagre… É preciso que toda a nação decida sustentar um processo educativo democrático.



OG – Mas aqui no Brasil há ainda o fato de que o ensino privado tem uma bancada fore e influente no Congresso.
JH – Trata-se de uma escolha. O Rio é o lugar onde se dá a experimentação dessa divisão do país… Existem duas possibilidades : a educação ou o Exército…



OG – E como começar?
JH – O Fundeb (Fundo de Valorização do Ensino Básico) foi um movimento muito interessante. Mas quando se deixa a educação fundamental a cargo do município, aumenta-se a desigualdade porque os municípios são muito desiguais. Há muitos que são muito pobres, e poucos que são muito ricos..



OG – Esse descaso  do Brasil com a educação afeta a imagem do país no exterior?
JH – Eu sempre digo na Europa, que o Brasil será um dos maiores países do mundo em duas gerações. Mas um país pode ser o maior para o bem ou para o mal… Não é o modelo do Bush que queremos para o mundo. Que tipo de líder intelectual, ideológico, o Brasil quer ser?

Fonte: jornal O Globo, dia 22/04/2007

ENTREVISTA – SÉRGIO DE SOUZA – Aos 10 anos, Caros Amigos continua ícone do jornalismo progressista

SÃO PAULO – Abril de 1997, auge do neoliberalismo de FHC. Nas bancas de São Paulo aparece uma nova revista, grande, em preto e branco, muitas letras e poucas figuras. Diferente e até um pouco dificultosa para os olhos. Mas a vantagem da novidade era que nem se tinha necessidade de espiar dentro para saber o que estava a nossa espera. Na capa mesmo, os nomes: Mylton Severiano, Luis Fernando Veríssimo, Frei Betto, Ignácio de Loyola Brandão, Plínio Marcos, José Hamilton Ribeiro, Roberto Freire, Júlio Medaglia, Mário Prata, Emiliano José, Paulo Freire, Ricardo Kotscho, Diogo Pacheco, Matthew Shirts, Jaguar. Caros Amigos…


Quando Caros Amigos nasceu, era quase inacreditável: estava tudo lá, a história viva da resistência política da Teologia da Libertação com Frei Betto; Roberto Freire, o cara da Soma, do Sem Tesão não há Solução; o maestro Diogo Pacheco, falando de futebol; Plínio Marcos e seu submundo teatral; Zé Hamilton, que perdeu a perna cobrindo a guerra do Vietnã; Jaguar, o símbolo máximo da boemia e do humor dos bons tempos. A revista, desde o início, provocou algo na gente que fazia correr até a banca todo mês e colecionar.


Passado um tempinho, Caros Amigos se firmou como trincheira do pensamento progressista, destoante do supérfluo e neoliberal meio jornalístico. Ser um Caro Amigo era prestigioso, e ninguém perguntava muito ao Sérgio de Souza – o Serjão, que até hoje senta à cabeceira da revista – se e quanto ganharia para escrever. Colaborar com Caros Amigos dava status.


Passaram-se dez anos, Fernando Henrique apeou do poder, Lula, o entrevistado da capa de setembro de 2000, montou, muita gente saiu da revista, muita gente entrou, e alguns velhos amigos, como Diogo Pacheco e Plínio Marcos, morreram neste tempo. Mas Caros Amigos continuou a simbolizar uma nova liberdade de ler e fazer jornalismo, que inclusive abriu espaço para muita coisa boa que veio depois.


Neste seu décimo aniversário, todos nós, caros amigos, jornalistas, leitores e resistente de maneira geral, temos muito a comemorar com Caros Amigos. É uma bonita história, sobre a qual Sérgio de Souza falou um pouco à Carta Maior (por correio eletrônico, porque não gosta de dar entrevistas).



Carta Maior – A Caros Amigos, quando surgiu, se destacou por conta dos nomes de peso do jornalismo, da cultura e da política que começaram a escrever na revista. Quem eram os “caros amigos” iniciais, e qual o seu propósito com a criação da revista?


Sérgio de Souza – A idéia de uma revista independente e de matérias de autor me perseguia havia muitos anos. Até que em 1997, como sócio de uma micro editora que fundei junto com outros companheiros, pude ver realizado o velho plano. Os “caros amigos” que participaram das primeiras reuniões de concepção da revista eram João Noro, Roberto Freire, Jorge Brolio, Francisco Vasconcelos, José Carlos Marão, Alberto Dines (que deu nome à revista), Hélio de Almeida e Mathew Shirts. A partir do número 1, ficaram apenas os quatro primeiros e eu. O meu propósito era criar uma publicação de interesse geral que se posicionasse contrariamente ao “pensamento único” que então transpirava de toda a grande imprensa do país, seguidora fiel do governo privatista de Fernando Henrique Cardoso. Havia outras propostas para a Caros Amigos, como a de uma revista “futurista”, que tratasse de um mundo novo oferecido pelo avanço galopante da tecnologia, ou uma revista para-literária. Ao final daquelas poucas reuniões acabou vingando a minha idéia de criar uma publicação mensal, de autor, que partiria do conceito que coloquei aí atrás e trouxesse reportagens, artigos, colunas, seções, humor, fotografia e uma grande entrevista que batizei de “explosiva”, para brincar com a clássica “exclusiva”, e que, aliás, se tornaria o prato forte de Caros Amigos. Todos os trabalhos publicados levariam assinatura, não seriam admitidos pseudônimos e os autores é que decidiriam que tema abordar, partindo de uma proposta simples: fale sobre algo que o esteja incomodando muito ou agradando muito. Somente as reportagens e a entrevista de capa eram decididas em reunião de pauta. O esquema funcionou e aí está de pé até hoje, passados 10 anos.



CM – Nas últimas décadas, várias iniciativas similares a Caros Amigos, veículos progressistas e independentes, acabaram fracassando depois de pouco tempo. Por que acha que Caros Amigos continua aí?


Sérgio de Souza – A fórmula do sucesso é um segredo de Estado que posso revelar a você com exclusividade: o amor à camisa. Não fosse a grande maioria dos autores, sobre os quais se assenta pelo menos a metade do conteúdo da revista, colaborarem sem receber um centavo, e ela não teria chegado até aqui. Pois além de tudo a revista é descapitalizada de nascença. Sem contar as equipes de redação, do comercial e de administração, que trabalham por salários inferiores aos das editoras em geral. Um segundo segredo é a total liberdade de opinião dos autores das matérias, o próprio fato de a revista ter opinião e a independência quanto a patrões ou capitalistas.



CM – Como definiria a Caros Amigos politicamente?


Sérgio de Souza – Politicamente, Caros Amigos é uma revista de esquerda, como estamos declarando nos poucos anúncios que estamos conseguindo colocar na mídia (alguns poucos veículos, como a Rádio Eldorado, a MTV e uma ou outra revista). Imparcialidade é uma pseudo-virtude inventada para mascarar os interesses pessoais ou grupais dos proprietários ou concessionários dos veículos de comunicação. Um engana-trouxa que, com a velocíssima disseminação da informação que estamos vivendo, ilude, cada vez mais, menos pessoas.



CM – Caros Amigos é uma revista mensal, de grande circulação, tem um nome no mercado editorial. Por ser de esquerda, por trabalhar com colaboradores não-pagos, é um veículo “alternativo”?


Sérgio de Souza – Caros Amigos se coloca como uma publicação institucional e não alternativa pelas seguintes razões, como declarei recentemente em resposta a perguntas de Jornalistas & Cia.: ela pertence a uma editora registrada na Junta Comercial; ela tem seu título, Caros Amigos, registrado no Inpi – Instituto Nacional de Propriedade Industrial; ela é membro da Aner – Associação Nacional dos Editores de Revistas; ela tem periodicidade e chega às bancas do país inteiro por intermédio da Dinap – Distribuidora Nacional de Publicações, do grupo Abril, tida como a maior distribuidora de revistas do Brasil, sendo que isso ocorre religiosamente há 10 anos; ela tem uma tabela de preços do espaço publicitário a ser comercializado em suas páginas; ela é produzida por profissionais tanto na área editorial quanto na comercial e administrativa, na sede que tem endereço físico, paga aluguel, contas de luz, água e telefone; ela mantém um site na internet; ela já foi premiada por várias entidades de reconhecida expressão no cenário nacional, assim como o site; ela consome toneladas de papel e de tinta gráfica mensalmente; ela circula nos meios que pensam o país, como a universidade, os colégios (corpos docente e discente), as câmaras municipais e assembléias legislativas, os executivos municipais e estaduais, o judiciário, o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto.



CM – Qual é, na sua opinião, o maior o desafio dos veículos que pensam e trabalham no espectro das esquerdas no Brasil?


Sérgio de Souza – O desafio é manter a distância apropriada do poder, seja ele político-partidário, seja econômico. Distância apropriada no sentido de independência de opinião, que significa, no caso de Caros Amigos, idéias e colocações que não costumam fazer parte do universo da mídia grande, sempre conservadora e comprometida até as entranhas com o establishment. Nosso papel é o papel reservado ao jornalismo numa sociedade democrática, qual seja: informar, de modo a não apenas manter as pessoas a par dos fatos que ocorrem no cotidiano das cidades e países, mas, principalmente, tratar de interpretar o significado dos fatos mais relevantes, o que acaba por promover a consciência do leitor, espectador ou ouvinte, de forma a olhar o seu meio e o mundo com mais acuidade, maior capacidade de julgamento.



Verena Glass – Carta Maior – 23/04/2007

Fonte: Boletim Carta Maior