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Balé de corpos

Frei Betto *



Na festa do Corpo de Cristo, deixarei meu corpo flutuar em alturas abissais. Acariciarei uma por uma de minhas rugas, cantarei hinos ao alvorecer da velhice, desvelarei histórias do futuro, apreenderei, na ponta dos dedos, meu perfil interior.


Não recorrerei ao bisturi das falsas impressões. Nem ao espectro da magreza anoréxica. O tempo prosseguirá massageando meus músculos até torná-los flácidos como as delicadezas do espírito.


Suspenderei todas as flexões, exceto as que aprendo na academia dos místicos. Beberei do próprio poço e abrirei o coração para o anjo da faxina atirar pela janela da compaixão iras, invejas e amarguras.


Pisarei sem sapatos o calor da terra viva. Bailarino ambiental, dançarei abraçado à Gaia ao som ardente de canções primevas. Dela receberei o pão, a ela darei a paz. E aguardarei suas manhãs como quem empina pipas ao som de cítaras.


Acesas as estrelas, contemplarei na penumbra do mistério esse corpo glorioso que nos funde, eu e Gaia, num único sacramento divino. Seu trigo brotará como alimento para todas as bocas, suas uvas farão correr rios inebriantes de saciedade, seu Espírito haverá de se impregnar em todas as ranhuras do humano.


Na mesa cósmica, ofertarei as primícias de meus sonhos. De mãos vazias, acolherei o corpo do Senhor no cálice de minhas carências. Dobrarei os joelhos ao mistério da vida e contemplarei o rosto divino na face daqueles que nunca souberam que cosmo e cosmético são gregas palavras gêmeas, e deitam raízes na mesma beleza.


Despirei os meus olhos de todos os preconceitos e rogarei pela fé acima de todos os preceitos. Como Ezequiel, contemplarei o campo dos mortos até ver a poeira consolidar-se em ossos, os ossos se juntarem em esqueletos, os esqueletos se recobrirem de carne e a carne inflar-se de vida no Espírito de Deus.


Proclamarei o silêncio como ato de profunda subversão. Desconectado do mundo, banirei da alma todos os ruídos que me inquietam e, vazio de mim mesmo, serei plenificado por Aquele que me envolve por dentro e por fora, por cima e por baixo.


Suspenderei da mente a profusão de imagens e represarei no olvido o turbilhão de ideias. Privarei de sentido as palavras. Absorvido pelo silêncio, apurarei os ouvidos para escutar a brisa de Elias e, os olhos, para admirar o que extasiou Simeão.


Não mais farei de meu corpo mero adereço estranho ao espírito. Serei uma só unidade, onda e partícula, verso e reverso, anima e animus. O pão, e não mais a cruz, será o símbolo de minha fé, pois ele é grávido de vida, sacramento de ressurreição.


Recolherei pelas esquinas todos os corpos indesejados para lavá-los no sangue de Cristo, antes que se soltem de seus casulos para alçar o voo das borboletas.


Curarei da cegueira os que se miram no olhar alheio e besuntarei de cremes bíblicos o rosto de todos que se julgam feios, até que neles transpareça o esplendor da semelhança divina.


Arrancarei do chão de ferro os pés congelados da dessolidariedade e farei vir vento forte aos que temem o peso das próprias asas. Ao alçarem o topo do mundo, verão que todos somos um só corpo e um só espírito.


Farei do meu corpo hóstia viva; do sangue, vinho de alegria. Ébrio de efusões e graças, enlaçarei num amplexo cósmico todos os corpos e, no salão dourado da Via Láctea, valsaremos até que a música sideral tenha esgotado a sinfonia escatológica.


Na concretude da fé cristã, anunciarei aos quatro ventos a certeza de ressurreição da carne e de todo o Universo redimido pelo corpo místico de Cristo. Então, quando a morte transvivenciar-nos, o que é terno tornar-se-á, nos limites da vida, eterno.



* Frei Betto é escritor, autor de “Aldeia do Silêncio” (Rocco), entre outros livros.
www.freibetto.org     twitter: @freibetto






Copyright 2013 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária ([email protected])


 

Fonte: Frei Betto

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Partido e democracia interna

Frei Betto *



“Quem diz  organização, diz tendência para a oligarquia. Em cada organização, quer se  trate de um partido, de uma união de ofícios etc., a tendência aristocrática  manifesta-se de forma bastante pronunciada. O mecanismo da organização, ao  mesmo tempo que dá a esta uma estrutura sólida, provoca graves modificações na  base organizada. Inverte completamente as respectivas posições dos chefes e  das bases. A organização tem como efeito dividir todo partido ou sindicato  numa minoria dirigente e numa maioria  dirigida.


 “Quanto mais o  aparelho de uma organização se complica, isto é, quanto mais vê aumentar o  número de seus filiados, seus recursos crescerem e sua imprensa  desenvolver-se, mais terreno perde o poder diretamente exercido pela base,  suplantado pelo crescente poder das  comissões.


“Teoricamente o chefe  não é mais do que um empregado, submisso às instruções que recebe da base. Sua  função consiste em receber e executar as ordens desta última, do qual ele é  apenas um órgão executivo.


“Mas, na realidade, à medida  que a organização se desenvolve, o direito de controle reconhecido às bases  torna-se cada vez mais ilusório. Os filiados têm de renunciar à pretensão de  dirigir ou mesmo supervisionar todos os assuntos administrativos. 


“É assim que a esfera do  controle democrático se retrai progressivamente, para, afinal, ficar reduzida  a um mínimo insignificante. Em todos os partidos socialistas, o número de  funções retiradas das assembleias eleitorais e transferidas para os conselhos  de direção aumenta sem cessar. Ergue-se dessa forma um enorme edifício de  complicada estrutura. O princípio da divisão de trabalho impondo-se cada vez  mais, as jurisdições se dividem e subdividem. Forma-se uma burocracia  rigorosamente delimitada e  hierarquizada.


“À medida que o  partido moderno evolui para uma forma de organização mais sólida, vemos  acentuar-se a tendência de substituir os chefes ocasionais pelos chefes  profissionais. Toda organização de um partido, mesmo sendo pouco complexa,  exige certo número de pessoas que a ele se consagrem inteiramente. 


“Pode-se completar essa crítica  do sistema representativo com a seguinte observação política de Proudhon: os  representantes do povo, dizia ele, mal alcançam o poder, já se põem a  consolidar e a reforçar sua força. Incessantemente envolvem suas posições com  novas trincheiras defensivas, até conseguirem libertar-se completamente do  controle popular. É um ciclo natural percorrido por todo o poder: emanado do  povo, acaba por se colocar acima do  povo.”


Todos os textos acima não  são de minha autoria. Foram escritos em 1911 pelo sociólogo alemão Robert  Michels (1876-1936), de convicções socialistas, que deu aulas em universidades  da Alemanha, França e Itália.


Esses textos foram publicados no livro Sociologia dos partidos  políticos (Editora Universidade de Brasília, 1982). A última cátedra de  Robert Michels foi na Universidade de Turim, onde ensinou economia, ciências  políticas e sociologia. Decepcionado com a falta de democracia nos partidos  progressistas, faleceu acusado de conivência com o  fascismo.


O que Michels  denunciou há 102 anos infelizmente é praxe ainda hoje. A direção do partido é  progressivamente ocupada por um seleto grupo profissionalizado que, a cada  eleição, distribui entre si as diferentes funções. Os caciques são sempre os  mesmos, sem que as bases tenham condições de influir e renovar os quadros de  direção.


À medida que o partido  ganha espaço de poder, menos se interessa em promover o trabalho de base. A  mobilização é trocada pela profissionalização (incluídos aqueles que ocupam  cargos eletivos), a democracia cede lugar à autocracia, a ampliação e  preservação dos espaços de poder tornam-se mais importantes que os princípios  programáticos e ideológicos.


A  Igreja Católica, por exemplo, é uma típica instituição que absorveu a  estrutura imperial e vertical do Império Romano e ainda hoje dela não se  livrou. E tenta justificá-la sob o pretexto de que essa estrutura decorre da  vontade divina…


Enquanto  tateamos em busca da democracia real, na qual a vontade do povo não significa  mais do que uma retórica demagógica, temos o consolo de uma invencível aliada  dos que criticam a perpetuação de políticos no poder: a morte. Ela, sim, faz a  fila andar, promove a dança das cadeiras, abre espaço aos novos  talentos.



* Frei Betto é escritor, autor de “A mosca azul –  reflexão sobre o poder” (Rocco), entre outros livros.
www.freibetto.org     twitter: @freibetto.






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Fonte: Frei Betto

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O que é arte?

Frei Betto *



Sabemos, hoje, reconhecer uma obra de arte? O que conta mais, a fama do artista ou a qualidade da obra? Quem decide o valor de uma obra, o prestígio alcançado por ela na mídia ou seus atributos estéticos?


O jornal Washington Post decidiu testar gosto e cultura artísticos do público. Levou um violinista para uma estação de metrô da capital dos EUA. Durante 45 minutos, ele tocou Partita para violino no. 2 de Bach; Ave Maria de Schubert; e peças de Manuel Ponce, Massenet e, de novo, Bach.


Eram oito horas de uma manhã fria. Milhares de pessoas circulavam pelo metrô. Quatro minutos após iniciar o concerto subterrâneo, o músico viu cair a seus pés seu primeiro dólar, atirado por uma mulher que não parou. Quem mais lhe deu atenção foi um menino que teria entre três e quatro anos de idade. Porém, a mãe o arrastou, embora ele mantivesse o rosto virado para o violinista enquanto se distanciava.


Durante todo o tempo do concerto improvisado, apenas sete pessoas pararam um instante para escutar. Cerca de vinte jogaram dinheiro sem deter o passo. Ao todo, trinta e dois dólares e dezessete centavos no pote a seus pés. Quando cessou a música, ninguém aplaudiu.


O músico era o estadunidense Joshua Bell que, dois dias antes, havia dado um concerto no Teatro de Boston, lotado de apreciadores que pagaram US$ 100 por um ingresso. Seu violino era um Stradivarius fabricado em 1713 e adquirido por quase US$ 4 milhões. Bell é professor no Massachusetts Institute Technology e na Royal Academy of Music de Londres.


Bell fez, em solo, a trilha sonora dos filmes O violino vermelho, que mereceu o Oscar, e Mulheres de lavanda. Sua primeira gravação, em 2003, pela Sony Classical, foi Romance of the violin, que vendeu 5 milhões de cópias.


Bell é um músico de prestígio internacional. No entanto, nessa sociedade neoliberal hegemonizada pelo paradigma do mercado, ele era um “produto” colocado na prateleira errada. Estava no metrô. Como se o fato de estar em local público tornasse sua música de menos qualidade. Estivesse um músico medíocre no palco do Teatro de Boston com certeza teria sido ovacionado.


Fica uma pergunta: temos prestado atenção na qualidade das coisas? Ou nossas cabeças são feitas pela mídia estimuladora do consumismo, que nos impõe gato por lebre?


Van Gogh jamais vendeu uma tela enquanto viveu, exceto a que seu irmão Theo, que era marchand, comprou na tentativa de ajudá-lo. Sem dinheiro para pagar o médico, o pintor presenteou-o com a tela Rapaz de quepe. O doutor, do alto de seu preconceito elitista, considerou que nada de valor poderia sair dos pincéis de um louco… Aproveitou o quadro para tapar um buraco no galinheiro de sua casa… Há pouco esta tela foi vendida por US$ 15 milhões!



* Frei Betto é escritor, autor do romance “Aldeia do Silêncio” (Rocco), entre outros livros.
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Fonte: Frei Betto

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Eleições para Caref vão até sexta-feira, 07

Começou neste dia 03 e vai dia 07, sexta-feira, o primeiro turno das eleições para Caref, o representante dos funcionários do BB no Conselho Administrativo do banco. O representante da Federação na Comissão de Empresa do BB, Sérgio Farias, recomenda o voto em Rafael Matos — F8369846.


Esta eleição é de suma importância para o funcionalismo do BB, porque é a reconquista de um direito que foi retirado. “Até 2000 tínhamos um representante nosso no Conselho, mas FHC, numa canetada arbitrária e sem nenhum diálogo com os empregados, extinguiu o cargo. Isto aconteceu na esteira do processo de enxugamento do banco, que estava sendo preparado para a privatização”, recorda Sérgio Farias. 


  


A eleição é baseada na lei Lei nº 12.353/2010, que entrou em vigor com a publicação da portaria 026, datada de março de 2011. A legislação garante o espaço para a representação dos funcionários no conselho de administração de qualquer empresa pública ou de economia mista – caso do BB – com mais de 200 empregados. O Conselho do BB tem sete membros, sendo um deles o presidente do banco.


Todos os funcionários da ativa podem votar. A eleição é feita através do SisBB e basta informar a matrícula do candidato ou seu nome para efetivar o voto. Caso nenhum candidato obtenha maioria absoluta, haverá um segundo turno, que será realizado de 24 a 28 de junho.


O candidato


Rafael Matos é bancário do BB há 13 anos e foi dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo por dois mandatos. Atualmente está cedido à Previ. Ele foi assessor do último representante dos funcionários – antes chamado de Garef – até o fim do mandato e a extinção do cargo, em 2000.


Para saber mais sobre o candidato Rafael Matos – F8369846, acesse o blog de sua candidatura e seu perfil do Facebook.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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PALESTRA: o desafio da internacionalização


A Federação realizou no último dia 28 um evento que tratou de dois temas ainda novos para alguns sindicatos: a internacionalização das ações sindicais e a aproximação com os trabalhadores jovens.


Para falar da atuação das redes de bancos multinacionais e da internacionalização do movimento sindical bancário, foi convidado o secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Mário Raia. O sindicalista, que é funcionário do Santander, oriundo do Banespa, esclarece que este modelo de organização em redes é uma necessidade. “O capital se organiza mundialmente, as empresas se organizam mundialmente. Nós, trabalhadores, também temos que nos organizar assim para darmos conta das necessidades. As redes surgem quando os trabalhadores entendem isso e começam a se organizar além das fronteiras de seus países”, defende Mário.


Esta organização, segundo o dirigente, tem um desafio inicial que é a compreensão das diferenças. “Há culturas sindicais diferentes, legislações trabalhistas diferentes. Por exemplo, no Uruguai não há demissões como aqui, o trabalhador tem uma certa estabilidade no emprego, garantida por lei. Então, a questão do emprego, que é urgente para os bancários brasileiros, não mobiliza em outros países”, exemplifica Mário. Segundo o sindicalista, os temas mais quentes nas reuniões das redes são outros. “Os assuntos mais discutidos foram saúde e condições de trabalho e liberdade de organização. Há muitos relatos de assédio moral, metas abusivas e adoecimento de bancários. E também de práticas anti-sindicais, que estão se intensificando em todos os países. Estes temas vão surgindo quando os trabalhadores de cada banco vão trocando experiências sobre o que acontece em seus países”, relata.


Aprendendo e ensinando


Esta troca de experiências permite reconhecer onde o movimento brasileiro está acertando e no que ainda precisa avançar. “Nossa organização e o modelo de atuação dos bancários brasileiros são exemplos do que podemos oferecer aos colegas dos países vizinhos. E podemos aprender com eles como construir acordos mais longos e como atuar para a construção de uma legislação que dê proteção ao emprego”, aponta Raia.


Outro objetivo é a definição de ações a partir desta colaboração. “Pretendemos unificar as estratégias de lutas. Para começar, vamos elaborar um banco de dados com todos os benefícios, direitos e legislações trabalhistas de todos os países das redes. Isso nos dará condições de buscar nivelar por cima, buscando a garantia dos mesmos direitos e condições de trabalho, buscando a assinatura de Acordos Marco globais. Tïvemos um acordo marco para o BB nas Américas, que vence neste dia 31. Nosso objetivo é que, no momento da renovação, possamos estendê-lo aos trabalhadores do banco em todo o mundo”, relata Mário.


Todo este esforço tem um objetivo final que vai além das questões meramente trabalhistas, na mesma linha que os sindicatos cutistas já seguem de buscarem estar na vanguarda das mudanças sociais para além da categoria que representam. “Esta discussão permite aumentar mais o sentimento de solidariedade de classe internacional. Vamos percorrer as entidades filiadas à Contraf-CUT em todo o país para sensibilizar os dirigentes para esta iniciativa”, anuncia Mário Raia. “Este é o caminho para tornarmos realidade o velho slogan ‘Trabalhadores do mundo, uni-vos!’”, acredita o sindicalista.


Resposta rápida


Durante a reunião das Redes Sindicais dos Bancos Internacionais, realizada no início de maio em Assunção, no Paraguai, a pesada ofensiva anti-sindical do Santander contra sindicatos e contra a Contraf-CUT foi denunciada. Estarrecidos, os sindicalistas latino-americanos, coordenados pela UNI-Finanças, decidiram realizar uma campanha contra esta postura do banco. A primeira ação foi no dia 23, em que a maioria dos sindicatos cutistas do país fizeram algum tipo de atividade, com panfletagem ou com suspensão parcial ou total do expediente bancário.


No dia 29 outra ação foi lançada, com a disponibilização de cartas para o presidente do banco no Brasil, Jesús Zabalza, e o CEO do banco, Emílio Botín. Através deste link é possível enviar a correspondência para ambos, aproveitando o texto em Espanhol ou enviando outro. A UNI-Finanças também encaminhou cartas específicas para Zabalza (aqui) e Botín (aqui).

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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PALESTRA: Rejuvenescer a representação


A constatação de que a categoria bancária está cada vez mais jovem preocupa os sindicalistas, que não vêem esta tendência se reproduzir na representação sindical. Mas uma iniciativa inovadora desenvolvida pelo Sindicato dos Engenheiros de Minas Gerais traz alento e muitas ideias aos dirigentes bancários. Esta experiência foi apresentada durante um evento realizado na Federação no último dia 28. A coordenadora do projeto Senge Jovem, Karla Gonçalves, esteve na sede da entidade demonstrando o projeto.


Karla já havia apresentado o Senge Jovem a sindicalistas de toda a América Latina durante a 3ª Conferência Regional da UNI-Américas realizada em Montevideo, Uruguai, em dezembro de 2012. Na ocasião, o vice-presidente da Federação, Nilton Damião Esperança, ficou impressionado com a iniciativa e percebeu o quanto ela poderia ser inspiradora para os bancários. “Sabemos que é preciso atrair os jovens para as discussões sindicais e políticas, mas ainda não conseguimos definir a maneira de fazer isso. A experiência do Senge Jovem nos traz algumas ideias interessantes e considerei importante convidar a coordenadora do projeto para expor o projeto aos nossos sindicalistas”, esclarece Nilton.


A coordenadora do projeto é estudante de Engenharia Civil e faz estágio numa grande empreiteira. Mas não descuida do Senge Jovem, que tem núcleos espalhados em vários pontos do estado de Minas Gerais. “Percorremos todas as faculdades de engenharia. Onde conseguimos sensibilizar estudantes montamos núcleos. E hoje temos reuniões regulares que reúnem bastante gente”, relata Karla.


A via encontrada pelo Senge-MG para atrair os jovens foi se aproximar dos estudantes de engenharia. “Nós oferecemos cursos e oficinas que oferecem capacitação profissional e também promovemos visitas técnicas a empresas importantes. Como os estudantes têm dificuldade de conseguir estas oportunidades, principalmente no interior, isso facilita nossa aproximação” relata Karla. A partir do primeiro contato, os futuros engenheiros podem se filiar ao sindicato como sócios-aspirantes, sem pagar nenhuma taxa, mas com acesso a todos os benefícios e convênios que são oferecidos aos profissionais formados. “Quando se formam, se quiserem, os jovens podem continuar filiados, como sócios efetivos”, acrescenta Karla.


Esforço de renovação


Mas nem só de cursos se faz o projeto. “Desde agosto de 2012 começamos a investir na formação política dos participantes do Senge Jovem. E o plano para 2013 é continuar investindo nesta linha, para renovar o movimento sindical dos engenheiros no estado”, relata a coordenadora. Embora seja sócia-aspirante, por ser responsável pela coordenação do projeto Karla tem assento nas reuniões da diretoria do sindicato.


Outra iniciativa que o Senge-MG adotou para renovar o movimento foi incluir no estatuto a garantia de reserva de 10 % de vagas na diretoria para jovens. “Foi estabelecido um critério para garantir que os recém-formados possam se candidatar. E a diretoria atual já está contactando jovens engenheiros para comporem a chapa para as próximas eleições”, informa Karla.


O exemplo do Senge-MG é interessante e já produziu frutos: o sindicato do Paraná também está montando seu projeto jovem. “Sabemos que as características de nossa categoria são diferentes e trazem desafios que não são resolvidos pelo modelo dos engenheiros mineiros. Cabe ao movimento sindical bancário encontrar um caminho para atrair os jovens trabalhadores dos bancos para participarem efetivamente dos sindicatos”, provoca Paulo de Tarso, diretor da Federação.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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Médicos cubanos no Brasil?

Frei Betto *



O Conselho Federal de Medicina (CFM) está indignado frente ao anúncio da presidente Dilma de que o governo trará 6.000 médicos de Cuba, e outros tantos de Portugal e Espanha, para atuarem em municípios carentes de profissionais da saúde. Por que aqui a grita se restringe aos médicos cubanos? Detalhe: 40 % dos médicos do Reino Unido são estrangeiros.


Também em Portugal e Espanha há, como em qualquer país, médicos de nível técnico sofrível. A Espanha dispõe do 7º melhor sistema de saúde do mundo, e Portugal, o 12º. Em terras lusitanas, 10 % dos médicos são estrangeiros, inclusive cubanos, importados desde 2009. Submetidos a exames, a maioria obteve aprovação, o que levou o governo português a renovar a parceria em 2012.


Ninguém é contra o CFM submeter médicos cubanos a exames (Revalida), como deve ocorrer com os brasileiros, muitos formados por faculdades particulares que funcionam como verdadeiras máquinas de caça-níqueis.


O CFM reclama da suposta validação automática dos diplomas dos médicos cubanos. Em nenhum momento isso foi defendido pelo governo. O ministro Padilha, da Saúde, deixou claro que pretende seguir critérios de qualidade e responsabilidade profissionais.


A opinião do CFM importa menos que a dos habitantes do interior e das periferias de nosso país que tanto necessitam de cuidados médicos. Estudos do próprio CFM, em parceria com o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, sobre a “demografia médica no Brasil”, demonstram que, em 2011, o Brasil dispunha de 1,8 médico para cada 1.000 habitantes.


Temos de esperar até 2021 para que o índice chegue a 2,5/1.000. Segundo projeções, só em 2050 teremos 4,3/1.000. Hoje, Cuba dispõe de 6,4 médicos por cada 1.000 habitantes. Em 2005, a Argentina contava com mais de 3/1.000, índice que o Brasil só alcançará em 2031.


Dos 372 mil médicos registrados no Brasil em 2011, 209 mil se concentravam nas regiões Sul e Sudeste, e pouco mais de 15 mil na região Norte.


O governo federal se empenha em melhorar essa distribuição de profissionais da saúde através do Provab (Programa de Valorização do Profissional de Atenção Básica), oferecendo salário inicial de R$ 8 mil e pontos de progressão na carreira, para incentivá-los a prestar serviços de atenção primária à população de 1.407 municípios brasileiros. Mais de 4 mil médicos já aderiram.


O senador Cristovam Buarque propõe que médicos formados em universidades públicas, pagas com o seu, o meu, o nosso dinheiro, trabalhem dois anos em áreas carentes para que seus registros profissionais sejam reconhecidos.


Se a medicina cubana é de má qualidade, como se explica a saúde daquela população apresentar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), índices bem melhores que os do Brasil e comparáveis aos dos EUA?


O Brasil, antes de reclamar de medidas que beneficiam a população mais pobre, deveria se olhar no espelho. No ranking da OMS (dados de 2011), o melhor sistema de saúde do mundo é o da França. Os EUA ocupam o 37º lugar. Cuba, o 39º. O Brasil, o 125º lugar!


Se não chegam médicos cubanos, o que dizer à população desassistida de nossas periferias e do interior? Que suporte as dores? Que morra de enfermidades facilmente tratáveis? Que peça a Deus o milagre da cura?


Cuba, especialista em medicina preventiva, exporta médicos para 70 países. Graças a essa solidariedade, a população do Haiti teve amenizado o sofrimento causado pelo terremoto de 2010. Enquanto o Brasil enviou tropas, Cuba remeteu médicos treinados para atuar em condições precárias e situações de emergência.


Médico cubano não virá para o Brasil para emitir laudos de ressonância magnética ou atuar em medicina nuclear. Virá tratar de verminose e malária, diarreia e desidratação, reduzindo as mortalidades infantil e materna, aplicando vacinas, ensinando medidas preventivas, como cuidados de higiene.


O prestigioso New England Journal of Medicine, na edição de 24 de janeiro deste ano, elogiou a medicina cubana, que alcança as maiores taxas de vacinação do mundo, “porque o sistema não foi projetado para a escolha do consumidor ou iniciativas individuais”. Em outras palavras, não é o mercado que manda, é o direito do cidadão.


Por que o CFM nunca reclamou do excelente serviço prestado no Brasil pela Pastoral da Criança, embora ela disponha de poucos recursos e improvise a formação de mães que atendem à infância? A resposta é simples: é bom para uma medicina cada vez mais mercantilizada, voltada mais ao lucro que à saúde, contar com o trabalho altruísta da Pastoral da Criança. O temor é encarar a competência de médicos estrangeiros.


Quem dera que, um dia, o Brasil possa expor em suas cidades este outdoor que vi nas ruas de Havana: “A cada ano, 80 mil crianças do mundo morrem de doenças facilmente tratáveis. Nenhuma delas é cubana”.


 


* Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou”, recém-lançado pela editora Saraiva.
www.freibetto.org     twitter: @freibetto.






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Fonte: Frei Betto

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TST condena Bradesco a pagar R$ 600 mil a bancária vítima de LER

A Subseção 1 Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1) do Tribunal Superior do Trabalho manteve condenação imposta ao Bradesco de indenizar uma bancária vítima de lesão por esforço repetitivo (LER). De acordo com laudo pericial, a trabalhadora esteve exposta habitualmente a agentes de risco ergonômico. Este fato, acrescido da negligência do Bradesco, que não realizou exames periódicos, levou o Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT-BA) a condenar o banco a indenizá-la por danos morais e materiais.


O TRT fixou os valores de R$40 mil a título de danos morais e R$ 546 mil por danos materiais em razão de a bancária ter desenvolvido quadro de fibromialgia, síndrome do túnel do carpo e discopatia degenerativa lombar. Os primeiros sintomas das doenças surgiram em 1996 e provocaram seu afastamento das atividades profissionais no fim de 2001.


O recurso do Bradesco contra a condenação havia sido analisado anteriormente pela Quarta Turma, que, explicou que na fixação da reparação material o TRT-BA considerou aspectos referentes à vida funcional e social da empregada, como o valor da última remuneração e o intervalo entre o afastamento e o limite de 70 anos. Esse marco é considerado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como o atual teto da expectativa de vida média do brasileiro.


Na SDI-1, foi relator do caso foi o ministro Lelio Bentes Côrrea, que, seguido pelos demais integrantes do órgão, não conheceu dos embargos do banco. Especificamente em relação ao valor da indenização por danos materiais, o ministro explicou que o Bradesco, ao interpor recurso ordinário ainda no Regional, não impugnou a quantia estabelecida: os argumentos recursais se focaram exclusivamente no laudo pericial.


Quanto ao dano moral, o relator não constatou violação do artigo 1.533 do Código Civil, norma que não dá parâmetros para a aferição da proporcionalidade da condenação ao pagamento de indenização por danos morais.


Por outro lado, a Subseção afastou as alegações do banco de que haveria divergência entre julgados semelhantes. Conforme esclareceu o relator, os embargos foram interpostos antes da edição da Lei 11.496/2007, e, assim, aplica-se ao caso o entendimento da Orientação Jurisprudencial 294 da SDI-I, que impede a veiculação de embargos por divergência contra decisão de não conhecimento de recurso de revista, como foi a da Turma.

Fonte: TST

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SANTANDER: Sindicatos fazem atividades pelo Dia Internacional de Luta


O dia 23 de maio de 2013 foi marcado por atividades em todos os países da América Latina em que o Santander opera. A atividade foi definida durante a Reunião Conjunta das Redes Sindicais dos Bancos Internacionais que aconteceu em Assunção, Paraguai, no início do mês. O objetivo da mobilização foi protestar contra as demissões e contra as práticas anti-sindicais do banco, que tem feito várias tentativas de impedir os movimentos grevistas, vem se recusando a negociar com os sindicatos e chega até a tentar cercear a liberdade de expressão do movimento sindical através de processos na Justiça.


(saiba mais aqui sobre os processos do Santander contra sindicatos)


Na base da Federação, os sindicatos cumpriram o calendário, realizando diversas ações.


No Rio de Janeiro a paralisação foi a maior, atingindo nove regionais e sete agências que ficam no térreo dos prédios administrativos. Nenhuma das dependência atingidas funcionou durante todo o dia. Em duas regionais do Centro, vigilantes e bombeiros civis entraram, para render os colegas que trabalham no turno da noite. No prédio conhecido como Realzão, onde fica a administração principal, os superintendentes tentaram entrar, já que estava marcada a distribuição de premiações, mas o piquete foi firme e o prédio permaneceu vazio até o final do expediente, às 18h.


O Sindicato dos Bancários de Niterói paralisou por 24 horas duas agências em Icaraí. Numa delas tem havido problemas com assédio moral e demissões. A outra é uma unidade do segmento Select recém-inaugurada. Ambas são unidades de grande visibilidade para o público e valorizadas pelo banco.


No Espírito Santo, a paralisação foi parcial e contou com uma inovação: as gravatinhas vermelhas usadas pelos sindicalistas durante o protesto. Feitas em cartolina, fazem referência à gravata encarnada que se tornou marca registrada do presidente do banco, Emílio Botín.


Em Campos o retardamento da abertura em uma hora serviu também para os sindicalistas fazerem uma reunião com os funcionários. A agência ficou fechada ao público, mas os bancários puderam conversar com os sindicalistas e receberem informações sobre o andamento de diversas questões.


Na Baixada Fluminense houve paralisação de duas horas na agência do banco em São João de Meriti.


Em Itaperuna, Macaé, Nova Friburgo, Teresópolis e Três Rios houve panfletagem e falação nas agências.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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CUT-RJ promove debate sobre terceirização

Acontece no próximo dia 27, segunda-feira, às 18h, no auditório do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, um seminário sobre Terceirização e Trabalho Precário. O evento é promovido pela Secretaria de Relações do Trabalho da CUT-RJ.


O principal ponto a ser debatido é o PL 4330/2004, do deputado federal Sandro Mabel (PMDB-GO), que permite a terceirização de qualquer atividade e ameaça gravemente os direitos trabalhistas e as categorias profissionais.


Os debatedores serão o economista do Dieese Paulo Jagger, o Secretário de Organização da Contraf-CUT, Miguel Pereira, a Secretária de Relações do Trabalho da CUT, Graça Costa e um representante do Ministério Público do Trabalho.


 

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES