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Santander induz bancários a desrespeitarem leis de segurança

Com a campanha salarial dos vigilantes acontecendo em vários estados, o Santander está desinformando seus funcionários para evitar a interrupção do atendimento durante o movimento paredista. O banco está distribuindo comunicados internos com orientações para os bancários que não só os colocam em risco, mas também exigem que assumam – sem armas, coletes ou sequer treinamento – tarefas de vigilantes, como a operação da porta giratória.


O Santander distribuiu o primeiro memorando no dia 30 de janeiro, véspera de uma mobilização nacional marcada pelos vigilantes para exigir o pagamento imediato dos 30 % do adicional de periculosidade. Mas o texto deste comunicado não afrontava tão descaradamente a legislação de segurança privada, informando que agências e PABs não poderiam funcionar sem todos os vigilantes exigidos para o local. Mas o material escorrega, dizendo que os bancários têm que manter atenção redobrada e disparar o alarme sempre que algo suspeito acontecer.


Já no segundo e no terceiro comunicados, o tom muda e o Santander informa que, por orientação da Febraban, os bancos podem abrir sem vigilantes, desde que não haja manipulação de numerário. “A segurança bancária tem lei específica e não é a federação patronal que define o que pode e não pode ser feito nesta situação. A legislação de segurança privada exige que cada agência tenha, pelo menos, dois vigilantes durante todo o horário de atendimento e funcionamento da unidade. Além disso, ninguém pode garantir que não haverá manipulação de numerário. Clientes e usuários têm direito de fazer pagamentos, depósitos e saques em espécie. O Santander põe a vida de seus funcionários e da população em risco e ainda insinua que está amparado na legislação”, revolta-se Luiza Mendes, diretora da Federação.


Os memorandos orientam os bancários a ficarem atentos a movimentações “suspeitas” durante a greve e os orienta a acionaram o alarme caso julguem necessário. “O bancário tem que ficar de olho em quem entra e em quem sai; acionar o alarme, liberar a porta giratória orientar os clientes a usarem outras agências que estejam funcionando, fotografar os piqueteiros para denunciá-los e ainda fazer seu trabalho. Tudo isso sem nenhum preparo ou proteção. Ao invés da serem protegidos pelo profissional de segurança, os bancários vão ficar ainda mais vulneráveis, como se estivessem com um alvo na testa. E o Santander ainda diz que está seguindo orientações de sua própria federação!”, rebate Luiza.


A Federação orienta os sindicatos filiados a colaborarem com a greve dos vigilantes e a verificarem se há agências abertas durante a paralisação do pessoal de segurança. Caso as agências funcionem sem vigilantes, os sindicalistas deverão encaminhar denúncia à Polícia Federal.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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Sindicato do Pará anula com liminar na justiça novo plano de funções do BB


Rosalina Amorim, presidenta do Sindicato dos Bancários do Pará e
funcionária do BB: “provamos que o novo plano do BB é uma medida autoritária”


Em uma decisão inédita, a Justiça do Trabalho do Pará, atendendo ao pedido do Sindicato dos Bancários do Pará, deferiu tutela antecipada contra o Banco do Brasil, tornando sem efeito o novo plano de reestruturação da empresa naquilo que atenta contra os direitos dos trabalhadores.


“Essa é uma notícia para ser comemorada pelos funcionários do Banco do Brasil em todo país. O Sindicato dos Bancários do Pará provou na justiça que o novo plano de funções do BB é uma medita autoritária, com a clara intenção de massacrar a categoria com a retirada de direitos dos trabalhadores. Demos um passo de extrema importância para nossa luta nacional de barrar o plano de funções do banco em todo país”, destaca a presidenta do Sindicato e funcionária do Banco do Brasil, Rosalina Amorim.


A decisão da justiça proíbe o Banco do Brasil de:


1) Exigir dos empregados que a partir de 28.01.2013 passaram a ocupar “função de confiança”, a assinatura em “termo de posse para o exercício de função de confiança”;


2) Realizar o descomissionamento de funcionários ocupantes de “função de confiança” que não tenham realizado a assinatura do “termo de posse para o exercício de função de confiança”até o dia 04.02.2013;


3) Reduzir os salários dos empregados ocupantes de funções comissionadas e que se recusem a assinar o “termo de posse para o exercício de função de confiança” e que possuam mais de 10 (dez) anos de percepção de gratificação de função;


4) Exigir do empregados que desejem optar pelo exercício de “função gratificada”, a assinatura em “termo de posse para o exercício de função gratificada”;


5) Reduzir o conjunto remuneratório dos trabalhadores que, tendo ou não assinado “termo de posse” tenham optado por “função gratificadas” com jornada de 6h/dia;


6) Não aceitar a opção de seus funcionários por “funções gratificadas” com jornada de 6h/dia, mesmo quando estes funcionários se opuserem à obrigação de assinar “termo de posse para o exercício de função gratificada”.


Foi estipulada multa diária de R$ 500.000,00 por violação a qualquer das medidas determinadas a ser revertida em favor do Sindicato.


A ação ajuizada pela assessoria jurídica do sindicato ataca todo o novo plano naquilo que agride os direitos dos trabalhadores e essa estratégia visou levar ao Poder Judiciário a discussão geral acerca de um plano que, na realidade, busca restringir conquistas anteriores da categoria.


Essa decisão também abrange os funcionários do Banco do Brasil no Amapá, e ainda cabe recurso por parte do banco.

Fonte: Seeb Pará

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Bradesco não instala porta giratória

Agência de S. José do Vale do Rio Preto foi inaugurada sem equipamento.
Seeb-Petrópolis procurou a prefeitura para discutir problema


Desde que foi inaugurada há cerca de dois anos, a agência do Bradesco no município de São José do Vale do Rio Preto, base do Sindicato de Petrópolis, não tem porta giratória, nem câmeras de vigilância e nem mesmo o escudo para a proteção dos vigilantes. Os dirigentes sindicais já reivindicaram a instalação dos equipamentos de segurança à administração regional do banco por diversas vezes, mas nenhuma providência foi tomada. Até um abaixo assinado foi feito entre os moradores da cidade, mas o Bradesco se mantém indiferente.


Na ultima terça-feira, dia 05, dirigentes do Sindicato dos Bancários procuraram a prefeitura de São José para discutir a situação. Foram recebidos pelo chefe de gabinete, Mauro Cesar, e pelo Secretário de Planejamento, Marco Corabi. Os sindicalistas entregaram o abaixo-assinado, cópias das leis que obrigam a instalação dos equipamentos que estão em vigor nos municípios vizinhos de Petrópolis, Teresópolis e Tres Rios e o dossiê de assaltos a bancos e saidinhas ocorridos em 2012 que foi preparado pelo Dieese. Os representantes do Executivo local assumiram o compromisso de se empenharem na criação de uma lei municipal que obrigue os bancos a instalarem portas giratórias nas agências. “Em Petrópolis, como há legislação específica, as agências do Bradesco têm porta de segurança e câmeras. Nossa preocupação é com o aumento da violência em todo o interior do estado. A negligência do Bradesco põe em risco a segurança e a vida não só dos bancários, mas de clientes e usuários de bancos e de toda a população”, pondera Luiz Cláudio Rocha, presidente do Seeb-Petrópolis.


Além de dispositivos de segurança insuficientes, a agência do Bradesco em São José do Vale do Rio Preto também tem problemas de espaço e escassez de pessoal. A unidade é pequena e tem poucos funcionários, o que prejudica o atendimento, principalmente em dias de muito movimento. “A agência é apertada e há poucos bancários. Nos dias de pico, fica lotada e as filas são grandes. Toda a população reclama, mas o Bradesco não toma nenhuma providência. O abaixo-assinado que fizemos também reivindica que o banco amplie as instalações e, principalmente, contrate mais funcionários para atender à população de São José”, informa Luiz Cláudio.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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A estrela de Belém

Frei Betto*


Conta a Bíblia que sobre a cidade de Belém da Judeia reluziu uma estrela ao nascer Jesus. Provenientes da Babilônia, os reis astrólogos, também conhecidos por magos, orientaram-se por ela até chegarem à manjedoura, junto à qual adoraram o Menino.


O rei Herodes, que governava a Palestina, viu na estrela um mal presságio. Já que o seu poder não tinha forças para apagar a estrela no céu, ordenou que o Messias fosse eliminado da face da Terra.


O Natal é uma festa paradigmática. Seus símbolos, aparentemente infantis, são psicologicamente profundos. Viver é uma experiência natalina. A diferença é que, em torno de 25 de dezembro, três fatores se somam: o caráter religioso da festa, que impregna a boca da alma de estranho sabor de nostalgia; a fissura papainoélica do consumismo e dos presentes compulsórios; e a proximidade da virada do ano.


Enquanto a compulsiva comercialização da data condena-nos à ressaca espiritual, o caráter religioso da festa deixa-nos com saudades de Deus, e a chegada do Ano-Novo reforça nosso propósito de melhorar de vida. Daí o sentimento conflitivo de quem gostaria de acordar na manhã de 25 e encontrar, nos sapatos, um símbolo de afeto, o afago à criança que dorme dentro de nós, mas sabe que, no império do mercado, a idade adulta é inimiga da infância.


“Ora, direis ouvir estrelas!”, canta o poeta. Sim, temos olhos e ouvidos para os signos que expressam o novo. Na vida, nossos passos são conduzidos por estrelas, sonhos e ambições que simbolizam a fonte da felicidade. Nunca estamos satisfeitos com o que somos ou temos. Feitos de matéria transcendente, trafegamos no labirinto da existência seduzidos pelo absurdo, mas famintos de Absoluto.


Para os antigos, a imagem da utopia era um jardim repleto de fontes, flores e frutos. Para a Bíblia, o Jardim do Éden, que em hebraico significa “lugar de delícias”, lá onde se suprime o limite entre o natural e o sobrenatural, o humano e o divino, o efêmero e o eterno.


Hoje, nosso mal-estar advém desse horizonte estreito em que miramos estrelas cadentes. Raras as ascendentes. Iniciamos o século e o milênio como aprendizes de deuses, capazes de engendrar vida em provetas e possuir olhos eletrônicos que penetram a intimidade da matéria e do Universo, sem, no entanto, erradicar a fome, a desigualdade e a injustiça.


Somos órfãos da esperança. Quase tudo está ao alcance do poder do dinheiro, exceto o que mais carecemos: um sentido para a vida. Tateamos, sonâmbulos, nessa interminável noite de insônia. Calam-se as filosofias, confinadas aos limites da linguagem; desaparecem as utopias, travestidas no mesquinho desejo de poder e posse de refinados objetos; enquanto as religiões cedem às exigências do mercado e oferecem o lúdico a quem busca luz, sem abrir as portas que nos conduzam à inefável experiência de Deus.


“E agora, José?” Agora, é mudar o Natal e  nós próprios. Evitar o Papai Noel consumista em cores de Coca-Cola e procurar o brilho da estrela em nossas inquietações mais profundas. Descobrir a presença do Menino em nosso coração. E, como sugeriu Jesus a Nicodemos, ousar renascer em gestos de carinho e justiça, solidariedade e alegria.
    
Em vez de dar presentes, fazer-se presente lá onde reina a ausência: de afeto, saúde, liberdade, direitos. Dobrar os joelhos junto à manjedoura que abriga tantos excluídos, imagens vivas do Menino de Belém.


     
Feliz Natal, Brasil! Queira Deus que o Herodes que nos habita ceda lugar aos magos que acreditam na estrela e oferecem ao milagre da vida o melhor de si.



    
* Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.
www.freibetto.org    twitter: @freibetto.



 



Copyright 2012 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (
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Fonte: Frei Betto

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Trabalho escravo, quando acaba?

Frei Betto *



Em janeiro de 2004, três auditores fiscais do trabalho e um motorista foram assassinados em Unaí (MG) ao investigarem trabalho escravo em uma lavoura de feijão. Em janeiro próximo se completam 9 anos de impunidade. Até agora ninguém foi condenado pela chacina que tirou as vidas dos auditores Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva, e do motorista Ailton Pereira da Silva.


O Brasil possui uma eficiente fiscalização do trabalho degradante. O Grupo Móvel atua desde 1995 e, a partir de 2003, já libertou mais de 35 mil trabalhadores, segundo dados da CPT (Comissão Pastoral da Terra).


Há obstáculos permanentes a enfrentar, como aponta meu confrade Xavier Plassat (Prêmio Nacional de Direitos Humanos 2008), como a burocracia que atrasa a apuração de denúncias; dificuldades operacionais para agilizar a Polícia Federal, que atua como polícia judiciária; resistência de algumas superintendências regionais a fiscalizações efetivas.


A fiscalização, entretanto, tem melhorado. Apenas 1/3 das denúncias continua sem investigação. Isso não significa que libertar trabalhadores faz cessar a escravidão. Ela deita raízes profundas no solo brasileiro: tivemos o mais longo período de escravidão nas Américas, 358 anos (1530-1888) e, hoje, a ganância, a miséria e a impunidade favorecem esse crime hediondo.


A escravidão não ocorre apenas em áreas rurais. Expande-se aos grandes centros urbanos, como em confecções de São Paulo, que exploram a mão de obra de imigrantes bolivianos e asiáticos.


Em 2010, 242 pessoas foram libertadas de situações análogas à escravidão em atividades não agrícolas, como construção civil (175 em obras do PAC!). Na zona rural, 2/3 dos casos, entre 2003 e 2010, ocorreram na pecuária (desmatamento, abertura e manutenção do pasto); 17 % em lavouras de cana de açúcar, soja, algodão, milho, café, e reflorestamento; e 10 % em carvoarias a serviço de siderurgias.


A maioria dos libertados trabalhava na pecuária e no corte de cana, sobretudo na região amazônica, principalmente nos estado do Pará, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso, onde se destaca a voz profética do bispo Dom Pedro Casaldáliga, ainda hoje, aos 84 anos, ameaçado de morte por defender os oprimidos (Prêmio Nacional de Direitos Humanos 2012).


Por que trabalho escravo em pleno século XXI? O lucro! E quando flagrado, o proprietário finge não saber o que ocorria em suas terras e culpa o capataz. Fazendeiros, parlamentares, magistrados, artistas de TV, figuram entre proprietários rurais que adotam trabalho braçal de baixo custo em condições subumanas – o trabalho escravo.


Daí a dificuldade de a Câmara dos Deputados aprovar, após espera de 8 anos, a emenda constitucional que propõe cancelar a propriedade da terra de quem adota mão de obra escrava. Felizmente, a PEC 438 foi aprovada em maio deste ano e, agora, aguarda aprovação do Senado.


Hoje, o proprietário rural não é mais dono do servo, nem responsável por sua manutenção e reprodução de sua prole, como acontecia no Brasil colonial. Ele usa e abusa da mão de obra escrava, arregimentada sob promessas enganosas, e a descarta três ou quatro meses depois. Carvoeiros, roçadores de pasto e cortadores de cana têm, em pleno século XXI, expectativa de vida inferior aos escravos do século XIX.


O trabalho escravo está presente nas principais cadeias produtivas do agronegócio brasileiro: carne e madeira (metade das denúncias); cana e demais lavouras (metade dos libertados), e carvão vegetal.


Há uma estreita vinculação entre expansão do agronegócio no contexto da economia globocolonizada e a precarização das relações trabalhistas. Eis a contradição, alerta frei Xavier Plassat: o mesmo governo que estimula as monoculturas de exportação corre atrás dos enormes prejuízos que ela provoca, inclusive à imagem do Brasil no exterior.


A OIT (Organização Internacional do Trabalho) calcula que, atualmente, haja no mundo de 12 a 27 milhões de trabalhadores escravos. No Brasil, estima-se em 25 mil o número de pessoas submetidas a condições degradantes de trabalho, inclusive crianças.


É hora de as centrais sindicais descruzarem os braços quanto a essa nódoa do cenário brasileiro.


 


* Frei Betto é escritor, autor de “Cartas da prisão” (Agir), entre outros livros.  www.freibetto.org   twitter: @freibetto.






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Fonte: Frei Betto

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Oscar Niemeyer, Autodefinição

Frei Betto *


Foi o meu editor e compadre Ênio Silveira que, na década de 1970, me apresentou a Oscar Niemeyer. Durante a Eco-92,no Rio, o arquiteto me disse que teria prazer em receber Fidel Castro no seu escritório, na Avenida Atlântica, para um encontro com formadores de opinião.


Na noite de domingo, 14 de junho, acompanhei o presidente de Cuba ao encontro. O anfitrião nos aguardava à porta. Subimos pelo velho elevador de grade sanfonada. Casa de ferreiro, espeto de pau. O mais famoso arquiteto brasileiro mantinha seu escritório num antigo prédio cujos elevadores funcionavam precariamente.


Cerca de 40 intelectuais e artistas ali se encontravam, entre eles Darcy Ribeiro, Ênio Silveira, Moacyr Werneck de Castro, Antonio Callado, Leandro Konder, Ferreira Gullar, Eric Nepomuceno, Íttala Nandi, Leonardo Boff, Ivo Lesbaupin, Hugo Carvana, Emir Sader e tantos outros.


Ao cumprimentar Barbosa Lima Sobrinho, Fidel disse não acreditar que ele tivesse 95 anos:


— Precisamos colher algumas amostras genéticas do senhor – brincou.


Fidel falou durante uma hora da situação de Cuba e de política internacional, até que o interrompi:


— Afinal, convidamos o Comandante para um encontro, e não uma conferência.


A roda se descontraiu, Fidel reclamou:


— Não há nada que beber ou comer aqui?


Tomou uma dose de uísque e comeu com apetite variados canapés.


À meia-noite nos retiramos. A segurança avisou que o elevador social parara e o de serviço só chegava até o 7º andar. Sob luzes de lanternas, Fidel e eu descemos do 9º andar por estreitas escadas. Para chegar ao elevador de serviço, fomos obrigados a passar por dentro do apartamento de uma família, cruzando a sala e a cozinha.


A 29 de janeiro de 2008, participei em Cuba, na Universidade de Ciências Informáticas, da inauguração da escultura que Oscar Niemeyer dera de presente aos 80 anos de Fidel: uma enorme cara vermelha do imperialismo cuspindo fogo, e a pequena Cuba erguendo a bandeira diante dela, resistindo. Fazia muito frio e havia milhares de estudantes na praça.


No discurso que proferi, comparei Niemeyer a Martí: os dois eram latino-americanos, revolucionários, poetas e anti-imperialistas. Elogiei a coerência e a modéstia de Niemeyer, cujas obras conheci desde criança na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte.


A última vez que estive com Niemeyer, em seu escritório, foi a 3 de junho de 2010, quando levei até ali Homero Acosta, secretário do Conselho de Estado de Cuba. O arquiteto demonstrava muito bom humor e nos falou entusiasmado do álbum de fotos de todas as igrejas que ele havia projetado:


—Tive formação religiosa. Na fazenda de meus avós – contou – os janelões da sala eram entremeados de oratórios. Minha avó nos obrigava a ajoelhar e rezar antes de cada refeição. Depois deixei de ter fé. Mas sempre gostei de desenhar igrejas.


Ressaltei a beleza da catedral de Brasília, cujas linhas arrojadas lembram mãos abertas ao Transcendente, botão de flor se abrindo ao Infinito, feixe de ramos de trigo evocando o Pão da Vida, o coração de boca aberta à fome de Deus.


Niemeyer, então com 102 anos, comentou que uma vez por semana recebia um grupo de amigos para aulas de cosmologia e astrofísica ministradas ali no escritório por um professor de física. Seu entusiasmo com o que aprendia lembrava um jovem estudante.


Guardei dele este belo poema intitulado Autodefinição:


“Na folha branca de papel faço o meu risco
retas e curvas entrelaçadas.
E prossigo atento e tudo arrisco
na procura das formas desejadas.
São templos e palácios soltos pelo ar,
pássaros alados, o que você quiser.
Mas se os olhar um pouco devagar,
encontrará, em todos, os encantos da mulher.
Deixo de lado o sonho que sonhava.
A miséria do mundo me revolta.
Quero pouco, muito pouco, quase nada.
A arquitetura que faço não importa.
O que eu quero é a pobreza superada,
a vida mais feliz, a pátria mais amada.”


 


* Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor de “A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org   twitter: @freibetto





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Joelmir e Fidel

Frei Betto *


Conheci Joelmir Beting na década de 1980. Devido a seus sutis comentários econômicos críticos à ditadura, recheados de metáforas e tiradas brilhantes, convidei-o a proferir palestra na Semana do Trabalhador, em São Bernardo do Campo.


Pouco depois, sugeri a Fidel Castro, interessado em conhecer melhor a economia brasileira, convidar Joelmir Beting para visitar Cuba. Desembarcamos em Havana na quinta, 9 de maio de 1985.


Fidel perguntou ao jornalista brasileiro:


— Qual o seu trabalho diário?


— Faço uma hora e meia de programa de rádio e, à noite, meia-hora de TV. Escrevo também uma coluna diária, reproduzida em vinte e oito jornais.


Joelmir narrou-lhe sua história: era filho de um boia-fria morto, como tantos outros lavradores ainda hoje, devido à queda do caminhão que o levava ao trabalho. Cresceu entre lavouras de cana e café, criado pelo venerável padre Donizetti, em Tambaú, interior de São Paulo. Estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo e trabalhou como professor primário — o que lhe deu facilidade para traduzir o economês em linguagem acessível ao grande público.


— São Paulo tem muita cana? – perguntou Fidel.


— Produz setenta por cento da cana de açúcar do Brasil – esclareceu Joelmir, que aproveitou a deixa para fazer uma pergunta. — O que o senhor lê todos os dias?


— Todas as manhãs recebo uma pasta com as notícias do dia selecionadas por índice: Cuba, Açúcar, Estados Unidos  etc. Primeiro, confiro as fontes. Sei que as agências dos Estados Unidos não são imparciais. Gasto nisso entre uma hora e uma hora e meia. Assim, tenho uma visão global de tudo que as agências internacionais informam sobre cada item.


— Ninguém conhece o computador que o ser humano tem na cabeça — comentou Joelmir. — Como é o seu trabalho?


— É um trabalho tenso, difícil, que encerra uma responsabilidade muito grande. Mas se habitua. Trato de aprender em conversas com visitantes. Através de amigos, sei como se pensa em muitos países.


— Mas o senhor gosta de falar em público?


— Tenho medo cênico. Falo de improviso, porque o povo não gosta de discursos escritos. Parto de argumentos. É claro que chego tenso, mas a reação do público estimula. Chego como quem se apresenta a um exame. Quando devo falar de saúde, por exemplo, preciso memorizar as cifras. Se trata-se de gravar os índices de mortalidade infantil, consigo-o rápido. É mais difícil quando o problema está determinado por quinze ou mais fatores. Tenho que dominar o tema e ordená-los. Há gente que explica o que não entende. Se não domino um tema, não procuro explicá-lo.


— Em Cuba, o projeto social está realizado? — quis saber Joelmir Beting.


— Sim, no essencial.


— Este é o modelo cubano?


— Há muito de cubano. O sistema eleitoral é todo cubano. Cada circunscrição, com dez mil eleitores, elege seu delegado ao Poder Popular.  São os vizinhos que votam. E são eles que propõem um nome para delegado. Sugerem o máximo de oito nomes e o mínimo de dois. O Partido não se mete nisso. São eleitos aqueles que obtêm mais de cinquenta por cento dos votos. Esses delegados formam a Assembleia Municipal e elegem o poder executivo municipal. Depois, se reúnem as comissões, integradas pelo Partido e pelas organizações de massa, para eleger os delegados da Província e os quinhentos deputados da Assembleia Nacional. Mais da metade desses deputados sai da base. A cada três meses, os vizinhos se reúnem com o delegado da circunscrição para avaliar o seu desempenho. E podem inclusive cassá-lo. Esse sistema de a população apontar os candidatos que integram metade da Assembleia Nacional é a democracia de baixo para cima. Não é como um político burguês que, depois de eleito, passa quatro anos sem prestar contas e sem que possam cobrar dele. O Poder Popular nomeia o responsável pela saúde na Província mas, para evitar choques, consulta antes o ministério. É uma forma de evitar tensões entre o Poder Popular e o poder central.


O diálogo entre Fidel e Joelmir Beting foi reproduzido em forma de entrevista em todos os jornais brasileiros para os quais Joelmir Beting colaborava na época e, em agosto de 1985, editado em livro pela Brasiliense, sob o título Os juros subversivos.



* Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Mário Sérgio Cortella, de “Sobre a esperança” (Papirus), entre outros livros.     http://www.freibetto.org   twitter:  @freibetto.







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Brasil governado pelo fundamentalismo?

Frei Betto *



Algo me preocupa: a confessionalização da política. Na eleição de Dilma, o tema religioso ganhou mais relevância que programas de governo. Na de prefeito à capital paulista, pastores e bispos se conflitaram, e padre Marcelo Rossi virou ícone político.


A modernidade separou Estado e Igreja. Agora o estado é laico. Portanto, não pode ser pautado por uma determinada crença religiosa. E todas elas têm direito a difundir sua mensagem e promover manifestações públicas, desde que respeitado quem não crê ou pensa de modo diferente.


O Estado deve estar a serviço de todos os cidadãos, crentes e não crentes, sem se deixar manipular por esta Igreja ou aquela denominação religiosa.


O passado do Ocidente comprova que mesclar poder religioso e poder político é reforçar o fundamentalismo e, em suas águas turvas, o preconceito, a discriminação e, inclusive, a exclusão (Inquisição, “heresias” etc.). Ainda hoje, no Oriente Médio, a sobreposição de doutrina religiosa em certos países produz políticas obscurantistas.


Temo que também no Brasil esteja sendo chocado o ovo da serpente. Denominações religiosas apontam seus pastores a cargos eletivos; bancadas religiosas se constituem em casas legislativas; fiéis são mobilizados segundo o diapasão da luta do bem contra o mal; Igrejas se identificam com partidos; amplos espaços da mídia são ocupados pelo proselitismo religioso.


Algo de perigoso não estaria sendo gestado? Já não importa a luta de classes nem seus contornos ideológicos. Já não importa a fidelidade ao programa do partido. Importa a crença, a fidelidade a uma determinada doutrina ou líderes religiosos, a “servidão voluntária” à fé que mobiliza corações e mentes.


O que seria de um Brasil cujo Congresso Nacional fosse dominado por legisladores que aprovariam leis, não em benefício do conjunto da população, e sim, para enquadrar todos sob a égide de uma doutrina confessional, tenham ou não fé nessa doutrina?


Sabemos que nenhuma lei pode forçar um cidadão a abraçar tal princípio religioso. Mas a lei pode obrigá-lo a se submeter a um procedimento que contraria a razão e a ciência, e só faz sentido à luz de um princípio religioso, como proibir transfusão de sangue ou o uso de preservativo.


Não nos iludamos: a história não segue em movimento linear. Por vezes, retrocede. E aquilo que foi ainda será se não lograrmos predominar a concepção de que o amor – que não conhece barreiras e “tudo tolera”, como diz o apostolo Paulo – deve sempre prevalecer sobre a fé.


* Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Gleiser, de “Conversa sobre a fé e ciência” (Agir), entre outros livros. www.freibetto.org   twitter: @freibetto.






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Qualificação do profissional brasileiro

Frei Betto *


Tomara que o Congresso aprove a aplicação de 10 % do PIB na educação. É pouco, mas bem melhor que os atuais 4,5 % . Ainda não se descobriu outra via para desenvolver uma nação, aumentar o seu IDH e reduzir exclusão, miséria e violência, fora do investimento significativo em educação de qualidade.


O contingente de pessoas que trabalham em nosso país chega a 92,5 milhões, praticamente metade da população. Desses, 45,5 % não têm carteira assinada ou trabalham por conta própria. E somente 771.409 têm mestrado ou doutorado. Os dados são do IBGE (PNAD 2011).


Apenas 12,5 % dos que trabalham têm curso superior completo. Quase metade da mão de obra ocupada concluiu o ensino médio: 46,8 % . O que significa que 53,2 % de nossos trabalhadores não têm sequer nível médio.


Nossas universidades abrigam, hoje, 6,6 milhões de estudantes (de um contingente de 27,3 milhões de jovens entre 18 e 25 anos!). Dos quais 73,2 % em faculdades particulares. E há apenas 1,2 milhão de estudantes em cursos técnicos.


Na Alemanha, quarta economia do mundo, a maioria dos alunos do ensino médio (60 % ) se encontra em cursos técnicos. A educação é profissionalizante, facilitada pela parceria entre escolas e empresas, onde os aprendizes fazem estágios. Isso se reflete na economia do país. Em agosto, o desemprego entre jovens alemães com menos de 25 anos atingia o índice de 8,1 % . Nos demais países da zona do euro, 22,8 % .


A renda familiar está associada ao nível de ensino. No Brasil, quem possui diploma universitário chega a ganhar 167 % mais do quem concluiu apenas o ensino médio. Quem possui mestrado ou doutorado ganha, em média, 426 % mais, comparado a quem tem apenas ensino médio.


Não têm qualquer escolaridade ou frequentaram menos de 1 ano a escola 19,2 milhões de brasileiros. Em 2011, nossa média de escolaridade era de 7,3 anos. Para os que estão empregados, 8,4 anos de estudos.


Nos EUA, em 1960, haviam cursado o ensino médio 60 % dos trabalhadores. Hoje, o índice chega a 90 % . Porém, há um dado alentador: o grupo brasileiro com 11 anos de escolaridade cresceu em 22 milhões de pessoas de 2001 a 2011.


Não sabem ler nem escrever 12,9 milhões de brasileiros com mais de 7 anos de idade. E 20,4 % da população acima de 15 anos são de analfabetos funcionais – assinam o nome, mas são incapazes de redigir uma carta ou interpretar um texto. Na população entre 15 e 64 anos, em cada 3 brasileiros apenas 1 consegue interpretar um texto e fazer operações aritméticas elementares.


Em 2011, 22,6 % das crianças de 4 a 5 anos estavam fora da escola. E, abaixo dessas idades, 1,3 milhão não encontravam vagas em creches.


É animador constatar que 98,2 % dos brasileiros entre 6 e 14 anos estudam. Mas um dado é alarmante: dos 27,3 milhões de jovens brasileiros entre 18 e 25 anos, 5,3 se encontram fora da escola e sem trabalho.


Dos jovens entre 15 e 17 anos, 40 % não frequentam a escola (FGV 2009). Na parcela mais pobre, com renda per capita até R$ 77,75/mês, quase a metade se encontra fora da escola e do trabalho. De que vive essa gente? Por que fora da escola?


É nesse contingente dos “nem-nem” (nem estudo, nem trabalho) que são maiores os índices de criminalidade. Muitos abandonam a escola por desinteresse, devido à falta de pedagogia; por falta de recursos financeiros; por ingressarem no narcotráfico ou se tornarem dependentes químicos; e também por gravidez precoce. O número de moças (3,5 milhões) do grupo “nem-nem” é quase o dobro do número de rapazes (1,8 milhão). E 50 % dessas moças já são mães.


Morei cinco anos na favela de Santa Maria, em Vitória. Constatei que as adolescentes deixam de ser molestadas a partir do momento em que engravidam. Moça solteira sem filho fica vulnerável ao assédio permanente, às vezes violento. Muitas engravidam por falta de educação sexual e orientação no uso de contraceptivos.


Na economia globalizada é imprescindível falar inglês. Apenas 0,5 % da população brasileira domina o idioma de Shakespeare. A maioria, sem fluência.


O Brasil enfrenta hoje – em plenas obras do PAC, da Copa e das Olimpíadas – o déficit de 150 mil engenheiros. Apenas 10 % dos universitários cursam carreiras vinculadas às engenharias. Temos somente 6 engenheiros para cada 1.000 pessoas economicamente ativas. Nos EUA e no Japão a proporção é de 25/1.000.


Falta no Brasil interação entre academia e empresa, teoria e prática. Nossos universitários não têm suficiente conhecimento técnico. Em nosso país, o professor é valorizado pelo número de pesquisas e publicações, e não pela experiência de trabalho. O mestre se apresenta como detentor do conhecimento e não como facilitador do aprendizado.


O preconceito a Paulo Freire fortalece o anacronismo de nossas universidades. E nossas empresas, que aspiram por mão de obra qualificada, ainda não despertaram para o seu papel de indutoras da educação.



 


* Frei Betto é escritor, autor de “Alfabetto – autobiografia escolar” (Ática), entre outros livros. www.freibetto.org   twitter: @freibetto.





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Fonte: Frei Betto

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Trabalho decente para enfrentar o racismo nos bancos

Andréa Vasconcelos *
 
Trabalho decente, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), significa \”trabalho adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, capaz de garantir uma vida digna\”. Assim, a promoção do trabalho decente implica modificar as estruturas de desigualdades diretamente vinculadas às discriminações de gênero e raça [1] em nosso país.


Contudo, apesar dos altos índices de lucratividade, os bancos continuam a praticar elevadas taxas de rotatividade, o que tem gerado insegurança no ambiente de trabalho. Seguem estimulando diretamente a terceirização ao empurrar trabalhadores e trabalhadoras para o trabalho precário – correspondentes bancários, por exemplo, cuja remuneração é menor e com direitos diferenciados da categoria bancária e, em muitas situações, têm seus direitos desrespeitados. Desta forma, os bancos se contrapõem cotidianamente aos pressupostos do trabalho decente.


Ademais, quando as instituições financeiras discriminam as mulheres e os negros, intensificam as desigualdades no mercado de trabalho e manifestam a falta de ações afirmativas e de uma política enérgica de igualdade de oportunidades, de tratamento e de direitos eficaz na eliminação da hierarquia desigual entre homens e mulheres, entre brancos e negros, que também é condição basilar para o trabalho decente.


O quadro de exclusão da população negra no setor bancário [2] contribui para a manutenção de um status quo, onde negras e negros enfrentam os maiores obstáculos para superar a pobreza, revelando ainda que o racismo [3] é mais do que o reflexo da estrutura econômica desigual e concentradora, mas manifestação do preconceito [4] enraizado nas instituições. Por consequência, grupos dominantes continuam a perpetuar a subordinação de negras e negros nas relações sociais, condição que não é mero arcaísmo do passado, mas uma forma de manter benefícios materiais e simbólicos dessa situação.


Não restam dúvidas que estudos e pesquisas sobre as relações sociais comprovam a existência da discriminação de grupos negros em todos os âmbitos no trabalho e na vida e que essa situação é um coproduto da exploração capitalista, determinados pelos fatores trabalho, capital e lucro. Portanto, a divisão em brancos e negros é uma atitude política e não simplesmente uma maneira de descrever a realidade. Conceitos como \”raça\”, \”negros\” e \”brancos\” ainda atuam como categorias de inclusão e exclusão no setor bancário.


Diante dessa constatação, a Contraf-CUT tem focado de forma sistemática o enfrentamento às desigualdades de raça, gênero, orientação sexual e pessoas com deficiências na categoria, além de alertar que é papel de todo(a) dirigente sindical combater a discriminação.


Para tanto, a atuação ocorre em duas frentes: ações internas, fazendo o debate junto à categoria e às direções dos sindicatos e federações; e ações externas, como audiências com autoridades e parlamentares, a exemplo da reunião ocorrida em agosto deste ano com a secretária de Políticas de Promoção da Igualdade (SEPPIR), ministra Luiza Bairros, quando foi denunciado o nefasto processo de demissões nos bancos privados, com um alto índice de desligamento de pessoas negras. Essa dura realidade comprova a falta de responsabilidade social dos bancos com a sociedade brasileira.


A Contraf-CUT coordena a mesa temática de igualdade de oportunidades, que tem encaminhado as reivindicações da categoria para as negociações com a Fenaban e os bancos. Com a unidade nacional e a força da mobilização, os bancários já garantiram na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) a trimestralidade das reuniões da mesa de igualdade de oportunidades com a Fenaban, a ampliação da licença maternidade para 180 dias, a igualdade de tratamento para casais homoafetivos e a realização do novo censo da diversidade com planejamento em 2013 e execução em 2014.


Três cartilhas foram lançadas nos últimos anos para combater as discriminações e os preconceitos: assédio sexual no trabalho, relações compartilhadas e igualdade de oportunidades. Mais recentemente, a Contraf-CUT publicou o caderno \”Construindo a igualdade de oportunidades\”, além de jornais e panfletos como forma de aprofundar o debate e incentivar mobilizações.


O mês da consciência negra é, por isso, não somente um momento importante de reflexão, mas, acima de tudo, é um espaço oportuno de mobilização e de defesa dos direitos humanos e sociais das pessoas negras. Só haverá trabalho decente no Brasil e no mundo com igualdade de oportunidades, que passa necessariamente por enfrentar o racismo nos bancos e garantir igualdade racial no trabalho e na vida.



[1] Discriminação de raça: ação que produz desvantagens e prejuízos para determinados grupos em função da cor da pele e/ou da origem étnica e racial.


[2] Acesse aqui o jornal especial da Contraf-CUT para o mês da consciência negra.


[3] Racismo: doutrina que afirma não só a existência das raças, mas também a superioridade natural e, portanto, hereditária, de umas sobre as outras. A atitude racista, por sua vez, é aquela que atribui qualidades aos indivíduos ou grupos conforme o seu suposto pertencimento biológico a uma dessas diferentes raças e, portanto, conforme as suas qualidades ou defeitos inatos e hereditários. Assim, o racismo não é apenas uma reação ao outro, mas uma forma de subordinação do outro.


[4] Preconceito: qualquer atitude negativa em relação a uma pessoa ou a um grupo social que derive de uma ideia preconcebida sobre tal pessoa ou grupo. É possível então dizer que a atitude preconceituosa está baseada não em uma opinião adquirida com a experiência, mas em generalizações que advêm de estereótipos.



* Andréa Vasconcelos é bancária e Secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT

Fonte: Andréa Vasconcelos